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quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Neste Natal, ofereça atenção!

 

Este é um slogan de uma campanha publicitária: ‘neste Natal, ofereça atenção’, deixando várias sugestões para que o público cumpra esta pretensão naquilo que tem de mais profundo, sincero e desafiador.

De facto, com tantas preocupações interesseiras e egoístas – nossas e que vemos nos outros – esta provocação é mais do que uma mensagem de consumismo ou de chamada de atenção em maré de doença mais ou menos grave, mas até de profundo cristianismo…assim captássemos o seu lídimo significado.

1. Depois dos anos atribulados pela pandemia, onde nos fomos refugiando do contacto com os outros, agora corremos o risco de nos excedermos em querer recuperar o ‘tempo perdido’, mesmo sem atendermos convenientemente àqueles/as com quem vivemos, quem precisa de nós (mesmo sem no-lo dizer) e quem reclama (inconsciente e atrozmente) a nossa atenção. Depois do tempo exacerbado de higienização pessoal, precisamos de atender à convivência social com recato, ponderação e cuidado. Depois do tempo da precaução parece chegada a hora de sabermos estar de forma nova, diferente e atenta aos outros.

2. Mais do que ansiar pelas prendas precisamos de atender aos presentes, isto é, mais esperar o que se quer receber, é urgente atender ao que devemos dar. Por vezes toca-me certas desatenções, que nunca serão colmatadas. Deixo dois exemplos de casos do dia-a-dia. Esse de uma filha com família (marido e filhos) que trocou um jogo de futebol dos rebentos pela ausência ao almoço de páscoa com os pais… foi a última vez, pois, a mãe morreu dois meses depois. Esse outro episódio em que uma neta preferiu uma aula de ginástica ao jantar de aniversário do avô septuagenário… e se for o último a que ela faltou? De facto, não andaremos a trocar o urgente pelo necessário?

3. De entre tantas formas possíveis e imagináveis de viver o Natal talvez haja algumas que, por parecerem tão óbvias, quase as negligenciamos:

* Natal do fazer-se presente ao dos presentes e prendas – uma simples palavra de atenção pode valer por milhares de ‘gostos’ nas redes sociais;

* Natal fraterno ao do pagamento das trocas de favores, sejam quais forem ou que possam parecer graciosos por interesse e deixar boa impressão;

* Natal solidário ao que pretende mostrar-se com enfeites descartáveis como papel de embrulho, em feira de trocas-e-baldrocas, com emojis de sensibilidade variada;

* Natal do perdão ao do ressentimento por suposições de não nos agradecerem, quando só cumprimos o dever;

* Natal de paz consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus, em vez desse tão ecológico que quase deixou de ser humano;

* Natal de consolação mais do que de mera consoada de coisas, comidas e bebidas favoráveis e favorecidas pela sociedade de consumo;

* Natal de luz mais do que das luzes a reluzir em época de esconjurar tantos medos interiores e exteriores pessoais ou sociais;

* Natal de partilha mais em continuidade subtil e quase-escondida do que de solenidade (pública e publicitada) só por esta ocasião de faz-de-conta;

* Natal da vida por contraste com o culto da morte, sobretudo em maré de proclamação do direito a matar, quando alguém possa incomodar… Seria eufemístico – porque de grave coincidência – que o PR possa assinar a lei da despenalização da eutanásia por estes tempos natalícios!

* Natal dos pequeninos – que não dos meramente infantis – daqueles que se extasiam perante o presépio e nele veem um Deus que tomou forma humana para nos humanizar a todos para sempre.

4. Um Natal de Jesus, o festejado, que merece a nossa atenção, sempre e mais atentamente!



António Sílvio Couto

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