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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

O Natal ainda tem espaço neste tempo?

 

Embora possa parecer uma pergunta sem sentido, nela está contida uma inquietação: poderá haver Natal sem Jesus ou que sentido tem o Natal se Jesus estiver fora dele?

Embora possa parecer um elemento tradicional com raízes cristãs, o presépio é um dos ingredientes/marca de que o Natal de Jesus ainda não morreu de todo.
O tempo de Advento é propício para a descoberta do presépio, naquilo que tem de simbólico e de ‘mistério’ do divino no humano.
Mesmo que de forma sucinta deixemo-nos tocar por algumas das figuras mais comuns do presépio:

* as ovelhas como presença daqueles animais mais simples, numa busca de simplicidade e humildade na vida:
* burro/vaca (boi) são os representantes de uma outra faceta mais humanizada, pois, na linha da tradição franciscana – do presépio do século XIII – ‘o boi (ou a vaca) e o burro’, numa leitura cristianizada de Is 1,3; Hb 3, 2 e de Ex 25,18-20.
* José representa e simboliza a figura de pai - vemo-lo atento e vigilante na configuração do presépio. Com facilidade podemos encontrar em José o pai, naquilo que humana e crista-mente é atribuído à figura do ‘pai’.
* Maria é a presença da mãe no nascimento e na vida de Jesus, Ao olharmos para ela no contexto do presépio vemos a ‘mãe’, no sentido amplo e concreto do feminino, da maternidade e da eclesialização... mãe de Deus e nossa mãe.
* Menino na manjedoura - Ele o centro da celebração do Natal, isto é, o Festejado... tudo o resto - e é tanto ou sobretudo isso - é manipulação materialista e consumista, que nos pode entreter, distrair ou deixar de parte o essencial.
«Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se diz ‘praesepium’, donde vem a nossa palavra presépio. Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como «o pão vivo, o que desceu do céu» (Jo 6, 51). Uma simbologia, que já Santo Agostinho, a par de outros Padres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: «Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento». Na realidade, o Presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária» (Papa Francisco, Carta apostólica ‘Admirabile signum’ sobre o significado e o valor do presépio, n.º 2).

Questionemos a nossa vivência do Natal, tão atafulhado de coisas e pouco capaz de se abrir às pessoas. Estas são o que há de mais sagrado e, por vezes, as esquecemos ou a relegamos para plano secundário. Com que facilidade dizemos que amamos coisas e gostamos de pessoas, quando a ordem das prioridades deveria ser amar as pessoas e gostar das coisas.

Num tempo tão ávido de afirmação em razão do ‘ter’, como se torna urgente, necessário e essencial, alicerçar-se no ‘ser’, desde o mais profundo até ao possivel superficial… aí onde todos somos iguais em dignidade, em mérito e em miséria. Em dignidade porque Jesus assumiu a nossa condição humana e dignificou tudo e todos. Em mérito porque nada trouxemos para este mundo – como diz Job nas suas reflexões – e nada levaremos dele, a não ser as boas obras e gestos de atenção ao outros. Em miséria pois somos feitos todos da mesma massa; frágil, pecadora e caduca.

Valerá a pena preparar e viver condignamente este Natal, pois, nem sabemos se não será o último. Os mais recentes – 2020 e 2021 – foram disso bons sinais. Enquanto é tempo vivamos o que nos é dado poder viver!



António Sílvio Couto

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