Causou alguma perplexidade uma espécie de ‘fake new’: os mais velhos iriam ficar fora das prioridades no (possível) plano de vacinação em Portugal. Isto que parecia uma parte de um relatório preliminar como que se converteu rapidamente em algo alarmista, embora não muito bem fundamentado…
Se, noutros países, os mais velhos – superiores a 75 anos – constavam do
topo da lista para a vacinação, por cá as razões pareciam ser as contrárias:
está (ou estava) por demonstrar a eficácia das vacinas naquela idade, até
porque não terão sido feitos testes – suficientes e convincentes – abrangendo
tal setor da população.
Se a confusão trazida pelo ‘covid-19’ era grande, agora transformava-se
noutro assunto ainda mais agravado. Diz-se por aí que esta coisa da pandemia
‘deu a volta à moleirinha’ de muita gente, isto é, confundiu as ideias onde as
havia e turvou os pensamentos naqueles que os cultivavam…
A catadupa de episódios deste
mega-acontecimento em que se converteu a pandemia do vírus fatal, far-nos-á
corar de vergonha quando, daqui a uns tempos, analisarmos o que dissemos, o que
fizemos e, sobretudo, o que não dissemos nem fizemos…correta e sensatamente.
Deixo alguns flashes para uma possível
avaliação com mais serenidade, racionalidade e compostura… daqui a uns tempos:
* Aquele irrisório e bacoco cartaz tão
difundido e quão pífio: ‘vai ficar tudo bem’, ainda por cima com o recurso a umas
cores a fazerem lembrar outras lutas e piores diatribes…tornar-se-á a vergonha
de quem dele se serviu para se autoiludir, ludibriando os outros. Não, não vai
ficar tudo bem ou, então, seremos uns grandessíssimos irresponsáveis, se não
tivermos visto e feito o que devemos e que vai ter mesmo de mudar, desde as
coisas mais básicas de higienização até às mais complexas de convívio social.
* Teremos de reconhecer que há pessoas
suficientemente oportunistas em tanto deste processo de pandemia em curso, na
medida em que voltaram a discutir e contumazmente aprovaram a legislação
facultativa da eutanásia. Isto é de pessoas que colocam o essencial no seu
devido lugar ou que, pelo contrário, brincam com as circunstâncias para
prosseguirem os seus intentos? O calendário ideológico não foi capaz de se
conter tanto na forma, como no conteúdo, desde que consigam enganar os
incautos…
* O põe-e-tira da máscara fora ou dentro de
espaços cobertos, com pessoas ou a sós, na conversa ou às refeições, nas missas
ou na ida às compras…Dizem que resguarda, mas será que resulta? Dizem que evita
contágios, mas será que é eficiente? Uns tantos/as mais fundamentalistas
contestam o uso da máscara, mas podem ter de responder perante a justiça se se
comprovar que foram causadores de difusão do vírus.
* Há um assunto neste campo pandémico em
que me questiono com alguma preocupação: se alguns desses apelidados
‘negacionistas da covid-19’ – aqueles que negam o que há de nefasto provocado
por este vírus, rejeitando o confinamento e outras medidas – adoecerem,
precisando de tratamento hospitalar, terão o mesmo atendimento que outros não
contestatários? Será justo que, não tendo cumprido as regras sanitárias, possam
usufruir de idêntico cuidado, podendo até terem sido difusores do contágio?
Será que deveremos ser corretos com quem foi, no mínimo, incorreto e/ou
imprudente?
= O processo para a vacinação precisa,
agora, de ser devidamente delineado, sem colocar ninguém de fora. Se aquela
corrente de ideias – dado que de pensamento poderia ter outra qualificação – de
deixar os mais velhos fora das prioridades avançasse, não estaríamos a praticar
uma eutanásia social sem pedido? Se tal acontecesse a vacina poder-se-ia tornar
uma arma dos mais fortes sobre os mais fragilizados ou, porque não, dos mais
ricos sobre os mais empobrecidos…Mais do que estarmos todos no mesmo barco –
alguns não sabem nadar – estamos envolvidos nas mesmas circunstâncias, onde
todos somos pessoas com direitos e deveres iguais, cuidando e sendo cuidados
com carinho e ternura, mais por humanismo do que por conveniência. Afinal,
estamos irmanados na desgraça. Que o sejamos também na vitória contra as forças
malignas!
António Sílvio Couto