Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Qual é a pressa?


 Em tempos não muito recuados esta frase – qual é a pressa? – fez algum furor nos meios políticos.

Valerá a pena recordar o texto e o contexto, até para captarmos o que esta mesma frase pode significar nos nossos dias... e quais as implicações se não respeitarmos não o andar (mais) devagar, bem como a compreensão e a vivência que pode estar subjacente ao sem-pressa... que não é indiferença.

 1. Eis factos históricos sobre a procedência daquela frase.

No início de 2013, um ex-ministro do governo-Sócrates e ajudante privilegiado da estratégia de António Costa para substituir o então secretário-geral socialista lançou um desafio para a realização de um congresso extraordinário do partido com o objetivo de escolher um novo líder. Com serenidade António José Seguro – eleito secretário-geral em 2011 e reeleito em 2013 – repetiu várias vezes: qual é a pressa?
Entretanto, realizaram-se eleições para o Parlamento Europeu e o tal ex-ministro foi eleito. Essas eleições foram ganhas pelos socialistas, mas a facção opositora ao secretário-geral em funções considerou que foi ‘por poucochinho’... e, depois de várias peripécias, foram convocadas ‘eleições diretas’, em 2014, nos socialistas, tendo António Costa ganho a António José Seguro... Como consequência disso, e depois de um congresso, António Costa fez o seu caminho e desde 2015, numas eleições que perdeu (e não foi por poucochinho), mas que se fez governar através da geringonça, durante 2178 dias... até à mais recente vitória. Aquela pressa de 2013 deu nítidos resultados... 

 2. No rifoneiro popular encontramos: ‘depressa e bem, há pouco quem’! Com efeito, a pressa é, muitas vezes, inimiga da qualidade e, raramente, se consegue fazer bem e depressa. Não querendo sequer insinuar sobre os factos (ou fatores) políticos supra aduzidos, dá a impressão que a pressa favorece quem defende (ou mesmo atua) sob a condição de atingir os (seus) fins sem olhar a meios. De facto, quando os fins pressionam os meios com facilidade se dá prioridade à pressa e não à consistência e ao amadurecimento das causas para que surtam os verdadeiros efeitos. A paciência na espera é capaz de colidir com mecanismos mais ou menos atrozes de pressa. Dar tempo ao tempo, será outra faceta que a pressa não terá tempo de cuidar. Ser demasiado apressado talvez seja de mau conselho e de pior vivência...

 3. Ao nível das imagens bíblicas há uma que se adequa a esta reflexão anti-pressa: a construção da casa... e esta entendida em diversas vertentes, desde o edifício material até à casa de família, passando pela personalidade de cada pessoa e mesmo pelo amadurecimento humano, tanto psicológico como espiritual.

«Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda" (Mt 7, 24-27).

Eis a escolha, mesmo que nem sempre clara e efetiva: o alicerce diz muito do edifício, quanto mais alto se pretender fazer mais fundo deverá ser... Teremos ainda de ter em conta o terreno onde queremos erguer a ‘casa’. Nota-se que, ao nível humano, se vai negligenciando o fator cultural mínimo, mesmo no âmbito de compromisso de vida, como no casamento ou na vida sacerdotal...

 4. Não andaremos a construir – na maior partes das vezes – mais sobre a areia, sem alicerces mínimos e suficientes? Não seremos mais fatores de inconstância do que de serenidade, mesmo nas horas de provação? Nessa espécie de ‘querer mostrar serviço’ não andaremos mais ao sabor da (boa) impressão do que da real execução? Todos saberão, de verdade, aquilo com que tentam impressionar os outros?

Sem pressa haveremos de aprender a amadurecer os mais básicos princípios da nossa vida simples e leal. 

 

António Silvio Couto

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Transvazes político-partidários

 


É um novo fenómeno que perpassa pela nossa sociedade: decorridas as eleições autárquicas é bem de ver a flutuação de pessoas – do mesmo partido – para concelhos da mesma cor, mesmo que numa distância razoável, podendo parecer uma espécie de transvaze à semelhança da seca, que por agora grassa em todo o território continental… As mudanças nem sempre respeitam os que lutaram pela derrota dos anteriores e não veem agora recompensado o seu esforço…

 1. Esta política de transvazes era conhecida entre autarquias ligadas a uma tal esquerda – defensora dos ‘trabalhadores e do povo’ – onde um presidente era técnico superior (como quadro) noutro concelho e, quando não era eleito, por exemplo como vereador, logo era acolhido numa outra instância da mesma coloração e a curta distância… Assim já se via a dança de pessoas e de pelouros ao sabor do que mais convinha, desde que servisse para manter a superioridade (dita) sociológica, mesmo que não fosse mais eleitoral…A rotação das peças era gerida a contento e, nalguns casos, gerada em contentamento…pensavam eles!

 2. Este mecanismo de transvaze como que explica que vejamos pessoas como assessores numa autarquia e passados breves tempos surjam como candidatos ou chefes noutras ao lado…e, casos há, até já fora do mesmo partido. Cresce, então, a sensação de que há uma nomenclatura que governa, conduz e até alicia para que se pense ser tudo igual ou ao menos com aceitação tácita. Temos vivido neste ambiente nas últimas quatro décadas e com uma naturalidade tal que destoar parece ofensivo e/ou antidemocrático.

 3. Ao tomarmos conhecimento deste puzzle percebemos as expressões populares: são todos iguais; só mudam as moscas; é uma questão de chegar ao poder; se queres conhecer o vilão, põe-lhe o pau/mando na mão; não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu…Numa palavra: a diferença não está nas políticas, mas nas pessoas, pois são estas que executam aquelas. Com efeito, o nível e a qualidade tem vindo a decrescer a olhos vistos, dado que, cada vez menos, vemos pessoas a pensarem nos outros, mas antes a olharem para si e para os seus interesses. Se acontecer algo ou aparecer alguém que não seja deste modo, será de acolher, aceitar e de ajudar a ser isso que pretende: estar ao serviço e não a servir-se…

 4. Um exemplo de transvaze sociopolítico surgiu nas recentes eleições: por ‘acordo entre todos’, os partidos concorrentes aceitaram que os votos dos emigrantes – só no círculo da Europa – que não fossem acompanhados da respetiva identificação do eleitor poderiam ser aceites…e misturados com outros que tinham cumprido a lei. Descoberta a ilegalidade é preciso repetir o ato eleitoral.

Digamos que aqueles que fazem as leis, os deputados, são os primeiros a incumpri-la, estaremos na proporção dessa ideia de colocar a raposa de guarda à capoeira… A imagem não foi colocada ao acaso, mas poderemos, assim, compreender, que o local da discussão da democracia é isso mesmo: posto onde uns tantos se consideram galos e outros franganitos à mistura com galinhas e pintainhos mais cordatos e submissos… numa espécie de capoeira nem sempre alinhada com os interesses nacionais mínimos.

 5. Agora que foi anunciado o desagravamento da maior parte das medidas anti-covid, parecem emergir ideias de que tudo vai voltar a ser igual. Por certo isso não seria sério considerá-lo, pois, decorridos dois longos anos de sofrimento, temos de aprender a estar no trato – convívio, contato, confraternização, etc. – uns com os outros. Tendo em conta períodos anteriores desta pandemia como que soa a má organização, deficiente programação ou razoável manipulação quanto foi (mais uma vez) anunciado… Agora que têm maioria governativa falem mais verdade, não iludam com trejeitos de conveniência, pois quem engana facilmente perderá a ilusão quase-ditatorial. Façam o transvaze da liberdade, sem deixarem de não pensar que nunca se descobrirá as manigâncias mais subtis…

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Agressividade social em crescendo

 


Os sinais estão aí e são bastante perigosos: crianças vítimas de bulliyng nas escolas e não só; preparação (descoberta) de atentados numa universidade; assaltos a lojas e transeuntes em várias partes do país; distúrbios em jogos de futebol… com horas e horas a dissecar os casos, à procura de encontrar culpados e, sobretudo, a intoxicar o meio sociocultural.
Onde podemos encontrar os focos deste crescendo da agressividade social? Que podemos dizer das intervenções políticas dos ganhadores das últimas eleições? O que foi dito e propagandeado será fator dissuasivo ou antes promotor do pior que já vivemos e ainda poderá vir? Quem se arvora em ostracizar os adversários não andará a plantar, à sua volta, inimigos, reais, virtuais ou ficcionados?

1. Não sei se a minha leitura não será a de alguém que já vê o mundo com óculos de menos-boa aceitação, dada alguma idade, mas parece-me que a sociedade atual se manifesta mais agressiva – nas relações pessoais, grupais, familiares e sociais – do que em tempos não muito recuados. Uns dizem que isso manifesta reação ao confinamento destes dois últimos anos. Outros introduzem a componente reivindicativa mais exacerbada com os constrangimentos da pandemia. Mas porque será que uns reagem de uma forma e outros não seguem por essa condicionante? Qual o clique que faz a diferença para, hoje, vejamos pessoas que agridem mesmo sem agressão e outros não respondem dessa forma, quando confrontados com tais provocações?

2. Mesmo assim recordo, há três ou quatro décadas, como tempos agressivos, nalgumas partes da Europa e da América Latina com movimentos extremistas – ‘brigadas vermelhas’, ETA, IRA, Baader-meinhof… imensos grupos espalhados pelo mundo, muitos deles interligados ou correligionários. Foram tempos marcados e marcantes pelas contestações políticas e sociais, económicas e laborais, que pretendiam que fossem cívicas, mas tornavam-se mortíferas e quase desumanas. Desses tempos ficaram tiques, nalguns dos dirigentes em funções, sobretudo ligados a uma certa esquerda marxista-trotskista ressabiada…

3. Atendendo à acentuada influência da internet e das redes sociais, hoje, torna-se extremamente difícil perceber o que boa parte das pessoas faz, mesmo que pareça sossegada. Dizia, por estes, um especialista na arte de educar: muitos pais ficam contentes que os filhos estejam ocupados e talvez em casa, só que não sabem por onde eles andam, quando navegam na internet, isto é, sossego não significa ausência de perigo… Talvez seja necessário estarmos mais de atalaia para que não aconteçam surpresas ou mesmo atitudes indesejadas. A ocupação das crianças e adolescentes não pode ser feita à custa de ingredientes de intoxicação e, talvez sem disso nos darmos conta, de dependências e de desequilíbrios a curto e a médio prazo.

4. São preocupantes os sinais – verbais, de grupo ou de partidos, de fações – de intolerância na nossa vida coletiva. Aquilo que devia quedar-se pelo combate no campo das ideias, está em efervescência na luta política. Parece-me inadmissível que dirigentes e sequazes pretendam erguer barreiras sanitárias em volta de resultados eleitorais expressivos. O país parece tornar-se uma imensa barricada, onde as trincheiras ofendem e como que revelam os intentos de muitos democratas…no seu conceito.
Não precisamos de incendiários que criem mais fatores de desestabilização. Urge refazer a comunicação social, rejeitando quem se entretém com o escarafunchar das mazelas da sociedade, explorando quase até à exaustão fenómenos de agressividade e exacerbando mais o que divide do que aquilo que une. O comando do aparelho pode fazer cair as audiências e as publicidades!

5. A sabedoria popular considera: quem semeia ventos, colhe tempestades! Certas posições são de ventania, queira Deus que recebam a paga que merecem… Não vale tudo para atingir os fins em vista!

António Sílvio Couto

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Seca: maldição ou sinal?

 


Eis que, de repente, se passou a falar de algo, embora essencial, andou bastante esquecido: começa a faltar água. As barragens, na sua maioria, estão a cerca de 10% da sua capacidade. As imagens de terra seca e gretada deixam antever algo de muito grave, a curto e médio prazo. Os mais fundamentalistas do clima saem das suas tocas de convicção para reclamarem contra tudo e todos... Mas se não chover nos próximos dois meses muito será posto em causa, tanto na agricultura, como no meio ambiente e mesmo nos recursos hídricos básicos... de acesso à água.


1. No final de janeiro, mais de um terço do continente (34%) encontrava-se em seca severa, mais de metade (54%) em seca moderada, enquanto que 11% do território estava em seca extrema e só 1% em seca fraca.
Em Portugal continental, a seca meteorológica mais intensa desde o início do século foi registada em 2005. Comparando a situação atual com a de 2005, verifica-se que o grau de severidade da seca atual é ligeiramente inferior com a situação em final de janeiro de 2005. Com efeito em 2005, todo o território também se encontrava em seca meteorológica no final de janeiro, mas com maior percentagem nas classes de seca severa e extrema (22% em seca extrema, 53% em seca severa e 25% em seca moderada).

2. Perante esta situação tão complexa, onde está subjacente a presença da água ou a falta dela (seca), podem surgir algumas perguntas, umas mais de teor científico, outras na linha popular, outras ainda de âmbito religioso ou mesmo de cariz mítico-fatalista... A que se deve esta situação de seca? As alterações climáticas explicam tudo ou confundem as razões com as consequências? Já teremos uma boa aprendizagem para o uso e não para o desperdício da água? Como poderemos salvaguardar que haja água para todos, sem deixarmos de ser injustos e de corrermos riscos quanto ao futuro? Estaremos todos conscientes de que a água é um bem perecível? Quando se fará uma correta educação para termos água no futuro próximo? Já captamos a abrangência da expressão: ‘água é vida’? Será que podemos interpretar a seca como castigo divino? Que significado tem essa visão na linguagem bíblica?

3. Para ser desenvolvida uma ‘política do uso da água’ talvez possa ser útil considerar a água em quatro níveis: uso na alimentação e na higiene (pessoal e social), dimensão económica (energia elétrica, agricultura e jardinagem), nos desportos náuticos e ações de lazer tendo presente a água.
É (ou devia ser) diferente a água que usamos na alimentação (beber, cozinhar ou como recurso necessário para a atividade humana) com essa outra que poderíamos usar na higiene ou em trabalhos que não necessitem de água potável. Por vezes usamos desta para coisas que não o exigiriam. Falta, por exemplo, formas de reaproveitar as águas da higiene pessoal (banho ou lavar das mãos) para as descargas sanitárias, onde desaproveitamos tanta água potável...
Somos um país com uma frente de mar de milhares de quilómetros e, enquanto noutros países se recorre à dessanilização como meio de aproveitar a água que é preciso, por cá rara ou nunca se fala deste método do bom uso dos recursos hídricos. Talvez momentos de crise em seca - como este que estamos a vivenciar -  possam alertar-nos para aspetos que precisam de ser estudados por quem olha as coisas com futuro e não se limita a remendar com objetivos do passado.

4. Sem dramatismos podemos ainda considerar que, nalgumas circunstâncias bíblicas, a falta de água - sobretudo de forma prolongada, através da seca - foi considerado ‘castigo divino’ ou forma de correção quanto ao afastamento para com Deus, particularmente, na visão do Antigo Testamento. «Entre os ídolos inúteis das nações, existe algum que possa trazer chuva? Podem os céus, por si mesmos, produzir chuvas copiosas? Somente tu o podes, Senhor, nosso Deus! Portanto, a nossa esperança está em ti, pois tu fazes todas essas coisas» (Jr 14, 22).  Que sinal nos estará Deus a dar com mais este tempo de seca?

 

António Silvio Couto

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Assédio não-culpado?


 De forma quase acintosa têm surgido, grosso modo na última década, nas notícias sobre a Igreja católica, casos de abuso por parte de membros do clero – uns de cariz sexual e outros de tendência de ‘género’ – numa confusão quase intencional de desacreditação de todos, a partir das partes.

A onda tem varrido várias instâncias eclesiais e sociais. No contexto pontifício teve maior desenvolvimento com Bento XVI – sussurrando-se que foi esta ferida que o foi consumindo até à sua renúncia em fevereiro de 2013 – e tem percorrido o magistério de Francisco. Os países ‘mais’ católicos estiveram sob especial escrutínio deste flagelo – humano, psicológico, espiritual e social – de longa data. Esta nova-inquisição revolveu quase tudo, desde que cheirasse a escândalo…real ou presumido. Em países mais endinheirados, choveram processos de indemnizações suficientemente chorudas às vítimas; noutros – como em Portugal – parece que se pretende ficar pelo escândalo quanto baste, desde que o assunto percorra o caminho adestrado sabe-se lá por que forças… As comissões – diocesanas ou independentes – empossadas servirão para apurar a verdade séria? Mais do que os resultados será preciso compreender os efeitos…a curto e médio prazo.      

 1. Para publicitar os apanhados na teia foi usada – até agora – uma panóplia de meios, desde a denúncia até à acusação, passando pelos pormenores mais ou menos sórdidos, que, de tão detalhados, quase deixam a suspeita de poderem ser cozinhados a contento, hoje como ontem… sobretudo se for tida em conta a possibilidade de discrepância dos ‘acontecimentos’. Não se está, nem por sombras, a questionar as boas intenções de encontrar os prevaricadores – seja qual for o enquadramento jurídico-canónico – talvez possam ser – isso sim – objeto de análise os meios de prova…

Com que alarido foram noticiados alguns dos casos, deixando, inexoravelmente, um rasto de suspeita e de quase-anátema sobre os denunciados/acusados, mas com que acobardamento não foi referida a não-acusação e até a absolvição dos mesmos intervenientes… Vimo-lo – na última década – em mais do que um caso nalgumas dioceses, dentro e fora da Europa, e nem as autoridades eclesiásticas se diferenciaram no comportamento e nas notícias. Assim se pode inferir que nem todos querem a verdade, mas privilegiam, pelo contrário, ‘sua’ versão, desde que seja populista… por agora.

 2. Irremediavelmente temos de considerar que é grave toda e qualquer ofensa em abusos – sexuais, morais ou de consciência – aos mais novos ou as pessoas com outras debilidades. Quem tal praticou deverá ser responsabilizado, seja qual for a instância jurídica, canónica ou ética…   

 3. Ora, nesta amálgama de condições socioculturais, parece-me que tem faltado um item, que, na minha compreensão, não deveria não ser excluído: têm sido apresentados muitos eclesiásticos como os réus de situações sobre menores e fragilizados. É digno de registo tal intento. E as vezes em que aqueles ou outros eclesiásticos foram – tácita, insinuada ou explicitamente – assediados em funções ou fora delas, mas tendo em conta a sua pessoa e ministério, não deveriam constar nos parâmetros da equação? Por que não se ouve falar desta vertente do problema? Será que o ‘sigilo profissional’ dos padres tem de abafar os casos e problemas, quando os atinge na sua honorabilidade?

Dizia alguém com propriedade e sabedoria: vós, os padres, não penseis que vos ‘atacam’ por serdes, enquanto homens, com bom aspeto, mas por serdes padres! Efetivamente há casos em que os assédios se verificam com tal subtileza – tanto no feminino como no masculino – que será preciso estar muito atento às insídias e ciladas do mal. Até as crianças – consideradas sem maldade – podem tornar-se focos de insinuação mais ou menos explícita. Quem acreditará, hoje, que um simples aceno de uma criança para um padre não poderá conter alguma carga menos sincera ou simplória? Pior: e se isso é comandado por algum adulto – pessoa ou conjetura – tal gesto, aparentemente, infantil poderá, afinal, ser uma cilada…

 4. Temos um problema em curso e não parece ser fácil discernir quem nos quer bem, pois, hoje, tem uma leitura e daqui a dias (ou anos) não sabemos as implicações de tais gestos, palavras e sinais. Cuidado, já!  

 

António Sílvio Couto

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Elegia da ignorância

 

Etimologicamente ‘ignorância’ vem da palavra latina ‘ignorantia’ - ‘in’ (não) e ‘gnarius’ (sabedor) - isto é, ‘ignorância’ significa não-sabedor de uma determinada matéria ou assunto...falta de ciência ou de saber, incompetência.
Daqui se pode depreender que ‘ignorância’ reveste algum significado pejorativo, podendo distinguir-se ainda entre ‘agir por ignorância’ e ‘agir em ignorância’. Ora quem atua ‘por ignorância’ pode fazê-lo por falta de conhecimento e de modo involuntário, enquanto ‘quem age na ignorância’ atua de forma não-civilizada e voluntária.
Poder-se-á dizer também que uma pessoa ignorante vive e atua de acordo com a sua ignorância, podendo basear o seu comportamento em preconceitos, superstições e ideias sem razão...isto podê-lo-á condicionar a ver as suas limitações e a necessidade de aprender, de se educar e de se instruir...mais.
Atribui-se a Aristóteles este pensamento: ‘o ignorante afirma, o sábio dúvida e o sensato reflete’. Por isso, se alguém pensa – e como tal atua – que sabe tudo não terá motivação nem capacidade para querer aprender, pois crê que nada tem a estudar, a pensar ou a questionar.

1. Vamos servir-nos, em jeito de paráfrase, do texto bíblico que faz o elogio da caridade (cf. 1 Cor, 13,4-8), para abordarmos esta temática da ignorância...com as suas caraterísticas mais significativas:
A ignorância é impaciente, a ignorância é maldosa; tem inveja, é orgulhosa, é arrogante e escandalosa.
A ignorância procura o próprio interesse, irrita e irrita-se; guarda rancor, alegra-se com a injustiça, rejubila com a mentira.
A ignorância nada desculpa, em nada acredita, desespera e é insuportável. A ignorância nunca acabará?

2. Dá a impressão que se torna um tanto difícil distinguir quem atua e vive guiado pela ignorância ou quem ainda não se apercebeu do seu estado de ignorante e se considera uma espécie de sabichão do nada. Com efeito, não andará por aí muita gente que consegue disfarçar a sua ignorância com a prosápia de bem-falante? Não andaremos a adular ignorantes que nos iludem com trejeitos de vendedores de ilusões? Não cultivaremos ainda mais a ignorância, ao promovermos tantos/as que fazem da preguiça modo-de-vida e da fachada o comportamento habitual? Em tantas das nossas ações não pactuaremos mais com a ignorância do que com a necessidade de um saber contínuo e crescente?

3. Circula em certos meios eclesiásticos que a ignorância funciona como se fosse um ‘oitavo sacramento’ e com tal evidência que os outros sete quase se subjugam a ele. De facto, fomos confrontados com tantas situações de ignorância que se torna arrepiante ultrapassar a carapaça do interlocutor. Nalguns casos parece ser um ’agir em ignorância’, pela forma desadequada em colocar as questões, mas noutros momentos dá para compreender que é um ‘agir por ignorância’, tal a convicção com que os desejos religiosos são apresentados para serem resolvidos.
Sobretudo nos apelidados ‘sacramentos sociais’ – batismo e matrimónio – bem com nos atos religiosos de caraterísticas mais profanas – como certas etapas da catequese ou mesmo por ocasião de um funeral – vemos tantas pessoas manifestarem a sua ignorância que corremos o risco de aliviar as soluções para não termos problemas mais ou menos inconsequentes. Não será isto pactuar com a ignorância? Não será isto fugir para o lado menos correto da resolução dessa ignorância?

4. Fique claro: não devíamos confundir ignorância com nesciência, isto é, não é certo meter no mesmo saco quem não sabe e talvez não seja obrigado a saber, com que não sabe e deveria saber, que é o que significa a tal ‘nesciência’. Com efeito, o desconhecimento do ‘ignorante’ é muito diferente daquele que o ‘néscio’ manifesta, pois neste há algo que não desculpa as debilidades daquele. Por isso, deveríamos – na nossa conduta eclesial – tratar tantos dos problemas na linha da nesciência – deveria conhecer e estar apto a querer aprender – e não tanto no rótulo da ignorância. Dizem e com verdade: a ignorância é atrevida!

António Sílvio Couto

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Simeão e Ana: testemunhas do cumprimento das promessas

 


No dia 2 de fevereiro celebramos a festa da ‘Apresentação do Senhor’ com a possibilidade de dois momentos diferentes e complementares: a bênção e procissão das velas, com subsequente eucaristia, onde se faz direta referência à purificação de Maria e a apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém.

O primeiro momento celebrativo faz, desde logo, alusão ao tema da luz, que Simeão acolhe, agradece e anuncia: Jesus. Na eucaristia somos chamados a inserir a vivência da entrega, feita por Maria e profeticamente interpretada por Simeão e Ana… Esta ‘entrega’ de Maria tem vindo a dar conteúdo eclesial a esta festa, na vertente da ‘consagração ao serviço do Reino de Deus’.

Previamente devemos considerar ainda que estamos perante dois momentos rituais da religião judaica: a circuncisão (oito dias depois do nascimento) e a apresentação-purificação no Templo (quarenta dias após o dito nascimento). Nesta passagem bíblica faz-se referência, por quatro vezes, a que eles – José e Maria – desejavam cumprir aquilo que estava prescrito pela Lei do Senhor (cf. Lc 2, 22.23.24.27).

Nesta pequena reflexão vamos tentar refletir sobre o significado mais profundo para nós, hoje, de modo a melhor vivermos estes dois momentos da revelação de Jesus.

 

«21 Quando se completaram os oito dias, para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus indicado pelo anjo antes de ter sido concebido no seio materno.
22 Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23 conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24 e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas.
25 Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26 Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. 27 Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito.
28
Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29 «Agora, Senhor, segundo a tua palavra,
deixarás ir em paz o teu servo,
30 porque meus olhos viram a Salvação 31 que ofereceste a todos os povos,
32 Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.»
33 Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. 34 Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35 uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»
36 Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37 ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38 Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
39 Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40 Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele» (Lc 2, 21-40).

 

Após o nascimento é-Lhe dado, ritualmente oito dias pela circuncisão, o nome de Jesus, conforme tinha sido indicado pelo anjo (v. 21). O texto abre com a expressão – ‘quando se completaram’ – numa alusão àquilo que se pode designar como a realização das profecias’ do Antigo Testamento. Por seu turno, a referência à circuncisão é o cumprir de Gn 17,12-13: «Oito dias depois de nascer, toda a criança do sexo masculino, das vossas gerações futuras, será circuncidada por vós; os servos, nascidos em casa ou estrangeiros adquiridos a dinheiro, serão também circuncidados, ainda que não pertençam à tua raça. Tanto o indivíduo do sexo masculino nascido em casa, como o que for adquirido a dinheiro, deverão ser circuncidados; e, desta forma, será marcado na vossa carne o sinal da minha aliança perpétua» e ainda em Lv 12,3.
A apresentação do Menino no templo não era requerida pela Lei, que apenas prescrevia a purificação da mãe, como se refere em Lv 12, 6-8: «Quando terminar o tempo da sua purificação, para um filho ou para uma filha, apresentará ao sacerdote, à entrada da tenda da reunião, um cordeiro de um ano, como holocausto e uma pomba ou uma rola, como sacrifício pelo pecado. O sacerdote oferecê-los-á ao Senhor, fará o rito da purificação por ela, e será purificada do fluxo do sangue. Esta é a lei relativa à mulher que dá à luz um filho ou uma filha. Se não tiver meios para oferecer um cordeiro, tomará duas rolas ou duas pombas, uma para o holocausto e outra para o sacrifício pelo pecado; o sacerdote fará a expiação por ela e será purificada».
Nos vv. 22-24 de Lc 2 encontramos o cumprimento das prescrições legais quanto ao após o nascimento de um filho, sobretudo naquilo que à mãe se referia. A novidade aparece-nos nos versículos seguintes, onde interveem Simeão e Ana, duas figuras que marcam a interpretação do cristianismo, mesmo no relacionamento com os mais velhos. Digamos que se dá um encontro entre os jovens e os anciãos: os jovens eram Maria e José, com o seu recém-nascido; e os anciãos eram Simeão e Ana, duas personagens que frequentavam sempre o Templo.
«E o que diz são Lucas a propósito destes anciãos? Ressalta mais de uma vez que eles eram orientados pelo Espírito Santo. Acerca de Simeão, afirma que era um homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel, e que «o Espírito Santo estava sobre ele» (2, 25); recorda ainda que «o Espírito Santo lhe tinha revelado» que não ele morreria sem primeiro ter visto Cristo, o Messias (v. 26); e, finalmente, que foi ao Templo «impelido pelo Espírito Santo» (v. 27). Depois, acerca de Ana, diz que ela era uma «profetisa» (v. 36), ou seja, inspirada por Deus; e que estava sempre no Templo, «servindo a Deus noite e dia com jejuns e orações» (v. 37). Em síntese, estes dois anciãos estão cheios de vida! Estão repletos de vida, porque animados pelo Espírito Santo, dóceis ao seu sopro, sensíveis aos seus conselhos...
(...) Trata-se de um encontro entre jovens cheios de alegria na observância da Lei do Senhor, e de anciãos repletos de alegria pela obra do Espírito Santo. É um encontro singular entre observância e profecia, onde os jovens são observantes e os anciãos proféticos! Na realidade, meditando bem, a observância da Lei é animada pelo próprio Espírito, e a profecia move-se ao longo do caminho traçado pela Lei. Quem, mais do que Maria, está cheio de Espírito Santo? Quem, mais do que Ela, é dócil à sua acção?» (Papa Francisco, ‘Homilia na festa da Apresentação do Senhor, XVIII dia mundial da vida consagrada’, Vaticano, 2 de fevereiro de 2014).

Numa palavra: esta passagem entre os jovens Maria e José com Simeão e Ana como que resume o encontro a Lei e a profecia, sendo esta uma nova leitura, segundo o Espírito Santo naquela... tendo sempre Jesus por referência, ontem como hoje.

Sobretudo após a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, em 1969, a celebração deste mistério da Apresentação do Senhor quis, tanto ao nivel teológico como na incidência popular, dar uma marca cristológica, mesmo com a ‘bênção das velas’ e respetiva procissão, onde se quer afirmar Cristo como luz das nações. Outro tanto se diga da acoplação a esta celebração de vertentes diversas do contexto sócio-religioso: como dia das vocações consagradas ou de especial dedicação ao serviço de Deus e dos irmãos.

 

= O cântico de Simeão (Lc 2, 29-32)

 

«29 Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, 30 porque meus olhos viram a Salvação 31 que ofereceste a todos os povos, 32 Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.»

 

No contexto do Templo e por ocasião da apresentação de Jesus, São Lucas deixa-nos este cântico simples e programático da vida de Jesus. Servimo-nos, novamente, de uma homilia do Papa Francisco por ocasião da celebração da Festa da Apresentação do Senhor.

«O cântico de Simeão é o cântico do homem crente que, na reta final dos seus dias, pode afirmar: É verdade! A esperança em Deus nunca dececiona (cf. Rm 5, 5); Ele não engana. Na sua velhice, Simeão e Ana são capazes duma nova fecundidade e dão testemunho disso mesmo cantando: a vida merece ser vivida com esperança, porque o Senhor mantém a sua promessa; e será o próprio Jesus que explicará, mais tarde, esta promessa na sinagoga de Nazaré: os doentes, os presos, os abandonados, os pobres, os anciãos, os pecadores… também eles são convidados a entoar o mesmo cântico de esperança, ou seja, que Jesus está com eles, está connosco (cf. Lc 4, 18-19).
Este cântico de esperança recebemo-lo em herança dos nossos pais. Eles introduziram-nos nesta «dinâmica». Nos seus rostos, nas suas vidas, na sua dedicação diária e constante, pudemos ver como este louvor se fez carne. Somos herdeiros dos sonhos dos nossos pais, herdeiros da esperança que não dececionou as nossas mães e os nossos pais fundadores, os nossos irmãos mais velhos. Somos herdeiros dos nossos anciãos que tiveram a coragem de sonhar; e, como eles, também nós hoje queremos cantar: Deus não engana, a esperança n'Ele não dececiona. Deus vem ao encontro do seu povo. E queremos cantar embrenhando-nos na profecia de Joel: «Derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões» (3, 1).
Faz-nos bem acolher o sonho dos nossos pais, para podermos profetizar hoje e encontrar novamente aquilo que um dia inflamou o nosso coração. Sonho e profecia juntos. Memória de como sonharam os nossos anciãos, os nossos pais e mães, e coragem para levar por diante, profeticamente, este sonho» (Papa Francisco, ‘Homilia da festa da Apresentação do Senhor e XXI dia mundial da vida consagrada’, 2 de fevereiro de 2017).

Expunhamo-nos à Luz que iluminou e guiou Simeão…

 

António Sílvio Couto

 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Leitura comparada das eleições de 2019 - 2022

 

Estando quase fechados os números das eleições antecipadas de 2022, podemos e devemos comparar os resultados deste ano e de 2019. Seguimos os dados dos três partidos mais reclamados de ‘esquerda’ do espectro político nacional: PS, BE e CDU...e os resultados são menos espetaculares do que se fazia crer, tanto no conglomerado de ganhos e perdas, como na radicalização dos parceiros dos socialistas, na governança dos últimos seis anos.
Vejamos: em 2019 os três partidos juntos - vindos da experiência da geringonça - davam em conjunto: 2.730.326 votos e em 2022 somados perfazem: 2.723.370 votos... portanto, menos 6.956 votos.
Para quem queira conferir as contas deixamos os dados:
* em 2019: PS - 1.908.036; BE - 500.017; CDU - 332.473;
* em 2022: PS - 2.246.487; BE - 240.257; CDU - 236.630.
Vendo a oscilação dos números:
PS ganhou - 338.451 votos;
BE perdeu - 259.760 votos;
CDU perdeu - 95.843 votos.
Ora, a soma das perdas do BE e da CDU perfazem 351.103 votos...com os ganhos do PS (338.451), terão ido para outros partidos 12.652 votos...
Daqui podemos inferir que, apesar da vitória do PS, nem tudo foi transferência linear entre eles, mas – tendo em conta a descida da abstenção: 51,4 % em 2019 para 42,04 % em 2022 – algo se deu de mais profundo na votação destes dias.

- Na espuma dos dias podemos considerar que a tal ‘esquerda sociológica’ nem sempre tem correspondências aos dados finais e ainda que, a tendência ideológica, de tudo ver pelos óculos do Estado-patrão não resolve cabalmente os problemas sociais mais básicos ou as questões mais elementares de justiça social, nisso a que designam de ‘estado social’ e que deveria abranger mais coisas de âmbito social, por agora resolvidas pelo Estado. Não é só a saúde, a educação ou a segurança social, que devem estar na crista dos problemas, mas outros assuntos – como a justiça, a habitação ou o trabalho – seria útil estarem na linha de resolução mais democrática...

- Mais uma vez se notou que boa parte da comunicação social enferma de um defeito quase congénito: pulsa em muitas redações um coração esquerdista, que, na hora de influenciar as notícias e os comentários, maltrata, quase inconscientemente, quem não seja tão à esquerda como acham que todos deviam ser. Falta nitidamente independência e competência para aceitar, acolher e não-hostilizar quem não seja da linha recorrente do sinistrismo ideológico e algo servidor do marxismo dialético.

- Agora que vamos entrar em regime de maioria absoluta de um só partido, espera-se que não se estenda ainda mais o poder absoluto...isso seria ditadura, que alguns tanto ousam proclamarem-se lutadores contra ela!

António Sílvio Couto