Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 29 de julho de 2013

À luz do Pai-nosso - - sugestão de uma prece de confiança para cada dia da semana


Neste domingo (28 de julho), no texto do evangelho, foi-nos ensinado por Jesus o ‘Pai-nosso’. Se bem que tenhamos seguido a versão/narrativa de São Lucas, deixamos uma sugestão para vivermos a nossa semana ao ritmo dest oração-resumo do Evangelho do Senhor Jesus connosco.  

Se olharmos o Pai-nosso como uma oração septenária cristã poderemos fazer corresponder a cada uma das petições um dia da semana, segundo a denominação portuguesa, aferindo a nossa caminhada ao ritmo, particularmente, do tríduo pascal. 

* Domingo – ‘Pai-nosso, que estais nos Céus, santificado seja o Vosso nome’

No dia do Senhor celebramos a bondade do Pai (criação), a ressurreição de Jesus (Páscoa) e a manifestação do Espírito Santo (Pentecostes) numa sintonia de Igreja.

A eucaristia dominical é o momento por excelência desta vivência trinitária e comunitária, pois é em Igreja que sabemos dizer a Deus que Ele é nosso Pai, que está nos Céus e santificamos o seu nome nesta condição terrena... 

* 2.ª feira – ‘Venha a nós o Vosso Reino’

Na segunda féria após a celebração da fé, nós celebramos a vinda do Reino de Deus em Jesus como Igreja que O celebra comunitariamente e cada um de nós pessoalmente.

A petição da vinda do Reino faz-se no tempo de trabalho com que glorificamos a Deus e o dom da vida para a Sua glória e não só para nosso proveito. 

* 3.ª feira – ‘seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu’

Na terceira féria após a celebração da ressurreição do Senhor, nós nos dispomos a viver sempre mais em conformidade com a vontade de Deus enquanto estamos nesta condição terrena.

O discernimento da vontade de Deus passa pela sensibilidade a Ele e à Sua presença nos outros e na natureza que nos envolve.

 

* 4.ª feira – ‘O pão nosso de cada dia nos dai hoje’

Na quarta féria após a vivência da ressurreição do Senhor em comunidade, suplicamos -- por nós e para os outros -- o pão de cada dia, que é tanto de âmbito material, quanto da dimensão psicológica e espiritual.

O pão partilhado faz-se mesa de comunhão e sinal de participação nas necessidades dos outros... sobretudo dos que são excluídos.

De mãos abertas podemos dá-lo a quem no-lo pede e recebê-lo de quem no-lo oferece.
 

* 5.ª feira – ‘perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’

No contexto e em ressonância da quinta-feira da Semana Santa em que Jesus instituiu a eucaristia e Se fez sacramento de perdão pelo sinal do ‘lava-pés’, podemos penetrar melhor no sentido das consequências do perdão divino e humano, recebido e dado.

Na gratidão de termos connosco o Senhor Jesus que se faz bom pastor e guia do seu povo amado, podemos estender o nosso olhar para aqueles/as que precisam que lhes ofereçamos o perdão traduzido em sinais de paz e de compaixão.

 

* 6.ª feira – ‘não nos deixeis cair em tentação’

À Luz da entrega de Jesus na Cruz -- dessa intensa Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor -- nós nos deixamos revestir da misericórdia de Jesus para connosco e em Igreja... em peregrinação neste mundo.

Pelo silêncio de vitória de Jesus sobre o sofrimento, nós vivemos a intensidade de estarmos em condi-ção de tentados, embora possamos vislumbrar na prova a que é submetida a nossa fé, a força de esperança que na Cruz está anunciada e aparecerá na manhã da Páscoa do Senhor e da Sua Igreja celeste. 

* Sábado – ‘mas livrai-nos do mal’

Da passagem de Jesus pelo túmulo ficou-nos o silêncio de Deus, mas que irrompeu das garras da morte sobre todas as forças do Mal.

Assim nós podemos com Jesus e com a Igreja vencer o mal e seremos vencedores das insídias do mal em nós e à nossa volta.

Já se anunciam os alvores da nova Páscoa, que em cada domingo renasce e nos renova, na força de sermos Igreja Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo.
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 Assim sejamos dignos de viver, nesta semana em concreto, o espírito e ao ritmo do Pai-nosso.

Boa caminhada,

 

António Sílvio Couto

(asilviocouto@gmail.com)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Como ordenar os gastos... corretamente?


Há dias soube da atitude de um dirigente de uma instituição particular de solidariedade social que decidiu protelar (dentro dos parâmetros possíveis e nas datas aceitáveis) o pagamento dos vencimentos dos (seus) funcionários por uns dias para que estes não gastassem o dinheiro precipitadamente. É que havia uma festa, na localidade, no intervalo entre essa data e o final do mês, e corria-se o risco de gastarem o ordenado desordenadamente... Pior ainda, isto tinha por base uma outra experiência mal sucedida, por ocasião do Natal/fim de ano, em que, tendo pago os ordenados uns dias mais cedo do que o habitual, em dezembro, a meio de janeiro, já andavam muitos atrapalhados com a insuficiência de saldo...

Extrapolando este exemplo para o quadro do país e de muitas famílias portuguesas, poderemos apresentar breves perspectivas sobre algumas causas e outras tantas consequências… visíveis ou previsíveis.

Comecemos por fazer algumas (‘inocentes’) perguntas: Será que as pessoas não fazem contas ao que ganham e ao que podem gastar? Porque se gerou uma certa tendência despesista – tanto ao nível pessoal como na dimensão do país – em que não se faz contas às possibilidades mais básicas? Será verdade que as pessoas não fazem contas à vida e aos meios com que contam para honrar os seus compromissos, mesmo os mais essenciais? Não haverá uma tendência, cada vez mais generalizada, de pensar em que alguém, que não o devedor, há-de pagar o que gastamos sem tino nem tento?

Digo-o de forma simples, directa e sincera: fui educado a nunca gastar mais do que aquilo que se tem. Inclusive ouvia na minha família: ‘quem não tem dinheiro não inventa modas nem tem vícios’! E ainda: ‘as coisas têm de durar até que possa haver dinheiro para comprar outras’!...

= Educar para a austeridade ou ter sentido de pobreza?

Agora que o país está sob resgate do empréstimo, que nos foi concedido para termos o dinheiro mínimo em ordem às despesas gerais e, tendo-se gerado um clima de austeridade a toda a prova, urge reflectir que modelo de sociedade queremos: gastar sem olhar a meios ou saber viver com o essencial? Também, na perspectiva cristã da vida e dos valores, poderemos questionar se já aprendemos a viver com a atitude de gente pobre (andrajo, resmungão e mal agradecido) ou em espírito de pobreza sem pactuar com uma resignação preguiçosa, mas antes aferindo-se ao que é essencial?

Como povo português não temos sabido conviver com estes novos desafios, pois nos achavamo-nos numa certa Europa de ricos e julgavamos que nunca mais teríamos de viver com dificuldades. No entanto, bem depressa nos atulhamos na lama do desemprego, nas teias da subsidiodependência, nas garras da promiscuidade entre o legal e o biscate... para flutuar até ver se resulta ou em não ser descoberto!

= Do desperdício à reaprendizagem com o essencial

Sobretudo as gerações educadas nos últimos quarenta anos – muitos já nem se lembram do 25 de Abril – têm de aprender a valorizar as coisas, deixando de viver numa certa vida fácil, desde o brinquedo recebido por birra até à prenda que foi dada sem pedir nem tão pouco merecer. Neste aspecto de aprendizagem tem sido muito útil um programa ficionado televisivo sobre as dificuldades dos ‘retornados’. Aí se vê como nós, portugueses, temos estofo de lutadores e não nos resignamos ao ‘deixa correr’ e em que alguém fechará a porta quando tudo tiver acabado!

Agora que as coisas estão a mudar, precisamos que os responsáveis, tanto das instituições públicas, como as de índole privada, singulares ou colectivas – onde por excelência incluímos a Igreja católica – unam esforços numa pedagogia da assumpção dos nossos erros e numa propulsão das nossas capacidades.

Basta de tanto choradinho, que não paga dívidas. Precisamos de mudar de paradigma… mental e cultural. Urge criar outra mentalidade… mais modesta e séria. Assim sejamos dignos de criar esperança neste Portugal, que tem futuro, sabendo ordenar os nossos gastos... correta, cívica e responsavelmente.


António Sílvio Couto

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Doze euros/mês para cortar o cabelo

Por estes dias foi noticiado, primeiro num jornal diário de teor económico e depois noutros, que os trabalhadores da Carris – empresa rodoviária de transportes colectivos em Lisboa – vão solicitar – ao que parece será uma continuação e não uma reivindicação! – um subsídio mensal de doze euros para cortar o cabelo. Esta proposta pretende dar, assim, uma compensação aos ditos trabalhadores pela desactivação da rede de barbearias que serviu a empresa... até finais de 2007.
Por ser (quase) paradigmático de todo um processo reivindicativo e de outras tantas regalias adquiridas, este caso deveria merecer que atendessemos ao seu significado mais amplo... particularmente no sector do trabalho em Portugal. Com efeito, sem pretendermos exacerbar as discrepâncias entre sector público, onde quase tudo é permitido e quase nada tem retorno nem que isso possa parecer desonesto ou até imoral versus o sector privado onde, na maioria dos casos, as conquistas não têm louros de irreversibilidade... parece-nos que o preço do trabalho, no nosso país e em certas regiões urbanas, em particular, está inflacionado, dependendo de quem o vende e de quem o pretenda adquirir... sem contar com as condicionantes reivindicativas – vulgo greves, paralisações e manifestações – que a todos atingem para beneficiar (só) uns tantos!
Tentando fazer ainda um esforço de racionalidade, este pequeno ‘fait-divers’ – havia até quem desejasse, de forma irónica, obter uma ajuda idêntica para compor as sobrancelhas, referia alguém do género feminino – parece ser um pouco revelador de certas regalias (ou direitos adquiridos) que ultrapassam a normalidade das ajudas em matéria de complementos de salário. Se formos analisar outras empresas e serviços poderemos ver múltiplas alcabalas que fazem encarecer a prestação do trabalho em razão da produtividade e dos encargos sociais públicos envolvidos... à custa dos nossos implacáveis impostos.
Não deixa de ser também preocupante que o escalonamento de trabalho seja (quase) sempre em desfavor dos que vivem fora das grandes áreas metropolitanas, esses que pagam também impostos e são, muitas vezes, tratados como menores em matéria de serviços sociais, tanto da saúde, como da segurança e mesmo no âmbito cultural.
Parece, por isso, que é chegada a hora de sacudir as peias de um certo sindicalismo, que já não conhece o espaço de trabalho, mas antes parece viver, na organização de protestos e tentando arrecadar louros que não lhe pertence... embora lhe convenha em matéria de ascensão política... a curto e médio prazo.
Num tempo em que urge rejuvenescer o compromisso político – pois é ainda por aqui que passa a capacidade de decidir e de eleger – não será com tricas de mau gosto que iremos sentir que somos todos iguais perante a lei e o Estado. Os actores de todo este processo ou se tornam heróis de verdade ou sobre eles convergirá o epíteto de farsantes ou mariotas de feira em saldo... ao desbarato.
Agora que temos de dar credibilidade àqueles que nos ajudam a vencer as dificuldades de tesouraria, vermos episódios como o que serviu de partida para esta reflexão farão rir os mais conceituados comediantes na arte circense, se bem que nem todos os que intervêm usufruem do papel principal... Ora, no contexto em que vivemos, os figurantes não podem usurpar a função de actores de primeira. Vejamos a caracterização dos tempos mais recentes no palco político/partidário e choraremos quais carpideiras do nosso luto nacional.
A terminar: doze euros por mês para cortar o cabelo nem é muito, o problema será o que isso denuncia de outros favores escondidos e, possivelmente, mais caros e ardilosos... nesta como noutras empresas.

Portugal, a quanto estás obrigado a pagar... injustificadamente!

António Sílvio Couto



terça-feira, 9 de julho de 2013

Inteligência, educação e espiritualidade


Há três qualidades – humanas, culturais e mesmo cristãs – que reputo como essenciais para um bom relacionamento entre as pessoas: inteligência/educação/espiritualidade... pois, da boa conjugação de todas poderá resultar muito ou quase nada, tanto no nosso auto-conhecimento como na compreensão progressiva dos outros.

* Por
inteligência entendo a capacidade de entender as coisas, o que se diz e mesmo o que se quer dizer. Há pessoas que, mesmo sem terem um desenvolvimento intelectual e/ou um reconhecimento de instrução, têm uma inteligência acima da vulgaridade. Assim como há quem tenha estudos e cuja inteligência ficou ao nível mais rasteiro. Quantas vezes é, pela capacidade de ironia (dispensa-se o sarcasmo!), que podemos comunicar com os outros. Quantas vezes é, pela capacidade de rir-se de si mesmo, que podemos aferir pela inteligência pessoal e dos outros.

Nas questões ligados ao ensino, talvez tenhamos mais de falar de estudantes do que de alunos, pois muitos destes parece que nem sempre aproveitam o tempo para fazerem o que só deles dependem: adquirir capacidade de estudo e não mera reprodução de conhecimentos colados à pressa, mas que o tempo se encarregará de deitar a perder. Até mesmo o corpo docente seria mais valorizado se também se cultiva-se continuamente... Basta de saberes dogmáticos e ignorâncias atrevidas!

* Na dimensão da
educação está contida uma grande variedade de aspectos, desde os mais simples, como o respeito e o saber ocupar cada qual o seu lugar, até aos mais complexos, como saber estar com admiração, no contexto público ou privado, dando a entender que o outro é alguém com quem nos damos e que nos faz crescer e nunca alguém de quem nos aproveitamos para nos promovermos ou que possa ser nosso inimigo.

Esta educação a que nos referimos tem a ver com o conhecimento e a vivência dos actos de convivência social, onde há expressões que consubstanciam o mais básico: ‘por favor’, ‘com licença’,‘obrigado’ e ‘desculpe’... como regras – há quem as classifique de mágicas – de boa educação. Com efeito, muita coisa mudaria se soubessemos usar tais palavras! Muitas atitudes de uns para com os outros seriam mais humanas! Muitas quezílias e conflitos seriam evitados, resolvidos e solucionados!
* Sobre a temática da
espiritualidade – para nós que a incluímos e nos situamos num contexto cristão e católico em particular – entendemos aquilo que, em Deus se pode, deve e é entendido como plataforma onde circulam vários e distintos sinais, que nos fazem entender... na mesma sintonia não só sobre as coisas presentes, mas estando atentos ao passado e abrindo-nos ao significado do futuro... próximo ou a médio prazo em Deus.

Quantas vezes esse mesmo Deus nos faz encontrar, sintonizar, aferir e mesmo concordar... com pessoas, pela simples razão de que estamos numa idêntica espiritualidade. De quantos modos a vivência da espiritualidade – mesmo sem rótulo nem tendência de conveniência – nos faz ultrapassar barreiras culturais para que nos entendamos no essencial, mesmo que os adereços possam ser dispensados! Efectiva e afectivamente a vivência espiritual faz ‘milagres’ pois as pessoas se entendem mais pelo que as une do que por aquilo que as separa. Sem entramos numa valorização da ‘espiritualidade’ em desfavor da religião, acreditamos que é, no Espírito Santo, que nos podemos sintonizar, mesmo que, depois, nem tudo seja concorde com o que nos une e procurando aprofundar as matizes que nos fazem ser o que somos sem dividir, mas antes tentando criar laços de sincera e leal unidade. Confiemos uns nos outros e os laços surgirão e serão valorizados, ontem, como hoje e amanhã.

Assim sejamos inteligentes, com educação e descobriremos tantos sinais de espiritualidade... onde nos encontraremos mais humanos e mais espirituais... em Cristo Jesus.





António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Filhos obrigados a visitar os pais

Por estes dias entrou em vigor, na China, uma lei que obriga os filhos a visitar os pais idosos. Esta legislação designada ‘Direitos dos idosos’ prevê a responsabilização dos filhos adultos para com os pais, tentando, desta forma, combater o abandono destes por aqueles e, caso tal aconteça, estão previstas multas e até, em casos extremos, penas de prisão.
A título de informação poderemos dizer que, na China, há duzentos milhões de pessoas com mais de sessenta anos e que, na próxima década e meia, o número duplicará.
Desde já queremos colocar algumas questões sobre a nossa condição e conduta (à) portuguesa nesta matéria também suficientemente importante no nosso contexto sócio-economico-espiritual: Estaríamos capazes de aceitar idêntica legislação? Como está a nossa sensibilidade para com os mais velhos? Será que os mais velhos terão investido o suficiente na humanização das relações com os seus vindouros? Até onde vai a capacidade de compreensão para com os mais velhos sem sacrificar os mais novos? Vendo doutra perspectiva: como será o relacionamento dos mais novos com os mais velhos se estes os depositaram, desde tenra idade, em experiências humanas, mas um tanto desumanizadas? Agora que o berçário, a creche e o jardim-de-infância são (pretensa) solução na idade activa o que será vir a ser cuidado por alguém que viveu isso, quando chegar à idade menos produtiva?
Estas questões podem parece teóricas ou um tanto desconexas com a realidade, mas pela vivência que termos – enquanto trabalho social de Igreja – com mais de meia centena de velhos – termo bonito e adequado para designar uma etapa de vida à qual nem todos sabemos se chegaremos – ao nosso cuidado, parece-nos que devemos reflectir sobre este assunto, tendo em conta os valores cristãos e a sua concretização em matéria de acção humana, espiritual e cristã/católica.
= Sensibilidade para com os mais velhos – numa época histórica e social em que a faixa dos que têm mais de sessenta/setenta anos cresceu de forma galopante, temos de encontrar um método de valorizar o conhecimento de vida destes que já foram designados de seniores, gerando e gerindo iniciativas que captem a sua experiência e não tentem fazer deles quais novas crianças a quem (quase) tudo se promete e pouco se lhes concede... embora lhe vão encurtando as reformas com que ainda tentam auxiliar os parcos recursos dos filhos e gerir os proventos de uma vida de sacrifícios e de trabalhos.
= Diálogo de gerações com respeito e em inter-comunhão – quando a geração dos filhos trabalha, a dos avós cuida dos netos, embora tornando estes uma espécie amada e caprichosa, pois vivem entre fogos de interesses e, nalguns casos, de dificuldade em conciliar a vida profissional com a vida familiar... podendo os avós tornarem-se como que pais a destempo por falta de paciência e de idade e os filhos avós por antecipação... mas mal preparados porque não amadurecidos pelas agruras naturais da vida.
= União ou concorrência entre infantário e lar (asilo) – atendendo à mudança terminológica cada um dos antigos utentes – tanto da fase de infância como da etapa final da velhice – passou a ser chamado pelas estruturas responsáveis do Estado de ‘clientes’, numa aferição numérica e pouco personalizada... onde se procuram inventar soluções, quando a resolução do problema está na linguagem do coração e não nas mais acomodadas perspectivas de conforto material... depreciando a dimensão espiritual e mesmo a psicológica. Não deixa de ser inquietante que muitos dos nossos mais velhos têm sido colocados em espaços que deles cuidam a peso de ouro, embora se tenham esforçado por darem a seu pais outras condições, que não a frieza e desconforto de sairem do seu ambiente. Que dizer dos filhos dos que foram educados na massa do infantário e fora do seu habitat familiar? E nem se julgue que os mais velhos – por estarem em tal estado e com a saúde enfraquecida – não sofrem, só que não entendemos, suficientemente, o que eles nos querem dizer!

Quanta gente seria multada em razão do abandono dos seus mais velhos!... Cumpra-se a lei... natural!

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)