Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Alicerçados no turismo – por quê e até quando?

 


Que país será esse, cuja riqueza esteja alicerçada no setor do turismo? Que riqueza será essa, se alimentada por um vetor tão volátil como esse do turismo? Que futuro terá tal país como nação ou como sociedade, se viver das oscilações do turismo?

Esse país, essa nação, tal sociedade é Portugal e está novamente a flutuar ao sabor das conjunturas e das possíveis conjeturas dos nossos dias e do futuro incerto… fascinante e fascinado do turismo.

 1. Por estes dias (27 de setembro) ocorreu o ‘dia mundial do turismo’. Houve mensagens e intervenções como que idolatrando tal setor, numa espécie de categoria económico-cultural de salvaguarda do já visto e sentindo o ainda não concretizado.

O tema geral do ‘dia mundial do turismo’ deste ano foi: «repensar o turismo», sobretudo se tivermos em conta os tempos mais recentes de pandemia. Segundo elementos recolhidos na internet, o objetivo daquelas celebrações foi o de fornecer uma plataforma de diálogo para identificar soluções para desenvolver o potencial do turismo como veículo para a recuperação e transformação, passar a mensagem de que o turismo é uma força inspiradora e transformadora, tendo ainda em conta o papel da  Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas e da indústria na concretização do seu potencial, mobilizando as vontades políticas e cooperação para garantir que o turismo é uma parte central na criação de políticas, e ainda ao colocar questões e de identificar soluções para realinhar o turismo para o futuro.  

 2. Valha-nos o bom senso – coisa rara, senão singular nos tempos que vão correndo – para colocarmos todos os objetivos da economia num campo que tem tanto de atraente, quanto de vulnerável e mesmo de controverso.

Tendo em conta as intervenções sobre o ‘dia mundial do turismo’, em Portugal, os responsáveis nacionais da pastoral do turismo fizeram publicar uma nota sobre o assunto, onde são desafiados todos os que trabalham como agentes de turismo, bem como os turistas, a serem ‘embaixadores da paz’. Nessa mensagem se refere que o turismo ‘é uma atividade altamente inclusiva, já que, criando muito emprego para pessoas com diferentes níveis de qualificação, permite que todos possam ser integrados no mercado de trabalho, desde os que não tiveram a possibilidade de ter estudado muito (mas que, através de treino se tornaram profissionais reconhecidos pela sua capacidade de bem receber), passando pelos académicos e investigadores de diferentes ciências sociais, ou engenharias tecnológicas mais especializadas (hoje, essenciais, por exemplo, na distribuição e comercialização on-line dos produtos turísticos e que têm, neste sector, uma possibilidade de desenvolvimento e afirmação)’.

 3. Perante estas duas asserções quanto ao turismo – como atividade humana e com recursos de índole cultural – sinto que temos de deixar-nos interrogar para além dos números económicos e de cuidar de sabermos se será por este filão que o nosso país precisa de ir explorando ou se não estará a hipotecar todas as suas forças, a curto e a médio prazo.

Depois da experiência após-2019, que foi a pandemia, não teremos de saber vender mais do que ‘sol e simpatia’? Com tanta ocorrência de procura, estaremos capazes de correspondermos às expetativas, sem distorcermos a nossa identidade? Não haverá uma onda de hedonismo que se sobrepuja à dimensão de espiritualidade das pessoas que recebem e que viajam?

 4. Mal vai a cultura de um povo se se vender ao imediato e aos ganhos económicos de tantos dos tentáculos do turismo atual. O turismo religioso não pode ser capturado nem ofuscado pelos interesses mais ou menos subtis das agências de viagens… e são tantas!

Por favor: não matem a galinha-dos-ovos-de-ouro com a pressa de querer estar na crista da onda… Bastará mais um sopro de qualquer vírus e tudo cairá!

 

António Sílvio Couto

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Só fizemos o que devíamos fazer (cumprimento do dever versus elogio enganador)

 




«Quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer». Lemos em Lc 17, 10. Esta passagem bíblica contém algo de desconcertante, sobretudo numa época em que se busca o elogio – barato, umas vezes; complexo, noutras; interesseiro, quase sempre – e o reconhecimento com aplausos, palmas e comendas…

Tenho para comigo que o cumprimento do dever ou a alegria do dever cumprido é o maior e mais digno reconhecimento interior e exterior.

1. Quando andamos à procura de elogios não seremos pouco cristãos, ao menos segundo o Evangelho? Quando exercemos essa psicologia do elogio, por tudo ou por coisa pouca, não andaremos a insuflar o enxofre do mal naqueles que deviam ser humildes e não orgulhosos? Quando vemos correr tanta gente para o palco não andaremos a manipular com a pretensão de querer agradecer? Quando facilitamos que nos deem prebendas – mesmo que baratas e sem grande valor – não seremos mais servos da vaidade do que da verdade? Quando assim agimos não seremos mais mundanos do que cristãos?

2. Sinto-me muito indisposto quando vejo pessoas serem agraciadas só porque cumpriram – nalguns casos nem sempre condignamente – o dever. Este deveria ser a motivação de vida e não a exceção do modo de estar. Ora uma sociedade que se deixe fascinar meramente pelos elogios talvez seja, para além de imatura, algo superficial, pois o nosso contentamento deverá vir de sabermos estar onde podemos render mais e melhor e não na ansiedade de ser bajulado pelos outros. Quantas vezes precisamos que os nossos dons sejam postos à prova, que os talentos – humanos ou espirituais – sejam exercidos com simplicidade e não com a pretensão de qualquer reconhecimento alheio: isso seria andar a reboque daquilo que os outros pensam ou veem e não segundo a capacidade de ser útil minimamente aos outros.

3. Fique claro: as homenagens podem servir para adular, para enganar e até para iludir, tanto quem faz como quem recebe. Sou avesso a toda e qualquer atitude que queira fazer dos outros os nossos deuses, na medida em que desejamos ser-lhes agradáveis e com isso recebermos elogios, agradecimentos ou palmas. No tempo em que os foguetes ainda tinham canas, dizia-se: o estralejar dos foguetes, hoje, podem ser as canas a bater-nos, amanhã!

Mesmo ao nível da Igreja católica não andaremos enganados e a querer enganar nesse afã de reconhecimento dos nossos parcos feitos, que mais não passam de garatujas em maré de aprendizagem na escola da vida. Como é triste – e nalguns casos roça o ridículo – aquilo que vemos pulular em certas paróquias e grupos de Igreja. Como nos envergonha – ou assim devia – a luta para que possamos ser mais importantes do que os outros, quando deveríamos ser servos humildes, dedicados e sinceros.

4. «Como se reconhece o servo de Deus? Ele gosta mais de ouvir do que falar. Como está escrito: seja cada um de vós pronto para ouvir, lento para falar. Se for possível, deseje não ter de falar, nem discursar, nem ensinar (…) Põe a tua alegria em escutar a Deus e que só a necessidade te faça falar e não serás semelhante a esse homem que o desejo de falar impede de trilhar o bom caminho. Porque queres falar e não queres ouvir? Estás sempre a sair de ti e tens medo de entrar em ti. O teu mestre está dentro de ti (…) Que as alegrias interiores façam as nossas delícias e não nos entreguemos ao exterior senão por necessidade» – S. Agostinho de Hipona, ’Sermão’ 139, 15.

Este texto de um dos maiores santos da Igreja católica traz-nos lições de compreensão daquilo que somos e como nos devemos comportar cristãmente. Está na hora de terminarmos o espetáculo indecoroso com que vemos certas figuras, figurinhas e figurões pavonearem-se cultivando, alimentando ou servindo elogios de má qualidade, quando o necessário é fazer tudo de forma desinteressada, humilde e verdadeira!



António Sílvio Couto

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Que expetativas (ainda) para as JMJ-2023?


 A cerca de dez meses da realização, no terreno, das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), em Lisboa, parece haver coisas que estão um tanto desfasadas das pretensões. Embora as obras materiais estejam rudimentares, há, no entanto, aspetos de índole espiritual que dão a sensação de estarmos aquém daquilo que é (ou deve ser) a envolvência daqueles a quem se destinam as jornadas e mesmo a Igreja católica...sobretudo nas dioceses envolventes.

Vamos tentar resumir algumas das facetas mais relevantes nos tempos mais recentes, por parte dos vários intérpretes da iniciativa.

 1. A fazer fé nas palavras noticiadas pela Agência Ecclesia e que proferiu nas ‘jornadas nacionais da comunicação social’, realizadas em Fátima, na passada semana, para o presidente da ‘fundação JMJ Lisboa 2023’, o convénio mundial de jovens deixará um rasto ecológico (no terreno físico onde se vão efetuar as JMJ), os custos de que se tem falado não passam de um fantasma, as questões de comunicação deixam de ser analógicas para serem digitais... a receção dos símbolos – cruz e ícone mariano – nas dioceses tem despertado a pastoral diocesana dos jovens, o convite para as JMJ é para todos, tendo em conta ainda algumas periferias geográficas e existenciais.

Ora, das grandes motivações, que deviam – creio eu – nortear as JMJ nem uma palavra com nexo e consequências. Onde estão as referências à dimensão cristã do evento – é social (light e fofo) ou tem marca de fé? Onde se fala das coisas da Igreja – subentende-se ou não era preferível ser mais declarado? Não se corre o risco de trazer ao engano os que não querem só encontro eclético, mas celebração com marca de Cristo? Que adianta fornecer informações sob a forma digital, se a mensagem for vazia e anódina? Não correrá o risco de ser um fiasco, isso de trazer jovens a Lisboa e deixá-los partir só com algum folclore de simpatia fosforescente? 

 2. Voltando a atenção para outros factos adjacentes. Não será de esperar algo mais incisivo de combate a este acontecimento eclesial por parte de certas forças anticristãs e, sobretudo, anti-Igreja? Com efeito, as notícias negativas – embora possam até ser reais – envolvendo questões de descrédito da Igreja católica, em Portugal, não são inocentes e tão pouco sem-razão. Com efeito, quem iria abeirar-se de alguém que possa molestar a integridade física e moral dos que aqui venham? Quem deixaria que seus filhos ou netos fossem a atividades e locais onde possam estar pessoas nefastas e perigosas, senão em ato ao menos em intenção? Quem terá crédito para dizer seja o que for, se está desacreditado, senão na prática ao menos na presunção?

Será, por isso, de esperar que surjam mais notícias – a calendarização da (dita) ‘comissão independente’ vai nesse sentido – envolvendo escândalos e suposições, sugestões e mudanças (mesmo de bispos), críticas moralistas e observações moralizantes...

 3. Atendendo à brevidade da realização das JMJ 2023, gostaria de deixar algumas propostas para que este momento da ‘graça de Deus’ possa deixar marcas em quem recebe, em que vai participar e o que é que deixará logo que tudo passe... assentando a poeira.

– Antes de tudo que sejamos capazes de caminhar juntos – estamos em tempo de sínodo – dando cada um o seu contributo simples, sincero e comprometido. Como se diz no documento-síntese da Conferência Episcopal Pportuguesa, enviado a Roma sobre a caminhada sinodal: ‘mais do que pensar qual é o lugar dos jovens na vida da Igreja, é preciso perceber que lugar pode ocupar a Igreja na vida dos jovens’.

– Na sequência de outras ‘jornadas’ com jovens, deu-se uma emergência de vocações na Igreja, é aquilo a que aguns chamam de geração ‘JPII’ (João Paulo II). Precisamos de revigorar a entrega em compromisso na Igreja, através das várias vocações – ao sacerdócio, à vida religiosa e ao matrimónio – onde seja Cristo a contar acima de tudo e de todos.

 – Questões como a vida, a dignidade, a liberdade, a participação, a paz e a justiça ainda inquietam os jovens.        

 

António Silvio Couto

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Ao drapejar das bandeiras

 


Por estes dias se houve imagem que nos foi dada ver com mais enfâse pode ser o drapejar das bandeiras: na despedida à rainha defunta ou mesmo em sinal de alegria pelas conquistas desportivas lusas em várias modalidades. Digamos que o drapejar das bandeiras é (ou pode ser) emissor de vários sentimentos, desde que tal sinal seja entendido por quem o usa, por quem dele se serve ou mesmo das intenções colocadas na comunicação…Aliás a ‘bandeira’ emite significações que ultrapassam o retângulo ou o quadro de pano ou de qualquer outro material… Em Portugal a bandeira, conjuntamente com o Presidente da República e o hino nacional, são símbolos máximos da Pátria!

 1. Numa espécie de orfandade coletiva, vimos as longas e quase-intermináveis horas de emissão gastas a falar de alguém que se tornou bem mais do que a soberana de alguns países, o símbolo de tantas nações ou mesmo a chefe de estado de alguns povos…Ela representa uma cultura, que é mais do que um regime político. Ao drapejar da bandeira percebemos que estávamos quase perante um ‘mito’ com rosto, com história e com imensa sabedoria… À falta de referência atualizadas e com qualidade, prestámos-lhe uma espécie de culto… senão religioso, quase cultural.

 2. Ao vermos drapejar a bandeira-material como que temos de inferir sobre essa outra bandeira-causa de conduta de vida. Ora sobre faculdade da bandeira ainda temos muito a refletir, pois ela deverá ser enquadrada, deverá ser descoberta a finalidade dessa causa e mesmo deveremos perscrutar o alcance mais alto, se queremos participar nesse objetivo.

 3. Num tempo algo complexo torna-se importante perceber porque estamos à deriva devido à falta de líderes – dirigentes, responsáveis…condutores, guias, chefes – nos mais diversos campos de atividade humana. Não será necessário recuar mais do que duas ou três décadas na história para compararmos a ausência atual de pessoas que sejam capazes de assumirem a condução dos destinos dos povos e das nações, das associações ou coletividades, dos países ou dos partidos…das escolas e dos sindicatos, dos governos e dos parlamentos… das dioceses e das paróquias… ao perto ou ao longe.

Se colocarmos a data de 1989 – queda do ‘muro de Berlim’ – como tempo de referência fica-nos a sensação que é, cada vez de menor, a qualidade daqueles que têm de assumir tarefas de responsabilidade não sem que aos atuais investidos em poder lhes falta autoridade. Não fossem tantos dos desinteressados em aparecerem que veríamos um colapso sem retorno do modelo ocidental daquilo a que ainda apelidam de ‘democracia’.

 4. Sem deixarmos uma sensação de quase rutura das nossas sociedades, pela impreparação dos mais novos em ordem à assunção dos destinos pessoais e coletivos, precisamos de criar, educar e promover as ‘elites’ – não é um termo desfasado das preocupações mínimas e suficientes – que sejam em breve os semeadores da confiança e do compromisso, que são muito mais do que favores egoístas e individualistas. Não podemos continuar a misturar os mais novos – jovens ou adultos jovens – com as menos boas práticas de uns tantos sobre uma razoável maioria. Dado que vamos tendo uma população ainda jovem – idade de referência máxima de trinta anos – não podemos facilitar no campo da aquisição de conhecimento, bem como na frente de participação nos destinos de todos e de cada um.

5. Será que há a coragem mínima para criar laços que sejam mais do que nós ou impedimentos a que os mais competentes sejam aqueles que nos guiam? Nas horas dramáticas, que percorrem a história humana atual, haverá capacidade de destronar os menos válidos e oportunistas? Como poderemos ter bons líderes que não se envergonhem da sua fé, em vez de alinharem pela marca do ‘avental’ sem rosto nem dirigentes, que deem a cara?

Acordemos desta letargia de pântano em que estamos. Comecemos hoje a levar a sério a falta de líderes à altura dos acontecimentos atuais. Quanto mais tarde nos empenharmos pior. O futuro começa agora!  

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Mais manhoso do que esperto?


 «De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz no trato com os seus semelhantes» – lê-se em Lc 16, 8. Esta oposição – filhos deste mundo e filhos da luz – como que nos deixa perante algo mais profundo do que um mero juízo ético/moral – bem sei que estes termos são idênticos, mas convém associá-los, não vá alguém fazer deles uma disfunção incorreta – é um traçar de critérios de conduta ou uma orientação quanto aos valores essenciais.

 1. Que tem a ver esperteza com inteligência ou manha com habilidade? Como podemos considerar a esperteza: enquanto habilidade em safar-se ou em sagacidade em desenrascar-se? Não andará este mundo mais guiado por espertos do que conduzido por inteligentes? Até que ponto não são preferidos – em tantas das escolhas em votação ou mesmo na promoção para cargos de responsabilidade – os espertos aos inteligentes? Não andará espalhada uma preferência pela artimanha, desde a mais simples até à mais subtil?

 2. Expliquemos os termos. ‘Esperto’: perspicaz, arguto, astuto, astucioso, sagaz, ardiloso, hábil... ‘Manhoso’: que tem manhas, malicioso, feito com manha, matreiro... ‘Inteligente’: capaz, competente, talentoso, eficiente... Por vezes, estas palavras são usadas como se fossem sinónimas umas das outras, podendo confundir-se esperto com manhoso ou inteligente; manhoso com esperto ou inteligente; inteligente com esperto senão mesmo manhoso...

 3. Vejamos, agora, situações em que será preciso não confundir as coisas nem atribuir qualidades positivas onde o que se verifica são aspetos negativos, necessitados de correção, associando a denúncia de casos, de momentos e de ‘figuras’ que podem tentar armar-se em espertos para, na sua manha, disfarçarem a parca inteligência. Com relativa frequência vemos uns tantos espertos usarem de manha para ascenderem na promoção entre os seus pares e/ou concorrentes. Com alguma regularidade podemos questionar certas figuras que aparecem do nada e se põem a mandar ‘bitaites’ – termo popular para referir opiniões, palpites ou comentários – como se fossem peritos (expertos) na matéria. Quais minhocas em terreno húmido vemos outros tantos a serem promovidos nos partidos políticos, nas autarquias, nos espaços da Igreja, na vida social, etc. Onde não foi o mérito que tal permitiu, mas antes a habilidade feita manha ou a esperteza elevada à categoria de mando...

 4. Seria bom avisar os mais distraídos de que o ‘sucesso’ só se encontra antes de ‘trabalho’ no dicionário, na medida em que o ‘t’ está depois do ‘s’, isto é, precisamos de trabalhar muito, bem e organizadamente para obtermos aquilo que poderemos considerar razão ou consequência do sucesso. Com efeito, para sermos exorcizados de tantos incompetentes elevados à categoiria de manda-chuva, é urgente sermos conduzidos pelo mérito e não pela manha ou a esperteza mais ou menos reinante em tantos dos campos de atividade do nosso tempo e – porque não – da nossa terra!

 5. Algo de preocupante vemos crescer nos nossos dias: quem tem qualidades, quem tem mesmo perfil para certos lugares e funções excusam-se de os ocuparem, pois seria equivalente a colocarem a sua vida a ser esquartejada pelas mais diversas razões e, nalguns casos, em tempos bastante recuados. Não será esta uma artimanha dos manhosos e/ou expertos incompetentes para assim não terem concorrência e, deste modo, se eternizarem nos lugares...mesmo que indevidamente?

É um facto: temos o que merecemos. E não será que merecemos o que temos?      

 

António Silvio Couto

sábado, 17 de setembro de 2022

Que fazer com o bónus de 125 euros?

 

Por decisão do governo – no passado dia cinco de setembro – cada português, que ganhe menos de 2.700 euros por mês, vai receber um bónus de 125 euros em outubro. Esta fórmula de ‘subsídio’ tenta compensar o agravamento da inflação, que tem fustigado o país e a Europa nos últimos meses.

Para usufruir deste benefício é preciso que o utente tenha no quadro de atribuições fiscais o número de IBAN, pois o mesmo será feito por transferência bancária…

1. Será isto um bónus ou um engodo em forma subsidiária? Os potenciais milhares de abrangidos estarão capazes de preencherem as condições exigidas? Esta espécie de ‘bodo aos pobres’ será honesta e sem tentáculos não detetáveis a olho nu? Não haveria outras modalidades (eficientes, simples e imediatas) de ajudar os mais ‘desfavorecidos’ sem tanto estrilho de comunicação? A fasquia a que colocaram a possibilidade de receber esta ‘ajuda’ quais foram os critérios objetivos para a sua implementação? Até que ponto estes 2700 euros de ordenado são auferidos por quantos portugueses? Terão feito o levantamento de quantos receberão tal ajuda? A arrecadação com as contas da inflação – não inscrita no orçamento de estado – não deveria ser orientada noutra direção do que andar a dar ‘esmolas’ à população?

2. Confesso, muito humildemente, que acho que o meu voto vale mais do que 125 euros – penso eu na minha presunção de não votante em quem tal decidiu – com que o governo tentou ‘comprar-me’. Efetivamente este bónus quase soa a suborno, senão a manipulação dos menos bem-pagos no seu trabalho.

Ter, de repente, mais 125 euros de stock na conta poderá criar engulhos a quem está habituado a gerir os parcos recursos de pouco mais setecentos euros por mês. Valerá a pena investir nalguma peça de roupa ou de calçado? Será mais útil poupar para algum presente de Natal? Que utilidade lhe dar?


3. A impressão que fica, geralmente, é que poucos usarão aquele montante de benefício para aferrolhar. Na lógica mais simplista: não custou a ganhar, também não custará a gastar. Efetivamente vivemos naquela atitude do ‘chapa ganha, chapa gasta’… sem dó nem critério. Aliás, a mentalidade subjacente à decisão governamental vai nessa linha de ajudar a ter mais uns trocos para fazer face às despesas inesperadas.

Enquanto não mudarmos de mentalidade andaremos a reboque de migalhas dadas sem custo nem mérito e, portanto, esbanjadas na mesma proporção…De facto, enquanto o subsídio for a melhor fonte de rendimento e não o trabalho, continuaremos a enganar-nos e a sermos candidamente enganados.

4. Recordo, mais uma vez, a alegoria bíblica da escolha das árvores de um rei:

«As árvores puseram-se a caminho para ungirem um rei para si próprias. Disseram, então, à oliveira: 'Reina sobre nós. «Disse-lhes a oliveira: 'Irei eu renunciar ao meu óleo, com que se honram os deuses e os homens, para me agitar por cima das árvores?' As árvores disseram, depois, à figueira: 'Vem tu, então, reinar sobre nós.' Disse-lhes a figueira: 'Irei eu renunciar à minha doçura e aos meus bons frutos, para me agitar sobre as árvores?' Disseram, então, as árvores à videira: 'Vem tu reinar sobre nós.' Disse-lhes a videira: 'Irei eu renunciar ao meu mosto, que alegra os deuses e os homens, para me agitar sobre as árvores?' Então, todas as árvores disseram ao espinheiro: 'Vem tu, reina tu sobre nós.' Disse o espinheiro às árvores: 'Se é de boa mente que me ungis rei sobre vós, vinde, abrigai-vos à minha sombra; mas, se não é assim, sairá do espinheiro um fogo que há-de devorar os cedros do Líbano!'» (Jz 9,8-15).

Precisamos, urgentemente, de refletir sobre as nossas escolhas eleitorais e não só, pois lançados os dados, o processo como que se torna irreversível, tanto para o bem como para o mal…

Quem nos engana com pouco poderá não resistir à tentação de nos querer ludibriar com mais, fazendo do seu posto de comando uma forma de se eternizar com engodos, mentiras e, porque não, subsídios.

5. Por muito que nos tentem comprar, teremos um preço muito alto: o da dignidade, da liberdade e de não querermos ser escravos por razões de mera comida e/ou de regalias subtis à custa do essencial…



António Sílvio Couto

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Ser professor ou dar aulas?

 


Está prestes a começar o ano letivo. Apesar de ser ‘novo’ traz problemas velhos e questões não-resolvidas noutras circunstâncias ou com visão mais do que do passado.

O número de docentes – nos vários graus de ensino: pré-primário, básico, secundário e superior – abrange um largo leque de necessidades, cada ano, postas mais e mais a manifesto. Por outro lado, o número de alunos vai diminuindo, no entanto as questões mais básicas como que se vão continuando a agravar.

A área do ensino – educação é (ou deve ser) outra questão – continua a ser um dos quatros campos de ação sociopolítica – à mistura com a saúde, a justiça e a segurança – com mais problemas, dificuldades e necessidades.

1. Por que será que se continua a misturar ensino com educação? Terá o Estado de ser quem educa e não meramente quem instrui? Até quando teremos de aguentar uma estatização do (dito) ensino, não deixando espaço para essa tão propalada liberdade, nem sempre vivida corretamente? Essa espécie de universalização do ensino que valores veicula para além dos ideológicos sub-reptícios? Por que razão caiu com tão estrondoso descrédito a categoria profissional de professor? A quem convinha tirar a autoridade ao professor, dentro e fora da sala de aula? Ainda se irá a tempo de suster o desinteresse pela área de estudos do ensino?

2. Apesar de um largo leque de deputados no parlamento atual conter uma percentagem razoável de eleitos provindos do setor do ensino, não se tem visto vertido em lei e no comportamento político uma maior creditação dos professores, seja qual for a instância de hierarquização. Em certos momentos da nossa vida coletiva fomos vivendo maus exemplos de desrespeito para com os professores, nalguns casos até protagonizados por pais e (ditos) encarregados da educação.

O perfil do professor/a tem vindo a mudar e nem sempre os próprios/as têm facilitado uma definição que ajude a nutrir por eles/elas mais respeito e consideração cultural: se atendermos ao modo de se apresentar e virmos ainda a postura poderemos ter dificuldade em conseguir ver os docentes como mentores da sua própria creditação…

3. De formas bastante diversificadas foram construídos certos esquemas de nivelamento pela negativa quanto à função de professor, isto é, em relação a alguém que cuida de ensinar, semeando em quem é educado (ensinado) algo que há de ser visto em frutos e em consequências de vida. Quem não recorda algum professor que nos fez crescer na aprendizagem e foi semeando projetos de sabedoria, mais do que de mero saber? Quem não terá – infelizmente! – experiências de ter encontrado quem sabia até muito, mas não era capaz de transmitir, pedagógica e culturalmente, as suas lições aos ouvintes/alunos/estudantes? Quem não terá vivências de professores que eram mais do que comunicadores de matérias de aprendizagem, mas nos davam lições mais pela vida do que pela sabedoria, mesmo que fosse muita e claramente bem assimilada?

4. De facto, a missão de ser professor é essa mais de ensinar com a vida do que de ‘dar aulas’ – como dizia uma vez um colega: dadas, não; pagas e bem pagas…noutros tempos – quer dizer: é preciso ter vocação para ser professor, nessa tarefa de não deixar que as matérias se sobreponham nem acumulem coisas já sabidas, mas atendendo sempre a quem é ensinado, primeiro a pensar e só depois a exprimir o que aprendeu.

Ora, como dizem por aí com a falta de professores e, se recorrerem aos que têm habilitação suficiente e não à capacitação própria, correremos o risco de fazer cair ainda mais no nível de instrução. Temos de saber investir naqueles/as que fazem evoluir a sociedade através do ensino. Precisamos de pagar condignamente àqueles/as que ajudam a aprender a pensar mais do que a obter conhecimentos sem utilidade.

5. Os professores «são os “artífices” das futuras gerações. Com o seu conhecimento, paciência e abnegação, transmitem um modo de ser que se transforma em riqueza, não material mas imaterial, criando o homem e a mulher de amanhã. É uma grande responsabilidade» – Papa Francisco, 7 de fevereiro de 2020.



António Sílvio Couto

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Contra uma política ‘erotizada’ – educar para a poupança

 

De há uns tempos a esta parte – sociedade ocidental em geral e especificamente em Portugal – temos vindo a assistir (talvez até a participar) ao incremento de uma cultura de consumo: faz-se crer que gastar mais é a solução, mas se tal não se consegue, lança-se dinheiro sobre os problemas, destejam entretidos a consumir e/ou a reivindicar tal ‘direito’.
Com a devida e necessária ressalva poderemos comparar os mentores – económicos, sociais, políticos ou outros – desta onda de consumismo com aqueles programas de erotização (pornográfica ou não) que excitam os interessados e logo tentam impingir os placebos de contenção, preservando ou anulando as consequências.

1. Num país que se quer nivelar pela fasquia da vida europeia vemos crescer essa aferição ao superior nível de vida, mas andamos muito por baixo quanto aos rendimentos e à mentalidade, isto é, como diz o nosso povo: temos barriga de rico e bolso de pobre. Traduzindo: a nossa capacidade de trabalho – produtividade e organização – está a quilómetros daquilo que acontece no resto da União Europeia. Por alguma razão rendemos melhor lá fora do que por cá… Somos bons, mas têm de ser, normalmente, os outros a organizar e a gerir… Por que será?

2. Bem podem os políticos de uma certa esquerda reclamar aumento de salários, mas como podem estes crescer se a produtividade não acompanha o mesmo ritmo? Podem argumentar com salários que condigam com as tarefas, mas como podem suportar as empresas – na sua maioria pequenas e quase familiares – os encargos se o custo de produção ultrapassa os lucros de manutenção? Esses que até têm na sua linguagem as ‘mais-valias’, saberão que estas são sugadas pelos impostos e tragadas pela incapacidade de fazer face àquilo que o Estado exige e cobra sem-dó-nem-piedade?

3. A subtileza de quem nos governa é lançar dinheiro – no início barato, mas depois cobrado fortemente – sobre os problemas. Não se cuida de educar a gestão daquilo que é fornecido. Nota-se um certo complexo quanto ao incentivo à poupança, como se isso fosse uma espécie de resquício de ‘estado-novo’. Preferem reclamar dos direitos – muito deles adquiridos de forma injusta e enganadora – e nunca de ensinar a poupar hoje para ter o suficiente amanhã. Vemos pulular a mentalidade de que ‘alguém’ há de pagar, mesmo as obrigações para com os bancos – devido aos sucessivos empréstimos – ou até os cartões que desfilam em maré de ir às compras…muitos deles só ocupam a carteira, pois não valem nada nem têm cobertura na conta…

4. Já conhecemos – de outras épocas de austeridade (coisa que não assumem, mas semeiam) – a estratégia de certos partidos, quando colocados a governar: distribuem dinheiro, mas não criam riqueza; espalham benesses, mas não fizeram nada para que isso possa ser explicado… Veja-se a situação atual: a cobrança de impostos – iva, sobre produtos petrolíferos, resultante do crescimento da inflação – enche os cofres do Estado e logo surgem os reclamadores da preguiça a querem esbanjar já o que pode ser preciso em breve.

Em nada as medidas enunciadas pelo governo – mais de dois mil milhões de euros em prebendas ao povo… na mutação a gosto da ‘família’ – mudam a forma de estar, pois não será com uns poucos euros de sobejo que seremos capazes de enfrentar – agora e no futuro próximo – as mazelas de má gestão. Os problemas são mais do que discrepâncias de inflação, estão entranhados na nossa malha estruturante como povo…

5. Há uma mentalidade estrutural que abjura a poupança e com isso não se educa (nem se deixa educar) para que não gastemos além das nossas posses. Desde tenra idade, é preciso não criar essa mentalidade do desperdício, pois isso pagar-se-á com juros, não só económicos como psicológicos e sociais.

Em vez de entreterem as pessoas com mexeriquices da vida alheia – falsa, preguiça e fútil – os programas televisivos (e não só) deveriam ensinar as regras do aproveitamento do não-desperdício, já.

Contra o consumismo lutar e saber defender-se, com critérios e valores mais do que materialistas!



António Sílvio Couto

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Dão-se alvíssaras

 


Recordo, em tempos idos, o anúncio em epígrafe – ‘dão-se alvíssaras’, como forma de compensação por algo que podia ser reavido, se outrém ajudasse, mesmo que forma anónima.

Mas qual a origem desta palavra – ‘alvíssaras’? Quais os sentidos que pode ter?

Recorrendo ao dicionário ‘priberal da língua portuguesa’, lemos:

‘Al·vís·sa·ras’ (árabe vulgar al-bixra, do árabe al-buxra, boa nova)
nome feminino plural
1. Prémio dado a quem apresenta objectos perdidos ou ao que dá uma notícia agradável.
interjeição
2. Expressão usada para pedir um prémio por uma boa notícia ou por um objecto encontrado.
3. Expressão usada para exprimir contentamento por uma boa notícia.
Colocada esta informação metodológica, vamos àquilo que motiva esta reflexão.

1. A quem daríamos o tal prémio? Quais serão as boas novas a que nos poderemos ater?  Teremos motivos para reconhecer alguém, por entre tantas lamúrias? Haverá capacidade de tentar ver algo mais do que o negativo? Quando aprenderemos a sacudir a negatividade dos nossos olhos e dos nossos juízos?

2.  À semelhança de Diógenes – o tal filósofo grego que percorria as ruas de Atenas com uma lanterna acesa… em pleno dia. Se alguém o questionava sobre esta estranha atitude, dava sempre a mesma resposta, que levava a candeia acesa porque o ajudava a encontrar um homem honesto. Não consta que tenha encontrado algum...
Bem poderíamos andar por aí de candeia acesa em pleno dia que talvez não conseguiríamos descobrir alguém honesto, isto é, honrado, sincero, sério... Não é que seja impossível encontrar alguém com estas qualidades, mas que elas estão assaz escondidas que quase foram ofuscadas pela incompetência, a habilidade e mesmo a mentira e a corrupção.

 

3. Dão-se alvíssaras a quem conseguir acertar no/na substituto/a da ministra da saúde, ela que foi entronizada com pompa e circunstância no partido e agora é abjurada por quase todos.

Dão-se alvíssaras a quem conseguir adivinhar a solução para o ‘novo’ aeroporto, dado que surgiu uma nova localização a norte de Lisboa, mas sem dados credíveis.

Dão-se alvíssaras a quem der um aceno sobre a solução para algumas dioceses sem bispo residencial – já são três: Açores, Bragança-Miranda e Setúbal – e caminhamos para mais cinco: Beja, Algarve, Portalegre-Castelo Branco, Lisboa, Guarda – cujos titulares perfazem a idade canónica a curto ou a médio prazo... Será por falta de candidatos ou por negativa dada por alguns indicados?

Dão-se alvíssaras a quem descortinar solução para o emaranhado do setor da educação – escolas e professores, alunos e auxiliares de educação, pais e encarregados de educação – dado que não se percebe completamente o que é ensinado, qual a competência (crescentemente desautorizada) dos que ensinam e, sobretudo, se a educação é da escola ou das famílias.

Dão-se alvíssaras a quem consiga dizer sem subterfúgios nem desculpas se certos partidos não passam de agremiações de emprego – ao nível estatal ou autárquico – ou de entidades de encobrimento de interesses mais ou menos sensíveis ao prolongamento do ‘nada fazer’ que possa questionar o poder que não a autoridade...

Dão-se alvíssaras a quem consiga perscrutar quando certos dirigentes deixam o posto – desses que se reclamam tanto de democratas, mas que, afinal, vivem numa espécie de monarquia sem trono – ou ainda quando aprendem a ler a história em sentido diacrónico e não factual...e fixista do império acabado.

 

4. As alvíssaras não estão em saldo, mas podem servir para destronar instalados e servidores do passado!

 

António Silvio Couto

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Como atuar em minoria, enquanto cristãos?

 


Apesar de tudo é uma constatação óbvia: os cristãos (praticantes) são, hoje, uma minoria, um pouco à semelhança da sua origem. Os tempos de cristandade são (ou podem ser) para uma maioria uma lembrança ou, se quisermos, uma memória algo longínqua e quase medieval. A coincidência entre sociedade e Igreja (católica ou outra) esfumou-se com grande velocidade, embora com ritmos diferentes nas várias partes do Planeta.

Porque há algo que temos de analisar, de refletir, de discernir – como agora se diz com propriedade e significado – e de reaprender a saber estar neste mundo, por vezes, mais hostil do que favorável à fé do que às espiritualidades…

1. Conceito bíblico-religioso de ‘minoria’

Ser ou estar em minoria é algo que encontramos com facilidade nos textos bíblicos, tanto em referência ao povo de Israel (o ‘resto’), quanto aos discípulos de Jesus (‘pequenino rebanho’). Se o primeiro conceito provem de uma purificação daqueles que foram infiéis a Deus, o segundo conceito (o de Jesus) faz-nos perceber que é algo a crescer, como nas imagens que Ele usava do fermento ou do grão de mostarda.

Não incluímos nesta abordagem os grupos ‘minoritários’ (sociais, étnicos, morais ou económicos) nem as implicações que pretendem impor à visão mais abrangente dos temas e das questões que desejam influenciar. Quedamo-nos pela leitura mais ‘religiosa’ do tema, tentando perscrutar aquilo que ‘ser minoria’ significava ontem e pode ter implicações hoje. De facto, ter espírito de minoria como que obriga a armar-se com ferramentas – como agora se diz – em que sejam tidos e achados aqueles que têm pertença a tal minoria.

2. Como enfrentar as ‘maiorias’?

Sentir-se ‘maioria’, por vezes, acomoda, desmotiva ou até deixa que se perca a capacidade de se ser aquilo que se deve ser. Deste modo ao cair a máscara de maioria dos cristãos – dizemo-lo dos praticantes – temos de saber-nos aferir a uma nova forma de estar em Igreja e como Igreja…católica.

(Um aparte: ninguém se ofenda em escrevermos ‘católica’ em letra minúscula, pois não é depreciativo, mas tão-somente uma propriedade/qualidade da mesma, que não desqualificativa).

Por onde anda essa vivência de sermos maioria, não na intenção, mas no compromisso? Por onde teremos de encontrar os cristãos/católicos que se assumam em comunhão com a Igreja no seu todo e não só nas facetas que lhes interessam? Como teremos de abandonar clichés e tiques de maioria, quando estamos reduzidos ao menor denominador comum…talvez sem disso nos darmos conta?

3. Como evangelizar a ‘cristandade profana’?

Esta expressão de ‘cristandade profana’ reporta-nos a meados do século passado e como que me recordo de um pequeno livro publicado, no ano 2000, intitulado – ‘evangelizar a cristandade profana’, editado pela Paulus editora – e onde era feita uma abordagem a este tema, tendo em conta que estamos numa época de transição acelerada e onde ou acertamos com o ritmo ou ficamos fora dele. Com efeito, é hora de abandonar a sobreposição de regalias sociais – quer dizer feriados – entre os que são católicos e outros que se estão borrifando para essa nomenclatura de favorecimento. Confesso que me custa imenso que haja quem usufrua dos feriados ‘religiosos’ para deles gozarem com quem os tenta viver segundo o tal espirito da lei. Primeiras e primordial qualidade: verdade e seriedade de todos e para com todos…

4. Sinodalidade: caminho para a reevangelização?

Por agora discute-se e aprofunda-se na Igreja católica este tema da sinodalidade. Assunto essencial nos primeiros séculos do cristianismo tem estado a ser analisado nas mais diversas instâncias católicas. Ainda por estes estes dias quase quatrocentos clérigos, em Fátima, se entretiveram com o assunto. Por ser tão antigo quase se tornou substrato de tantas coisas na Igreja. Ao emergir nas teias católicas precisa de ser visto, aceite e comungado na sua primigénia intenção. Não façam deste termo mais um adjetivo das coisas de entreter…



António Sílvio Couto