Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Respeito e consagração



Por estes dias têm ocupado as notícias matérias das quais se esperava algum consenso e até ponderação, mas o que acontecido é o contrário. As praxes universitárias e o Panteão nacional têm sido muito falados, mas nem sempre pelas melhores razões… As praxes pelos exageros e possíveis atropelos à dignidade e ao respeito pelas pessoas. Por seu turno, o Panteão como que serviu para que a ideologia republicana tentasse impor as suas motivações mais profundas… mesmo nas entrelinhas de uns tantos.

= Do significado do Panteão…

A ideia de ‘panteonizar’ figuras ilustres é já de meados do século XIX, no contexto da revolução liberal, mas só concretizada na vigência da primeira República. Atualmente o Panteão está instalado na Igreja de Santa Engrácia, Lisboa, recebendo os restos mortais de quatro Presidentes da República: Manuel Arriaga, Óscar Carmona, Sidónio Pais e Teófilo Braga; quatro escritores: Almeida Garrett, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro e João de Deus; um político, Humberto Delgado; uma artista, Amália Rodrigues… Para breve parece estar a trasladação para o Panteão dos restos mortais de Sofia de Mello Breyner Andersen, escritora.

Atendendo a que o sepultamento no Panteão pretende ‘homenagear e perpetuar a memória dos cidadãos que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade’… teremos de ser comedidos e sensatos ao recorrer a este tipo de consagração após a morte, pois muitos aproveitamentos podem ocorrer… como aqueles que temos visto e ouvido nalgumas das declarações e falecimentos mais recentes!

= Às preocupações das praxes…

Só mais de um mês após um trágico acidente, que vitimou seis jovens estudantes universitários, numa praia, de noite, é que houve coragem para destampar a panela efervescente daquilo que parecia algo académico… mas que talvez tenha outros contornos, motivações e significados.

De rito iniciático às mais soezes tropelias à dignidade humana, pareceu haver de tudo… misturando-se relatos de vítimas silenciadas, à espreita de fazerem o mesmo (ou pior) na hora própria da vingança. Sem lançar suspeitas da inteligência dos promotores – o chefe costuma ser o mais repetente na faculdade ou escola – choca-me ver jovens a serem tratados na categoria mais baixa da sua condição humana, tornada quase animalesca, senão na forma pelo menos no conteúdo. Se aquilo acontecesse numa escola de ensino básico tais atitudes teriam a condenação de pais, educadores e autoridades, mas como parece que se está num estabelecimento de ensino superior todos encolhem os ombros em atitude de desdém e/ou de vergonha?

Não basta trazer o assunto à ribalta, importa tomar atitudes enérgicas para que não se promova o faz-de-conta com que tantas vezes tratamos certos problemas. Agir, já e de forma consistente, é preciso!

= Propostas para a mudança

Porque estes assuntos são matérias de índole civilizacional, parece-nos que temos a obrigação de colocar questões ao modelo de sociedade que queremos no futuro, pois o do presente parece estar podre e vazio.

- Educar para os valores desde a mais tenra idade, colocando a instrução universitária (ou superior) num espaço cultural de serviço à pessoa humana e não à promoção dos outros para meu proveito… seja ele qual for, agora ou no futuro.

- Semear fraternidade e não exploração, pois somos confrontados com sinais de egoísmo e processos de imposição da vontade de minorias aos outros, isto é, temos de reconquistar a confiança uns nos outros, através de gestos e de palavras de verdade e de humildade.

- Proporcionar conquistas de serviço aos outros e não exibir-(se) em projetos mais ou menos interessantes, mas que só conseguirão vencer se forem participados por muitos e não aproveitados por uns tantos.

Respeito por si mesmo exige consagração de vida dedicada aos outros… porque eles são meus irmãos!

 

António Sílvio Couto

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Metade da riqueza mundial nas mãos de 85 pessoas


A riqueza de 85 pessoas do mundo corresponde à soma das posses de quase metade da população mundial, isto é, um por cento das famílias concentram 110 biliões de dólares, sessenta e cinco vezes a riqueza total da metade mais pobre da população mundial.

Esta conclusão faz parte de um relatório de uma organização não-governamental britânica a apresentar no ‘Fórum económico mundial’, que reúne, por estes dias, na Suíça. Este relatório refere ainda que, no último ano, mais de duzentas pessoas tornaram-se milionárias…

- Quando de tantas e tão variadas formas vemos as pessoas a viver em volta do dinheiro, podemos ficar estarrecidos com a concentração de tantos recursos nas mãos de tão poucos, criando uma espécie de injustiça agravada…

- Quando no nosso tempo as pessoas são valorizadas pelo que ostentam e não por aquilo que são, o abuso de poder económico torna-se uma conduta bem mais subtil do que aquilo que podemos reconhecer. Com efeito, há pessoas que valorizam o ‘ter’ em vez do ‘ser’ e o ‘parecer’ em vez da autenticidade e verdade.

- De muitas e diversas formas temos vindo a ser ‘educados’ para que o fator dinheiro valha mais do que a cultura, levando, por vezes, os mais novos a exigirem o que se torna quase incomportável para os pais e educadores. De fato, há fatores de distinção que flutuam ao sabor da vulgaridade de quem se promove e faz parecer importante, mas, de verdade, mais não é do que oco e vazio… tanto na prática como na teoria.

- Desgraçadamente vivemos numa cultura onde a preguiça – ‘ser rico e não fazer nada’ – ganhou estatuto de elogio, fazendo com que os mais ricos aviltem os mais pobres com exageros e com exibições nada consentâneas com a dignidade humana. Se atendermos à promoção de certas iniciativas de bem-fazer podemos ver uma espécie de psicologia do anzol, temos os outros presos pela boca e damos para que nos agradeçam… Esta tentação pode até passear-se pelos corredores das nossas igrejas ou estar guardada em armário nas sacristias ou, por que não, mais ou menos presente nos espaços de ação socio-caritativa! 

= Caridade: dom e mistério… na fé e na vida

Diante de muitas ações de filantropia como que sentimos alguma tristeza, pois nem sempre as pessoas contam, a sério, para serem ajudadas. Algumas das que recorrem à ajuda também vão aprendendo a arte de subsistir, adaptando-se às circunstâncias e aos lugares, podendo tornarem-se (quase) profissionais da pedinchice e /ou da subsidiodependência.

Já lá vai o tempo de as famílias – sobretudo mais ricas e endinheiradas ou com bens de raiz – terem os ‘seus pobres’ a quem ajudavam para serem consideradas boas pessoas ou até se destacarem no contexto social (normalmente rural) e /ou religioso. Hoje, com o anonimato do tecido urbano, as pessoas estão mais deixadas ao seu destino, crescendo a multidão dos excluídos e as franjas dos marginalizados. Se não fossem algumas iniciativas de âmbito socio-religioso… substitutas do (pretenso) ‘Estado social’, a fome seria mais grave no nosso país e no mundo e as assimetrias criariam ainda mais revoltados e empobrecidos.

A Igreja católica tem uma doutrina e uma prática muito avançada – mesmo em relação a certas teorias e ideologias (pretensamente) de esquerda – criando, gerando e gerindo a partilha entre todos, não em razão das leis exteriores – como no coletivismo de Estado, no socialismo (dito) democrático ou na desejada social-democracia – mas a partir do interior e da convicção das pessoas: não somos obrigados a pôr em comum, mas colocamos em comum em razão da fé, que nos irmana e nos conduz. O risco será quando se institucionaliza a tentativa de igualdade sem fraternidade e não se educa a força de comunhão, tanto entre as pessoas como com as associações, coletividades e agremiações. Quem não conhece a força (espiritual) das irmandades? Como não reconhecer o poder (moral) das misericórdias? Como esquecer a capacidade de mobilização da fé e da caridade em tantas ações de bem comum?

Quando a ignorância se torna atrevida é comum assistirmos ao labéu sobre as riquezas da Igreja católica. Mas porque não se faz idêntica campanha com as riquezas de tantos Estados e mesmo de certas organizações transnacionais? A quem interessa colocar sob fogo a Igreja e esconder outros poderios bem mais fortes e influentes? A História, normalmente, se encarrega de fazer justiça… nem que leve muito tempo!  

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

‘Esta é a voz’!...


Eis o som identificativo de um programa televisivo de um canal em sinal aberto. Edição após edição, este programa suplanta a concorrência e tem-se tornado dos poucos temas transversais na sociedade e na dita cultura popular… pelo menos a fiar-nos nas amostragens de audiência!

Não está em causa formular de modo exaustivo algum juízo de valor – muitos há, desde a linguagem até às insinuações, das tiradas com sentido malicioso até ao comportamento de quase promiscuidade, passando pela malcriadez de concorrentes e mesmo da apresentadora – sobre os conteúdos nem sobre os participantes do referido programa, mas antes tentar refletir sobre aquela expressão: ‘esta é a voz’, pois pode tornar-se algo mais do que uma imagem de marca, mas antes uma situação cuja imagem poderá distorcer outros contextos em que expressão igual ou idêntica seja utilizada.

Não fui nem sou seguidor regular do programa. No entanto, não recuso ter gasto algum tempo para saber do que se tratava. Não sei os nomes dos concorrentes e confundo-os/as nas personagens… Fico-me, por isso, naquela frase que motiva esta reflexão – espero que entendam que não se trata de procurar resquícios de maledicência, mas antes a procura de uma nova forma de entender quais são as vozes que se nos impõem e fazem ouvir ou confundir, crentes ou não-crentes…

= Ainda recentemente, na liturgia do tempo do Natal, escutamos essa expressão sobre João Batista: quem és tu? Ao que ele respondeu: ‘eu sou a voz do que brada no deserto’! Não será que, quem via aquele programa, sorria com a expressão dita por João? Onde e como podemos discernir a diferença sem acrescentarmos alguma semelhança ou mesmo proximidade?

= Se atendermos a que a tal ‘voz’ não passa disso, pois não se lhe conhece o rosto, como poderemos não baralhar os mais novos se lhes dissermos que, da voz de Deus não temos o rosto, mas só uma voz que nos fala? Não andará por aqui algo que nos pode exigir mais do que banalidades sem recorrermos a frases feitas ou a chavões doutros tempos?

= A ‘voz’ do programa dá ordens, corrige, adverte, castiga… consola, premeia, introduz novas tarefas…confronta as pessoas quando desavindas, reconcilia, promove os seus ‘valores’… numa panóplia de missões, dentro e fora do confessionário. Reparemos na quantidade de clichés religiosos de âmbito cristão/católico! De fato, a imaginação dos promotores do programa tentou servir-se do quadro religioso tradicional do povo português… criando confusão ou aproveitamento! Nesta polivalência de conceitos parece que houve intenção de gerar novos critérios e condutas, senão na teoria pelo menos na prática!

= Como poderemos articular a ‘voz’ exterior com a ‘voz’ interior, que também é dita como sendo a ‘voz da consciência’? Haverá alguma concordância e conciliação? Acertaremos na mais adequada?

+ Questões essenciais de índole espiritual/cristã

Diante desta temática como que sentimos alguma urgência em mergulhar nas ondas da ‘Voz’ – isto é, de Deus – que nos fala e nos interpela, nos conduz e nos educa, nos mostra o caminho e nos faz converter à luz da Sua Palavra, que é Jesus e que está escrita na Sagrada Escritura.

Precisamos com necessidade educada e educativa de saber distinguir as vozes que nos seduzem das vozes que nos conduzem, as vozes que nos amordaçam das vozes que nos libertam, as vozes que, embora melodiosas, são maliciosas, tanto no conteúdo como na forma… clara ou capciosa.

Porque nem sempre é fácil distinguir o essencial do secundário, precisamos que nos ajudem a fazer um caminho de humildade e de serenidade, onde os outros nos acompanham nesse acreditar, pois Deus fala-nos por eles e que não efabulamos o que pretendemos ser a ‘voz de Deus’ num sentido subjetivo da compreensão humana… Se até os grandes santos se submeteram ao discernimento da ‘voz de Deus’ pela condução dos irmãos, quem somos nós para pretendermos fazer caminho diverso? Cuidado: não escutemos só os que connosco concordam, pois, podem ser antes de ajuda, estorvo ou adulação do mal.

Aprendamos a escutar e escutemos a ‘Voz de Deus’ no mais íntimo de nós mesmos e na palavra da Igreja.

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

God bless America!

É habitual ouvirmos, no final de cada comunicação ao país, o Presidente dos EUA dizer, de forma clara e concisa, aos seus concidadãos: ‘God bless America’ (Deus abençoe (ou salve) a América), numa alusão à força de bênção e de proteção que ele, enquanto o mais alto magistrado, faz e atualiza. Embora fundada esta expressão numa canção do início do século passado é considerada a mesma quase o hino não-oficial dos Estados Unidos.

O que aconteceria, em Portugal, se o Presidente da República usasse tal linguagem ou ousasse colocar Deus presente na realização dos seus atos e na proclamação dos seus discursos? Quem não se lembra duma (quase) ridicularização que foi, há uns tempos atrás, uma leve ironia do atual Presidente quando fez uma breve alusão a Nossa Senhora e às questões da dívida e da austeridade!...

Vem isto a propósito das dificuldades que sentimos em ver Deus ser colocado nas coisas públicas – ‘res publica’ – e de os intérpretes dessas mesmas coisas assumirem a sua fé. Dado que, em breve, se vão perfilar candidatos a candidatos para a Presidência da República convirá que saibamos quem são os ditos, quais os valores que defendem e mesmo quem é que os empurra… de forma clara ou tácita!

Fique, desde já salvaguardado, que a crença – sobretudo de índole cristã – nem sempre funciona como garantia de bom exercício do ministério e nem quem seja (ou se pretenda assumir) agnóstico nos poderá (totalmente) afiançar que será menos bom no exercício de tal tarefa. Com efeito, as pessoas fazem o cargo, mas, muitas vezes, o cargo também molda as pessoas!

Não vamos conjeturar sobre os que já andam na boca e na escrita de alguma comunicação social. Muito menos queremos que estejam, naquele posto, bajuladores da nossa vivência de fé cristã, pois podem tornar-se (ainda) mais perigosos do que os que são (ou pretendem ser) contrários.

= Cidadãos de duas cidades… compenetradas

Na linguagem do cristianismo sempre houve uma forte e clara leitura da dupla cidadania dos batizados: cidadãos/membros da cidade terrena e da cidade celeste. Temos, nos primeiros séculos do cristianismo, um belíssimo texto, que se faz eco desta consciência de pertença: a chamada ‘Epístola A Diogneto’, onde, nos capítulos cinco e seis, se faz uma leitura teológica, espiritual e cultural desta riqueza de ser cristão, não de uma condição meramente terreste, mas, paradoxalmente, também celeste.   

No Concílio Vaticano II temos um excelente documento que retoma esta leitura dos cristãos no mundo, que é a Constituição pastoral ‘Gaudium et spes’ sobre a Igreja no mundo atual. É digno de registo que, embora siga quase a par e par aquele documento dos primeiros séculos do cristianismo, nunca é citado de forma explícita, sobretudo, nos capítulos terceiro e quarto da primeira parte da ‘Gaudium et spes’.

Porque sentimos e vemos que, em muitos casos, os cristãos como que se refugiam – ou cedem à tentação de se refugiarem – no templo, esquecendo os compromissos do mundo/tempo e porque, em não menos situações, encontramos pessoas que tentam confundir a sua fé nas reivindicações do mundo, obnubilando o templo, é que consideramos ser oportuno colocar algumas questões para que a nossa fé seja incomodada e a nossa ação seja mais cristãmente espiritualizadora:

- Para nós trabalho é meio de santificação? O local de emprego é exercício de sacerdócio e de profecia?

- Quando rezamos, queremos um certo idílio religioso ou entregamos a vida amassada com lágrimas e dores?

- Construímos nas nossas assembleias de fé pessoas com valores ou geramos pieguices sem miolo?

- Quando votamos sabemos escolher em razão dos valores ou da fachada (simpática) dos candidatos?

- Esclarecemo-nos para votar em consciência ou limitamo-nos a reproduzir uns tantos oportunistas que nos fazem favores…interesseiros?

- Entregamos a outros o que a nós compete decidir em ordem a mundo mais justo, mais humano e, por isso, mais cristão?

Que Deus abençoe Portugal, quer quem nos governa, quer quem é governado… na verdade e na justiça!

 

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Escutar o silêncio


Foi com surpresa que, por estes dias, li um comentário sobre a necessidade – nalguns casos mesmo exigência – do silêncio em concertos de música, seja dita clássica, seja nos concertos rock, seja ainda nos espetáculos de música popular.

A questão é tanto mais acutilante quanto alguns dos músicos, dizem que se sentem incomodados quer com as fotos, quer com os comentários dos espectadores ou ainda da (excessiva) interação através das (ditas) redes sociais, pelos posts colocados ao tempo em direto…

Se esta reação é inesperada, pois o escutar da música como que provoca nas pessoas uma certa sintonia, o que dizer da ausência de silêncio em tantos momentos e lugares de envolvência pública.

Vejamos breves exemplos… um tanto paradigmáticos:

- Na Assembleia da República é impressionante a quantidade de comentários aos discursos ou intervenções dos adversários, que, mesmo sem o microfone ligado, se ouvem os mais díspares impropérios e, casos houve, de pateado e quase de insurreição.

- Repare-se na confusão que são os programas televisivos onde se tenta discutir um tema: os intervenientes não se escutam e, por conseguinte, não se fazem ouvir… tal a barulheira em concorrência… e se for sobre futebol a coisa azeda, quase só faltando chegarem a vias de fato.

- Atenda-se também ao ambiente de almoços/jantares… com música de fundo à mistura, onde a conversa se faz aos pares e quase nunca os comensais da mesma mesa interagem, pois a conversa não é diálogo.

Outros campos poderíamos elencar para percebermos que o silêncio não é uma das melhores caraterísticas dos nossos dias…Quem não tem nada a dizer, fala, fala muito e alto… ou é surdo sem se ter apercebido!

= Não haverá medo do silêncio?

Deixamos uma simples estória, que certamente já muito terão refletido, mas útil no nosso dia-a-dia. 

Um dia um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos:

- Porque gritam as pessoas, quando estão aborrecidas?

Um disse: gritamos porque perdemos a calma. Outro retorquiu: porque desejamos que a outra pessoa nos ouça.

O pensador respondeu:

- Sabem porque se grita com uma pessoa, quando se está aborrecida? A razão é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito e para poderem cobrir essa distância precisam de gritar de modo a poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem mais fortemente têm de gritar para se ouvirem uma à outra através da grande distância...

Por outro lado, sabem o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Não gritam, falam suavemente! E por quê? Porque seus corações estão mais perto, a distância entre eles é pequena e, às vezes, os seus corações estão tão próximos que nem falam, só sussurram. Aliás, quando o amor é muito intenso nem sequer é preciso sussurrar, basta apenas olhar, pois os seus corações entendem-se... porque estão muito próximos!

= Aprender o silêncio, hoje

De fato, o silêncio não é ausência de barulho, mas antes espaço livre para escutar o outro e não para lhe impor o nosso falar… assim poderá haver diálogo. Mas porque estamos excessivamente cheio de nada, há confusão às mínimas palavras, podendo gerar-se conflitos de interesses egoístas ou guerras de solidões.

Biblicamente diz-se de Maria: ‘Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração… Sua Mãe guardava todas estas coisas no seu coração’! Ora, quem mais tinha coisas para dizer e ficava no silêncio! Quem mais tinha boas notícias para comunicar e ficava em silêncio saboreando tudo em seu coração! Quem como Maria tinha tanto a falar e estava contemplando em seu coração o seu Deus!

Não tenhamos medo do silêncio verdadeiro, mas antes temamos o excesso de barulho, que, por vezes esconde a superficialidade e a falta de consistência do que se pretende dizer… de vazio, inútil e oco!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)