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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Fogos (dos rurais) – cheias (dos urbanos): que relação?

 

Estamos sob forte tensão (atmosférica e social): depois da seca do verão passado – com milhares de fogos florestais – estamos, neste mês de dezembro, sob as crescentes notícias de cheias, num outono algo complexo e com sinais de preocupação…quanto a pessoas e bens.

Os ditos intelectuais refugiam-se nas desculpas das ‘mudanças climáticas’, os mais simplistas tentam entende como se lida com os incêndios e agora com o excesso de chuva, enquanto outros olham para os extremos e se perguntam: haverá relação de causa-efeito entre tudo isto ou como entender estes excessos descritíveis, mas algo complexos de entender ou de explicar… razoavelmente? Será que, com tanta chuva, já se pode afastar o cenário de seca? Não será que estes dois ingredientes – seca e chuva – são partes do mesmo processo?


1. Vejamos aquilo que se poderá designar de consequências da ruralidade: os incêndios florestais, que tanto ocupam os que habitam fora das cidades, em tempo de verão, de calor ou de seca. Que impressão me deixa ver que os da cidade se estão a marimbar para os do campo quando estes são fustigados, semanas a fio, com os incêndios. Que falta de consideração pela vivência alheia ver os da cidade a irem para as praias e outos lugares de veraneio, quando os da zona rural se afadigam com o tormento dos incêndios. Dá a impressão que não somos um mesmo país, comungando das desgraças alheias, quando estas nos batem à porta com maior ou menor clamor.

2. Agora vemos os das cidades e zonas envolventes aflitos com as chuvas, incapazes de suportarem essas provações. Aquilo que estamos a ver não será consequência de má gestão dos solos e da ocupação abusiva de espaços que eram das chuvas, quando caiam em maior quantidade? Alguns dos atingidos pelas cheias não estarão a pagar – mesmo que inconscientemente – a fatura de um ‘boom’ de construção civil, nas últimas décadas, em volta da capital? Não faltará correspondência nas obrigações das autarquias, quando licenciam e cobram taxas de certos serviços de saneamento e de fornecimento de água? Não faltará visão mais alargada de quem governa para perceber os riscos de certos investimentos, urbanizações e compadrios mal disfarçados?

3. Diz-se e com razão: ‘Deus perdoa sempre, o homem perdoa às vezes, a natureza nunca perdoa’. É isso que estamos a pagar com maior visibilidade nestes fenómenos tão extremos do clima e das interferências dos humanos a correta regulação da natureza. Para os cristãos, a natureza é algo criado por Deus – ‘creio em Deus Pai, criador do céu e da terra’. Por isso, toda e qualquer ofensa à natureza é ofensa a Deus, seu criador.

Numa expressão de interdependência de toda a natureza, dizia-se que bastaria um simples bateu de asas de uma borboleta, na China, que se poderia verificar uma tempestade na Europa. Com efeito, nunca como agora vemos a discrepância entre estados atmosféricos onde antes nada se via, tendo em conta ainda que, por vezes, chove torrencialmente numa parte do Planeta e noutra em antípodas vemos os fogos a consumirem as florestas.

4. Em poucos meses vemos isso em Portugal: no verão fazíamos preces pela chuva, dado o estado de seca, agora assistimos ou vivemos momentos de cheias em diversos lugares…alguns deles nunca tal tinham tido tal situação.

Coisas breves e singulares, que podem e devem fazer de nós mais humildes, verdadeiros e confiantes: humildes porque por muito que pensemos saber, tanta coisa nos escapa; verdadeiros porque não passamos de pequenos nadas no conjunto da obra da criação; confiantes porque depois de nós precisamos de deixar um mundo (humano, natural e sobrenatural) mais justo.solidário e em paz!



António Sílvio Couto

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