Lemos no evangelho segundo São Lucas:
«Em seguida, Jesus
ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a
Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e algumas mulheres, que
tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada
Madalena, da qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza,
administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus
bens» (Lc 8,1-3).
No desempenho da missão de Jesus, São
Lucas chama a atenção para a companhia dos Apóstolos e a presença de algumas
mulheres. Os Doze serão chamados a ter parte na responsabilidade da missão, a
partir de 9,1-2, de cujo desenvolvimento os Atos dos Apóstolos, apresentados
várias etapas (At 8,14; 11,26; 13,2-3). A presença de mulheres discípulas em
torno de Jesus é um facto excecional no ambiente palestinense (Mt 27,55; Mc
15,40-41; Jo 4,27).
Maria chamada Madalena aparecerá junto à
cruz (cf. Mt 27,56), na sepultura de Jesus (cf. Mt 27, 61), junto do túmulo
aberto (cf. Lc 24,10) e será a primeira a ver Jesus ressuscitado e a anunciá-lo
(Jo 20,11-18.17-18).
A ideia de ter sido possuída por sete
demónios representa, no mundo judaico, o poder total da ação de Satanás sobre a
pessoa (8,27.30; 11,26) (138).
Além de figura querida, nos primeiros
tempos do cristianismo, ela funciona ainda como alguém simbólico para os
discípulos e para a Igreja.
Na oração de ‘Angelus’ de 22 de julho de
2012, o Papa Bento XVI apresenta-nos uma interpretação daquele texto e tenta ajudar-nos
a discernir o significado de Maria Madalena, no contexto de discípula de Jesus.
«Entre as «ovelhas
perdidas» que Jesus salvou encontra-se também uma mulher de nome Maria,
originária da aldeia de Magdala, no Lago da Galileia, e por isso chamada
Madalena. (...). Diz o Evangelista
Lucas que dela Jesus fez sair sete demónios (cf. Lc 8, 2), ou seja, salvou-a de
um servilismo total ao maligno. Em que consiste esta cura profunda que Deus
realiza através de Jesus? Consiste numa paz verdadeira, completa, fruto da
reconciliação da pessoa em si mesma e em todas as suas relações: com Deus, com
os outros, com o mundo. Com efeito, o maligno procura corromper sempre a obra
de Deus, semeando divisão no coração humano, entre corpo e alma, entre o homem e
Deus, nas relações interpessoais, sociais, internacionais, e também entre o
homem e a criação. O maligno semeia guerra; Deus cria paz».
= Mais do que afirmações ou conjeturas sobre Maria
Madalena deixamos breves questões, que pretendem ser mais do que referências a
problemas secundários, que, por vezes, ocupam as tarefas de alguma comunicação
social.
– Os ‘sete demónios’, que se refere terem sidos expulsos
de Maria Madalena, simbolizam o quê? A libertação de que foi abençoada não a
levaria a ser grata para com Jesus o resto da sua vida?
– O destaque que lhe é dado no grupo das seguidoras de
Jesus não fará dela uma discípula de referência na igreja apostólica?
– Haverá algum nexo de relação entre a pecadora
arrependida (anónima) na casa do fariseu (cf. Lc 7,36-50), com a unção de
Betânia (cf. Jo 12,1-3; Mt 26, 6-13; Mc 14,3-9), como prefiguração da paixão,
morte e ressurreição de Jesus, com Maria Madalena?
– O protagonismo de Maria Madalena nas narrativas da
ressurreição (cf. Mc 16,1; Jo 20,1-18) não deixam perceber a importância que
ela tinha no quadro dos discípulos? Não haverá algum equívoco sobre a
importância das mulheres como testemunhas da ressurreição de Jesus? A quem
interessa ampliá-lo?
– A recente iniciativa do Papa Francisco – com data de 3
de junho de 2016 – de declarar a celebração litúrgica de 22 de julho, festa de
Maria Madalena como ‘apostola dos apóstolos’, contribuirá para uma melhor
compreensão do seu lugar na Igreja católica e, particularmente, da função da
mulher na mesma Igreja?
Que Santa Maria Madalena nos ajude a sermos minimamente
discípulos de Jesus como ela foi…
António Sílvio Couto