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terça-feira, 9 de março de 2021

‘Igreja em saída’: exemplo do Papa


 Após a visita apostólica do Papa ao Iraque – de 5 a 8 de março – poderemos compreender um pouco melhor essa expressão do pontificado de Francisco: ‘Igreja em saída’.

Vejamos uma espécie de definição descritiva disso que o Papa Francisco tanto tem falado e que vimos plasmado na sua atuação.

«A Igreja «em saída» é a comunidade de discípulos missionários que «primeireiam», que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa! Como consequência, a Igreja sabe «envolver-se» (...) Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o «cheiro das ovelhas», e estas escutam a sua voz. Em seguida, a comunidade evangelizadora dispõe-se a «acompanhar». Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações. Fiel ao dom do Senhor, sabe também «frutificar». A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reações lastimosas ou alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos ou defeituosos. O discípulo sabe oferecer a vida inteira e jogá-la até ao martírio como testemunho de Jesus Cristo, mas o seu sonho não é estar cheio de inimigos, mas antes que a Palavra seja acolhida e manifeste a sua força libertadora e renovadora. Por fim, a comunidade evangelizadora jubilosa sabe sempre «festejar»: celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia. A Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é também celebração da atividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se dar» – Papa Francisco, Exortação apostólica ‘Evangelii gaudium’ sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, n.º 24.
À luz das caraterísticas realçadas no texto (os sublinhados são nossos), vamos tentar enquadrar esta ‘Igreja em saída’:
* Saber tomar a iniciativa – mais do que esperar que venham, precisamos nós de ir; mais do que secretárias de atendimento (acolhedor, simpático ou apelativo) e ficheiros em computador, precisamos de deixar o conforto para entender os sinais que o mudo emite; mais do que recauchutar iniciativas de antanho com hálito tradicionalista, precisamos de ousadia no Espírito Santo;
* Envolver-se com gestos e sinais – retomando essa expressão do Concílio Vaticano II - ‘gesta verbisque’ (DV 2) - depois da falência do ‘bem prega frei Tomás, olha para o que ele diz e não para o que faz’, somos chamados a vivenciar a experiência do ‘lava-pés’, dentro e fora do contexto eclesial. As distâncias encurtadas pelos novos meios de intercomunicação podem facilitar, mas não substituem o contato humano e pessoal... muita gente continua de mão estendida à espera que a vejamos;
* Acompanhar em proximidade – de pouco adiantarão as palavras de conforto, se isso não traduzir a comunhão de vida, feita de chorar em conjunto, de alegrar-se em comum, de sentir mais do que raciocinar;
* Saber frutificar – à semelhança do semeador que vela os resultados, assim, como Igreja, precisamos de dar tudo sem nada esperar em troca, pois a obra é de Deus e Ele fazer acreditar pelos frutos que dermos;
* Ser capaz de festejar – num tempo mais propício para a lamúria e a tristeza, a nossa liturgia precisa de sinais de festa, pois, estando a ensaiar em condição terrena, havemos de celebrar a liturgia glorioso no Céu!

 = Quem não viu tudo isto na recente visita do Papa Francisco ao Iraque? Aprendamos com o Papa!...  

 António Sílvio Couto

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