Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 30 de outubro de 2018

Equipas de (futebol) mercenários…


Numa das últimas partidas de futebol, nas competições europeias, uma equipa portuguesa tinha, no seu onze titular, apenas um jogador de nacionalidade lusa…por sinal com estatuto de internacional pela seleção. Ora isto como que nos pode e deve fazer refletir sobre a composição da maioria das equipas que praticam futebol, a sua representatividade do país ou mesmo sobre um certo mercantilismo em que se move a (dita) ‘indústria do futebol’…ou será antes comércio?

De facto, muito daquilo que se vive no mundo do futebol – com código de conduta próprio, regras e leis à medida, gestão e financiamento à sua maneira, critérios e valores adequados aos seus objetivos – faz dele uma sociedade à parte do resto das ocupações sociais, cívicas e quase morais. Ai de quem tente entrar nesse mundo, correrá o risco de vida ou ao menos de integridade física e psicológica!

Se soubéssemos ler os sinais que o futebol emite diríamos, no mínimo, que estamos umas décadas ou séculos atrasados, pois aí se vendem homens por preços exorbitantes, quais escravos da Idade antiga ou negreiros (não tem o sentido da cor da pele, mas tão só da atitude laboral) dos nossos tempos. Se naquelas épocas houve vozes que se ergueram para contestar e combater a escravatura, hoje estamos calados e cúmplices duma afronta à dignidade humana, pela simples razão de serem mais bem pagos e, portanto, escravos de qualidade extra… pelo trabalho que faz encher estádios e polariza discussões de clubes.

Estes mercenários circulam de país em país, ao sabor da melhor execução futebolística, sem nos apercebermos do curto tempo de validade que têm e da exploração física e moral a que estão submetidos pelas mafias não detetáveis pela fuga aos impostos e à promoção duns tantos mais habilidosos… sejam magnatas do petróleo, autarcas em ascensão ou dirigentes com tiques de caciquismo.

Em tempos dizia-se que jogavam por ‘amor à camisola’, agora dizem-se ‘profissionais’, desde que melhor pagos ou trocados por idênticos executores mais novos e artísticos. Há situações em que um jogador pode jogar e marcar por uma equipa/clube e, num curto espaço de tempo, estar do outro lado da barricada contra quem antes lhe pagava ou de cuja camisola se dizia defensor… Não será isto uma atitude de mercenário? Não faltará nisto ética e sentido de responsabilidade? Não se difundirá mais a propensão para a mentira do que a valorização da verdade…humana, ética e desportiva? 

= Eis breves questões sobre o tal ‘mundo’ do futebol:

- Quando se fará uma investigação despida de preconceitos para averiguar se o futebol não é um espaço de lavagem de dinheiro de outras atividades ilícitas, ilegais e quase imorais?

- Quando se fará uma purga de tantos interesses que se vão encobrindo no âmbito do futebol e com armas pouco claras e minimamente verdadeiras?

- Quando se vê alguma luta pela dignificação da exposição/venda dos animais, não se estarão a esquecer os campos do futebol, sem medos nem ressentimentos, vendendo os executantes (jogadores, treinadores, dirigentes, etc.) como artigos sem marca nem qualidade?

- Quando se dá mais importância ao jogo feito fora do campo, não se estará a desdignificar quem o pratica em favor de quem o cozinha?

- Quando se passa mais tempo a discutir o jogo e menos a disputá-lo com verdade e honestidade, não se estará a dar importância aos abutres em vez de olharmos para as aves que, de facto, voam?  

Ora, enquanto o futebol for mais indústria e/ou comércio e menos desporto, estaremos a confundir as funções dos praticantes, dos dirigentes e dos que gostam dele como ação humana digna e dignificadora… Tudo o resto poderá cheirar a mentira, a confusão e a corrupção… com mais ou menos mercenários e menos para mais desportistas!

 

António Sílvio Couto  

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

João 8, 32


«Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres».

Foi com esta frase bíblica que o candidato vencedor nas eleições presidenciais no Brasil se apresentou diante das câmaras de comunicação.

Jair Messias Bolsonaro conseguiu 55,1% dos votos (57.797456 votos), enquanto Fernando Haddad recolheu 44,9% da votação (47.040 820 votos). A diferença foi de dez pontos percentuais e de mais de dez milhões de votos expressos.

De entre os vários momentos na hora da vitória foi significativo o tempo de oração em direto, para além do slogan com que terminaram: Brasil acima de tudo; Deus acima de todos.

Atendendo ao ambiente crispado com estas eleições no Brasil decorreram, há pequenos (ou grandes sinais) que nos devem fazer refletir, tenhamos – quanto aos candidatos votados – a preferência que quisermos.

Desde logo pareceu que, nalguma da comunicação social portuguesa, não havia total independência, antes se notou sempre – até depois dos votos contados – uma tendência anti-Bolsonaro apelidando-o de ‘extrema direita’, de ser antidemocrata, homofóbico, misógino, de colocar em risco o futuro do seu país… Mas haverá cerca de 58 milhões de enganados e os outros 47 milhões, que votaram no candidato vencido, foram sempre e só democratas?

Houve temas e assuntos que foram introduzidos na contenda que podem incomodar alguns dos políticos mais materialistas e marxistas, ateus e agnósticos, fazedores duma moral anti-vida e, sobretudo, contra a família. Deus apareceu nestas eleições duma forma quase só comparável à dos jogos de futebol, na linguagem dos jogadores brasileiros. Referências a Deus foram normais. Colocar o que se estava a passar sob os desígnios de Deus foi habitual, bastando referir a vida – após o atentado a Bolsonaro – do candidato…agora eleito presidente.

Assuntos que eram considerados quase tabu foram trazidos para o espaço público, tais como a questão da família, levando, por vezes, certos lóbis lgbt a fazerem razoável barulho, com acusações, ameaças e convulsões. Por aqui se pode ver que há muita gente – lá como cá – que só conhece uma forma de democracia, a sua e sem tolerância para com os outros, sobretudo se pensam, agem e vivem de modo diferente do deles: temos de os aceitar e eles/elas não nos compreendem…minimamente!  

= Neste mundo globalizado pode-se perceber um tanto melhor que precisamos de ter ideias claras e simples para estarmos neste mundo, tantas vezes adverso para com os que têm fé e que a tentam exprimir de forma livre, respeitada e respeitadora. Agora já não se trava uma luta entre católicos e protestantes, como em séculos passados, mas antes entre crentes e não-crentes (podendo manifestarem-se como descrentes, agnósticos ou ateus confessos), seja qual for a expressão religiosa que se possa professar. Isso mesmo se viu nas eleições brasileiras, evangélicos e católicos foram-se revendo nas propostas do presidente eleito, tal como outros se assemelharam ao que era defendido pelo candidato vencido. Talvez seja exagerado aquilo que foi dito na noite eleitoral sobre os evangélicos poderem ser os responsáveis pela vitória de Bolsonaro. Dever-se-á dizer que colocar a presença de Deus na política deveria ser mais normal do que tem sido sobretudo por cá na velha e anquilosada Europa…

Para alguns saudosistas da dialética marxista, dá a impressão que lhes está a escapar o controlo particularmente da comunicação social. Hoje nota-se uma vaga de fundo que perpassa muito para além do que a comunicação tradicional dizia, escrevia ou mostrava. Hoje as ditas redes sociais não estão mais sob a alçada dos critérios duvidosos dos senhores jornalistas… encartados. Hoje informar e ser informado é mais democrático e por isso (segundo eles) perigoso para a ‘sua’ democracia.

Está na hora de sacudir as peias da ditadura do politicamente correto! A democracia assim permite e tal facilita…até quando? E Deus velará por nós.

 

António Sílvio Couto


terça-feira, 23 de outubro de 2018

Brincar aos casamentos, não!


Foi emitido, por estes dias, um programa televisivo em canal aberto, que tem tanto de patético, quanto de risível: numa espécie de faz-de-conta uns pretensos ‘noivos’ são levados a casar sem se conhecerem…antes tendo o primeiro contato na hora do (hipotético) enlace.

Desde logo vale a pena situar-se nos aparentes factos: nenhum processo, mesmo civil, é feito sem o conhecimento dos intervenientes, pela simples razão de ser preciso averiguar se os tais ‘nubentes’ estão ou não casados…ou o dito ‘casamento’ é nulo. Outro aspeto não menos significativo: é preciso que os dados fornecidos e recolhidos sejam verificados por documentos autênticos e apresentados…logo a surpresa é de manifesto faz-de-conta.  

Como seria, então, possível submeter os ‘réus’ àquela fantochada sem o seu consentimento, mesmo pela preparação da documentação prevista? Como poderiam aparecer aquelas múmias – nada há contra as autênticas – um diante do outro sem se conhecerem…numa conquista de casamento à primeira vista?

Acima de tudo será de questionar a seleção dos candidatos, pois a festa decorre como se fosse duma coisa séria se tratasse, mas que não passa duma reles representação de ‘classe c’. As declarações dos figurantes – por vezes assumindo o papel de convidados – deixam um tanto a desejar, não só pela medíocre arte representativa como ainda pelas roupagens usadas… patrocinadas, ao que se pode depreender, por marcas de roupa, que dão a entender que ou estão em crise de vendas ou a precisar de publicidade com desconto…

Valerá a pena ainda questionar quem era a tal ‘figura’ que, pretensamente, aceitou a expressão de consentimento dos (pretensos) noivos. Se era alguém ligada à estrutura do registo civil, talvez tenha exorbitado o espaço e as funções…não vimos a ser assinada a ata do episódio. Se era um elemento da produção do programa, então, a farsa reveste a configuração de logro, de diversão e de mentira, tanto diante dos ‘réus’ como dos assistentes ao caso. A brincar deste modo não somos nem honestos e muito menos credíveis… Ainda se queixam de tantas outras situações de mentira!  

= Com o devido respeito, já sabíamos – por experiência de vários anos e em diversas situações – que há um leque de pessoas que não leva minimamente a sério esta questão do casamento e tão pouco do matrimónio, mas ter a ousada de ridicularizar esta instituição básica da sociedade humana, é, sobremaneira, uma ofensa e um ultraje a quem celebrou com respeito o casamento e, especialmente, o matrimónio. Como não acredito que possa haver coisas inocentes nesta ocupação dos espaços de comunicação social, parece-me que programas como este e o leque do ramalhete que comporá a proposta nesta linha, poderá desejar antes de tudo ridicularizar o que se refere à componente familiar, criando, desse logo, descrédito e menosprezo, para que viva neste ‘casa-e-descasa’ com que nos temos vindo a confrontar cada vez mais…normalmente!

Até agora, a partir do programa emitido, há duas notas a referir: as experiências falhadas em circunstâncias anteriores dos pretensos ‘nubentes’ e uma certa idade dos candidatos…onde o desejo de casar se foi diluindo… embora necessitando.   

Porque considero que o ato de casamento é algo muito sério e envolvente de toda a vida, acho que programas – de ilusão, de entretenimento ou de confusão – não fazem qualquer serviço de utilidade pública e muito menos de dignificação dos participantes. Por isso, será de atender à sua não-difusão para que não se faça de algo comprometedor da vida das pessoas, uma espécie de farsa com maior ou menor qualidade…ou audiência.

Não brinquemos aos casamentos nem façamos do casamento um mero ato de brincadeira aceite, tolerada ou provocada… Estão vidas e sentimentos de pessoas em jogo, respeitem-nas!

 

António Sílvio Couto  

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Paranoia à volta da ‘proteção de dados’


Depois da insensatez do facebook algo tinha de ser feito para colocar bom senso na cabeça e no comportamento do povo. Não se podia continuar a dizer e mostrar tudo e o resto, da forma mais abjeta e desabrida com que se vinha a crescer na banalização das pessoas, a começar por cada um dos intervenientes. Quase tudo e todos estavam sob a alçada duma certa promiscuidade sem critérios, pois se foi descendo tão abaixo que já quase nada estava sob reserva ou condição…nem de si mesmo.

Perante tão aberrante espetáculo a que vínhamos a assistir, tinha de ser feito algo que pudesse continuar a fazer de cada pessoa alguém com dignidade e com reserva de mistério – seja no sentido cristão do termo, seja no conceito de defesa do que cada um é e precisa de ser cuidado. Mesmo que, uma boa parte das pessoas, não tenha tento nem discernimento daquilo que pode ou deve mostrar no estendal faceboquiano, será preciso criar condições para que não haja conflitos de interesses nem possam ficar impunes as prevaricações duns tantos sobre outros…

Neste sentido parece ganhar importância e nova significação o tal novo ‘regulamento geral de proteção de dados’, que entrou em vigor a 25 de maio passado. Embora possa parecer, num primeiro momento, quase um emaranhado de condicionantes, deverá ser interpretado, salutarmente, como uma salvaguarda legislativa europeia para os abusos e deformações de comportamento a que vínhamos a assistir… Dirá nosso povo na sua sabedoria: para grandes males, grandes remédios!

Há, no entanto, no processo de difusão, de explicação e de implementação deste regulamento algo que deixa um pouco a desejar sobre a capacidade, a inteligência e até a perspicácia dos nosso concidadãos, pois, em certa medida, parece que nos consideram quase mentecaptos quando está em causa muito da nossa identidade, da nossa salvaguarda de presença com os outros e até de defesa para com certos intrusos na nossa vida pessoal, familiar, associativa, cultural e social. Com efeito, certas regras agora propostas não passam de chamadas de atenção ao bom senso, em ordem a defender-nos dos abusos sobre a exposição da nossa vida privada com que estávamos a ser assediados pelas façanhas e tropelias do facebook: o cuidado para que não haja intromissões na captação, difusão ou exposição de assuntos que podem fragilizar ainda mais as pessoas, como são os assuntos de saúde, de opções religiosas ou de condicionantes para com cada pessoa naquilo que ela é e para com quem não tem nada a saber para além do estritamente necessário e na relação de funções ou solicitação de algum serviço específico, sobretudo se isso obriga a sigilo e/ou confidencialidade…

Nestes aspetos aduzidos nada há que possa ser mais importante do que a pessoa, pois, como referimos acima, o mistério de cada pessoa tem de ser salvaguardado sempre e, duma forma especial, quando estão em causa as crianças, os mais fragilizados ou vulneráveis da sociedade. Também ninguém pode tirar proveito dos conhecimentos que teve (ou tem) em razão do tipo de trabalho/profissão que exerce, pois isso poderia constituir abuso de confiança, senão mesmo de violação (clara ou presumida) da intimidade da pessoa.

Parece não subsistir qualquer dúvida de que, cada vez mais, temos de ser defendidos e nem a (dita) liberdade de informação poderá sobrepor-se a qualquer interesse dos meios policiais, fiscais, estatais ou mesmo de investigação. Com efeito, teremos de saber conjugar bem os modos de segurança e de liberdade, bem como as tentativas de pretender escarafunchar a vida alheia, sem regras nem critérios… À era do facebook tem de se impor a de proteção de dados com regras e limites…claros e assinalados na lei, igual para todos os cidadãos.

Breves questões:

- Com tantos cartões e informações dadas a torto-e-a-direito, que pretendíamos, descontos ou estarmos a facultar ingerência na vida das pessoas?

- Com tantos sinais de vulgarização da pessoa sobre si mesma e para com os outros, não tinha de chegar a hora da normalização das relações interpessoais e não na exploração do sensacionalismo?

- Com a criação duma certa impunidade em dizer tudo o que apetecia, não tínhamos de ser mais ponderados, rigorosos e sensatos naquilo que dizemos e mostramos, de nós e dos outros?

- Não estará a faltar a todos os intervenientes na ‘proteção de dados’, um certo rigor sem rigorismo à mistura com boa-fé e uma razoável dose de apreciação da nossa inteligência pessoal e coletiva?

 

António Sílvio Couto

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Violência ‘em beijar os avós’?


Tem causado alguma celeuma uma opinião dum tal professor (ao que parece) universitário que, na sua perspetiva, considera uma ‘uma violência’ obrigar as crianças a beijarem os avós, pois se estaria, desde então, a condicionar as crianças, acarretando consequências pedagógicas para o futuro…

De quem exprimiu tal opinião logo foram escarafunchar o ‘perfil’ e as notas recolhidas talvez possam explicar, um tanto melhor, tal tomada de posição, se bem que, no nosso caso, nem interesse muito a vida do tal ‘intelectual’, pois, antes de tudo, teremos é de tentar saber, se a ousadia expressa, tem algo a ver com a realidade em geral e não tendo em conta as experiências do particular… 

= Será o beijo – na sua expressão mais simples e natural – uma expressão de afetividade ou uma caraterística cultural? Não teremos subvertido o recurso ao beijo como manifestação banal e banalizada? Atendendo às experiências pessoais, seja quem for ou de que sexo seja, será o beijo uma manifestação de proximidade ou uma vulgarização inconsequente? Não haverá outras formas de cumprimento, entre pessoas adultas, mais afetivas e sinceras do que as que tenta aduzir o gesto do beijo? Até onde poderá ir a boa ou má vivência da afetividade, manifestada através do beijo, nos comportamentos atuais de tantas e tão variadas pessoas?

Outras questões se poderão colocar, por forma a tentarmos interpretar as mui díspares posições sobre alguns gestos e comportamentos, desde que não se ouse fazer crer que a minha posição é a mais correta, sem deixar aos demais a possibilidade de serem pessoas livres e sem acusações para com ninguém… 

= A propósito do posicionamento do dito professor, foram-se ouvindo outras opiniões, que podem ajudar-nos a entender a complexidade da questão ou a simplicidade dos comportamentos humanos, equilibrados e adultos…psicológica e afetivamente.

Uma boa parte de técnicos ouvidos sobre o assunto consideram que a forma de cumprimentar os avós com um beijo não é, na maioria dos casos, um problema social, mas tão-somente de educação, tanto cultural como familiar. Alguns consideram que, se uma criança reage a não querer cumprimentar os avós com um beijo, não se deve forçar, antes se deverá encontrar as razões, dialogando com as crianças, pois elas podem ter as suas razões…para tal atitude. Outros ainda consideram que o cumprimento por parte das crianças com um beijo, onde se podem (ou devem) incluir os avós, é algo normal numa sociedade onde como que se vulgarizou esta forma de saudação e de cumprimento entre as pessoas mais velhas ou mais novas…sendo sempre de respeitar e de encontrar as razões para algo que possa sair deste quadro de normalidade…

Embora sob reserva alguns dos técnicos cujas opiniões foram escutadas por meios de comunicação social consideraram abusiva a extrapolação do tal professor em generalizar para casos de violência na adolescência aduzindo raízes nas menos boas experiências das crianças em relação aos avós… Será de dizer que ninguém poderá ser considerado sério nas suas posições extremas (ou mesmo extremistas) se se coloca como modelo das vivências dos outros… 

= Atendendo a que uma boa parte dos que hoje começam a ser avós são filhos da revolução de abril de 74, teremos de saber fazer a leitura adequada de muito daquilo que foi alguma liberdade má entendida e, possivelmente, menos bem vivida. Numa linguagem comum poder-se-á considerar que ser avó/avô é ser mãe/pai duas vezes, podendo corrigir nos netos o que não foi bem feito nos filhos. Em situações muito habituais é possível ver os avós a cuidarem dos netos pela razão da ocupação profissional dos filhos. Muitos destes quase nem estão com os filhos e a relação afetiva e efetiva é muito cimentada com os mais velhos. Por isso, será de desconfiar dalguma aversão que o tal professor manifestou para com os avós, traumatizando os mais novos… Para certas mentes já só falta condicionar o relacionamento entre as gerações, se os mentores tiverem más experiências para os que eram (são) seus avós…

 Uma referência pessoal: tenho pena de só ter conhecido, muito tarde, a avó materna, mas isso não me fez descrer da boa e necessária relação entre avós e netos… onde um beijo nunca seria um ato de violência, antes de ternura, de aconchego e mesmo de perdão!

 

António Sílvio Couto

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Sinais à volta do ’13 de outubro’


Nos dois últimos anos em data aproximada ao dia 13 de outubro verificaram-se, em Portugal, alguns fenómenos com certa complexidade: no ano passado, a 15 de outubro, verificou-se um dos mais graves incêndios florestais, na zona centro do país com 45 mortos e cerca de 70 feridos… Este ano, na noite de 13 para 14 de outubro verificaram-se suficientes estragos, novamente, na zona centro do país, agora na orla marítima, o furacão Leslie deixou um rasto de destruição, quase três dezenas de feridos, à mistura com rajadas de ventos de cerca de duzentos quilómetros/hora.  

= Quem tenha um mínimo de informação cristã saberá que foi a 13 de outubro de 1917 que se deu a última manifestação de Nossa Senhora aos pastorinhos – com uma multidão já presente – na Cova de Iria. Nesse longínquo dia de graça, um razoável número de pessoas, naquele espaço, foi testemunha dum fenómeno, prometido pela Senhora em ordem a confirmar a veracidade das ‘aparições’, que vinham a acontecer desde maio desse ano: foi o designado ‘milagre do sol’ – depois duma intensa chuva, esta parou e o sol girou sobre si mesmo três vezes, lançando flashs de luz sobre a multidão… Isso foi, para testemunhas da época (até jornalistas incréus), algo de extraordinário e para um número significativo de pessoas uma peça importante para a autenticidade das ‘aparições’! A este episódio foram adstritas mensagens que vieram a confirmar aquele lugar da Cova da Iria como um espaço com simbologia de grande alcance espiritual e profético: foi dito que a guerra iria acabar e acabou; os soldados iam voltar e alguns regressaram; foi pedida a construção dum espaço de oração e ele foi edificado… 

= Mais dum século decorrido que relação haveria – ou poderá ser feita – com os fenómenos dos fogos florestais do ano passado e com o arremedo do vento – coisa nunca vista cá pelas nossas bandas – devastador por onde passou…mas tendo, sem dúvida, a zona centro por referência?

Num caso vimos o elemento ‘fogo’ a ritmar a leitura dos incêndios, com tantas vítimas e prejuízos de vidas inteiras. Noutra situação foi o vento e até a chuva que vieram lançar a destruição e uma espécie de caos…

Para alguém que seja, minimamente, crente e que procure ler os sinais de Deus disseminados na história humana, isto não é mera coincidência. Também não ousamos ver nisso algo de castigo divino, mas que pode não ser meramente aceite como uma banalidade de calendário e tão pouco como um registo de circunstância…

Deixamos, à guisa de proposta, algumas palavras do Papa Francisco, na exortação apostólica ‘Alegrai-vos e exultai’ (n.os 167-168):

«Hoje em dia, tornou-se particularmente necessária a capacidade de discernimento, porque a vida atual oferece enormes possibilidades de ação e distração, sendo-nos apresentadas pelo mundo como se fossem todas válidas e boas. Todos, mas especialmente os jovens, estão sujeitos a um zapping constante. É possível navegar simultaneamente em dois ou três visores e interagir ao mesmo tempo em diferentes cenários virtuais. Sem a sapiência do discernimento, podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da ocasião.
Isto revela-se particularmente importante, quando aparece uma novidade na própria vida, sendo necessário então discernir se é o vinho novo que vem de Deus ou uma novidade enganadora do espírito do mundo ou do espírito maligno. Noutras ocasiões, sucede o contrário, porque as forças do mal induzem-nos a não mudar, a deixar as coisas como estão, a optar pelo imobilismo e a rigidez e, assim, impedimos que atue o sopro do Espírito Santo. Somos livres, com a liberdade de Jesus, mas Ele chama-nos a examinar o que há dentro de nós – desejos, angústias, temores, expetativas – e o que acontece fora de nós – os «sinais dos tempos» –, para reconhecer os caminhos da liberdade plena: «examinai tudo, guardai o que é bom» (1 Ts 5, 21)».

 

Cada um saberá como se quer conduzir…hoje como amanhã!

 

António Sílvio Couto  

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Se queres ver o vilão…


Na imensa riqueza da nossa sabedoria popular, podemos ler: ‘se queres ver [conhecer] o vilão, mete-lhe a vara [o cargo] na mão’…

Quem não se terá desiludido com pessoas que, antes eram simples e sinceras, mas, quando chegadas ao poder, se tornaram manhosas e prepotentes? Quem não terá já visto pessoas arrogantes em lugares de poder e sôfregas no seu mando? Quem não se terá apercebido que os amigos não podem ser (só) para as ocasiões, mas que há momentos em que estas revelam naqueles os piores dos inimigos? Quem não terá percebido que foi usado, pelo simples facto de estar num posto de alguma importância?

Ora, tudo se pode complicar se somos nós que estamos no tal lugar de mando, pois, com alguma facilidade nos podemos tornar razoáveis exemplares de vilões, tenha-se em conta o tique mais ou menos bem camuflado. Com efeito, há situações que fazem as pessoas muito para além das pessoas poderem fazer as ocasiões. Não basta parecer sério, é preciso sê-lo de verdade e com todas as causas e as irremediáveis consequências… 

= De entre muitos dos variados cenários para que possa haver vileza, poderemos destacar quem está por detrás dum balcão – seja físico ou virtual – ou quem tem de atender outras pessoas, poderá incorrer com alguma facilidade em vilania, usando do seu poderzinho mais ou menos percetível, criando ascendência psicológica e moral sobre quem é atendido… dificultando ou sonegando informações para que, assim, possa demonstrar a sua ignóbil importância. Por vezes há fardas (de certas autoridades) que encobrem tais demonstrações de prepotência. Noutros casos são meras formalidades que podiam ser atenuadas, mas que não o são por acintosa vilanagem… 

= Poderemos considerar que, no nosso espaço luso – nos diversos campos e muitas atividades – esta caraterística já foi menos percetível e já houve menos vassalos a tal cortesia. Com um certo enriquecimento de algumas faixas da população parece que se está reproduzir com velocidade de doença infectocontagiosa esta subtileza campónia, mas que agora se vem a revelar mais refinada, bem cheirosa e conquistadora.

Certos lóbis e grupos de pressão já não se escondem para cultivarem a vilania, que quase poderá tornar-se em breve um outro nome de cidadania. Quando vemos uma parlamentar ufanar-se da promoção duma similar em opção sexual a membro do governo da nação, isto não será excesso de vilanagem e arremedo de prepotência? Quando nos apercebemos que certos setores se fazem valer mais pelo conluio do que pela qualidade, não será isto ressonância de vileza? Quando o que vale é mais a aparência do que a realidade, não será isto subjugação à vilania mais primária?

Muitas das conquistas recentes dalguns agrupamentos partidários dão a impressão que o vilão – qual coletivo anónimo, mas bem conhecido – saiu à rua e está a criar o seu exército de sequazes, militantes e votantes. Alguns não lhes basta serem menos honestos para arrastarem consigo incautos bem pagos com empregos na esfera estatal e com ordenados quase injustos para a produção que apresentam… Em tempos idos dizia-se: ‘tal dinheirito, tal trabalhito’, isto é, menos bem pago, menos bem trabalhado; agora poderemos dizer: com tal dinheirinho, merecíamos melhor qualidade de serviço e de trabalho!... E ainda por cima estão por sobre qualquer possibilidade de desemprego!  

= Numa palavra: precisamos, com urgência, duma correta educação para a cidadania, onde são denunciados vilões encobertos, espertos e oportunistas. O tempo nos fará justiça, mas com o nosso contributo ativo, atuante e atento!   

 

António Sílvio Couto

domingo, 14 de outubro de 2018

Tabaco e combustíveis…fontes de rendimento imoral


Dizem os dados que vão sendo publicitados que o tabaco – isto é, o imposto a que está submetido – rende 3,3 milhões de euros por dia ao estado… o que, nos primeiros oitos meses deste ano, fez-lhe auferir quase oitocentos milhões de euros. Talvez estes números ajudem a perceber o recurso aos furtos de tabaco em muitos dos assaltos.

Por seu turno, os impostos sobre os combustíveis (ISP, IVA e outros) têm em cada litro a proporção de quase dois terços do valor pago pelos clientes – 63% na gasolina e 56% no gasóleo. Segundo dados disponíveis o preço médio dos combustíveis à saída da refinaria é de um quarto do preço final… Vemos, assim, que, quem nos governa, recebe choruda maquia por ocasião de cada abastecimento de combustível rodoviário.

Embora o tabaco possa ser opcional, o uso dos combustíveis é quase universal, daí resultarem custos acrescidos para muitas das transações entre pessoas, empresas e serviços.

Se bem que o tabaco tenha repercussão direta na saúde, a questão dos combustíveis pode e deve – podia e/ou devia! – ser mais democrática, isto é, deveria haver – como chegou a ser prometido – uma oscilação no preço final em razão do custo do petróleo. Ora, isso tem sido quase sempre ignorado por parte de quem governa, pois manter os impostos sempre dará para auferir uma almofada orçamental, sobretudo quando se pode ‘vender’ regalias à custa do sacrifício de quem precisa de se deslocar ou de quem faz da estrada, com o consumo de combustíveis, o seu espaço de trabalho… 

Atendendo a que há fatores da vida económica que podem condicionar o desenvolvimento da vida social, poderemos considerar que usar certos serviços essenciais – tendo em conta os vetores primários – como fonte de incremento para impor impostos, diretos ou indiretos, quase nos aparece como exploração e enriquecimento ilícito do estado sobre as pessoas, as famílias e as instituições. Efetivamente os preços das energias e dos fatores de produção, que muitas delas proporcionam, não deviam tornar-se reféns dos interesses de quem governa e tão pouco dos lóbis que lhes estão associados… Na linha dos princípios (ditos) democráticos, será abuso de poder e favorecimento da confiança que os prestadores dos serviços – e por mais excelência o estado – usem os meios de que dispõem, nalguns casos sob a forma de exclusividade, para subjugarem os que compram tais serviços, usando, normalmente, a precedência de conhecimentos em seu favor…
 Cada vez mais vemos crescer a manipulação dos números para iludir o povo de que estamos no caminho da prosperidade. Foi assim que, anteriormente, nos levaram ao terceiro resgate das forças económicas internacionais, em 2011, e, por muito que digam o contrário, não acredito no sucesso das contas públicas e muito menos de que, no futuro, nada será como já foi antes.

Não gosto que nos queiram fazer de papalvos, iludindo as incompetências com simulações mais ou menos artísticas e com a cobertura de forças que não sabem fazer outra coisa do que viverem dependuradas nas protuberâncias estatais…até que nestas já não haja nada que se possa espremer.

Sou avesso ao estaticismo da economia. Defendo o direito inquestionável da iniciativa privada. Acredito que os particulares têm maior capacidade do que o manifesto imobilismo estatal. Aqueles geram riqueza, estes gerem o que os outros produzem…

A doutrina social cristã é uma das melhores formas de conduzir, de reprogramar e de reformar tantas das geringonças economicistas…ontem como hoje. Talvez a ignorância sobre a doutrina da Igreja para as questões sociais possa explicar que uns tantos (ditos ou apelidados) cristãos se enfeudem em sistemas marxistas-trotskistas sem resposta ao bem comum, mas antes promotores de novos-ricos…os que comandam os sindicatos e agremiações afins.

O tabaco e os combustíveis são duas meras peças dum xadrez social, por agora. Outros tentáculos surgirão para dar visibilidade e ganhos a quem disso se quiser aproveitar!      

 

António Sílvio Couto

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Que nos dizem as eleições brasileiras?


Acabada a primeira volta das eleições presidenciais no Brasil – à mistura com outras competições ao nível político interno – podemos perceber que vai realizar-se, no próximo dia 28, a segunda volta, que por lá chamam de ‘turno’. Chegaram a esta nova fase dois concorrentes diametralmente opostos: Jair Bolsonaro, que recolheu 46,6% dos votos (isto é, cerca de 49 milhões de eleitores) e Fernando Haddad com 28,4%, que representa cerca de 13 milhões de votos. 

= Agora que decorreu esta fase do pleito podemos, um tanto mais criteriosamente, tentar perceber as lições das eleições no Brasil. Com efeito, dizem que o principal vencedor conseguiu apresentar as suas ideias à margem ou à revelia do controle da comunicação social tradicional, isto é, da imprensa, pela rádio e na televisão, usando – dizem com suficiente habilidade – a tais ‘redes sociais’, onde muito daquilo que se pode apresentar foge à censura dos jornalistas apelidados de ‘independentes’. Digam-me onde há algum ou alguma desses jornalistas com tal epíteto? O uso do critério (dogmático) de editorial, não deixa qualquer dúvida: para dizer isto e não aquilo; para colocar esta foto e preterir aquela; para realçar o que aquele disse e menosprezar o que outro proferiu…não há isenção, tem de haver critério e este exige um quadro de escolhas, que são (ou podem ser) discutíveis e censuráveis por outros…

Também se notou – tanto da parte de lá do Atlântico como desta parte – um razoável preconceito e/ou favorecimento de certos candidatos. Alguns cunharam rótulos para aqueles com quem se identificavam menos e – pasme-se agora com estes resultados de primeira volta – o povo brasileiro seria tão inconsciente que votou, em larga escala, em quem poria em causa a própria democracia… Isto só de mentes ditatoriais, que exigem que os outros concordem consigo e, quem pensar de forma diferente da sua, tem de ser abatido… tanto pela palavra como pela desonra, a difamação e a calúnia.

Outro aspeto ainda a ter em conta em vários dos comentadeiros/as de serviço: muitatis mutandis fazem olhar para aqueles que, nos diversos canais televisivos, não conseguem transmitir os jogos de futebol e depois se entretêm horas a fio a lamber os restos dos ossos, mesmo que partindo à força as barreiras que se lhes opõem. Assim, vimos certas figuras dum certo espetro sociopolítico aparecerem para analisar os resultados para a presidência da república no Brasil: criaram clichés de leitura no espaço europeu – saudosos da ‘cortina de ferro’ e das ‘amplas liberdades’ deles – para quererem agora esquartejar as escolhas dos brasileiros, como se eles fossem desprovidos de razão, de competências e de motivação. Basta de tanto paternalismo colonialista encapotado e ao retardador! 

= Que podem dizer-nos as eleições brasileiras…para nós europeus? Desde logo que a desilusão tem escolhas que nem sempre se entendem. De facto, o candidato agora melhor colocado, porque tão expressamente vencedor na primeira fase, catapultou a recusa de quem governou aquele país-continente nos últimos treze anos – a tal vaga antipetista. Estes prometeram muito e executaram bastante, mas os cofres faliram sem recursos para cumprir tantas promessas. Lá foi deste modo e cá como será, em breve? A nossa geringonça tem meios para concretizar todos os desejos e pretensões?

Por lá colheu – ao que parece com mediana aceitação – a tentativa de sacudir o medo, a violência, a criminalidade… aliadas a uma crescente tendência de amoralismo. Por cá ainda não nos apercebemos das consequências da onda de amoralidade que vem conquistando vários setores da nossa sociedade. Não valeria a pena abrir os olhos enquanto vamos a tempo de reverter certas opções anti-vida e sob a condução de quem quer impor aos outros a promiscuidade individual?

Ao que dizem uma das mais fortes batalhas encetadas no Brasil tem sido a luta contra a corrupção. Dizem que poucos tem as mãos limpas... Os mais recentes governantes estão sob a alçada da justiça. O castigo aos vencidos pareceu uma vitória contra essa doença por lá. Não teremos nada a colher para os nossos ‘políticos profissionais’? Quando teremos pessoas capazes de quererem servir os outros sem se servirem deles e dos lugares que ocupam? Não haverá tendência para fazer da corrupção um tabu, quando convém?

Numa palavra: será possível surgir, em Portugal, um Bolsonaro…sem grande história e que deixe memória?      

 

António Sílvio Couto

domingo, 7 de outubro de 2018

Exploração (preferencial) dos escândalos…sexuais


Já vai nalgumas horas o tempo dedicado pela comunicação social ao ‘caso’ que envolve o futebolista Cristiano Ronaldo num tal episódio há quase dez anos nos EUA.

Ainda não se sabe da veracidade do ‘caso’ e já foram gastos inúmeros recursos – certamente para ganhos de audiências – humanos e materiais, tentando desvendar o que há de certo ou de errado na situação.

Dá a impressão que caiu um mito e agora não há como saciar-se deglutindo os despojos de tal fenómeno.

Parece que aquilo que está em causa é o custo – moral, de imagem, de marca, de personalidade, etc. – sobre quem, tendo subido tão alto parece cair com grande estrondo e esfacelar-se na poeira da fama que já foi…

Dá a impressão que este é mais um ‘caso’ à americana: tudo quanto possa envolver escândalo de âmbito sexual é bem espremido para que dê bom dinheiro, tanto a advogados como às (pretensas) vítimas.

Outras situações têm tido idêntico desenvolvimento, havendo como que um guião subtil para tratar tais ‘casos’, que envolvam assuntos atinentes à sexualidade: casos de pedofilia com membros do clero católico, combates a pretendentes a lugares políticos, abusos no mundo do espetáculo… tenham o tempo que tiverem há que desenterrar os fantasmas pessoais e coletivos para apregoar uma certa moralidade, que soa a oco e onde os que ganham são os mais palradores e os que se mostrem mais ofendidos e molestados…mesmo que para a cena. 

= Que sociedade é aquela que tolera as armas, mas combate os mais pequenos deslizes (ditos) morais, sempre para o lado do sexo? Que paranoia coletiva leva a que se faça tão grande cruzada e se veja a amoralidade em cada canto ou viela? Este puritanismo à americana não trará escondido algo mais do que uma vigilância sórdida e inconsequente? Se não houvesse tanto dinheiro envolvido nestes casos, assistiríamos a isto que cheira a doentio?

Na sociedade ocidental – onde os americanos estão quando lhes convém – caminhamos para uma moral sem religião, criando clichés de boa reputação ao nível público, mas tolerando aberrações na vertente privada. O velho adágio – ‘virtudes públicas e pecados privados’ – tem neste campo uma aplicação mais do que razoável. De facto, há muita boa gente que vai tentando enganar com a imagem que tenta fazer passar, querendo parecer gente boa, mas que, na dimensão mais pessoal talvez não se coadune com aquilo que mostra.

Há, no entanto, nesta moral sem religião, uma espécie de ajuste de contas na linha da tão propagandeada ‘ética republicana’, onde cada um pretende ser senhor do seu destino, mas não se assume como falhando – às vezes poderá ser até de falhado – e propala esse refrão, tão comum quão ridículo, de ‘estar de consciência tranquila’. Não será que esta gente não se enxerga para ver o mal que fez/faz aos outros? Até onde poderá ir a incongruência entre o que se diz e aquilo que se faz?

A dimensão sexual da pessoa humana não é tudo nem é o todo da pessoa. Por isso, teremos de saber reeducar-nos na qualidade do nosso ser espiritual, que vive num corpo e que está sujeito às condicionantes do espaço e do tempo. Saber pedir perdão é muito mais do que ser absolvido num tribunal e submeter-se ao perdão divino e dos outros valerá muito mais do que milhões em indemnização…

Precisamos de tempo para deixar assentar a poeira e de sermos capazes de recuperar dos escândalos…mesmo do ex-melhor do mundo no campo do futebol! 

 

António Sílvio Couto

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Temas de eterna juventude


O sínodo dos bispos, que está a decorrer em Roma – será todo o mês de outubro – pretende analisar questões que preocupam os jovens dos nossos tempos. Sob o tema – ‘os jovens, a fé e o discernimento vocacional’ – a 15.ª assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos poderá ser uma oportunidade – queira Deus que não seja perdida – para a Igreja entender os jovens hodiernos e para estes perceberem a Igreja católica…como dom de Deus e não como mera instituição humana…mesmo que mais ou menos humanizada.

Nesta assembleia sinodal encontramos 267 representantes dos bispos católicos de todo o mundo, 34 jovens (entre os 18 e os 29 anos), para além de especialistas na temática dos jovens, convidados e outros colaboradores.

De entre os vários temas recolhidos do inquérito realizado para preparar o sínodo chegaram ao espaço de reflexão e de questionamento na aula sinodal temas como: a afetividade, o papel da mulher, a sexualidade, a cultura digital, a vivência da liturgia…entre tantos outros, que poderão/deverão ser abordados com simplicidade, seriedade e sinceridade.

Ora, diante deste panorama temático, que há de diferente do tempo de jovens há trinta (década de 80 do século vinte) ou de há cinquenta anos (década de 60 do mesmo século)? Verifica-se, assim, uma tão grande mudança dos temas e das questões neste meio século de história? Temos, neste quadro de verificação, três gerações – avós, filhos e netos – e elas será, seriamente, tão diferentes na forma, no conteúdo e na práxis?

Se atendermos aos factos históricos mais marcantes daquelas décadas podemos encontrar afinidades bem mais normais do que possa parecer.

- Na década de 60 viveu-se sob a erupção do tempo da contestação hippy do ‘make love, not war’ transatlântico, associado ao ‘maio de 68’ e toda uma forma de viver a vida e, sobretudo, a sexualidade…Foi a época das revoluções populares e das transgressões dos padrões anteriores…Mesmo na Igreja católica se deu a mudança (aggiornamento) do Concílio Vaticano II. Um certo pacifismo permitia/incentivava a nada ser proibido!

- Na década de 80 viveu-se o desmoronamento político/social do quadro marxista, consubstanciado com a queda do muro de Berlim, em 1989. Os jovens que, anteriormente, tinham contestado, assumiam agora o poder, mais recauchutados do que renovados nas suas ideias e intenções. As ditaduras, tanto de direita como de esquerda, foram soçobrando e deixando confundidos muitos dos desiludidos com a fé, a religião, os modelos impostos e os regimes sem nexo. Os jovens desse tempo já não faziam a tropa nem iam à guerra, enquanto alguns suportes morais – como a família e os sistemas educativos – entravam em colapso…mais rápido do que seria previsível.

- Chegados quase ao final do primeiro quartel do século XXI, vemos que os temas, mutatis mutandis, continuam a andar à volta da afetividade/sexualidade, do específico do papel da mulher neste tempo (mais não seja em reação à má conduta anterior), às questões da liturgia (se virmos para dentro do espaço eclesial) e, num aspeto específico: a comunicação em tempo digital e em maré de internet… Outras questões de âmbito social, político, laboral… de incidência interpessoal e na dimensão comunitária ainda parecem andar fora das preocupações de muitos dos nossos jovens…cada vez mais retardados e ao retardador…Aos 30 anos já está mais do que na hora de assumir responsabilidades!  

= Sem menosprezar as visões dos jovens do nosso tempo, talvez seja de questionar a educação sexual/afetiva que a Igreja católica ministrou ao longo de séculos: de preferência repressiva e não propositiva, mais com condenações estoicas e menos com propostas de sabor epicurista/hedonista, mais pelo negativismo contra tudo e para com todos do que pela valorização da dimensão positiva da vida e das condições conquistadas… Agora que os ditames das religiões tradicionais – cristãs, judaicas, islamitas, budistas ou hinduístas – são contestados, vemos que uma porção significativa dos jovens vive ao sabor do ritmo dos ‘likes’ faceboquianos e pelas ‘amizades’ virtuais das redes (ditas) sociais, mas, cada vez mais, sós, marginalizados e abandonados. Será pela reconquista da dimensão personalista de cada pessoa que poderemos elencar, discernir e educar para os valores humanos e humanizantes. Acreditemos nos jovens, como gostamos que nos aceitassem…     

 

António Sílvio Couto  


terça-feira, 2 de outubro de 2018

Porque é que o Papa não disfarça?


Mais vezes do que seria normalmente desejável temos visto o rosto do Papa Francisco triste, cabisbaixo, pensativo, denotando algo que o preocupa, que lhe enturva a alma e isso se percebe exteriormente.

Muito honestamente será que o título deste texto deveria ter aquele ponto de interrogação? Não seria preferível deixar a frase como afirmação? Até que ponto podemos ou devemos questionar este posicionamento do Sumo Pontífice da Igreja católica? Que há de tão dramático, no interior da Igreja católica, que leva o Papa Francisco a apresentar aquele fácies?

Por outro lado, não haverá no círculo dos próximos ao Papa quem cuide da sua imagem, não deixando transparecer que algo vai mal (ou menos bem) nas lides do governo da ‘barca de Pedro’? Quem tem de aconselhar o Papa não conseguirá demovê-lo ou atenuar-lhe tanta dor e sofrimento espelhado no seu rosto, ultimamente? Será correto tentar emendar na visibilidade do Papa aquilo que lhe vem ao rosto, de sofredor e de sofrido?

 

= Estas e outras questões fazem-nos olhar para os últimos aparecimentos do Papa como algo que é preocupante, sobretudo para quem tem fé e está (ou procura estar) em comunhão com o Papa Francisco. Sujeito como qualquer outra pessoa humana às condicionantes da vida, temos vindo a descobrir algumas das causas daquilo que vemos retratado na presença do Papa e como feridas – ainda a sangrar – na Igreja católica.

Na ‘carta ao Povo de Deus’ de 20 de agosto passado, o Papa Francisco como que consubstanciou o que há de mais significativo do estado da Igreja e de cada um dos seus membros, a começar pelo seu responsável cimeiro. Os pecados e as ofensas dalguns dos membros da Igreja católica – o assento é colocado nos eclesiásticos, embora possam não ter sido só eles – fazem sofrer toda a Igreja, envergonhando tudo e todos, criando uma espécie de purga generalizada, senão mesmo uma condenação sem critério e, possivelmente, metendo em idêntica confusão muito para além das acusações apresentadas… 

= À boa maneira duma certa leitura dialética/marxista da história, dá a impressão que se pode estar a exorbitar a competência de denúncia para tantos dos crimes – não há que temer os epítetos, mesmo que envolvam gradas figuras – à mistura com a possibilidade de quase implicar alguma injustiça pela submissão mais à justiça mundana do que à misericórdia divina e eclesial. Algum justicialismo tem vindo a crescer nas artérias da Igreja, quando o que devia acontecer é bem mais sério, sereno e sensato: que haja nas veias da vida eclesial um movimento de conversão de todos pela aferição ao perdão de Deus e dos irmãos, tanto dado como recebido. 

= Nesta ‘santa igreja dos pecadores’, nota-se cada vez mais uma vaga de ataques endógenos e exógenos que colocam a autoridade do Papa em questão, mais sob os aspetos de moralidade e menos em matéria de doutrina, como se aquela fosse um certo critério – nalguns casos sob leituras extremistas – de maior credenciação da fé e de quem a serve, quantas vezes em grandes tribulações, provas e perseguições.

Ao vermos a figura do Papa tão triste e sem rede de boa apresentação, acredito que ele associa ao seu ministério as dores e as amarguras do próprio Cristo, tantas vezes confrontado com o desprezo para com as crianças e os mais fragilizados…ontem como hoje. 

= Decorre durante o mês de outubro (de 3 a 28), em Roma, o sínodo dos bispos sobre os jovens, subordinado ao tema: ‘os jovens e o discernimento vocacional’. Atendendo à urgência e importância do tema, espero que isso possa animar o Papa Francisco, naquilo que é a sua função e missão na Igreja e para o mundo. Que o largo abraço do Papa atinja uma expressão ainda mais significativa por entre tantas provações dos membros da Igreja católica!

António Sílvio Couto




 

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A quem interessou a luta dos taxistas?


Durante oito dias – de 19 a 26 de setembro – vimos um número significativo de taxistas em reivindicação, sobretudo, nas ruas de Lisboa, Porto e Faro. Diziam que o objetivo era lutar contra as plataformas eletrónicas de transporte de passageiros, cuja lei, a entrar em vigor no início de novembro, prejudicará os taxistas…

Depois duma semana de paralisação, os responsáveis das associações do setor do táxi deixaram-se convencer com a promessa dum partido político – por sinal o principal que suporta o governo da geringonça – de que as câmaras municipais vão estabelecer quotas de prestação de serviço para os tais concorrentes do lóbi taxista… ‘apaziguando’ os contestatários com uma mão vazia de nada e um programa de coisa nenhuma.

Um tanto à guisa de avaliação deste mias recente protesto dos taxistas perguntamos:

- Para atingir estes resultados era preciso montar o circo que exibiram nas ruas e avenidas das principais cidades?

- Isso (isto é, o resultado obtido) não era negociável dentro de portas e foi preciso trazer para a praça pública a refrega de outras batalhas?

- Se queriam dar visibilidade e ostentar propaganda para com quem os tem enganado – diziam durante o protesto, mas não sei se o confirmaram no final – não teria sido melhor arranjar outra forma de estender o tapete às câmaras da cor do governo e quejandos?  

= Certas declarações dos dirigentes das associações de taxistas pareciam mais encomendadas em época de campanha eleitoral, pois, iam deixando transparecer que estes protestos não passaram dum estrebuchar de quem ainda não se apercebeu que a manipulação não convence o tempo todo e tão pouco todos ao mesmo tempo. De facto, o setor do táxi move-se entre um certo conservadorismo de clientelas e uma inadaptação às novas tecnologias.

- Não vimos nem ouvimos – e foi pena – reivindicar melhor formação e educação para os prestadores de serviço no setor do táxi.

- Não vimos nem ouvimos – e é lamentável agora e para o futuro – os taxistas quererem nivelar-se pela limpeza dos veículos, pelo civismo dos serviços e pela verdadeira honestidade para com os clientes/fregueses.

- Não vimos, não ouvimos nem conseguimos compreender que o setor do táxi tenha vindo reclamar maior capacidade de boa prestação do seu serviço pago em comparação com a (pretensa) qualidade dos seus oponentes…  

= Como referia alguém (bem cotado na arte de bem-pensar) será sempre de questionar quem teme a concorrência, pois pode estar a esconder algo de menos bom, pois, se fosse melhor, não temeria entrar em competição. Neste aspeto a luta dos taxistas deixou algo a desejar, na medida em que uma parte significativa dos reclamantes não tem sabido apetrechar-se das melhores ferramentas para que possa haver um serviço público de transporte de qualidade, tanto na prestação como na avaliação.

Já não basta o monopólio do passado, é preciso continuar a saber estar na praça com bons e os melhores serviços…sobretudo humanos, pois a frota de carros tem melhorado, mas só por fora!   

 

António Sílvio Couto