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quarta-feira, 3 de março de 2021

Desmascarando…sob máscara

 


Adereço ou peça essencial no nosso convívio e trato com os outros no dia-a-dia, a máscara trouxe muitos convenientes: nalguns casos escondeu o que nem sempre era tão bonito quão desejável; reduziu ao essencial o que seria visualizável; defende e serve-nos de defesa para que não haja contaminação viral; tem sido motivo de moda para desviar as atenções, criando outras intenções…

Poderemos, por outro lado, elencar ainda uns tantos inconvenientes nesta mascarada vigente e/ou necessária: deixamos de reconhecer com facilidade os nossos interlocutores; sem nos darmos conta corremos o risco de sermos indelicados, dado que não reconhecemos nem somos reconhecidos com quem nos cruzamos; o recurso à máscara talvez denuncie uma falta de respeito mútuo, pois facilitando vimos os números de infetados a crescer à mistura com tantos falecidos que se podiam ter evitado.

Se, anteriormente, ver alguém de máscara nos colocava de sobreaviso quanto a quem tal exibia, agora cruzar-nos com alguém sem máscara torna-se um risco, um perigo perante um potencial prevaricador a ser multado…

Ora, atendendo às leituras e interpretações deste ano de pandemia, questiono: por que não advertiram já a titular da pasta da saúde de que o seu ar prazenteiro e simpático não condiz nada com a gravidade dos números de infetados e de falecidos, que apresenta? Por que ainda temos de aturar algo que soa a mentira, mesmo que desejem vender outro produto?

  = Carta aberta às televisões generalistas nacionais

Andava entretido nestas lucubrações de saldo, quando foi publicado, num jornal diário, uma espécie de manifesto subscrito por 42 ‘personalidades’, que exigem «uma informação que respeite princípios éticos, sobriedade e contenção. E, sobretudo, que respeite a democracia».

Diz essa carta aberta, após enunciarem alguns ‘saberes’ sobre a doença, as vacinas, as regras sociais e até as crises dos ‘media’: «assinalamos a excessiva duração dos telejornais, contraproducente em termos informativos. Não aceitamos o tom agressivo, quase inquisitorial, usado em algumas entrevistas, condicionando o pensamento e a respostas dos entrevistados. Não aceitamos a obsessão opinativa, destinada a condicionar a receção da notícia, em detrimento de uma saudável preocupação pedagógica de informar. E não podemos admitir o estilo acusatório com que vários jornalistas se insurgem contra governantes, cientistas e até o infatigável pessoal de saúde por, alegadamente, não terem sabido prever o imprevisível – doenças desconhecidas, mutações virais – nem antever medidas definitivas, soluções que nos permitissem, a nós, felizes desconhecedores das agruras do método científico, sair à rua sem máscara e sem medo, perspetivar o futuro».
Contestam o uso de termos como ‘caos’ nos hospitais, ‘catátrofe’ ou ‘rutura’... e que se mostrem filas de ambulâncias, que se exibam agulhas, ventiladores, para concluirem: «sabemos que há uma pandemia causada pelo SARS-CoV-2, mas também sabemos que há uma diferença entre informação, especulação e espetáculo. E entre bom e mau jornalismo».

Seguem-se as ditas assinaturas, onde encontramos, entre tantos: oito professores universitários, três outros docentes, dois jornalistas, seis médicos, quatro escritores, cinco ligados às artes de representação... numa razoável lista de pessoas ‘capitalistas de esquerda’, isto é, que gravitam pela capital e estão conotadas com forças ideológicas do arco da atual governabilidade. Parecem ter deixado cair a máscara de quem querem proteger e atacar, dando a entender que não sabem lidar lá muito bem com a tal democracia que apregoam, mas que nem sempre (como agora) praticam... Pena é que alguns e algumas só emerjam em maré tão fétida.

Será que o governo já bateu tanto no fundo que precisa destes aios e aias para flutuar? Se há tanta competência, como insinuam, por que temem o poder dos particulares, na comunicação social? É verdade que esta anda de rastos, mas querer calá-la só depende de quem a compra ou visualiza, não de quem a pretende impingir ou silenciar!

Liberta que foi a classificação do livro das sevícias entre 25 de abril de 1974 e 25 de novembro de 1975, vemos com estupefação estas tomadas de posição ‘democráticas’, que mais parecem do tempo da ditadura!

 

António Sílvio Couto

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