Vou
trazer para vida mais pública algo que, na minha opinião, é uma intrusão abusiva
e perigosa na vida privada…das instituições, das famílias e das pessoas.
Era
cerca das 9.15 (manhã) de quinta-feira, dia 17 de junho, quando chegou ao email
do Centro Paroquial de Acção Social da Moita a seguinte informação, sob o
título de ‘pedido de esclarecimento’: «Exmos. Senhores, Tivemos conhecimento
que esta manhã uma das crianças que frequenta a creche Ninho, Moita, foi
colocada de castigo no exterior desse estabelecimento à chuva. Foi-nos
inclusive, enviado um vídeo onde mostra uma educadora na altura a repreender a
criança e a dizer e passamos a citar: "1,2,3 podes ir para a sala calado,
se não voltas para aqui". Gostaríamos de saber mais esclarecimentos sobre
este caso. Com os melhores cumprimentos». Esta mensagem tinha como remetente: agenda@diariodistrito.pt.
1. Como instituição que se preza
foi averiguado pelo Centro Paroquial a veracidade do que fora ‘relatado’, tendo
sido apurado que algo não estaria a condizer minimamente com os possíveis
factos apresentados, pois, embora as crianças estivessem a sair do espaço
exterior, onde teria estado a chover – nessa manhã houve alguma chuva na região
– mas a circunstância fazia entrar as crianças na sala e, em tempo algum, era
colocada uma de ‘castigo’ à chuva… pelo contrário, era avisado para sair da
chuva… Coisas de audição à distância e com interpretações
quase-preconceituosas.
2. Colhido o ângulo do tal ‘vídeo’
podemos perceber que, duma varanda a mais de cem metros de permeio, em plano
superior – numa intromissão sobre um espaço privado, que é o recreio d’ O
ninho’ – alguém gravou àquela hora da manhã algo que lhe pareceu anómalo e
disso fez constar para um órgão de comunicação, bem rápido em fazer disso
alarde.
Nesta
fase da nossa reflexão ouso colocar breves questões: quem aquilo gravou não
estaria de atalaia, como de outras vezes, logo invadindo a esfera privada da
instituição? Que interesse teria em expor, para um órgão de comunicação fora do
âmbito da terra onde mora, tal observação tão lesta e diligente? O acolhimento
tão prestável daquele órgão de comunicação revela falta de assuntos ou
manifesta algum conluio com quem assim o advertiu? Não poderemos induzir que
podem estar outras atitudes menos corretas – talvez até pedofilia disfarçada –
em ‘vigilâncias’ daquele tipo sobre uma instituição frequentada por crianças? Agora
foi uma foto, amanhã não poderá ser um tiro, à distância? Há por aí muita gente
mal-intencionada à solta!
3. Reporto-me, agora, à resposta
que dei, por escrito, enquanto presidente da direção do Centro Paroquial e
também como pároco da Moita, ao tal ‘diário distrito’, na sequência de uma
reunião de direção:
«Ao
senhor jornalista e ao senhor subdiretor:
Questionamos:
- A fonte de informação (incluindo o vídeo) será assim tão credível ou não será
uma possível intromissão – quase-voyeurista, dada a distância entre a captação
da imagem e o dito local – de intromissão abusiva num espaço privado?
- Atendendo aos ditos ‘factos’ aduzidos não lhes terá passado pela suspeita –
mesmo jornalística – de poder haver má-fé em tal ação de um particular sobre
uma instituição?
- Num tempo tão ávido de questões que possam provocar ‘escândalo’, será
razoável e avisado trazer estes mal-intencionados problemas, tentando gerar
mal-estar social?
- Como veículo de paz consolidada, que deve ser a missão da comunicação social,
serão atitudes como estas em apreço, fomentadoras de uma sociedade democrática
humanizada e humanizadora?
- Num tempo algo crispado, sobretudo, nesta época de pandemia, não será de
atender ao respeito por todos, fazendo cada um (pessoas e instituições) tudo
quanto possa favorecer a verdade objetiva?
Postas estas questões convidamos esse órgão de comunicação social a tentar
conhecer a nossa instituição, pois nada temos a esconder a ninguém. As nossas
portas estão abertas a todos como Centro Paroquial de Acção Social da Moita
desde 1952 e com incidência na área da infância desde 1978 e nunca tivemos
problemas internos ou com o exterior com ninguém!
Aguardamos a vossa compreensão, comprometendo-nos no serviço de cidadania».
4. Da resposta do dito órgão de
comunicação àquilo que lhes enviei, respigamos as seguintes observações:
«Quanto à "Intromissão abusiva num espaço
privado" isso terá que ser resolvido dentro da instituição, eu até deixo
uma sugestão, para que ninguém veja o que se passa num espaço que é comum e
público, a fachada de um prédio, a instituição providencie uma cobertura que
tape os olhares dos vizinhos.
Em questões de conhecer o que a
instituição faz, teremos todo o gosto, um dia, de fazer uma reportagem, mas não
deixa de ser condenável a atitude da funcionária ao proporcionar um momento
daqueles.
Da minha parte, tenho tudo dito, para já não iremos
fazer qualquer notícia, mas iremos certamente estar mais atentos e como diz e
bem iremos ter a missão de vigilantes em casos próximos como este que venha a
acontecer nessa ou noutra instituição, e aí teremos que fazer notícia».
Por
estas palavras citadas ficamos a saber que há quem defenda a substração à
invasão da privacidade tapando os espaços abertos e que possam ser visíveis e
não educando para o respeito pelos outros, não expondo a vida alheia, mas
possivelmente espiolhando-a mesmo que de forma desrespeitosa e abusiva. Sendo
assim estamos falados por uma certa comunicação social que prefere a difusão da
mentira e não do resguardo da privacidade… até que um dia lhes toque na pele!
António Sílvio Couto