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quinta-feira, 18 de março de 2021

Treze situações de ‘estado de emergência’ depois…

 Esta coisa da pandemia, em vigor desde março do ano passado, ensinou-nos (ou melhor tivemos de conhecer o conteúdo) novas palavras: umas com mais sabor popular e outras com teor mais científico; algumas que já faziam parte do nosso vocabulário corrente e outras menos conhecidas, mas que à força de tanto insistirem já nos parecem ser familiares; umas tantas da ordem da saúde, enquanto outras emergiram do espaço mais securitário (pessoal ou coletivo); umas de âmbito regional, outras transnacionais e mundiais.

Recolhemos um breve glossário do coronavírus: isolamento/confinamento e quarentena; máscaras e vírus; epidemia e pandemia; fases epidemiológicas (contatos, transmissão local ou comunitária); letalidade e mortalidade; estado de calamidade e estado de emergência; casos suspeitos e casos confirmados; infetados, internados…e, mais recentemente, vacinados… Ao nível laboral fomos trazendo para a luz do dia e, portanto, para a prática social, expressões como lay-off, teletrabalho, subsídios e compensações, prejuízos na economia, crise em setores (turismo, restauração, viagens, mobilidade ou falta dela), reclamações, compensações por perdas e danos…tentativa de redução de impostos.

A cadeia de gravidade dos vários ‘estados’ – alarme, calamidade e emergência – foi sendo experimentada neste último ano: sobretudo atendendo à perigosidade das várias vagas – em janeiro último entramos na terceira – da doença, apreciando os contagiados, os infetados, os internados e os falecidos…com momentos dramáticos e fatalmente atrozes, nos hospitais e na população.

Cada ‘estado de emergência’ sempre trouxe mais alarme social, fazendo com que as regras de confinamento fossem progressivamente apertadas, nalguns casos quase parecendo garrotes sobre a economia, as escolas ou mesmo as atividades religiosas.

De 16 a 31 de março está em vigor o 13.º estado de emergência, mantendo-se o dever de recolhimento domiciliário, embora abrandando algumas medidas numa espécie – porque se faz-de-conta com regras algo infantilo-senis – de desconfinamento gradual…A proibição de circulação entre concelhos continua aos fins-de-semana e até à Páscoa (4 de abril).

 
= Que aprendemos neste ano de pandemia? Decorridos doze meses, já teremos percebido a gravidade do assunto? Chegamos a cair na conta de que isto era (é) grave ou preferimos adaptarmo-nos sem qualidade de vida mínima? O dever de ‘ficar em casa’ ajudou ou condicionou a nossa aprendizagem social de convívio e de respeito pelos outros? Com tantas emergências não banalizamos o recurso à gravidade do tema e da matéria por algum tempo?

O futuro nos dirá se esta não foi mais uma oportunidade perdida para reaferirmos os nossos critérios de vida e reaprendermos a estar uns com os outros. O futuro nos revelará se soubemos adaptar-nos mais do que converter-nos. O futuro porá à mostra como é tão falho de inteligência quem tem poder, mas não autoridade… em tantos dos setores da vida.

Como sempre nestas épocas de crise surge sempre alguém que faz fortuna com a desgraça alheia, dizemo-lo desde os mais simples ‘artistas’ que enriqueceram com as vendas de gel, de máscaras e de material desinfetante, mas tantos outros habilidosos crescem quando as pessoas estão fragilizadas e em pior situação de trabalho, de condições de vida e mesmo de alimentação. 

Pelo que temos percecionado o fator vacina vai funcionar tanto ou mais tenazmente do que a doença, pois, em breves e incisivos pormenores – como a área do ensino, pois educação é muito mais do que o que vemos ministrar – deu para perceber o fantasma estatal tem uma abrangência quase paranoica, como se os professores e alunos do não-Estado, fossem de segunda ou pior, pagando impostos, sejam relegados para a fim da lista, como aconteceu no setor da saúde não-pública…

Enquanto andarmos a coagir e não a dar razões claras, sérias e simples para fazer, continuaremos a ser um povo domesticado (à força ou sob coação), mas não educado com racionalidade!

 

António Sílvio Couto

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