Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Aliciar emigrantes…hoje como ontem

Foi altissonantemente proferido por um dirigente partidário em maré de ‘rentrée’: os emigrantes que queiram regressar terão desconto em cinquenta por cento no IRS…
A sugestão é como que uma tentativa de fazer regressar, aliciando, os milhares de portugueses que foram saindo do nosso país por ocasião da (rotulada) crise. Muitos deles/as eram possuidores de boas formações universitárias, mas não conseguiam, aqui, emprego compatível com as suas aspirações nem aos investimentos feitos em formação. Outros/as aspiravam receber reconhecimentos e vencimentos mais compatíveis com o seu (pretenso) estatuto…social, profissional ou ascensional. Uma boa parte foi tentar ganhar depressa o que iria auferir em mais tempo por cá…
Diga-se o que se quiser mas um número significativo dos emigrantes saídos por ocasião da crise posterior a 2008 comportou-se como uma espécie de mercenário: aqui deram-lhes as armas e lá fora conquistaram as vitórias…quase sempre de mãos voltadas para dentro, isto é, de forma egoísta, ardilosa e interesseira!


= Será justo que agora pretendam dar-lhes benesses contributivas, sem ofenderem os que por cá aguentaram a crise e a conjuntura de aperto e de contenção? Não estaremos a prolongaram uma certa exploração dos oportunistas e aventureiros, que agora podem voltar como heróis sem honra nem mérito?
Os que correspondam ao desafio não estarão a revelarem-se mais uma vez como beneficiários de todas as regalias e nunca contribuintes, pelo seu trabalho na dureza e pela participação ativa, mas antes saltimbancos em feira de vaidades e como malabaristas de torna-viagem? Quem conheça, minimamente, a mentalidade duma boa parte dos emigrantes saberá que são explorados na saída, esmifrados no local de receção e usados como descartáveis na hora de regressarem…desenraizados, apátridas e sem eira nem beira que os aceite, acolha ou mesmo tolere, à exceção do seu dinheiro!
Infelizmente este percurso não se modificou só porque já não moram no ‘bidonville’ ou que não recolham o sustento e o agasalho na ‘poubelle’ das grandes cidades…seja qual for o país. Os tempos são outros, mas a ostracização não se modificou tanto assim…ao menos culturalmente. Vi-o, por vezes, lá fora! 

= A mentalidade que propôs aos emigrantes voltarem com IRS reduzido é a mesma que fez alguns dos seus fundadores fugirem para o exílio e voltarem como heróis cobardes. A cultura subjacente a esta proposta nunca teve de sujeitar-se às agruras no estrangeiro, pois aqui tinham quem lhes pagasse as propinas e as contestações, normalmente a coberto da noite, de meninos-rabinos-pinta-paredes. Será que algum dos pensantes desta proposta viveu com os emigrados no duro ou antes deambularam pelos halls de hotéis de categoria superior?
Parece não haver dúvida que, uma boa parte dos nossos políticos profissionais, ouviu cantar (ou pensa) numa certa capoeira, mas não conseguem distinguir entre o som dum galo ou dum garnisé, dando mesmo a impressão de que para eles desde que ponha ovo – o produto com retorno económico imediato – poderá ser galinha ou outra ave…Só que o produto de retribuição nem sempre é o mesmo, antes poderá confundir certos pensadores de má memória e/ou de menos boa conduta…

= Embora um tanto tenuemente vimos surgir alguma contestação ao projeto iluminado de reduzir o IRS em metade para os emigrantes que queiram regressar. Antes de tudo será sempre fundamental saber as motivações que levaram milhares de pessoas a saírem. Não será certamente com acenos destes que muitos voltarão, até porque – já o referimos várias vezes, por conhecimento de causa – a possibilidade de alargar horizontes e de experimentar outras realidades culturais vale muito mais que todos os incentivos para a descida de impostos. Quem assim pensou e propôs talvez tenha considerado que os emigrantes ainda são assim tão cretinos como a sugestão manifestada…
Pensem melhor as coisas e não ofendam a inteligência dos que podem ter saído na linha dos navegantes das descobertas, a quem os ‘velhos do Restelo’ não intimidam, antes incorrem em ridículo, ontem como hoje!              


 


António Sílvio Couto

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Fazer de surdo…sem ser mudo!


Novamente trazemos à liça a estória da corrida de sapos.

Fez-se, um dia, uma corrida cujos intervenientes eram sapos. O objetivo era atingir o ponto mais alto de uma torre. No local havia uma grande multidão a assistir. Havia quem aplaudisse e incentivasse os sapos na subida ao alto da torre. No entanto, o que mais se ouvia era: ‘Que pena! Os sapinhos não vão conseguir... não vão conseguir’! E os sapos começaram a desistir um a um... Só se manteve na competição um, que continuava na subida, cada vez mais cansado, mas tentando chegar mais alto. No final da corrida todos tinham desistido menos ele.

Ora a curiosidade tomou conta da assistência. Qual tinha sido o segredo de ele não ter desistido e de ter chegado ao alto da torre. Quando foram ver, perceberam como o sapo vitorioso tinha conseguido terminar a prova, descobrindo que aquele sapo era surdo! 

Não podemos confundir ser surdo com a possibilidade – normalmente ligada – de também ser mudo, pois nós repetimos o que ouvimos e, se não ouvimos minimamente, não será fácil sequer aprender a falar…corretamente.

Há, no entanto, pequenas nuances que poderão fazer com que ‘ser surdo’ não implique viver como mudo, isto é, podemos fazer-nos de surdos e não nos confinarmos a viver meramente em estado de mudez. Com efeito, em certas circunstâncias é útil e conveniente fazer-se de surdo, dando a entender que não se ouviu, embora se possa sentir vontade de ripostar. Noutros casos a melhor resposta é essa de se fazer de desentendido, deixando que o que é dito entre a 100 e saia a 200 sem nexo nem propriedade…neste setor se podem inserir muitas das ofensas e malquerenças com ou sem animosidade. Há situações em que é preferível fazer-se de surdo do que ouvir as insídias e animosidades de quem se entretém na maledicência, enterrando vivos e desenterrando mortos, pois, na maior parte dos casos vemos mais pundonores agravados do que observações com significado e conteúdo…

Estas considerações sobre a condição de surdez ou de mudez não têm, em nada, qualquer menosprezo sobre as pessoas que possam sofrer dessas limitações humanas e comunicacionais. Pelo contrário, estamos irmanados com quem sofre dessas condicionantes, dando atenção mais psicológica e emocional de quem se comporta como se fosse surdo sem sê-lo e toma atitudes de mudo sem tal ser a sua condição…real.

Efetivamente é atroz, por parte de certas pessoas que deviam intervir, o silêncio e o silenciamento a que são votadas por uma boa parte da comunicação social. Falamos da maioria dos nossos responsáveis eclesiais: vemo-los e ouvimo-los muito pouco a pronunciarem-se sobre temas de índole social, política e cultural. Dá a impressão que são mudos duma mudez ensurdecedora e inquietante. Muitas vezes os que falam deviam mais estar calados e os que tomam esta atitude podem confundir quem precisa duma palavra de estímulo, de orientação ou mesmo de compromisso. Alguns nem se fazem eco das posições do Papa, criando confusão, se estão verdadeiramente sintonizados com o Romano Pontífice. Os que são ouvidos – ou a quem dão espaço de intervenção ao sabor do mundo – parecem já estar fora de validade, pois recuam tanto no tempo que quase parecem mais arqueólogos de estilo do que profetas inquietados e inquietantes…para hoje. 

= Numa asserção que precisa de creditar a mensagem atualizada do cristianismo necessitamos, com urgência, de fomentar uma opinião pública mais clara e clarificada das posições dos que intervêm na vida pública, pois em muitos casos corremos o risco de promover mais a mediocridade do que a ousadia, de concordar mais com quem não diz nada do que com quem procura fazer pensar e ter posição bem fundamentada, de beneficiar quem anda a bajular o poder do que quem procura corrigir os erros e as anormalidades que derivam dos valores e critérios do Evangelho.

Não deixa de ser sintomático que, na maior parte dos milagres de cura de surdos, nos evangelhos, estes passem a falar mais corretamente e que a sua palavra seja para louvar Deus e a sua glória. Muitos dos mudos são-no por influência das coisas do mal. Assim sejamos livres de tanta surdez e libertados de muita da mudez… assumida ou tácita.    

 

António Sílvio Couto

sábado, 25 de agosto de 2018

Leite, pão e bananas


Eis os produtos mais vendidos nos hiper e supermercados, dependendo da fonte de informação e dos postos de venda: leite, pão e bananas...

É significativo que a lista inclua, sobretudo, produtos de âmbito alimentar, dando a impressão que ainda se nota – muito mais do que seria desejável – que falta, ao nível geral, a resolução de necessidades essenciais como aquelas que envolvem a comida. Talvez nos possamos aperceber melhor destas lacunas se formos às compras – como os outros e com olhos de ver – e aí compreenderemos quais são os cuidados das pessoas, tanto daquilo que compram como naquilo em que investem as suas economias.

Há, por vezes episódios, que manifestam de forma mais ou menos inconsciente, esta fome encoberta. Bastará estar atento a alguma festa ou convívio, a algum momento onde entre a hipótese de comida, para vermos pessoas a devorarem avidamente tudo o que lhe põem à frente. Brevemente iremos viver, neste local onde há cerca de oito anos estou a morar – em razão do trabalho pastoral – um ataque à comida e à bebida de forma quase irracional: custa imenso ver certas cenas duma quase animalidade… em cada canto e em certas circunstâncias.

Já foi há anos, mas continua na minha memória com um ferrete atroz essa cena de ver pessoas, num almoço com bastante gente (mais de meio milhar), que julgava civilizada, a atirarem-se de forma desalmada sobre as mesas de doces, levando tudo numa revoada de ataque, quais gaivotas esfomeadas…e tudo desapareceu num ápice, enquanto outros ficaram sem ter acesso mínimo à (dita) sobremesa… Vi, duma clara e incisiva, o que será alimentar pessoas em maré de descontrolo e, sobretudo, de açambarcamento, sem olhar a meios nem respeitando nada nem ninguém…   

= Olhemos com mais acutilância para o mundo subjacente àquilo que comemos e, particularmente, na forma como o fazemos. Imensas artes se desenvolvem em volta da comida, desde a sua confeção até à sua utilidade, passando pelos benefícios ou congestionamentos até às subtilezas que nos fazem sermos apreciadores ou detratores dalguma manifestação cultural e/ou cívica onde aquilo que se come ou não pode ser mais do que um fator de alimentação.

A mesa e aquilo que nela se coloca revela muito da nossa identidade, na medida em que nós somos o que comemos. De facto, muito daquilo que manifestamos de forma mais ou menos explícita vem-nos daquilo que vivemos e convivemos à mesa, bem como daqueles com quem o fazemos. Estes tornam-se ‘companheiros’ – etimologicamente significando ‘os que comem do mesmo pão’ – mais do que comensais, pois com aqueles estamos em consonância e com estes talvez apenas em concomitância. Deste modo a ‘arte’ dos restaurantes não nos faz estar em comunhão mas talvez em parceria, o que não é a mesma coisa nem traz as mesmas consequências.

Será preciso, então, recuperar a ‘arte’ da cozinha familiar onde se aprende com a vida e não se está ao lado de quem connosco come, mas com quem poderemos não sentir mais do que mera utilidade ou justaposição. Muito daquilo que temos vindo a desfazer na nossa sociedade vem deste abuso em ir ao restaurante, como se aquilo que nele se recebe fosse melhor do que aquilo que partilhamos à mesma mesa e com pessoas que nos fazem crescer na vida e não engordar na socialização…  

= Agora que parece termos caído nos aspetos que mais nos faziam ser, como é a família, precisaremos de retomar aquilo que unia o tecido familiar e não continuarmos a viver neste faz-de-conta de que se tem meios de riqueza – como esse de ir comer fora – mas onde se vão estiolando as razões da nossa vivência e convivência humana e familiar. À boa maneira de encontrar culpados para o estado familiar a que chegamos há quem aponte o micro-ondas como um dos causadores da dissensão da família: aquece-se o que não se cozinhou nem apurou com a arte da paciência…e isso, sendo tão repetido, quase se torna um hábito que desfoca do essencial.

Usemos os meios para vivermos unidos e reunidos com paciência e condimentos quanto baste…

 
António Sílvio Couto  

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Somem desemprego e RSI… e cairá a máscara!


Tem sido bandeira da atual governança os números ‘fabricados’ do desemprego. A taxa anda, no final do primeiro semestre deste ano, por tabelas de há mais de catorze anos… fixando-se em 6,7% da população. Tanto sucesso sempre me cheirou a alguma manipulação…É só impressão minha!

Agora saltaram para o conhecimento público os que beneficiam com o ‘rendimento social de inserção’: mais de 13.500 do que há um ano atrás, totalizando (em contas possivelmente fiáveis) 223.188 beneficiários, recebendo, em 2018, cada um (adulto) 188.68 euros mensais.

Por seu turno mesmo com uma dita taxa de desemprego recorde na fasquia mais baixa, situa-se em cerca de 350 mil pessoas. No entanto, não se diz (ou não se quer dizer) quantos foram os que emigraram, os que usufruem em acumulação com outros subsídios e ainda os que, sazonalmente, encontraram emprego mais não deram baixa nos centros de controlo.

Não ousamos aglutinar os números dos beneficiários do RSI com os anunciados do dito desemprego, mas valeria a pena não excluir uns e outros da concomitância de regalias…ao menos nas estatísticas e por entre essa promoção aureolada de tão altos voos de recuperação económica, dizem os propagandistas de serviço!

Há quem queira fazer-nos acreditar que estamos melhor, mas, na prática, as solicitações de ajuda, que vamos recebendo nos espaços onde são pedidas, para rendas de casa, para medicamentos, para auxílio na água e na eletricidade mantêm-se… ao nível de 2011-15. Quem está no terreno pode confirmar os números e as solicitações. Ou serão surdos aos pedidos os espaços de atendimentos autárquicos? Será que só ajudam os que são da sua cor partidária? 

= As sondagens apontam para que, quem está no poder, possa ganhar. Infelizmente será o melhor, pela simples razão de que os que querem lá chegar, por oposição, não têm projetos e os que continuarem – mais ou menos vitoriosos – terão de governar mesmo a sério, tomando medidas impopulares, pois o baú das coisas boas não poderá continuar a dar sempre rifas de bom sucesso. Serão anos duros e com suficientes dificuldades para que não sejamos levados muito a sério sobre o que desejamos para o nosso país. Os vendedores de sonhos tornar-se-ão fabricantes de pesadelos. Os que antes foram comparsas na vitória, ansiarão chegar às fímbrias do poder, nem que seja da forma mais populista inimaginável. Cairemos na insolvência económica e abriremos, então, os olhos para a realidade da falência…mais uma vez à custa dos mesmos e com a responsabilidade de não termos aprendido as lições dos anteriores resgates…estrangeiros.  

= Dá a impressão que, neste país, uns tantos estão fadados para governar em tempo de ‘vacas gordas’ e outros em maré de ‘vacas magras’, estes conseguem recuperar nas dificuldades e aqueles estão sempre prontos a gastar depois de outros terem aferrolhado… Ora, como a memória do povo é curta, percebe-se que não aprendemos as lições dos três anteriores resgates – 1977, 1983 e 2011 – pedidos a quem tem dinheiro para nos ajudar a sair do colapso, que os governantes das ‘vacas gordas’ conseguem imprimir na configuração do país social, sindical, político e mesmo cultural. Deste modo se pode compreender que não somos capazes de passar dum regime para um sistema de poupança, dum tempo em que os sacrifícios são lições nem em que os constrangimentos pessoais e familiares se repercutam no todo da sociedade…

Estamos agora, desde a atual governança, sob um regime de fazer tudo o que nos possa agradar, saltando por cima das razões que nos conduziram, há bem pouco tempo, a dizerem-nos que estávamos ‘em crise’. Acabado esse aparente tempo de contenção, eis que os números dos gastos dispararam, chegando a haver, em média, 25 milhões de euros de crédito/compra à habitação por dia…Não será que algo vai mal no reino do faz-de-conta? Quem irá ganhar com tais investimentos quase descontrolados? 

= Já percebemos que se pode enganar durante algum tempo, mas não todo o tempo, sem disso se darem conta os ludibriados. Não se pode continuar de forma irresponsável a ser vendedor de patranhas, sem disso se aperceberem os que são usados na ilusão. Por momentos digam-nos a verdade para não sermos considerados alvo da risota do resto da Europa… que nos vê como melhores gastadores do que trabalhadores!   

 

António Sílvio Couto

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Culpa…divorciada


Meia-volta é costume ouvir-se a expressão: a culpa não pode morrer solteira. Que alcance tem esta frase? Quer dizer algo de positivo ou revela alguma desconfiança e, por isso, de negativo? Será que a culpa não é mais solteira do que assumida? Quem deixa a culpa solteira, será por vergonha, inépcia ou cobardia?

O contrário de deixar a culpa solteira é – subentende-se – assumir as suas culpas, sejam elas visíveis e atuais, sejam remotas, presumidas ou reais. Com efeito, muitas pessoas vão tentando aligeirar as suas responsabilidades não assumindo as suas culpas nem colhendo os frutos daquilo em que se meteram e que depois não correu como era desejável.

Mas pior do que a ‘culpa solteira’ ou a ‘culpa casada’ (isto é, assumida) é a ‘culpa divorciada’, pois esta vai tentando adiar o que é claro para muitos, mas só os próprios é que não o veem nem o reconhecem… Vejamos, então, alguns casos de ‘culpa divorciada’ ou seja quando as desculpas são mais agravantes do que a assunção dos erros.

* Quando o governo canta vitória nos incêndios mais recentes, só porque não morreu ninguém – bem bastará o peso da culpa nas mortes do ano passado e foram mais de cem – mas que deixou um rasto de destruição devido a incúria, má organização e deficiente combate às chamas…com bastantes casas queimadas e vidas destroçadas… Esta culpa ainda não foi assumida por quem de direito e até se fez (já) campanha eleitoral com palavras de mau gosto e deficiente enquadramento…  

* Quando uns tantos ‘democratas’ de trazer por casa exigem que convidados para a web summit sejam excluídos pela simples razão de que não são da sua coloração e nem perfilam a sua ideologia, ficamos a saber que a culpa dos outros é a de não pensarem como eles, embora certas ideias sejam menos bem respeitáveis… Ora nunca vimos que os agora protestantes tenham alguma vez assumidos os seus erros e crimes…noutros países antes e atualmente, se bem que à sombra dos seus ideais internacionalistas… A culpa está, nitidamente, divorciada da vida de tantos/as democratas disfarçados/as de ditadores de partido único!

* Quando vimos as reações de certas ‘juventudes’ partidárias sob a possibilidade da reintrodução do serviço militar obrigatório, logo sentimos que há por aí muita gente que não quer reconhecer a falta de um plano de educação dos mais novos, preferindo-os de rédea solta e sem restrições às suas voragens de sucesso económico… Falta a alguns dos políticos recentes a ‘escola da tropa’, onde se adquiria disciplina, companheirismo, espírito de sacrifício, abnegação e amor à pátria… Também neste aspeto alguns dos dirigentes têm de assumir as suas culpas, não para haja guerra, mas para que tenhamos uma juventude com valores…muito além da preguiça, da subsidiodependência ou confusão moral…

* Perante certas notícias e investigações – mais no estrangeiro do que por cá – sobre atos imorais dalguns eclesiásticos, vemos crescer a vergonha de que não se tenha cuidado de fazer uma triagem mais séria e exigente de muitos dos que aspiravam ao sacerdócio ministerial. Por parte do Papa – já desde Bento XVI e agora com mais energia Francisco – temos visto serem traçadas orientações muitos implacáveis para com os prevaricadores. Não poderemos baixar, minimamente, a guarda só porque decresceu a procura, mas teremos de assumir as culpas, os erros e os maus discernimentos mesmo nos tempos mais recentes…Os nossos irmãos na fé merecem e precisam de quem os sirva com o máximo de pureza e de oblação, reconhecendo cada qual os seus pecados, deles pedindo perdão a Deus e à Igreja.

* Quando já se jogam os campeonatos do futebol, temos de ter a coragem de exigir dos vários intervenientes as culpas dos insucessos, mesmo que camuflados de críticas a quem os possa colocar em cheque, isto é, sob fogo de não-pacto com conluios e manipulações. Está na hora de que os que jogam a falar sejam culpados do ambiente de guerrilha em que colocam quem joga, quem dirige ou quem arbitra… Seria muito útil que se soubesse com verdade qual é o sharing de audiências dos programas onde se vê e escuta a pior má-língua… Estes incendiários televisivos precisam de ser castigados com a não-audiência das suas alarvidades!

 

Muitos mais casos haverá de culpa divorciada, que precisamos de conhecer, dando a todos um período de correção, não deixando que os autores e fautores não sejam castigados devidamente… 

 

António Sílvio Couto  

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Em busca do nexo de certas coisas


Quem não se terá já interrogado sobre o nexo entre coisas que parecem sem ligação? Quem não terá já tentado descobrir o que une aspetos que parecem desligados? Quem não terá feito perguntas que incomodaram quem as escutou? Quem não teve já de travar a resposta, pois se apercebeu que a pergunta trazia algo de insinuante, fosse qual fosse o respondido?

De facto, é preciso ser capaz de ter mais informações para silenciar uma possível resposta a algo muito simples, senão na forma ao menos no conteúdo.

Por vezes, sobretudo tendo em conta a proximidade das pessoas e das situações, é preciso estar bem informado para responder a questões do âmbito autárquico e/ou mesmo paroquial. Se bem que este termo ‘paroquial’ seja, nalguns casos, usado para qualificar, ironicamente, questões quase de ‘lana-caprina’ (isto é, sem grande interesse nem importância, mas à qual alguém confere a sua relevância), há, no entanto, no âmbito das paróquias coisas bem mais essenciais do que inutilidades…

Será, então, no círculo de maior proximidade que se torna relevante alguma sagacidade para saber distinguir – em termos cristãos, discernir – entre aquilo a que se dá importância e aquilo que a tem de verdade.

– Numa espécie de hierarquia de fatores, o do conhecimento das pessoas que intervêm é essencial, pois muito daquilo que é dito ou reportado tem a ver com a idoneidade das pessoas intervenientes: não é a mesma coisa, algo ser dito ou feito, programado ou executado, por quem tem para nós credibilidade ou por um/a outro/a que se apresenta como credibilizado, mas só no seu conceito… As provas dadas são o melhor critério de boa ou de má reputação!

– Outro aspeto relevante é o das consequências daquilo que se fez ou pretendeu fazer, pois há pessoas que aparecem com ‘boas intenções’ ou (sei lá) ideias, mas que nem com um dedo querem participar na execução daquilo que disseram que fariam…Estes/as idealistas são úteis para gerar confusão, dado que não participam na prossecução do que é pretendido. Fazem lembrar aqueles militares que usam a expressão: preparemos e marchai…ficando de fora como os bonecos dos ‘marretas’ no alpendre a dizer mal de tudo e de todos, quando eles é que estão (mesmo) mal…

– Na procura do nexo das coisas é de grande importância quem faz e aquilo que fez, tendo em vista o bem comum ou a autopromoção, beneficiando-se a si mesmo ou em função dos outros. Isto faz a conexão entre a credibilidade dos autores e a legitimidade da obra. Com efeito, no quadro de proximidade – tenhamos em conta os dois campos supra citados – não é muito difícil perceber quem usa os outros para seu benefício ou quem trabalha (mesmo sem pagamento) em atenção aos demais e àquilo que pretendem atingir. Quanta simpatia por aí espalhada, que não passa de disfarce (mal amanhado) para atingir os seus fins mais ou menos subtis. Quanto ‘culto da personalidade’, mesmo que encapotado, anda por aí difuso, por vezes, dando a entender que se é imprescindível, mas que depressa será descartado, quando deixar de estar no posto…

– Por último é (ou pode ser) de relevância um tanto creditante se aquilo que é promovido valoriza as pessoas, dando-lhes ferramentas para saberem conduzir-se e não tanto tendo-as presas a quem se reclama de autor. Com efeito, muitas vezes encontramos mais lacaios do que discípulos. Estes, como diz o aforisma popular, serão a crédito do mestre, na medida em que sejam capazes de voar com as próprias asas e sem peias de papagaio-de-papel…

Tentemos descobrir/discernir o nexo de tantas coisas e situações, nem sempre fáceis de entender!          

 

António Sílvio Couto

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Em sistema de ‘start-stop’…tecnológico e/ou humano


Certamente já reparamos que, quando estamos parados nalgum semáforo, há carros que estão desligados ou se desligam e, quando muda o sinal, logo são postos em funcionamento, voltando a estarem capazes de arrancar e seguir viagem…

A este processo – recentemente introduzido no sistema de fabricação de certos veículos automóveis – chamam-lhe: start-stop. Quais as razões para ser implementado este artefacto nos veículos automóveis? Haverá benefícios para o meio ambiente com a introdução e difusão deste novo modo de construção dos carros? De que modo iremos ver este sistema tecnológico mais vulgarizado em breve? Será que o start-stop prejudica, mesmo que de forma indireta, o desempenho dos carros? Haverá algum dos elementos dos veículos que é mais prejudicado pelo start-stop?´

= Definição descritiva do start-stop: é um sistema que desativa o propulsor dos carros nos pequenos momentos de paragem (em filas ou em semáforos), mantendo, no entanto, o sistema do veículo em estado de espera, religando-o ao tirar o pé do travão ou ao pisar a embraiagem, conforme o tipo de transmissão.

Poder-se-á considerar que, com a implementação do start-stop, se pretende conciliar o rendimento energético e as emissões de poluentes… Segundo alguns com o start-stop há um desgaste maior de certos componentes do veículo, como a bateria – aliás a bateria onde está este sistema introduzido é muito mais cara do que as habituais – e ainda outros aspetos do motor…

Com certos benefícios o start-stop poderá atenuar a emissão de poluentes até oito por cento menos e ainda uma redução dos gastos de combustível…até quinze por cento, em circuito urbano!  

= Atendendo a este ‘avanço’ tecnológico na área automóvel, poderemos inferir algumas questões para a vertente humana, social, política e quase cultural. Com efeito, em muitas destas situações já estamos numa espécie de passagem em ‘devagar-devagarinho-parado-em ponto morto’, isto é, em que nada parece influenciar a progressão seja daquilo que for, dando mais a impressão de que há gente interessada em que nada seja tocado nem modificado…Como que vivemos num start-stop de não-ignição tanto do pensamento como da emotividade.

Vejamos alguns exemplos:

– Os festivais musicais, sobretudo de verão, não serão já uma espécie de start-stop de certas mentes – poderemos dizer até de mentalidades – quando são combatidos os incêndios em meio rural? Uns param por inação, lazer e diversão e outros estão a carburar em lume demasiado aceso…

– Certas medidas antifogos-de-artifício não sofrerão de tiques de start-stop político sem efeito na prevenção de incêndios, mas antes se quedam pelo show sem público e com prejuízo dos que vivem daquele negócio? Algumas regras são mesmo de gente de gabinete e no arrefecido do ar-condicionado…

– Ao vermos uns tantos rituais religiosos – onde o folclore se sobrepõe à fé – não passarão de start-stop de quem se entretém com tradições, mas não se interessa com o significado daquilo que celebra? Já não há aspetos profanos nem religiosos nas festas que se fazem à custa dos santos, aqueles infiltraram-se tantos nestes que os profanaram sem apelo nem agravo…

– Depois da dita ‘silly season’ de outros tempos, não estaremos em start-stop dos políticos que preferem comandar à distância sem se sujar com as fagulhas queimadas? De gravata e no remanso lisboeta torna-se mais fácil controlar os incêndios, tanto no norte, como no sul e até nas ilhas… 

= Neste país em start-stop de conveniência torna-se urgente não ter medo de dizer a verdade. É de bradar aos céus que continuem no posto pessoas que demonstraram serem incompetentes na gestão de momentos de crise, seja qual for a razão, pois quem governa tem de assumir que falha e que erra…não se fiando na complacência de que foram causas exteriores que criaram os problemas… Basta de show-off, neste estado de start-stop em que quiseram tornar o país e têm vindo a viver do sarcasmo para com a inteligência dos seus concidadãos. Comecem a governar a sério e com responsabilidade cívica, ética e criminal!   

           

António Sílvio Couto


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Calor: situação, fenómeno ou desafio?


A canícula que assolou o nosso país nos últimos dias deixou a descoberto algo que não seria muito desejável: a onda calor com mais de 45 graus, na maior parte dos distritos, revelou que não estamos preparados para condições tão extremas e complexas de temperatura.

Os parcos dados fornecidos pela (dita) ‘proteção civil’ só dizem o que não devemos fazer e não nos apontam para aprendermos a lidar com fenómenos cada vez mais agressivos de oscilação térmica. A maior parte das casas – particulares ou de âmbito mais público – não estão capazes de salvaguardarem o bem-estar da população. Certos indícios de climatização não fazem parte dum plano articulado com a construção da quase totalidade dos espaços de habitação… Pior: se se tivesse isto verificado em tempo letivo, veríamos as escolas colapsar à luz da situação de grande calor.

Apesar de tudo estas oscilações térmicas são, em grande parte, resultantes da interferência humana na natureza, criando condições para que se possam verificar mudanças abruptas no clima e dando azo a que todos paguemos as consequências duns tantos que não olham a meios para atingirem os seus fins. Por isso, é urgente que assumamos, todos e cada um, que as alterações climatéricas – as vagas de frio ou de calor – são resultado duma certa deseducação relativamente à natureza, enquanto rosto, presença e sinal de Deus.  

= Talvez nos vamos habituando em excesso a consideração que verão e tempo quente possam ser quase significado de risco de incêndios. Com efeito, estes acontecem em razão de haver pontos de ignição de fogo, mas este nem sempre é desencadeado só porque há calor. Temos, cada vez mais de estar atentos aos múltiplos interesses que estão associados aos incêndios. Nem sempre será necessário explicitar esses desejos mais subtis, pois correremos o risco de confundir causas com consequências, podendo levar estas a misturarem-se com aquelas.  

= O lóbi dos fogos florestais é essa espécie de hidra em que detetada umas das razões, logo emergem duas ou três outras, numa subtileza que nem a mitologia era capaz de inventar. Cada ano podemos ver que os ‘sábios’ sobre a matéria não conseguem prevenir mais outros fatores de risco, seja ele médio ou menor. Dá a impressão que, da mesma forma que há a época balnear com todos os apetrechos que lhe estão inerentes, assim a ‘maré de incêndios’ tem já montada uma panóplia de recursos que é preciso serem desencadeados, pois há muitos recursos envolvidos.

Mutatis mutandis: no inverno é preciso que chova para que possam ser vendidos os guarda-chuvas, assim no verão (com o espaço de preparação e de avaliação) os incêndios mobilizam muitas forças mais ou menos necessitadas desses acontecimentos infaustos… 

= Sobretudo este tempo de calor mais agressivo veio colocar-nos mais uma vez a necessidade duma reflexão mais séria, serena e sensata sobre a ecologia, essa ciência que nos deve ocupar sempre e não só quando há perigo ou em tempos de crise. Enquanto cristãos temos de viver em contínua formação para que possa haver harmonia entre os humanos e a natureza. Tal como nos diz o Papa Francisco, na carta encíclica ‘Laudato si’, de 24 de maio de 2015: «A educação ambiental tem vindo a ampliar os seus objectivos. Se, no começo, estava muito centrada na informação científica e na consciencialização e prevenção dos riscos ambientais, agora tende a incluir uma crítica dos «mitos» da modernidade baseados na razão instrumental (individualismo, progresso ilimitado, concorrência, consumismo, mercado sem regras) e tende também a recuperar os distintos níveis de equilíbrio ecológico: o interior consigo mesmo, o solidário com os outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus. A educação ambiental deveria predispor-nos para dar este salto para o Mistério, do qual uma ética ecológica recebe o seu sentido mais profundo. Além disso, há educadores capazes de reordenar os itinerários pedagógicos duma ética ecológica, de modo que ajudem efectivamente a crescer na solidariedade, na responsabilidade e no cuidado assente na compaixão» (n.º 210).   

Cristãmente temos doutrina. Será que a conhecemos e, sobretudo, que vivemos em consonância com ela?

 

António Sílvio Couto  

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

‘Deus, pátria e família’…


Quem ler ou escutar este tríptico poderá como que ser levado a pensar nessa promoção sócio/política do período anterior à revolução de abril/74.

Foi, em 1938 (há oitenta anos), que, surgiu este cartaz da ‘trilogia da educação nacional’, promovida pelo Estado Novo, sob o regime de António Salazar. Deste modo se pretendia exaltar a boa harmonia do novo regime vigente, em confronto com os distúrbios da primeira república – 1910-1926 – de tão nefastas consequências sociais, económicas e mesmo culturais.     

Oito décadas decorridas quantas mudanças na configuração europeia e mundial; quantas diabruras surgiram no mundo da política; quantas tropelias foram idealizadas e realizadas no âmbito nacional, internacional e transnacional; quantas mudanças rápidas ou lentas, revolucionárias ou ideológicas, ético/morais e quase metafísicas…

Se quisemos atender a algum daqueles itens aduzidos, o que ainda vai escapando mais ou menos é o da família, se bem que mesmo aqui ‘família’ tem múltiplos e imprevisíveis resultados, quase dependendo de quem fala para ser encontrar um projeto de família a gosto, a pedido ou à la carte.  

= Aquele tríptico – ‘Deus, pátria e família’ – estará tão desatualizado assim ou foram outras infiltrações que o fizeram torna-se, na visão e no comportamento de alguns, em algo de quase jurássico ‘cultural’ e como que um produto assaz antiquado? Não andaremos, antes, ao ritmo, dum regresso de adolescência – da sociedade em geral e de muitas pessoas em particular – a viver sob clichés manipuladores e tendencialmente anarquistas?  

Ao tempo em que ofender era tentar rotular de ‘fascista’, de direita, conservador, reacionário…agora diz-se, preferencialmente, ‘populista’, xenófobo, racista, homofóbico…numa tentativa em colocar fora da discussão quem possa ser obstáculo aos objetivos mais ou menos pretendidos, camuflados ou insinuados… Por vezes é tanto mais grave quando uma posição tomada por alguém esquerdista é classificada de progressista e ousada, enquanto a mesma atitude tida por alguém que não tenha essa conotação ideológica pode ser considerada de conservadora, antiquada e, sub-repticiamente, fundamentalista! 

= Talvez haja razões de mentalidade para termos chegado a esta sociedade onde ‘Deus’ se tornou uma espécie de arquétipo mítico/ancestral…sem memória nem história. Deus foi banido das questões da maioria das pessoas, que vivem como se Ele não existisse nem tenha mínimo lugar nas suas conjeturas. A perspetiva nietzscheriana: ‘Deus morreu, eu matei-o, mas não me sinto lá muito bem’…é cada vez mais um recurso cultural que povoa muitas mentes e vidas dos nossos contemporâneos. Ao vermos as atitudes e os comportamentos de tanta gente fica-nos a nítida sensação dum largo, profundo e altíssimo fosso onde muitos mergulham sem saída e sem nexo. Por isso, colocar Deus na esfera dos valores da maioria dos nossos coetâneos é como que usar uma linguagem sem compreensão nem suficiente valorização.

Por outro lado, não fossem as conquistas dos nossos futebóis e quase ninguém sentiria os eflúvios de nacionalismo – nalguns casos a roçar o bacoco bairrista e a lamechice inconsequente – ao escutarmos, a propósito e a despropósito, o hino nacional, numa tentativa de criar espírito de pátria e de comportamento de nação. Aí vemos, nem que seja por momentos de alienação coletiva, emergirem laivos dum povo que luta, esbraceja e, por vezes, conquista. Efetivamente os três sinais máximos de representação do nosso país – hino, bandeira e presidente – vão-se conjugando para remar para o mesmo lado da barricada, mesmo que esta possa estar empestada de lacaios, oportunistas e cobardes, hoje como ontem…

Não podemos deixar de continuar a refletir sobre esse outro aspeto que resta do tríptico citado: ‘família’. Mais do que um conceito sociológico em mutação, a célula básica da sociedade, sobretudo na linha da tradição judaico-cristã, precisa de ser analisada com olhos de futuro e não com nostalgia nem derrotismo. A família é e será sempre esse espaço de nascimento, de aprendizagem e de consolidação de cada pessoa, tendo em conta os valores, os critérios e os desafios permanentes a que está submetida. Com efeito, Deus cuida, a pátria alimenta e a família envia cada pessoa, em cada momento e numa contínua história de estórias…

 

António Sílvio Couto