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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Guiados pela trela condutora

 


É cada vez mais recorrente vermos alguém a ‘passear’ o seu cão (de pequeno, médio ou grande porte), a qualquer hora do dia (ou da noite), deambulando o humano guiado pelo canino, ora fintando obstáculos, ora seguindo as tendências farejadas do dito, ora ainda sustendo a marcha com uma qualquer distração para com outros animais em idêntica tarefa… Deste modo quem guia é quem estaria condicionado pela trela, se fosse seguido o normal.

Que lições poderemos colher destes episódios de quase luta entre humanos e os outros? Quem é quem e por quê? Não andaremos subvertidos nas tarefas, mesmo que entretidos nas ações? Quem é o guia e/ou o conduzido?


1. Mesmo que de uma forma sucinta nota-se uma mudança – nalguns casos poderá ser mesmo viragem – no trato entre os humanos e os animais, com especial referência aos caninos. Dá a impressão que a qualidade, o porte e mesmo a aparência do dito animal como que qualifica o ‘dono’ ou pelo menos quem o passeia. Numa sociedade tão guiada pela aparência, certos pormenores contam para ascender na potencial escala social…Sem pejo de jocoso seríamos tentados a rifonar, dizendo: diz-me o cão que tens (ou mostras), que dir-te-ei quem tu és! Diga-se o que quiserem: os animais – de estimação, de companhia ou até de exibição – foram ganhando estatuto e quase não há quem não tenha o seu cãozinho para trazer à rua, arreado com todos os quês e erres da moda e afins.


2. Em paralelo temos assistido à valorização do ‘estatuto do animal’ na nossa cultura ocidental, nalgumas situações quase em concorrência com as crianças e os mais velhos…em prejuízo, claro, dos humanos. Em qualquer cidade, vila ou aldeia deste país se pode encontrar uma associação relativa aos animais e à sua defesa, cuidado e proteção. Numa espécie de sincronia politico-ideológica os ‘direitos dos animais’ foram conquistando espaço, estatuto e dignificação…numa quase competição com os direitos de cidadania dos humanos, tornando estes cada vez mais negligenciáveis ou mesmo descartáveis. A luta está em aberto e vai prosseguir por algum tempo ainda.


3. Evidentemente que os exageros sempre foram maus conselheiros, sobretudo se neles houver visões em defesa dos interesses de grupos e/ou de fações ideologizadas, como temos visto em certos agrupamentos partidários mais ou menos identificados. Outros há que se escondem capciosamente sob o manto de causas da moda e eivadas de tendências materialistas ou contra a visão espiritual das pessoas. Num tempo em que nichos de interesses se sobrepõem à visão mais global, torna-se essencial perceber a meta para onde caminhamos de modo a que não se percorram etapas inquinadas e menos sérias na forma e no conteúdo.


4. Já nos interrogamos de onde vem os meios para suportar certas campanhas e outras tantas contestações? Já percebemos que, nada sendo gratuito, alguém pagará a fatura dessas iniciativas que têm tanto de lúdicas quanto de insidiosas? Por que será que ainda nunca vimos o rosto de quem conduz determinados projetos? Não será que ao esconderem-se dão bem de si o crédito que não merecem? Não será útil parar para refletir, tentando ver para onde caminhamos, quase inconscientemente?


5. Não deixa ainda de ser quase esquizofrénico socialmente que, quem defende tão afanosamente os animais, seja promotor explícito da eutanásia e do aborto… na lei e na sua despenalização. Dá a impressão que a vida humana é de menor qualidade ou de inferior qualificação do que a dos animais, numa inversão cultural de séculos em que se considerava que os animais estavam em plano subalterno aos humanos: agora é claramente o contrário, pelo menos para certas cabeças pensantes e executantes de ideias mais vegan…


6. Até agora fomos sabendo como as coisas começaram, será que vamos a tempo de não nos deixarmos animalizar e, consequentemente, desumanizar?



António Sílvio Couto

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