As palavras contidas neste título precisam, minimamente, de serem explicadas, até para que se possam compreender os objetivos deste texto e, sobretudo, os sujeitos/destinatários/intervenientes.
Comecemos pela palavra ‘palonço’, trazendo para aqui,
antes de mais, a estória dos ‘amigos da onça’:
Dois caçadores
conversam num acampamento:
- O que farias se estivesses agora na selva e uma onça aparecesse na sua
frente? Dava-lhe um tiro.
- E se não tivesses nenhuma arma de fogo? Matava-a com uma faca.
- E se não tivesses uma faca? Apanhava um pau para me defender.
- E se não tivesses nenhum pau? Subiria à árvore mais próxima!
- E se não houvesse nenhuma árvore? Fugia a correr.
- E se ficasses paralisado pelo medo?
Então, o outro, já irritado, replicou: mas, afinal, tu és meu amigo ou amigo da
onça?
Se tivermos na composição da palavra ‘palonço’ esse termo ‘onça’, então,
poderíamos desmontar a compreensão de que um ‘palonço’ possa, sem se dar conta,
ser amigo da onça mais reflexivo do que ativo ou passivo.
Onde se poderá radicar ainda a primeira parte da palavra - ‘pal’? Será uma
abreviação de ‘palerma’? Será, por outro lado, uma mutação de ‘papalvo’, no
significado de imbecil, parvo...
Eis em resumo significados de ‘palonço’: pessoa que se deixa facilmente enganar
e prejudicar; pessoa que revela ingenuidade e falta de bom senso; pessoa que é
pouco inteligente...
Por outro lado, explicando o outro termo usado no título. Que quer dizer:
‘mangar’? Na gíria popular pode significar: ‘fazer troça’, ‘escarnecer’,
‘zombar com a cara de alguém’... podendo ainda envolver ‘fingir’, ‘mentir
por brincadeira’.
Numa palavra: ‘palonços a mangar’ podem ser uns tantos a fazer chacota com os outros ou ainda que uns brincam jocosamente com os outros, rotulando-os de bacocos – outro termo da gíria – para envolver quem ‘não é muito esperto’ ou passa por ser ‘ingénuo’...
= Vejamos, por isso, situações ou episódios, figuras e personagens, acontecimentos ou façanhas de palonços que andam por aí a mangar uns com os outros e com todos nós:
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Muitas das notícias – verdadeiras ou
falsas – têm subjacente mais um criar de intoxicação do que um autêntico sentido
de informação. Tantas agências e empresas de comunicação fazem de nós palonços
e estão a mangar connosco, seus súbitos, na maior parte das vezes, acríticos,
anódinos e amorais... julgam eles!
A maior parte dos comentadeiros/as arregimentados por essas agências – na
escrita, na rádio, na televisão ou nas redes sociais...em conjunto ou
separadamente – são mais vendedores da mesma produção da empresa, que os
contratou e eles paga, do que fazedores de opinião...que poucos acabarão por
não apreciar, se descubrirem o logro em que estamos metidos.
Porque
nos tentam impingir programas como ‘a hora da verdade’ ou o ‘polígrafo’? Acham
que somos tão palonços e ainda não percebemos que, se é preciso escarafunchar
mentiras, não será por sentirmos que estão a mangar com um tal foguetório de
isenção?
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As longas e quase intermináveis discussões do futebolês gastam mais tempo do
que os jogos. Se uns tantos têm o exclusivo pago para a visualização dos jogos
– tem faltado coragem governamental para liberalizar em canal aberto as
transmissões em tempo de pandemia – outros entretêm-se a limpar o osso dos
casos, das intrigas clubísticas, das arbitragens, dos investimentos sem retorno
desportivo... Há emblemas que vendem mais do que os outros, isto é, vemos mais
palonços entretidos com a mangação fora das-quatro-linhas e o ambiente vai
fervilhando...
*
Que dizer da gestão política – governo, oposição, presidente e da população em
geral – desta pandemia do covid-19? O tal ‘programa de recuperação e
resiliência’ não parece ser um hino ao paloncismo nacional, mangando com
zé-povo? Menos de um ano de covid matou mais do que 13 anos de guerra
colonial... Ainda temos dúvida: somos palonços e estão a mangar connosco!
António Sílvio Couto