Após a visita apostólica do Papa ao Iraque – de 5 a 8 de março – poderemos compreender um pouco melhor essa expressão do pontificado de Francisco: ‘Igreja em saída’.
Vejamos
uma espécie de definição descritiva disso que o Papa Francisco tanto tem falado
e que vimos plasmado na sua atuação.
«A Igreja «em
saída» é a comunidade de discípulos missionários que «primeireiam», que se
envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o
neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o
Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso,
ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro,
procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os
excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter
experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um
pouco mais no tomar a iniciativa! Como consequência, a Igreja sabe «envolver-se»
(...) Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos
outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação
e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os
evangelizadores contraem assim o «cheiro das ovelhas», e estas escutam a sua
voz. Em seguida, a comunidade evangelizadora dispõe-se a «acompanhar».
Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados
que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização
patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações. Fiel ao
dom do Senhor, sabe também «frutificar». A comunidade evangelizadora mantém-se
atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a
paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo,
não tem reações lastimosas ou alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a
Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de
serem aparentemente imperfeitos ou defeituosos. O discípulo sabe oferecer a
vida inteira e jogá-la até ao martírio como testemunho de Jesus Cristo, mas o
seu sonho não é estar cheio de inimigos, mas antes que a Palavra seja acolhida
e manifeste a sua força libertadora e renovadora. Por fim, a comunidade
evangelizadora jubilosa sabe sempre «festejar»: celebra e festeja cada pequena
vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência diária
de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia. A
Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é também
celebração da atividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se
dar» – Papa Francisco, Exortação apostólica ‘Evangelii gaudium’ sobre o anúncio
do Evangelho no mundo atual, n.º 24.
À luz das caraterísticas realçadas no texto (os sublinhados são nossos), vamos
tentar enquadrar esta ‘Igreja em saída’:
* Saber tomar a iniciativa – mais do
que esperar que venham, precisamos nós de ir; mais do que secretárias de
atendimento (acolhedor, simpático ou apelativo) e ficheiros em computador,
precisamos de deixar o conforto para entender os sinais que o mudo emite; mais
do que recauchutar iniciativas de antanho com hálito tradicionalista,
precisamos de ousadia no Espírito Santo;
* Envolver-se com gestos e sinais –
retomando essa expressão do Concílio Vaticano II - ‘gesta verbisque’ (DV 2) -
depois da falência do ‘bem prega frei Tomás, olha para o que ele diz e não para
o que faz’, somos chamados a vivenciar a experiência do ‘lava-pés’, dentro e
fora do contexto eclesial. As distâncias encurtadas pelos novos meios de
intercomunicação podem facilitar, mas não substituem o contato humano e
pessoal... muita gente continua de mão estendida à espera que a vejamos;
* Acompanhar em proximidade – de
pouco adiantarão as palavras de conforto, se isso não traduzir a comunhão de
vida, feita de chorar em conjunto, de alegrar-se em comum, de sentir mais do
que raciocinar;
* Saber frutificar – à semelhança do
semeador que vela os resultados, assim, como Igreja, precisamos de dar tudo sem
nada esperar em troca, pois a obra é de Deus e Ele fazer acreditar pelos frutos
que dermos;
* Ser capaz de festejar – num tempo
mais propício para a lamúria e a tristeza, a nossa liturgia precisa de sinais
de festa, pois, estando a ensaiar em condição terrena, havemos de celebrar a
liturgia glorioso no Céu!
António Sílvio Couto
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