Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 28 de outubro de 2014

Vi gente a comer, sofregamente!


Por razões institucionais e/ou representativas estive, por estes dias, na celebração do aniversário de uma associação ligada à ajuda aos reformados, idosos e pensionistas – não reproduzo a identidade de forma correta de propósito – mas sei a quem me refiro… Relato, então, as minhas impressões.

Durante uma espécie de sessão de palavras, houve quem estivesse na conversa e até na rua… mas, na hora da comida, foi de ver o ‘assalto’ às mesas. O repasto não era lauto, mas as pessoas entraram numa espécie de sofreguidão para comerem… Havia gente mais velha, que talvez não tivesse tais iguarias em casa e que aquela parca mesa apresentava, mas, a mim simples convidado e ainda sem ter feito a digestão da refeição anterior, custou-me ver jovens – com unhas de gel e tlm a tira-cole – correrem avidamente para os simples petiscos em forma de lanche e de confraternização…

 Foram como que dardos de acusação e de intimidação, ver pessoas com fome a tentarem suprir, numa simples outonal tarde de domingo, lacunas da sua fatura familiar e, sei lá, daquilo que vão encobrindo sob a capa do faz-de-conta… até que seja descoberta tanta fome envergonhada!

- Havia minutos atrás tinha ouvido discursos dalguma contestação – diga-se, este ano com menos gás de acusação, mas com suficiente azedume contra quem governa ao longe… porque os que estão perto (mesmo sem fazerem muito) como autarcas são como que ‘heróis’ adulados e aduladores – e fui surpreendido com gestos de fome… arrolhada (isto é, contida como se fosse uma garrafa de espumante prestes a ser aberta) à custa de promessas eleitoralistas e com bandeiras de contestação sem consequência…prática e sincera.

- Vi figuras que sabem dizer – mesmo que acintosamente – o que lhes vai na alma amedrontada, mas que se encolhem quando têm de fazer mais do que espicaçar umas tantas animosidades, devendo dar a ração de sustento a quem procura ser digno daquilo que lhe devem… comprometendo-se naquilo que fará parte da solução e não do problema…hoje como amanhã.

- Infelizmente há pessoas que parecem ser boas a denunciar, mas que quase se diluem na hora de solucionar… mesmo no âmbito da Igreja católica, pois como que colocam as garras em atitude de ataque, mas encolhem as mãos na hora da dádiva… Por favor, sejam coerentes e façam de cada episódio de denúncia um ato profético de vivência da compaixão e da misericórdia, feita ato de fé na esperança pela caridade.  

= Agora que a noite cai mais precocemente, em razão da recente mudança da hora, como que sinto uma provocação a que sejamos todos dignos de rasgar horizontes dessa miopia preconceituosa e que façamos com que os tempos que se aproximam – enfeitados com esse tal ‘espírito natalício’ – possam revestir essoutra força de solidariedade, pois, se nem por ocasião do natal, já não olhamos os outros, então poderemos fechar para balanço a tasca da convivência humana mais simples ou até deveremos abrir uma espécie de época para saldos de fim de negócio…em humanismo e resiliência cultural.

= Em breve surgirão propostas em ordem à desejada colaboração para que tentemos entrar em iniciativas de ajuda aos ‘mais desfavorecidos’ ao perto e/ou ao longe. Quem nos tenta seduzir usa (ou vai usar) palavras que tocam o coração dos (pretensos) participantes. Estes podem ser os mais próximos ou aqueles de quem nos aproximamos… aí onde se traça a fasquia entre o partilhar e o dever fazer…pois, se continuarmos a dar o que nos sobra, nunca perceberemos que os outros são irmãos e não uns meros recetadores daquilo que já não nos faz falta… seja em que setor da nossa vida for!

Vão-me desculpar os que não precisam tão claramente, de ajuda, na Moita, mas já vi muita gente saída das catacumbas quase não humanas, suplicando ajuda e estendendo a mão em forma de súplica… Uns saem dos escombros da pobreza e tantos outros esperam que nós lhes estendamos a mão e os façamos subir… daí onde se refugiaram e que esperam o nosso compromisso humano e cristão… Basta de exploração e manipulação de quem espicaça a revolta, mas não alimenta… para a paz!

Com tantas sobrancerias… em breve poderemos cair vencidos…

 

António Sílvio Couto

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Difamação, pecado sem perdão?




Consultando a wikipédia encontramos a seguinte definição de difamação ‘é um termo jurídico que consiste em atribuir a alguém fato determinado ofensivo à sua reputação, honra objetiva, e se consuma, quando um terceiro toma conhecimento do fato. De imputação ofensiva que atenta contra a honra e a reputação de alguém, com a intenção de torná-lo passível de descrédito na opinião pública. A difamação fere a moral da vítima, a injúria atinge sua moral, seu ânimo’.

Tomemos alguns aspetos em consideração:

- Na maior parte dos casos a difamação recorre à sinistra figura do anónimo, que se esconde sob a capa do sem-rosto para criar suspeição sobre a vítima… Muitas vezes a forma de lançar as atoardas envolve capciosas insinuações, desconfianças e, na maior parte das vezes, difusão de conjeturas de pessoas com baixo teor de autoestima e menos boa confiança em si próprio… em desfavor de outros/as que lhe podem fazer sombra ou provocar ciúme.

- Os fautores da difamação tentam ganhar proveito com o menosprezo de quem querem atingir, pois com isso ofendem a reputação e honra dos atingidos e como que procuram ocupar, em protagonismo, o espaço ou a visibilidade de quem difamam. Certamente esta arma de arremesso poderá voltar-se contra quem a usa, mas, enquanto funciona, poderá dar conforto aos réus… Dir-se-á que a difamação é filha das trevas e reinará enquanto a luz não iluminar os casos e resolver as situações…

- Muitas vezes as vítimas da difamação são pessoas que, pelo seu estatuto humano e cultural, podem aparecer como alvos de inveja, podendo criar motivos de intolerância e mesmo de má-fé… particularmente em setores de incidência de maior proximidade, seja na convivência, seja na promoção de ações que envolvem perdas-e-ganhos de âmbito sócio/cultural mais imediato… Quantas difamações surgem em círculos de associações, de coletividades, de igrejas/capelas, de locais de grande vizinhança ou mesmo de intromissão abusiva na vida alheia…tendo por foco algumas questões pessoais mal resolvidas e até problemas sociais mais complexos.  

= Um exemplo de caminhada

Se recorrermos à vida de um santo pároco, poderemos encontrar algo que nos pode ajudar a interpretar esta dimensão da difamação duma forma mais profunda e tão atualizada.

Meu Deus, concedei-me a conversão da minha paróquia; aceito sofrer tudo aquilo que quiserdes por todo o tempo da minha vida!”. Foi com essa oração que começou sua missão o P.e João Maria Vianney (cura d’Ars). Na era da razão, do “penso, logo existo”, um sacerdote que nem mesmo podia confessar seus paroquianos enquanto não terminasse o curso de Moral, mostra, pelo “rezo, logo existo”, um caminho de felicidade. Ars é um vilarejo esquecido do mundo. Tem uma população de aproximadamente 200 pessoas, vários botequins, mentiras e falsidades nas negociações. Reinam as danças, os roubos (desde pequenas frutas das árvores até mesmo na demarcação da terra), as bebedeiras, enfim. Pouco povo, muitos problemas...

= Questões do foro humano

Atendendo que a difamação e a maledicência em geral podem configurar aspetos de âmbito humano e cultural, colocamos breves questões:

. Como se poderá chamar à responsabilidade quem cria, gere e difunde situações de difamação? Será que tudo vale para atingir os fins sem olhar a meios?

. Sem querer julgar os difusores da difamação, como poderemos enquadrar na linguagem cristã do perdão quem ofende sem medir as consequências? Será que Deus perdoa quem abusa da benevolência dos difamados? Esses mentores da difamação serão pessoas equilibradas ou doentes? Lá por serem mais ou menos doentes não poderão ser castigados judicial e moralmente?

. Como poderá defender-se alguém que seja vítima de difamação – seja qual for o campo de atuação – se se continuar a dar cobertura aos prevaricadores sem haver quem os castigue?

 

= Aspetos de âmbito ético cristão

Atendendo a que a difamação e mais amplamente a maledicência pode ser algo de grave – cristãmente dizemos: pecado – contra os outros, deixamos algumas perguntas numa espécie de exame de consciência:

. Tenho sempre presente que o respeito pela fama e o bom nome do próximo constitui um dever básico de justiça? Estou consciente da gravidade que encerra lesar injustamente a boa fama de alguém?
. Antes de julgar ou comentar os defeitos dos outros, procuro ver os meus e lutar por corrigi-los? Percebo que só a pessoa humilde e sincera, que se conhece a si mesma, tem condições de compreender e avaliar com misericórdia os outros?
. Compreendo que muitos juízos e críticas negativas são simples reflexo do mal-estar que podem deixar na minha alma o orgulho, a inveja ou o ressentimento?
. Evito sempre qualquer tipo de crítica negativa feita com irritação, zombaria ou desprezo, que possa denegrir a imagem ética da pessoa verbalmente agredida?
. Procuro seguir o conselho: de calar, não te arrependerás nunca; de falar, muitas vezes’? Evito qualquer tipo de crítica que não seja construtiva?
. Tenho consciência de que divulgar – sem um motivo justificado e grave – erros cometidos pelos outros, é um pecado de difamação e que tenho a obrigação de reparar o mal causado com esses comentários?
. Deixo-me levar por informações superficiais, mexericos ou opiniões levianas ao falar de pessoas ou instituições? Percebo que esses comentários precipitados podem ser calúnias?
. Faço tudo quanto é preciso para reparar o mal que os meus comentários podem ter causado à fama e à honra de outros?

. Estou consciente de que não basta pedir perdão a Deus por essa falta, mas que é um dever de justiça – também diante de Deus − restabelecer tanto quanto possível a fama lesada?

 

António Sílvio Couto

terça-feira, 21 de outubro de 2014

E daí, tenho de concordar?

Foi uma conversa telefónica de mais de meia hora em que, do outro lado, alguém meu conhecido, desde criança, tentava convencer-me que isto de ‘ser pai’ mesmo fora do casamento era algo bom…de que não estava arrependido e de que já estava na hora de assumir a (tal) paternidade.
Admirava-se do silêncio de outras pessoas a quem tinha comunicado a notícia e queria, à viva força, que lhe dessem a opinião sobre o assunto. Essoutros interlocutores consideraram que o silêncio e (e é) a melhor forma de tomar posição… seja pela discordância, seja pela estupefação do caso.
Filho de mãe solteira, acolhido por uma instituição que tudo (e muito mais) lhe deu, achou, há anos, que era tempo de alargar asas e voar por si… embora, de forma cíclica, se vá refugiar no ninho de criação... Até que agora, querendo constituir a sua (pretensa) família, se ufana de vir a ser pai sem vínculo com o casamento.
A minha resposta à situação é essa que está no título deste texto: e daí, tenho de concordar?

De fato, hoje vemos crescer um novo conceito de vinculação das pessoas, andando muitas na etapa da experimentação, outras na fase da rodagem e tantas outras na vivência epicurista do ‘dá-me gosto’, ‘não me arrependo’ ou, mais subliminarmente, ‘é por amor’… até que dure!

= Entre o ‘já’ e o ‘ainda não’
Embora esta expressão seja de teor teológico e tente apreciar o tempo em já estamos salvos, mas ainda não se manifestou essa salvação totalmente, poderá servir-nos de grelha de leitura para algumas das situações da família no contexto do nosso tempo.
- De fato já não vivemos no quadro de uma família constituída de forma estável e em conceitos de total normalidade, pois bastará ver as nossas crianças – nas escolas, na catequese, nos infantários, etc. – são resultado de muitas disfunções sociais e afetivas. Estas são as que nasceram e tantas outras que nunca chegaram a ver a luz do dia!
- A volatilidade – emocional, afetiva e mesmo comportamental – de tantas/os adolescentes e jovens revela a intranquilidade familiar, seja nos laços entre pais, seja na conjuntura entre irmãos, pois alguns são-no só de uma parte e, em muitos casos, vivendo sob o mesmo teto. Isto não acontece só nas famílias (ditas) carenciadas, mas também nas que vivem de fachada e sob o rótulo de evoluídas.
- Quantas vezes vemos adolescentes (até aos 18 anos) deambularem pelas ruas até altas horas da noite… enquanto seus pais vivem ‘tranquilos’ em casa, pois os filhos/as têm de gozar a vida… sabe-se lá a que preço. Foi-me contado um caso em que uma adolescente de treze anos chegava a casa altas horas da madrugada e a mãe não sabia o que fazer… Pudera, se a própria mãe já ia numa terceira relação afetiva!

Em breve iremos pagar a fatura de tanta atrapalhação à família, pois não havendo estabilidade no seio familiar, as pessoas – mais velhos ou mais novos – terão tendência a sair de casa e a abandonar essa que é a expressão mais simples da sociedade: o vínculo de sangue. Se este falir, então entraremos em maior colapso.
Não é preciso que nos resignemos à rutura da família, mas tentemos lançar nos mais novos o amor àqueles e aquelas que os cuidam, educando-os para a oblação de vida e não para o mero interesse daquilo que o adulto me convém…
É verdade que nem tudo está perdido, mas precisamos de unir-nos em ordem a sermos família onde os valores cristãos sejam vivos, partilhados e testemunhados… nas pequenas como nas grandes coisas.
Há periferias onde se espera uma palavra de conforto e de perdão. A família merece mais do que aquilo que nos tentam ludibriar com benesses de impostos e de incentivos à (possível) natalidade. Ninguém nasceu por decreto também não será por decreto que se salvará a família, mas pela apresentação do verdadeiro salvador: Jesus Cristo, filho da Família de Nazaré… Quando Ele for aceite nas nossas famílias muita coisa vai mudar, desde os critérios até aos comportamentos!

António Sílvio Couto

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Cenas de um tempo sem Deus

Os tempos que correm estão agressivos, as pessoas andam (normalmente) irritadiças, as notícias de violência e agressividade ocupam a maior parte dos noticiários… e como que pululam por toda a parte sinais de algo que se reporta a aspetos mais profundos e inquietantes.
Se atendermos às prevenções dos Papas mais recentes poderemos entender que é claro que muita gente vive como se Deus não existisse – dizia Bento XVI ou que Deus foi tirado do coração das pessoas – como tantas vezes advertiu João Paulo II. Se entendêssemos bem o significado da frase proferia por Paulo VI, em Fátima, em 1967 – ‘homens sede homens’ – teríamos tido um outro comportamento pessoal, familiar, social e mesmo eclesial…
É, dramaticamente, verdade: Deus foi expulso da vida da maior parte das pessoas e, em seu lugar, foi sendo colocado o consumismo…como se fosse uma nova forma de conduta mais experiencial e experienciada.
«O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração consumista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada» (Francisco, Alegria do evangelho, 2).

= Neopaganização… anticristã?
Por ocasião de certas datas míticas de religiões pré-cristãs vemos surgirem muitas iniciativas que congregam pessoas, algumas delas com instrução, mas que quase recuam aos seus ancestrais… recriando ambientes e tempos envoltos em exoterismos e com práticas a roçar um razoável neopaganismo. Veja-se, por estes dias, o culto do halloween, com os rituais mais vulgares e até populares. Mas também os ciclos de ritmo de mudança das estações do ano com as vivências voltadas para a natureza, como grande mãe e senhora dos diferentes rituais iniciáticos.
Se atendermos à visão cristã desses mesmos tempos e ambientes poderemos ver que o cristianismo tentou dar resposta a esses ritos, substituindo muitos deles por festas religiosas com incidência na fé judaico-cristã. Foram tempos, foram ritmos, foram vivências… mas que agora estão a ser postas em causa pela onda neopagã mais ou menos subtil e com cobertura de uma certa comunicação social bem orquestrada nos valores anticristãos.
Pequenos exemplos: a solenidade de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos foi uma cristianização da festa das bruxas (hoje rebatizada de halloween), no início do século XI. O Natal foi uma cristianização da celebração do ‘deus da luz’, após a queda do império romano do ocidente, bem como a festa de São João Batista foi como que uma tentativa de tornar cristã uma festa em honra do deus sol, no solstício de verão…
Hoje, ao vermos despirem de conteúdo cristão algumas destas festas e outras mais regionais ou nacionais, como que sentimos a perda de sabor do cristianismo como expressão de fé e, sobretudo, de vida, pois alguns vão tentando viver numa certa mistura, usufruindo dos conteúdos com novas formas e expressões festivas…onde Deus não conta. Bastará ver a ocorrência de halloween em infantários e escolas de índole cristã!

= Remar contra a maré?
Será possível remar contra esta maré de neopaganismo galopante que estamos a viver, sobretudo na cultura ocidental? As investidas (atuais e do passado) do islamismo não nos dizem nada nem criam incómodo à nossa pasmaceira cultural? Os sinais de crise (mais de valores do que económica) terão servido para mudar hábitos e comportamento ou só serviram para agudizar a nossa fome consumista? Teremos aprendido a lição de que nem só de pão vive o homem, de hoje?
Tudo poderá ficar igual ou poderemos continuar a seguir o nosso caminho rotineiro como se Deus não existisse, mas depois seremos assaltados por esse vazio de vida e de ética. Tudo poderá ser, afinal, diferente se aceitarmos Jesus na nossa vida, na nossa família e na nossa sociedade. Queremos já ou vamos adiar?      

António Sílvio Couto

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Chuvas e enxurradas… climatéricas e políticas


No espaço de um mês, várias cidades em diferentes pontos do país, viveram cheias e enxurradas… algumas com bastantes prejuízos e razoáveis alterações na ordem pública… A chuva como que pôr a manifesto que manda onde deviam reinar os (pretensos) mandantes.

Se na primeira vez houve um certo disfarce – como diz o povo, assobiando para o lado – duma parte significativa dos autarcas, com desculpas e acusações aos outros; na segunda ocorrência as declarações – muitas delas a destempo e quase envergonhadas – deixaram muito a desejar sobre a capacidade de governação, a congruência de decisões e, sobretudo, sobre a honestidade mental e política da sua maioria… atendendo aos diversos espetros partidários e instâncias de poder, locais de incidência e matérias de culpa.

Não se admite que se venha dizer que não há solução ou que, por ser muito cara – só na capital seriam precisos mais de 150 milhões de euros – o melhor parece ter de aguentar com as contrariedades, adiar os problemas e, particularmente, fazer de conta que as coisas se vão resolver sem nada para isso se intentar.

= Quem assim nos trata…merecerá governar?

Diante destes episódios – a jaez das pessoas mostra-se nas dificuldades, sobretudo nos momentos inesperados – fica-nos uma certa sensação de que estamos a ser governados por pessoas que não prezam os demais, pois poderiam, ao menos reconhecer os erros, e deixarem alguma esperança de que, no futuro, as questões de cheias e enxurradas terão outra solução… Não querem prometer o que não podem, mas não podem disfarçar a incompetência com ataques e dissimulações de que tudo parece estar mais ou menos bem… até ver!

No quadro político atual, vemos que há autarcas com aspirações a serem governantes da Nação. Mas será que, com as provas dadas nas autarquias, poderão ser de confiança e ter competência para onde se candidatam? Quem deixa um lugar (autarquia ou outro) endividado e não cumpre as responsabilidades que assumiu será de ser levado a sério, agora e/ou no futuro? Serão as cheias e enxurradas algo de prospetivo e simbólico do futuro próximo do nosso país?

Nada nem ninguém me influencia para contestar quem se perfila para se tornar governante neste país, mas há fatos e personagens que deixam muito a desejar, tanto no presente como em relação ao futuro… Este sim preocupa-me, pois não vislumbro quem seja capaz de servir os outros, mas parece que intentam tornar-se poder a todo o custo… mesmo que tenham de destronar outros à força e, sei lá, sem convicção que não seja o poder pelo poder!

 = Poderá haver sinais de esperança… no horizonte?

Efetivamente as chuvas deste verão, continuadas pelo outono, vieram denunciar que no subterrâneo do nosso ‘eu coletivo’ há feridas que ainda não cicatrizaram. De fato, por diversas vezes temos assistido ao desenterrar de fantasmas que julgávamos já desaparecidos, bem como pensávamos que certas figuras já tinham percebido que o seu tempo da validade tinha expirado. Não tem sido isso que vemos, antes pelo contrário, figuras de um passado a querermos esquecer surgem nas primeiras filas do parlamento, na comunicação social e como mentores de uma certa mudança, que mais não parece do que no regresso ao ‘dejá vu’!

- São precisos novos atores na política portuguesa: gente que tenha valores de serviço ético, mais do pretendam ser meros servidores de uma ética republicana, por vezes ressabiada e tendencialmente anti-cristã.

- São necessários homens e mulheres que tenham visão de esperança, com os pés bem assentes na terra que conhecem, mas que apontam para um futuro de justiça, de verdade e de bem comum.

- É urgente que os mais novos vejam que a política não é a arte de mentir e de promoção a bel-prazer, mas que é a ciência do serviço aos outros, sobretudo aos mais desfavorecidos da sociedade… sempre e não só nos tempos de campanha eleitoral.

Porque Portugal tem futuro. Cremos e acreditamos que havemos de conseguir vencer as cheias e as enxurradas sejam as climatéricas, sejam as de teor político/partidário. Assim o consigamos concretizar votando naqueles/as que nos mereçam mais respeito, confiança e credibilidade…  

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Uma certa cobardia dos anónimos



De vez em quando surge na comunicação social a referência a investigações, iniciadas pelos serviços de justiça, decorrentes de denúncias de anónimos sobre os assuntos mais díspares. Os campos de intervenção, por referência ao papel dos anónimos, são muito variados e às vezes faz parecer que quem tal subterfúgio usa é mais do âmbito da conhecimento do caso do que de fora da situação… camuflada.

Diante desta onda de tais ‘anónimos’ – dirão alguns, mas muito bem conhecidos – como que temos a sensação de estarmos a ver incentivar uma nova cultura do medo, de todos podemos ser vítimas de suspeição (senão clara pela menos tacitamente), de que tais atos como que revelam ataques sem rosto e até de que passaremos a viver na desconfiança de todos e para com todos…sem sabermos quem é quem, porquê e onde!

= Cultura do medo

É significativo que o medo seja, hoje, uma das armas a que recorrem os mais medrosos, incompetentes e até espertos mas não inteligentes, criando nos outros a sensação de que estão sujeitos a serem usados por quem, escondendo-se sob a capa do anonimato, usa os demais como trunfos…em seu favor.

Muito deste medo é mais psicológico do que real e os tais anónimos podem usá-lo com subtileza para assim se sentirem – como julgam – superiores, embora manifestando um complexo de inferioridade não assumido. Com efeito, o medo é algo que cresce, sobretudo, no campo da manipulação, da desinformação e da ignorância… onde as vítimas estão ao sabor dos intentos mais sórdidos de quem se considera capaz de instrumentalizar os outros… até vir a ser descoberto!

Quem não se sentiu já vítima de medo, por alguém que, mesmo a coberto do anonimato, tenta lançar fumos de má-fé, de difamação e mesmo de desonra!... Bastará um boato, uma carta anónima ou um mero trejeito de menos boa reputação para que se possa instalar o medo em nós e à nossa volta.

= Vítimas da suspeita

Quando um tal anónimo faz uma denúncia lança – correta ou em difamação – uma suspeita sobre esse outro/a que quer acusar. Essa suspeita, se investigada pelas autoridades judiciais, pode tornar-se algo mais do que um trazer para a luz do dia algo que coloca essa pessoa em estado de réu… podendo exigir alguma investigação e até ser levado a julgamento.

As vítimas dos anónimos não conhecem, na maior partes das vezes, os seus acusadores, pois estes se acobardam sob a capa de não darem a cara nem de se saber quem são. De algum modo (quase) todos nós podemos ser vítimas dos intentos de anónimos… e tanto mais quando podemos estar em ação pública e nem sempre agradarmos às vontades de todos. Dito de outra forma: (quase) todos estamos sob suspeita, se alguém nos quiser mal ou se interpretar menos bem o que dizemos e/ou fazemos.

= Ataques sem rosto

O que mais ofende nos anónimos é o de se esconderem sob a pretensa ideia de que, não tendo rosto, não serão reconhecidos. Ora, pelos seus atos, muitos deles deixam-se perceber nas insinuações que, por vezes, fazem, senão de forma direta pelo menos nas entrelinhas, nos olhares e nos comportamentos.

De fato, muitos dos anónimos são tão cobardes que nem cara têm para levar um murro bem assente, pois se tivessem capacidade de mostrar a cara seria com todo o gosto – e sem ofender a mais lídima linguagem cristã do perdão! – que seriam esbofeteados por aqueles a quem ofendem, desonram e atacam.

É a esses que se escondem no número privado de tlm, que enviam mensagens sem remetente, que escrevem cartas a computador para não se ver a caligrafia e tantos outros subterfúgios de anonimato, que queremos denunciar e exigir que saiam do obscuro campo da mentira, pois as diferenças de opinião não se combatem com cobardias nem com denúncias soezes e ressabiadas…mesmo a longo prazo.

Às autoridades judiciais lamentamos que levem a sério quem sério não é, pois se o fosse daria a cara e não se esconderia num certo anonimato cobarde, ignóbil e filho do mal.     

 

António Sílvio Couto

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Triunfalismo e indignação


Nota-se nas hostes do maior partido da oposição um certo ar de triunfalismo, à medida daqueles clubes, que olhando para os adversários mais ou menos fragilizados, pensam e dizem: vamos ganhar por quantos? Só que o jogo parece – para já – vir a ser disputado pelas reservas, que, noutras ocasiões, foram derrotadas… à saciedade! Se olharmos à seleção nacional de futebol poderíamos tirar, desde já, as devidas lições! Será que aprendemos com os erros, tanto os nossos como os dos outros? Os atores têm de ser diferentes!

Entretanto, recomeçou a época de manifestações, sendo criados novos figurinos, mas o objetivo parece ser sempre o mesmo: contestar, mobilizar, ocupar as ruas, desgastar… até à pretensa vitória final! Não está em causa o direito a tomar posição como muito bem cada um (pessoa, associação ou até força sindical e partidária) achar, talvez possa ser é ser questionável se, desta forma, vamos recuperar o país, criar emprego, fazer crescer a riqueza de todos para se repartida mais atentamente… Precisamos de trabalho!

Aparentemente estes dois itens de avaliação da nossa vida política (partidária) e social (económica e sindical) como que podem ser os extremos de uma outra leitura neste outono chuvoso, num misto de quente e húmido, bem como de efervescente e (quase) imprevisto.

= De fato, temos vivido episódios – vistos e ouvidos, narrados e pretendidos – duma espécie de fim-de-regime na nossa política… à portuguesa em que todos acusam todos, embora todos possam ser acusados daquilo que apontam aos outros…. Com efeito, vemos voltarem a surgir na ribalta figuras que deveriam ser retiradas de circulação, tal foi o mal que (já) fizeram ao país no seu todo e especificamente nas dimensões de índole económico/financeira. Será que temos de deitar a perder os sacrifícios que nos foram exigidos? Será que saberá governar o país quem se endividou nas autarquias? Será que se lava o passado só porque se pretende vingar as derrotas mesmo interpares?

Se tal acontecer – como se perfilha numa certa comunicação social orientada – poderemos considerar que o ‘povo’ não tem memória e que se deixa comprar por certos ‘pratos de lentilhas’, que tresandam a recesso e que nada acrescentam ao já visto!

Efetivamente, como já referimos: temos de ter atores diferentes, que falem, essencialmente, a verdade, que queiram pedir perdão pelo mal feito e que sejam capazes de apresentar projetos que não mais nos encurralem no contexto da Europa comunitária… Temos de ser levados a sério na condução do nosso futuro coletivo, pois os guias da última década deixam muito a desejar… senão na forma, pelo menos no conteúdo!

= Na militância da contestação estamos quase a chegar à saturação, pois, tendo em conta alguns dos faladores poderemos considerar, que profissionalmente são mais isso de estarem na rua do que no exercício da profissão – seja na educação, seja na laboração, seja mesmo na motivação do operariado – na medida em que o país não produz com contestações nem com faixas e palavras de ordem… no contra tudo e todos!

A indignação não pode ser uma etapa de ocupação (ou será manipulação?) dos reformados e pensionistas, de desempregados e de beneficiários de subsídios e, muito menos, de pessoas fragilizadas pela inconstância do tecido económico, que se podem tornar vulneráveis a artimanhas de habilidosos, mas em que estes nada fazem para valorizar a força de trabalho dos que servem as suas causas.

De fato, é trágico que haja tantas famílias sem o mínimo para sobreviverem, mas será ainda mais dramático se lhes tentam insuflar o veneno do ódio e duma certa dose de resignação de salvadores sem solução… Quando, um dia, se aperceberem que foram usados para campanhas de cosmética, então a revolta será ainda mais contundente e feroz!

É verdade que o povo é sereno, mas pode enfurecer-se contra quem o usa como descartável e (quase) acrítico. Não cozinhem argumentos com as armas que podem voltar-se contra os mentores da indignação, se esta for indigna de ser credível, já!

Do triunfalismo à indignação vai um passo de bom senso… coisa que precisamos, urgentemente.  

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Questões de patriotismo… à portuguesa


Por ocasião das comemorações do dia da implantação da República voltaram a ouvir-se apelos – uns inflamados, outros circunstanciais e tantos dececionantes – a um certo patriotismo… mais ou menos ao sabor das cores partidárias, dos lugares de comando e de inflexões ideológicas.

Até houve, nessa mesma data, o lançamento de um novo partido – há terrenos sociais onde certas iniciativas têm tanto de vulgar, quanto de necessário para difundir certos egos e protagonismos – numa tentativa de (quase) balcanizar o espectro partidário… que mais tarde terá de reconstruir o que, por agora, não passa de dividir para reinar.

= Neste país/nação que é Portugal vemos emergirem figuras que, aproveitando-se de possibilidades na comunicação social, se catapultam para a ribalta política com a mesma destreza com que trocam de camisola ou de fato… de exibição. Só num país decrépito de valores morais se acredita em gente que denuncia os ordenados dos deputados (europeus ou nacionais), mas que auferem-nos sem pejo nem vergonha. Só num país onde vale tudo, se tenta derrubar na rua quem foi legitimado nos votos. Só num país em vésperas de se afundar na lama da sua ética (dita republicana) se permite deixar impune quem usa programas de opinião para se fazer novamente valer de salvador, mesmo que isso implique faltar aos compromissos para com quem o elegeu… há tão pouco tempo!

= Temos estado a viver, em Portugal, sob um regime de contenção de despesas públicas, rateando pelos mais diversos meios os recursos do povo trabalhador. Às frases feitas e aos chavões de rua, não conseguimos perceber a que horizonte nos querem levar, sejam os atuais sejam os futuros governantes. Já se perfilam na linha de partida mentores de gastar sem olhar a recursos… Já se adivinham mentores da facilidade, pois o futuro será mais risonho com ‘pão e jogos’ com que, desde a antiguidade romana, se entretinham os incautos e manipulados.

= Há situações que devem ser faladas a sério, custe o que custar, pois encobrir as causas não costuma ser boa política para defender das consequências. Áreas como a saúde, a educação e a segurança social correm riscos contínuos, pois faltam meios de capitalização para que esse serviço público seja bem feito e os custos sejam os mais corretos e honestos. O que temos visto são números que não condizem com a realidade, descobrindo-se quase sempre lacunas e desvios que fazem encarecer tais serviços. Será ainda mais difícil perceber a continuidade dessas vertentes de bem comum se o fator trabalho não for educado desde a mais tenra idade. Com efeito, se temos quase vinte por cento de jovens (15-29 anos) que nem estudam nem trabalham e se um quarto da população (com mais de 65 anos) vive de reformas, como poderemos construir um país saudável e com futuro?

= O patriotismo não se semeia à custa da maledicência militante com que tantos se desgastam. O patriotismo não tem coloração partidária, ou tornar-se-á uma espécie de chauvinismo ou de internacionalismo, que só vale quando reverte a nosso favor, de contrário pode ser arma de arremesso contra adversários ocasionais ou permanentes. O verdadeiro patriotismo deve ser servido em doses de consenso, tendo em vista mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa. Já é tempo de termos dignitários na arte da política que olham para os problemas e que tentam dar-lhes solução a médio prazo e não se limitando a resolver questões dos seus comparsas… votantes ou eleitores,

A bem da Nação, urge mudar de atores, pois alguns dos, por agora, recauchutados trarão os resultados que já vimos e não servem o nosso futuro coletivo…

Não pode ser só o futebol a puxar pelo nosso patriotismo! Outras modalidades, que não meramente desportivas, também são patriotas.

    

António Sílvio Couto

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pais agredidos pelos filhos


Cerca de quatro mil pais – sobretudo na vertente da mãe – foram agredidos pelos filhos, entre 2004 e 2012. Estes dados são os que constam de elementos recolhidos pela associação portuguesa de apoio à vítima (APAV). Na sua maioria estes pais agredidos nem apresentaram queixa às forças policiais… No conjunto das agressões estão incluídos mais de nove nil crimes cometidos contra os progenitores… mas cuja denúncia surge, normalmente através de uma terceira pessoa, que se envolve no caso e que apresenta queixa.

De entre os crimes relatados a maior parte são de maus-tratos físicos e psicológicos, mas também há situações de coação e de ameaças, de difamação e de injúrias, de furtos e de roubos, de violação de obrigação de alimentos e, mesmo, de agressões de natureza sexual… A maioria das vítimas tem mais de 65 anos. Por seu turno, os filhos agressores são, na sua maioria do sexo masculino, e contam entre os 26 e os 45 anos, mas também já há casos de menores (5,7%) agressores dos seus progenitores.

= Sabendo que, em Portugal, um quarto da população tem mais de 65 anos, num total de dois milhões de pessoas, temos de estar cada vez mais atentos a esta faixa dos cidadãos, dando-lhes, já, as melhores condições de vida, de proteção e de segurança, tanto na sociedade como na família.

= Recentemente realizaram-se em Roma e nalgumas dioceses encontros envolvendo pessoas mais velhas, referimo-nos a encontros com avós. Foram momentos de algum significado tanto social como espiritual/cristão, pois se permitiu dar mais conta da importância dos mais velhos na construção da sociedade… hoje muito mais envelhecida, particularmente na Europa, do que noutras épocas.

= Ao longo do mês de outubro vai decorrer, no Vaticano, um sínodo extraordinário dos bispos sobre o tema da família, intitulado: ‘desafios pastorais sobre a família’, que terá continuação, em 2015, num outro sínodo ordinário… devendo só após estes dois momentos haver um documento orientador do Papa.

Questões a precisar de resposta… sincera e urgente

- Que podemos/devemos fazer, ao nível familiar, para que os mais velhos sejam bem cuidados e não meramente tolerados?

- Que dimensões podem/devem ser tratadas, para que os mais velhos sejam parte da sociedade e não pesos (quase) mortos?

- Até onde poderá ir a nossa capacidade de sensibilidade desde a mais tenra idade aos outros, atendendo à sua longevidade?

- Como poderemos/deveremos educar os mais novos para estarem atentos aos mais velhos em família, na rua e mesmo na igreja?

- Estaremos a ser dignos do esforço com que os mais velhos cuidaram de nós, quando agora os enxotamos para lares e casas (ditas) de repouso?

- Como seremos tratados pelos mais novos, quando formos velhos, nós que os desenraizamos colocando-os em estruturas coletivas de passatempo (e talvez de educação) na infância?

- Acreditando na força da Lei de Deus que nos diz para honrarmos pai e mãe, não estaremos a colher os frutos duma certa democratização do ‘tu cá, tu lá’ com que tantos pais/mães criaram seu filhos e agora também os netos?

- Não será de continuar a apostar na estabilidade da família para que pais/avós, filhos e netos sejam cuidados tendo em conta a visão personalista da pessoa e não essa outra visão dialético/marxista da qualidade/quantidade na produção?

Porque acreditamos que a família – nas suas várias etapas e configurações de índole espiritual/cristã – é e continuará a ser a base da construção da sociedade, temos algumas expetativas do que será dito e, sobretudo, decidido nos próximos sínodos em Roma… embora sejam precisas respostas, já.

 

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)