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sexta-feira, 19 de março de 2021

Ainda teremos pai?

 


Desde logo talvez tenha de corrigir o título deste texto, podendo/devendo mudar a palavra ‘pai’ para a sugestionada ‘progenitor’; no entanto, fica-me a dúvida sobre qual deles – progenitor – seria: o ‘A’ ou o ‘B’, pois alguns acertos de linguagem podem ter interesse, mas não passam de tautologias cacofónicas baratas e sem grande significado...senão para alguns setores pretenderem de sair do anonimato pelas razões mais bizarras e quase inconsequentes. O que quero dizer é isso mesmo: pai, no sentido de masculino, interventor na gestação desse que há de ser filho ou filha...com toda a propriedade e consequências.

Efetivamente ainda teremos pai? Com tantas dúvidas provocações socio-culturais, ainda haverá quem aceite ou deseje ser pai? Com efeito, tentaram matar o pai e com isso criaram uma orfandade muito mais do que física, psicológica e quase espiritual: o pai, por vezes, não tão forte como devia desejável, foi sendo substituído por outras figuras moldáveis aos interesses em discussão; o pai enfraquecido permitiu emergirem laivos freudianos de substituição, deixando à deriva quem contesta a autoridade, ridicularizando o poder; o pai ofuscado pelas sensações de abandono pode ser o que cada um quiser, desde que não tenha de enfrentar os seus fantasmas mal-resolvidos na infância e na adolescência.
É verdade que, para certas forças dialéticas, deu jeito confundir a figura do pai com os despotismos do poder, pois isso permitiu-lhes engendrar acusações, inventar torpezas sobre mitos e até cuidar de ‘nacionalizar’ os filhos...custando mais do que ajudar as famílias.
Não é inocente a exploração do tema da violência doméstica, na maior parte dos casos colando à figura do pai o executor dessas tropelias. As teorias de ‘ideologia de género’ procuram, com razoável subtileza, meter no mesmo saco todos os erros, pois saberá que, à força de tanto insistir pela negatividade, há de colher os frutos do medo, da confusão e mesmo da manipulação.
Olhemos para os desafios que nos são colocados neste tempo e nesta época de dificuldades humanas, sociais e espirituais.

Celebrar o ‘dia do pai’ no ‘ano de São José’
«A figura do pai é especialmente fulcral porque em momentos como este [tempo de pandemia], e independentemente da religião, da raça ou do país em que cada um vive, a importância da família revela-se fundamental como elemento essencial da nossa humanidade, da nossa vivência, como o núcleo em que cada um de nós se apoia, se identifica e se desenvolve. Em momentos como este, é à família que voltamos, que não coloca condições nem obstáculos a apoiar, a ajudar, a acolher. O pai que somos, o pai que todos temos, tem a bela missão de cuidar e de ser sinal da paternidade de Deus».
Este excerto da mensagem da Comissão episcopal do laicado e família para o ‘dia do pai’ deste ano, intitulada 'ser pai - um desafio de disponibilidade e serviço' – recorda-nos ainda várias etapas entrecruzadas de vida e de complementaridade do que é ser pai, pois, «o pai que, sendo também filho, cuida do seu pai em situações de doença, fragilidade e isolamento; o pai que, ao longo destes meses de pandemia, perdeu prematuramente os seus pais ou os seus filhos; o pai que se vê confrontado com maior precariedade e instabilidade económica, fruto do contexto económico que enfrentamos; o pai que, na linha da frente deste combate, tem sido chamado a um esforço redobrado para equilibrar as suas obrigações profissionais com a sua vida familiar».
Quais os desafios de celebramos o ‘dia do pai’ no ‘ano de São José’, que decorre desde 8 de dezembro do ano passado? «Este “Ano de São José” é uma oportunidade para todos conhecermos melhor o pai adotivo de Jesus e o esposo de Maria que desempenhou um papel central na história da salvação e que pode ajudar cada pai a viver plenamente a sua missão».
Mais do que pais idealizados vivamos as condições de paternidade que nos são possibilitadas. Àqueles a quem foi dada a graça de serem pais - biológica, afetiva e espiritualmente - desejamos, enquanto cristãos, que olhem para São José e o vejam como modelo e intercessor de pais na vida...

 

António Sílvio Couto

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