Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Fenómenos deste verão…

 
Ao longo do tempo deste verão fomos vendo surgirem, em Portugal ou fora, alguns fenómenos sócio-culturais, que nos devem levar a refletir sobre o seu conteúdo e, particularmente, sobre o seu significado: o desafio ao banho gelado e as concentrações (‘meet’) de jovens convocadas pelas redes (ditas) sociais.

O banho público – normalmente gelado – começou por uma brincadeira em que o desafiado, se não aceitasse teria de pagar algo ao desafiador, foi ganhando proporções de benemerência para uma associação de ajuda a pessoas (pacientes e investigadores) com a doença de esclerose lateral amiotrófica… isto na origem desta onda de ‘banhos públicos gelados’…

Como bons imitadores de bizarrias mais ou menos patéticas, em Portugal, também entramos na moda deste verão e fomos vendo desportistas e autarcas, atores e jornalistas… a serem banhados em público com baldes de água fria e a desafiarem amigos e adversários a fazerem algo de idêntico, publicitando-o nas redes sociais para não terem de pagar jantares por incumprimento dos desafios… Houve até uma corporação de bombeiros que tentou usar este método para receber mais umas ajudas para os seus problemas económicos.

Outra vaga deste verão tem sido a convocação para ‘meet’s’ de jovens, através das atuais tecnologias, em ordem a viverem momentos de convívio e de outras intenções… algumas nalguns nem sempre claras e/ou pacíficas. Daquilo que se vai sabendo alguns destes ‘meet’s’ redundaram e agressividade e até detenções… a autoridades e a grupos rivais.

Embora este novo modelo de convivência entre adolescentes e jovens possa estar marcado pelas tecnologias de comunicação e/ou da informação, ele não pode criar a sensação de insegurança – pública e emocional – com que alguma comunicação social nos foi servindo a iniciativa… Efetivamente os mais novos precisam de conviver e de exprimirem (ou será expelirem?) as suas energias, saindo até dos seus casulos de egoísmo e de segurança mais ou menos defensiva. Os mais novos são importantes para interpretarem as novidades do tempo atual, mas não podem afiar as garras sobre aqueles – mais velhos – que não entendem as suas formas de ser e de viver. Só pela compreensão e a aceitação de uns pelos outros poderemos crescer em maturidade e, sobretudo, em correlação mútua.

Com que facilidade podemos estar desatualizados e quase desconexos em conceitos e em linguagens. Nem os mais velhos são tão sábios que não tenham nada a aprender com os mais novos nem estes são tão valorosos que não poderão servir-se dos erros e vitórias dos pais e avós… em ordem a crescerem com audácia e humildade. Nada está completamente feito, mas antes caminhando faremos caminho e itinerário…

= Onde ir e como fazer? Com quem e para quê?

Estes dois fenómenos do banho público gelado e das convocações de ‘meet’ podem funcionar como reveladores da nossa mentalidade atualizada: exibir-se em solidariedade e encontrar-se em convivialidade…onde cada um e cada qual possa sentir-se bem e se exprima em circuito mais ou menos fechado de anonimato… proveitosamente.

Nem tudo é assim tão negativo nos fenómenos vistos e apresentados neste verão, pois assim podemos perceber que as pessoas fazem (quase) tudo para aparecer e também não estão tão fechadas umas às outras, que não se convoquem para conviver… De fato, a tal associação de benemerência conquistou mais pessoas para a sua causa e muitos jovens foram sacudidos das suas certezas melancólicas das tecnologias, abrindo novas oportunidades de criarem laços de partilha e de afirmação.

Temos todos tanto a aprender que não poderão ser pequenos episódios que nos farão desmotivar para vivermos na desinstalação do nosso pequeno ‘mundo’, mas antes alargando novos horizontes de fraternidade, de solidariedade e de paz… uns para com os outros e todos numa sincronia de visões e de humildade, já.

    

António Sílvio Couto

domingo, 24 de agosto de 2014

Turismo de luxo ou de lixo?


 
Mesmo que de forma um tanto convencional, vamos aceitando que os meses de verão (no hemisfério norte) são, tendencialmente, de férias… com os vários aspetos que lhe estão adstritos: tempo de lazer, procura de praias e de lugares de repouso, viagens e períodos de interrupção de trabalho, descontração e fruição dos prazeres da vida… numa certa subjetividade absoluta, onde cada qual tenta ser dono de si e (quase) impor aos outros a sua relativa forma de ‘felicidade’.

Dizem que, em Portugal, o turismo é uma das mais eficazes e frutuosas formas de riqueza, apresentando as belezas naturais (isto é da natureza), explorando as caraterísticas de cada região, sejam de gastronomia ou folclore, sejam do aproveitamento mais ou menos bem organizado das potencialidades de pessoas, de lugares e de tempos.

Se percorrermos mais ou menos atentamente as geografias de maior procura de turismo, poderemos ver situações e casos de grandes aglomerados de pessoas e de veículos, sobrecarregando as possibilidades de acolhimento e de aceitação de quem nos procura.

Sobretudo nas linhas marítimas esta avalanche de pessoas e de propostas como que fazem transbordar pela saturação, havendo casos em que as pessoas se acotovelam numa convivência de difícil gestão… até dos recursos hídricos e de salubridade.

 

Pelo que vimos e sem cairmos na tentação de julgar, propomos algumas questões sobre ‘turistas’ nacionais:

- A imensa quantidade de carros – alguns de gama elevada e mesmo superior – revela um certo poder económico ou, pelo contrário, tenta-se camuflar aspirações desse tal novo-riquismo guterrista e ainda socrático… não assumido?

- Certos lugares de veraneio dão status social ou, pelo contrário, servem para encobrir uma certa pobreza moral não-assumida?

- Se esmiuçarmos as redes sociais entenderemos as pretensões de certos ‘falidos’ ou sentiremos alguma ‘compaixão’ por uma certa ignorância bastante irrefletida?

- Pelo que somos e temos, aceitamos a nossa verdade ou somos mais ou menos manipulados por pretensões desonestas e quasi-amorais?

- A panóplia de carros exibidos serão (já) propriedade dos ocupantes ou não andarão a dar uma determinada imagem de incapacidade económica…irreal e imoral?   

Por outro lado, sobre os ‘turistas’ estrangeiros, reportamo-nos a uma conversa havida numa feira com um dos vendedores que referia serem os ingleses os melhores compradores, em contraste com os franceses muito exigentes mas poucos gastadores ou os alemães exibindo uma certa sobranceria sobre estes ‘marroquinos do norte’ – epíteto com que nos tratam e até veem, os portugueses – particularmente quando nos emprestam dinheiro e nos encontram, entretanto, a gozar os benefícios do sol…

De fato, o nosso turismo decorre entre dois grandes vetores: um certo turismo de luxo, sobretudo nos hotéis e aldeamentos turísticos do Algarve e/ou junto ao mar e um outro turismo interpretado por executantes e participantes de mochila às costas e serpenteando pelos parques de campismo em busca do mais barato ou transportando o farnel até às praias mais populares e populistas.

Ao ver a imensa multidão, que se desloca para usufruir de férias e tempos de lazer, fica-me sempre a sensação – reconheço talvez possa ser um defeito de educação e de ministério – onde está ou pode estar Deus para toda esta gente? Que fé ou religião lhes damos a viver? Será que as procissões esgotam as propostas e satisfazem a procura?

Tal como Jesus no evangelho vivo a sensação: são como ovelhas sem pastor, fatigadas e em busca… Que Deus lhes vamos servir? Queira Deus que saibamos dar resposta humilde, verdadeira e audaz… já!    

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Tentando interpretar a migração


Já lai vai o tempo em que uma pessoa nascia, crescia (em idade e na reprodução) e morria… sempre no mesmo lugar. Este fenómeno de sedimentação foi ultrapassado pela mobilidade humana, tanto na proximidade como na distância. Umas vezes isto acontecia de forma natural, isto é, sem razões extrínsecas, agora é como que forçado, seja por razões económicas, seja por motivos sociológicos, religiosos ou mesmo de promoção da condição humana…de melhor qualidade de vida pessoal, familiar ou social.

Nos tempos mais recentes – sobretudo depois da crise de 2008 – temos vindo a ouvir certas vozes contra a emigração, particularmente dos jovens e de camadas sociais mais escolarizadas. Para uns isto soa a desperdício no investimento humano e cultural dos mais jovens, para outros é como que uma necessidade que sentem em serem mais rapidamente reconhecidos nas suas qualificações e até nas aspirações de vida. Neste momento como no passado – situemo-nos nas décadas de 60 e 70 do século findo – a emigração não tem só benefícios nem se reduz a malefícios. A emigração é algo que marca a nossa matriz de portugueses – sim daqueles que foram para fora e não dos resignados e lamentadores que não deram o salto no desconhecido – e, só quem não tenha saído, minimamente, do país não reconhecerá o espírito aventureiro e audaz dos nossos antepassados.

Normalmente a uma vaga de emigração dá-se no país um desenvolvimento cultural mais rápido, pois a necessidade de se aferir aos que nos receberam faz-nos mais humildes e aprendemos, quantas vezes, a valorizar o que somos e quem somos…aqui na terra-mãe.

Dizem que os agora regressados – sobretudo para férias – emigrantes se estão a tornar mais reivindicativos, quase intolerantes e apressados em serem atendidos nas repartições públicas, nos restaurantes, nas estradas… no confronto com a nossa pacatez lusitana. A ser verdade algo está mal, pois a pressa é, normalmente, inimiga daquilo que é (ou deve ser) bem feito. E tais atitudes de sobranceria não deixam a quem chega a qualidade de aprendizagem, pois, certamente, não terão tal comportamento nos países de acolhimento e, se o tiverem, bem depressa serão excluídos do convívio dos que deles precisam…até ver!

= Das razões…às condições

Vozes diversas – entre as quais a Igreja católica e quem tente ler os sinais sociais e dos tempos – clamam contra as razões que levaram o país a esvaziar-se de jovens: o desemprego, a falta de estabilidade familiar e económica, a busca mais rápida de condições de qualidade de vida… Em vários destes itens se nota mais o valor material do que a conquista psicológica e mesmo espiritual e moral.

É verdade que, nalgumas partes deste mundo globalizado, as populações emigram mais por razões culturais e étnicas, nalgumas situações envolvendo mesmo aspetos religiosos e de salvaguarda da integridade física e/ou moral. Povos de países islamizados – sobretudo de índole cristã – têm de fugir, correndo sérios riscos de vida se continuarem naqueles espaços políticos e religiosos. Os refugiados são outro fenómeno de mobilidade humana que exigem mais atenção de todos os intervenientes políticos à escala mundial, atendendo às pessoas e não somente às riquezas dos seus países…


Porque as questões são difíceis de entender e os problemas nem sempre são tão claros como seria necessário, deixamos algumas perguntas…talvez incómodas, mas as respostas poderiam (e deveriam) ser urgentes:

- Haverá sensibilidade cristã e católica para disponibilizar padres (e outros agentes de pastoral) para enviar a países que recebem os nossos emigrantes… quando as aldeias se vão desertificando?

- Os que saem terão espírito de serviço ou estarão eivados de cultura mais económica e de circunstância?

- Como se deve cuidar dos filhos que partem?

- Cá como lá e lá como cá possuiremos espírito missionário ou misseiro?

- Os emigrantes terão tempo e disponibilidade para as coisas da religião… que não seja do futebol?

É preciso mudar: com quem e para quem? É preciso inovar: como e com que meios humanos e culturais?

  

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Destreza nas mãos… lentidão nos pés


Por estes dias alguém comentava numa observação – um tanto técnica e mesmo de índole prática – que, nos últimos tempos, se tem vindo a verificar uma mudança das atitudes e competências das pessoas: antes eram rápidas no uso dos pés, mais recentemente tem-se vindo a verificar que há uma maior destreza no uso das mãos… Isto era dito na aprendizagem da condução automóvel, mas poderá ser extrapolado para outros campos e domínios da intervenção humana…

Explicando: porque as pessoas andavam mais a pé e faziam uso dos membros inferiores do seu corpo tinham maior capacidade de desenvolvimento e adaptação dos movimentos com os pés… a situações de imprevisibilidade… Até porque agora os mais novos estão mais parados fisicamente, mas fazem uso dos membros superiores do seu corpo… mexem-se mais rapidamente e respondem com outra dinâmica ao manuseamento das coisas…

Ainda, recentemente, em tempo de formação na área da comunicação social, se dizia que vivemos na ‘era do touch’ (toque) e não de mera leitura… isto é, comunicamos mais com as mãos e não tanto com os olhos… e, se estes são usados, é porque algo (ou alguém) nos tocou ou nos despertou para que mudasse de imagem e que interagisse…mais ativa e de intercomunicação.

= Será o virtual real ou o real virtual?

Não será muito difícil de constatar que, hoje, se pretende impor uma certa virtualização das coisas, das situações e mesmo das pessoas. Comunica-se muito mais por aquilo que não é e se toca (virtualmente) do que por aquilo que sentimos e sabemos o que significa… por forma presencial. As relações entre as pessoas foram-se virtualizando e, nalguns casos, gerando uma psicologia do pretenso saber sem se conhecer… Isto acontece ainda sem termos totalmente em conta a virtualização dos conhecimentos – onde as redes (ditas) sociais são exemplo paradigmático – e nalguma banalização das relações humanas e interpessoais. É exemplo disso o tal indivíduo que na hora do seu velório só tinha uma pessoa no local, mas ostentava centenas de ‘amigos’ no facebook…Era o irreal do virtual!

Que vale, efetivamente, cada um de nós na (pretensa) rede de relacionamentos que tem ou pensa ter? Com quem desabafa, se de tal estiver necessitado? Com quem contamos, afetivamente, na hora da aflição? Ser ou ter amigos compadece-se com a superficialidade dos cliques e dos ‘likes’, (gosto) na internet?

Quando, de tantas formas, se pretende saber o que acontece ao longe, como poderemos continuar a ignorar quem vive e mora ao pé de nós! Quando se sabe da vida dos outros aquilo que os torna banais e (quase) ridículos, como poderemos continuar a viver num ambiente de maledicência atroz! Quando as pessoas se vão coisificando, torna-se urgente valorizar mais o que nos une do que aquilo que nos separa!

= Sugestões de caminhada… de mãos dadas!

Mesmo por entre tempo de descanso poderemos fazer da nossa vida – seja qual for a instância de intervenção e de posicionamento – uma oportunidade de caminhada, usando mesmo os pés… para andar ou mesmo correr. Podemos e devemos ainda mais saber dar as mãos numa conjugação de esforços e de sinergias, não deixando ninguém para trás nem tão pouco parado a ver os outros… quais as imagens da série d’Os marretas, que, do camarote sobranceiro, se limitavam a dizer mal de tudo e de todos… sem se aperceberem que as críticas que faziam aos outros eram como que o reflexo da sua própria personalidade… De fato, há tantos discípulos dos ‘marretas’!

O programa pastoral da arquidiocese de Braga escolheu como símbolo de caminhada este ano a árvore. Rica, profunda e altíssima imagem que poderá ajudar-nos a sair da rotina... Poderemos sugerir que cada mês do ano pastoral possa estar sob a proposta de uma árvore pela simbologia que lhe é própria, pela linguagem (sobretudo) bíblica que envolve e ainda pelos frutos que poderemos colher de cada árvore: outubro – videira; novembro – figueira; dezembro – pinheiro; janeiro – carvalho; fevereiro – cerejeira; março – oliveira; abril – macieira; maio – laranjeira; junho – eucalipto; julho – sobreiro; agosto – palmeira; setembro – castanheiro.

Por mim vou tentar seguir esta sugestão!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Quando o perdão liberta!


Certamente já todos – nas mais diversas circunstâncias – sentimos a libertação que traz o perdoar e o ser perdoado… E não o referimos somente em relação a Deus, mas também na atitude para connosco mesmos e uns para com os outros… O perdão é, deste modo, uma dádiva divina que podemos e devemos exercitar ativa e/ou passivamente.

Sem pretendermos reduzir o tema do ‘perdão’ a um certo teor moralista ou mesmo religioso, deixamos algumas perspetivas para uma vivência mais salutar da vertente do perdão nas relações humanas e sociais… onde, muitas vezes, vemos antes serem-nos servidas algumas situações de não-perdão e até de rutura das relações entre as pessoas, começando pelas que nos estão (ou podem estar) mais próximas.

= Quando são noticiados, preferencialmente, momentos de crime e de ofensa à dignidade humana, essas pessoas terão sido tocadas, alguma vez, pelo perdão?

= Quando vemos proliferarem ações de vingança das pessoas umas sobre as outras, particularmente, no âmbito familiar, o perdão terá tido lugar mínimo?

= Quando se tentam resolver questões familiares (sociais e patrimoniais) a tiro de armas de fogo ou sob o uso de artefactos contundentes, nota-se que o perdão está longe dessas vidas!?

= Quando a maledicência suplanta a capacidade de perdoar e a murmuração sobre a vida alheia ganha mais espaço do que a compreensão, não estaremos a cultivar antes uma sociedade de proscritos do que a participar numa cultura de inclusão?

- Sabemos que não há lições infalíveis para que possa haver perdão. Este aceita-se e manifesta-se quando nos deixamos tocar pelo perdão divino e pela divinização do perdão recebido.

- Sabemos que há muitas resistências ao perdão, até pela nossa própria história de vida, onde, por vezes, nem sempre fomos educados a desculpar, mas antes incentivados (mais) a vingar-nos… desde as coisas simples até às situações mais complexas… o toque a saber perder submete-se ao remoque do não ser capaz de ceder… como se fosse um defeito e não uma virtude, tanto humana como social.

- Sabemos como a subtileza do perdão tem raízes tão profundas que só quem se alicerça nele poderá aprender a tornar-se mais servo do que rei, mais amigo do que adversário, mais fraterno do que solidário… pois quem deixa o perdão ganhar, vence sem ter de lutar, mais ainda se faz vencedor porque soube deixar-se vencer, perdoando e sendo perdoado.

Deixamos agora breves sugestões onde gostaríamos de ver o perdão a ser vivido e testemunhado:

- Na família onde os diversos intervenientes possam ser construtores do perdão, desde a mais tenra idade até ao momento mais último da existência humana, entre os vários quadros etários e simbólicos, nas circunstâncias múltiplas e multiplicadas… Desculpando e sendo desculpados, amando e sendo amados. Até quando adiaremos tentarmos viver, em família, como numa escola de perdão?

+ Nos espaços de trabalho (profissionais e laborais, de emprego e de ação social) tudo seria mais humano e tolerável se as pessoas tivessem capacidade de compreensão umas para com as outras, criando ambientes mais serenos e de menos crispação, de ajuda mútua e onde os outros/as não fossem coisas, mas pessoas que cuidam e se deixam cuidar… tanto nas horas de sucesso como nos momentos de fragilidade. Que temos de fazer para darmos o passo que ainda falta?

+ Nas expressões sociais de convivência – onde a dimensão religiosa também se inclui – tudo seria mais fácil se nos déssemos ao cuidado de vivermos mais em perdão do que em acusação, se tentássemos colocar-nos no lugar uns dos outros, se quiséssemos que Cristo fosse bem tratado nos outros porque Ele está presente neles. Se sabemos isto porque não o vivemos, já?

Vamos tentar perdoar cada mais e cada melhor, deixando que o perdão nos envolva interior e exteriormente… com gestos, sinais e palavras.

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Crise bancária: sinal, significado e sentido?


Os últimos tempos têm sido de grande corrupio de notícias sobre o ambiente bancário, sobretudo atingindo uma das instituições mais antigas e significativas de âmbito nacional e internacional.

Sem pretendermos ironizar com coisas sérias, parece que algo começou com uma zanga de famílias, que extrapolou para o mundo financeiro e depressa alastrou aos espaços de poder e da política…

Até no âmbito da justiça se pode perceber que havia um timing a percorrer…mesmo para fazer levar a prestar contar quem, tendo caído em desgraça, se vai tornando alvo de mais desgraceira… direta ou implícita.

Para já o alcance incendiário deixou a espaço das florestas de montes para ser servido, noticiosamente, a partir do patíbulo das contas e dos negócios multimilionários… bem depressa falidos e quase alcançados pela famigerada descrença no conluio entre dinheiro, interesse económicos e substratos partidários.

Num campo algo fluído como este de âmbito bancário, antes de fazermos afirmações e/ou de entrarmos em conjeturas ou de lançarmos insinuações talvez valha a pena colocar perguntas:

- Por que será que esta crise só foi desencadeada depois da saída da ‘troika’ de Portugal? Se tivesse acontecido antes não estaríamos agora sob um segundo resgate? Com tantos dados disponíveis não deixa de ser sintomático que isto tenha acontecido a compasso de salvaguarda?!

- O país poderá dar-se ao luxo de prescindir de banqueiros dalguma qualidade – nas horas da desgraça é que se vê a qualificação – para virmos a entregar a nossa economia a oportunistas e vendedores de ilusões?

- Não deixa de ser ensurdecedor o silêncio de certos atores partidários – da (dita) direita e da (classificada) esquerda – que se eclipsaram… será que foram beneficiários e não se assumem enquanto tal?

- Sem pretendermos ver fantasmas, esta crise bancária denota umas certas guerrilhas doutras tantas lojas de avental, não se sabendo quem sairá vencedor… Estarão à espreita para ver quem ganha no maior partido da oposição?

= Crise bancária – um sinal

Quando o deus dinheiro capitula, muitos outros projetos começam a ruir. De fato, há muita gente que só vê dinheiro, luta por dinheiro, corre pelo dinheiro, serve o dinheiro… até mata por dinheiro: ele é um deus muito totalitário, ciumento e apaixonante… ontem como hoje e mesmo amanhã! Por isso, quem se deixar apanhar pela sua servidão com muita dificuldade se libertará desta obsessão!...

E este deus dinheiro vai-se disfarçando com múltiplas roupagens, cada uma mais sedutora do que a outra, até que nos possa enlear de desculpas e maquinações…

 

= Crise bancária – qual o significado?

Nunca como hoje o dinheiro deixou de ter cor política, de ter credo ou de apresentar qualquer matiz racial… ele percorre como um manto de trevas imensas vidas e muitas mais aventuras… umas legais, outras ilícitas e tantas outras perigosas. De verdade esta crise bancária fez sair do esgoto tantas operações menos claras e, por conseguinte, mais tarde ou mais cedo, passíveis de serem denunciadas…Também aqui ousaríamos dizer como Jesus sobre a mulher acusada de adultério: ‘quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra’! Por certo muitos de nós já teremos prevaricado… de forma consciente ou inadvertidamente, pois sempre quisemos ganhar mais uns cobres a troco de pouco trabalho e num mínimo de risco… proveitoso.

= Crise bancária – que sentido?

Mais do que averiguar o sentido material desta crise bancária, importa interpretar o sentido mais cultural, pois o que está em causa é uma nova cultura, onde o dinheiro se possa tornar um meio e não um fim, pois da determinação destes parâmetros está dependente o futuro de várias gerações: da atual porque tem de contentar-se com a diminuição dos recursos pessoais, familiares e sociais; a do amanhã, pois já não será possível satisfazer o que nem sempre se alimenta do esbanjamento; a do passado, pois teremos de reaprender com novos sacrifícios e outras oportunidades já abandonadas… O sentido será sempre mais exigente para todos… já! 

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)