Com a proximidade da celebração anual da Páscoa, sejas tu quem fores, gostaria de te apresentar certas razões para que possas voltar ao seio da Igreja tua Mãe, sem reprimendas nem lições, mas com espírito de caridade, de humildade e em confiança... tocando algumas facetas (habituais) de acusação.
- Não vou com a cara do padre!
De muitas e variadas formas escutamos esta frase. Umas vezes reportando-se a situações (mais ou menos) pessoais, noutros casos como mero boato, pelo que outros/as dizem... de alguém.
Desde logo quero dizer-te, a ti que podes ter razão de queixa de algum padre, que podes ter razão, embora não tenhas, por certo, a razão absoluta... sobre todo e qualquer padre.
Seja qual for a atividade profissional que tenhas não se poderá concluir do teu desempenho (mais ou menos correto) que todos os que têm idêntica profissão são bons, menos bons, péssimos ou maus a partir da tua cara e/ do teu profissionalismo.
Também os padres – como homens pecadores santificados – sofrem de idêntica apreciação. Por isso, julgar todos os padres por causa de um padre que te possa ter desedificado ou até escandalizado, talvez seja precipitado ou mesmo injusto.
Temos de enquadrar a vocação ao sacerdócio ministerial como uma chamamento de Deus, que se irá aprofundando na vida daqueles que Ele chamou, amadurecendo com a idade e acrisolando-se com uma espiritualidade humilde, sincera e fraterna... em Igreja.
Quero, por isso, pedir-te: tenta perdoar, desculpa e compreender esse(s) padre(s) com cuja cara não vais nem te cativa... Reza por ele e ele rezará, certamente, por ti, entregando-te a Deus em cada missa que celebrará!
- Confesso-me a Deus e não aos padres!
Estoutra frase é recorrente, sobretudo, nesta época de absoluto relativo, onde cada um se considera intocável e, por isso, não-pecador, sem precisar de arrependimento nem de perdão, tanto divino como humano.
A ti, que podes ter uma experiência não muito boa da confissão sacramental, quero deixar-te uma certeza: se te é difícil submeter os teus pecados à misericórdia de Deus, pela entrega deles na acusação a um padre, podes ter a certeza que não é menos desagradável, em experiência de fé, escutar os outros, nas suas falhas e debilidades. É uma questão de confiança e de humildade... em Deus e em nós mesmos.
Certamente acreditarás – se nisso não creres dificilmente compreenderás este ‘poder dado aos homens’ de perdoar ! – que é a Deus que te confessas, mesmo que tenhas de te aproximar de um padre... pecador como tu, antes de ser ministro do sacramento do perdão de Deus na Igreja católica.
Se hoje é tão preciso ter com quem partilhar as nossas mágoas e feridas, Deus deixou-nos esta graça em Igreja. Se os gabinetes de psicólogos e de psiquiatras proliferam, em muitos dos casos foi porque se fecharam os confessionários. Naqueles temos de pagar, nestes tudo é gratuito e pura graça divina.
Mesmo que estejas ressentido com alguma coisa que possa não ter corrido tão bem como desejavas, em tempos passados, tenta deixar que a misericórdia de Deus te recupere para a graça d’Ele em Igreja, abeirando-te do sacramento da penitência e reconciliação... e a paz de Deus tomará o teu coração!
- Com certas exigências a Igreja está a perder fiéis!
Por vezes, diante de casos um tanto ‘normais’ – como situações de divorciados recasados, uma parte divorciada sem culpa, pessoas desenquadradas da prática habitual da fé – é comum ouvirmos: tenho direito a ser feliz e a Igreja não me compreende, não tive culpa em gostar de alguém que já foi casado, não me revejo na minha paróquia onde moro...
A ti que vives e já ouvistes estas e outras observações quero dizer-te: antes da felicidade (meramente pessoal) é preciso viver a fidelidade a Deus e uns para com os outros. De fato, a Igreja, tua e minha mãe, não exclui ninguém do seu regaço compassivo, mas temos de compreender que, tal como dizia São Paulo, tudo me é lícito, mas nem tudo me é permitido.
Certamente poderás reconhecer que não é possível viver sem o mínimo de regras e de leis na nossa vida do dia a dia. Assim, no trato da Igreja católica, teremos de entrar no espírito da lei e de não querermos fazer uma excepção para a nossa condição particular.
É com dor que vemos tais situações, mas temos de acreditar que é pela escuta e pel tentativa de nos conformarmos com a Palavra de Deus que poderemos viver a dinâmica da fé, mesmo que ela possa ter de passar pela purificação.
Seremos, verdadeiramente, fiéis quando sentirmos a Igreja como mãe na comunhão com um Deus que é Pai e nos faz irmãos em Cristo pela sintonia no Espírito Santo.
Para todos uma boa Páscoa de Ressurreição com Jesus!
António Sílvio Couto