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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Sinais exteriores de riqueza





Meia-volta vemos surgirem nas notícias – sobretudo de processos em investigação – a expressão: ‘sinais exteriores de riqueza’, deixando associado aspetos de ostentação, de novo-riquismo, de exibição ou mesmo de querer mostrar para impressionar…

Quem tal é rotulado/a dá a impressão que ou se descuidou ou quis dar nas vistas com certos artefactos de amostragem, que o bom senso guardaria para outras ocasiões: carros, vivendas, relógios, malas, roupas, locais (caros) frequentados, viagens e gabarolices, postes nas redes-sociais, festas e vernissages… e tantas outras situações fazem com que quem tal mostra se possa tornar alvo de inveja, de suspeita e – por que não – de investigação de quem controla a fuga ao fisco… pois tais ‘sinais exteriores de riquezas’, bem escarafunchados, vão chegar lá…

1. Desde logo será preciso não julgar tais ‘sinais’, mas que podem criar engulhos a quem conhece as pessoas e não lhes reconhece meios para tais mordomias, isso será fácil de inquirir. Diz o povo na sua sabedoria: ‘quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem’! À minha parca compreensão me falta capacidade para que tais pessoas não se lembrem que, qualquer dia, se poderá colocar a dúvida sobre a proveniência de tais recursos, sobretudo se tivermos em conta que nada de excecional possa ter dado oportunidade de vir a acontecer… nem trabalho, nem golpe de sorte ou mesmo dalguma herança inesperada ou não…

2. O problema será tanto mais agravado, quanto tal comportamento se faz modo-de-ser-e-de-estar numa determinada população. Com efeito, tenho vindo a conhecer terras e regiões onde a faculdade de querer mostrar que se é rico perpassa o tecido mais profundo da sociedade: não ter um carro duma determinada ‘qualidade’ como que inferiorizará quem não consiga exibi-lo; não ostentar – pelo lugar ou pela construção – uma casa que tenha certos predicados parecerá deixar de estar num determinado patamar (dito) social; não frequentar algum restaurante ou espaço de convívio como que não se ajustaria para a pretendida categoria em projeto… Ora, se isto atinge claramente os mais velhos, já faz estragos entre os descendentes ou afins, pois bebem de idêntico estádio de fachada e dessa cultura-de-faz-de-conta…

3. Admira-me que, tendo visto tal figura noutros, ainda haja que não tenha despertado para cair o ridículo em que se move e não consiga reconhecer a mentira na qual se promove. Estas pessoas não terão, em casa ou na rua, um espelho que as aconselhe a viverem na verdade? Estas pessoas não conseguirão enxergar que não se consegue iludir, ludibriar ou mentir sem que se venha a descobrir? Até onde poderá chegar o estado de convulsão no engano, senão se apercebem que vivem num mundo de fachada, de aparato e de possível sonho?


4. Tenho para comigo que o estado onírico – dessas pessoas e da sociedade – é tal que nem se apercebem da realidade em que fabricam a sua conduta. Dizem que riqueza atrai riqueza e faz com que se possa ser engolido pela voragem de tal deus. Talvez possa ser essa a explicação para a desfaçatez com que certos ‘sinais exteriores de riqueza’ são exibidos, pois, a normalidade seria não querer atrair as atenções, mas a lógica parece ser outra. O pior é que se tenta fazer crer que esses laivos de doença são o que faz ser importante, conceituado e benquisto.

Repare-se em certos tiques de políticos, quanto aos ganhos de trabalho, querendo fazer crer que a maioria atinge esses números. A fasquia dos 2.700 euros mensais, que foi critério para o governo ‘oferecer’ um subsídio de 125 euros a quem não atingisse tal teto, é bem revelador do estado de confusão em que vivem e em que pretendem manipular os outros…

Os ‘sinais exteriores de riqueza’ não começarão naqueles que nos governam? Quando chegam ao poder não gostam de mostrar esses ‘sinais exteriores de riqueza’ em que se movem, promovem e desenvolvem? Acordemos!



António Sílvio Couto

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