Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



sábado, 24 de dezembro de 2022

A quem interessa esvaziar o Natal… de Cristo?

De muitas e variadas formas e feitios temos vindo a assistir – progressiva, sistemática e acintosamente – a tentativas de esvaziarem as referências a Cristo no Natal. Em tempos, por estes dias, a comunicação social aludia a eventos natalícios de índole cristã, hoje vemos certos jornais a darem enfâse à não-celebração do Natal, tanto ao nível pessoal como familiar e social: ‘Natal, escusam de vir festejar comigo’ (manchete do ‘i’), relatando diversas posições anti-Natal, numa promoção quase ideológica, sem pejo de destoar e num misto de contentamento e provocação…aos crentes em geral e aos cristãos em particular.

* Que dizer ainda dos enfeites – dizer arranjos seria classificá-los de mau gosto e de deficiente qualidade – que observamos nas nossas ruas, cidades e vielas? De tão pindéricos, sem cor e anódinos sem referências cristãs podemos considerar que é preciso ser pouco inventivo para fazer do Natal uma festinha tão norma, sem vida e a derrapar para a insignificância.

* O que vimos a assistir tem sido tentado noutros quadrantes da pretensão do ‘sem-Deus’ ou contra Ele, como nos regimes marxistas de antanho e de hoje: na velha e estrebuchante União Soviética, na vencida Albânia, nas paragens de Cuba, nos gelos da Coreia do Norte ou nos regimes da China continental… quase sempre nas tentativas das chefias, embora não obedecidas nas fés profundas das populações, marcadas indelevelmente pela expressão de cristianismo mais arreigado na alma dos povos, nações e culturas.

* Não deixa de ser quase aberrante que muitos dos cultivadores do anti-Natal não se descudem de usufruir dos feriados a ele apensos, das iguarias a ele associadas e mesmo dos fetiches sociais adstritos. Se bem que alguns se arroguem de mais fundamentalistas do que os que se guiam pelo ritmo natalício ao querem desenvolver uma espécie de subcultura com laivos de faz-de-conta, quando combatem o espírito do Natal, mas usam uma linguagem para fazerem propaganda e difundirem as suas ideias menos bem acertadas, senão mesmo confusas.

* Alguns ainda tentam trajar com subtilezas, mas de tão pouco acertados nas palavras, que trocam o dito pelo que não queriam dizer. É disso parangona a tal citação barata: ‘Natal é quando um homem quiser’… Como se cada um pudesse fazer das datas o que lhe convém ou usar as terminologias segundo as pretensões de cada humor…

* A força do consumismo é hoje, mais do que no passado, algo que cativa frequentadores, na medida em que se propaga uma mentalidade das coisas que satisfazem as dimensões materiais, obnubilando quanto se refere às questões espirituais e, sobretudo, se alicerçadas na proposta cristã. Parece que continuamos a reger-nos por valores medievalescos da proibição, do medo, do condicionamento à consciência de não fazer ou de rotular de pecado quanto é natural, possível e necessário. Se bem atendermos veremos que o cristianismo em geral e catolicismo em particular não proíbe nada, embora aconselhe moderação e temperança de tudo e em tudo.

* De todas as artimanhas de esvaziamento do Natal a mais comum e quase repugnável é essa de reduzir o Natal à dimensão de ser uma festa para as crianças, como que infantilizando uma vivência que tem mais de maturidade do que se possa considerar. É verdade que os olhos das crianças captam do Natal algo mais profundo do que será pensável. Disso bastará recorrermos à nossa memória de criança, mesmo sem fazermos de tal mera nostalgia. Ai de nós se perdermos o espanto das crianças, mesmo em relação ao Natal, hoje!

* A maior das atoardas sobre o Natal é essa de fazer dele a ‘festa da família’, sobretudo num tempo em que esta é combatida, perseguida e quase-amesquinhada com leis, regras e propostas que fazem dela uma espécie de jardim zoológico, no qual as pessoas não se cuidam, não se respeitam nem se amam. Seria a família um espaço de dignidade para todos, se Deus nela tivesse espaço e onde cada pessoa cultivasse o dom da vida…



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário