Por ocasião do centenário do «pcp» emergiram dados e elementos que nos devem fazer refletir.
Assim uma antiga militante e dirigente do dito partido –
expulsa em 1988 – reportando-se ao ‘livro negro do comunismo’, editado em 1998,
expôs os seguintes números das vítimas da ideologia comunista: «100
milhões de mortos vítimas do comunismo no século XX: China - 65 milhões, URSS -
20 milhões, Camboja - 2 milhões, Coreia do Norte - 2 milhões, África - 1,7
milhões, Afeganistão - 1,5 milhões; Vietname - um milhão; Europa de Leste - um
milhão, América Latina – 150 mil»... No contexto (bloco de Leste) soviético
houve deportações e genocídio de ucranianos, polacos, tártaros, chechenos,
inguches, culaques, moldavos...
Porque há tanto medo de expor esta triste e maléfica
realidade? Preconceito, manipulação, confusão ou cobardia? Até onde irá a
lavagem vermelha de realidade tão atroz? Como não podemos apresentar estes
dados, quando se vê a glorificação de quem matou, só porque não estava de
acordo? As vítimas de outros acontecimentos – nazismo, fascismo, tribalismo ou fundamentalismo
– e genocídios ofuscam ou servem de vanglória para as conquistas feitas com
sangue e atrocidades dos comemorados?
Retomando as palavras supra ditas, vou esmiuçar:
* Do preconceito à manipulação
Vem a ‘talhe de foice’ – expressão popular que significa
‘a propósito’, ‘por acaso’ – contar aqui um pequeno episódio ocorrido com um
imigrante ucraniano, quando viu serem colocadas bandeiras a esmo numa avenida,
aquando da dita celebração do centenário do «pcp». Saído do carro de repente
questionou os que dependuravam as ditas bandeiras/estandartes: não têm vergonha
de colocar na rua coisas com essa cor e esse emblema? Sabem o que significa
essa cor – vermelha? É o sangue de muitos ucranianos, mortos por essa gente…
Esse símbolo é sinal de morte, muita morte… em tantas partes do mundo! Não têm
vergonha desses crimes? Os tarefeiros só diziam: é do centenário, é do nosso
centenário! Tirem essa porcaria, respeitem a memória de milhões que morreram,
mortos por essa gente!
= Será que todos sabem que a cor vermelha/encarnada –
sempre me confunde esta distinção regionalista – é mais fruto de morte do que
de vitória? Os milhões supra citados pagaram, por vezes, com o sangue e a morte
a ousadia de resistir…
= Não lhes pesa na consciência saberem que foram causa de
infortúnio para milhões e que atiraram para a miséria milhares com as suas
lutas, reivindicações e combates sindicalistas?
Muitos dos ‘crentes’ do partido foram catequizados na
benevolência daquilo que lhes era apresentado, mais como discurso heroico do
que como leitura da realidade objetiva. É com grande impaciência que não vejo o
reconhecimento total ou parcial dos malefícios da ideologia comunista.
É verdade que, enquanto membro e participante da Igreja
católica, também reconheço que houve erros, falhas e até crimes em nome da fé.
Não esqueço a famigerada ‘Inquisição’ – sistema jurídico-espiritual de combate
à heresia, à blasfémia e à bruxaria, a partir do século doze…em Portugal esteve
em vigor de 1536 até 1821 – com os seus métodos, argumentos e consequências.
Não podemos ainda esquecer as ‘cruzadas’ ou o processo dos ‘descobrimentos’ e a
imposição dos interesses colonizadores, a escravatura… e tantas outras situações
onde a propósito da fé se derramou sangue e, tantas vezes, se causou morte.
A 12 de março – no contexto do jubileu do ano 2000 – João
Paulo II pediu pública e humildemente perdão pelos pecados da Igreja ao longo
da história da Humanidade, reconhecendo erros, más opções e até contradições
entre fé e vida.
= Por que será que a ideologia comunista nunca teve esta
atitude, antes se vangloria, desfradando ao vento sinais de sangue e de morte?
= Embora o pedido de perdão não faça reverter as vidas
ceifadas, não será mais honesto e sério intelectualmente reconhecer as falhas
do que entrincheirar-se nas certezas dogmáticas desconexas?
António Sílvio Couto
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