Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Lições do futebol em tempo de Natal

 


A realização do ‘mundial de futebol sénior masculino’, no Qatar, desembocou nas vésperas do Natal. As mais diversas incidências do fenómeno como que nos podem permitir algumas pistas de reflexão sobre o sentido do Natal (como o vemos, o sentimos e o vivemos), as peripécias da indústria/comércio do futebolês (linguagens, intérpretes ou manigâncias), à mistura com aspetos da vida real, essa sim, com problemas que urge enfrentar com verdade e serenidade…

1. Foi como que uma fatalidade: quem perdeu mudou de selecionador, por muito ou pouco competente que parecia ser. As culpas dos insucessos caem sobre quem dirige e não sobre quem é (dito) artista. Pudera é mais fácil mudar um do que vinte e tal, na sua maioria vedetas bem pagas e com razoáveis tiques de casta superior. Será que, quem ter jeito para manipular a bola, faz dessas pessoas dotados com qualidades quase-divinas? A ver pelo percurso da maioria dos futebolistas, as habilidades com os pés superam os dotes de inteligência do resto dos mortais? Até onde poderá ir este endeusamento dos rapazes da bola – a idade conta e passar dos trinta e cinco é faculdade de poucos – quando caírem em desgraça ou não-sucesso, de forma normal ou provocada?

2. A avaliar pelos ganhos e gastos económicos, no mundo do futebol – dirigentes, técnicos e staffs, jogadores – nota-se uma cultura muito específica e que cativa cada vez mais pessoas. Repare-se nos canais televisivos e do tempo gasto, dos jornais e jornaleiros entretidos, dos espaços de desporto nas grandes superfícies, dos estádios e academias de treino… dos milhões envolvidos. Este mundo quase-à-parte foi criando as suas regras e métodos de conduta e, cada vez mais, as gerações jovens preferem entregar o seu tempo e porque não a vida ao desejo de vir a ser jogador de futebol… mais até do que qualquer outro desporto. Os exemplos atraem, o dinheiro arrasta e tudo se torna relativo àquilo que fascina e reluz…no mais imediato!

3. Cada vez mais o espaço do futebol se foi tornando um ‘mundo do espetáculo’, não só pelos meios usados e os artistas mostrados, mas também pelos ingredientes a ele associados, tanto de natureza política/económica como de índole ético/religiosa. Estes dois binómios parecem estar conjugados, mas a artimanha dos organizadores mundiais e europeus foram descartando uns e sobrepondo outros. Assim, a ‘política’ foi abjurada para não privilegiar certos setores menos adequados aos interesses de alguma esquerda, tornando-se mais incisiva a dimensão ‘económica’ desse tal capitalismo encapotado. Por outro lado, foi sendo exorcizada a alusão ao ‘religioso’, sobretudo quando eram visíveis sinais cristãos (consta que no mundial da África do Sul, em 2010, foi proibido benzer-se à entrada no terreno de jogo), enquanto foram sendo impostos clichés de teor ‘ético’ (favorável a certas orientações sexuais) e antirracista (em favor de uma determinada coloração), com alguns espetáculos dentro da representação ‘teatral’ internacionalista… De algum modo o espaço do futebol – nos mais diversos âmbitos, escalões e modalidades – tem sido aproveitado para ser bandeira de causas, de projetos de ambição e mesmo de quase lavagem de interesses mais ou menos obscuros. Será ainda lugar de desporto? Este ainda será causa ou só já consequência?

4. Fixemos a nossa atenção na análise a aspetos positivos que deste mundo desportivo podemos e devemos colher. Antes de mais é uma expressão trabalho em equipa e quando não o é com facilidade as vitórias são trocadas por derrotas. É preciso entrar na construção de um projeto comum, onde quem dirige tem de ser respeitado e obedecido. Não basta ufanar-se nas vitórias e debandar nas derrotas, por vezes, estas dão-nos mais lições do que aquelas. Sobretudo em maré de seleção nacional há que despir clubismos e jogarem todos para a mesma baliza. Quando há sucesso, os protagonistas não se devem tornar as vedetas, mas antes assumirem-se como partes de um todo. Não virá mal a ninguém reconhecer que Deus pode fazer parte do processo de aprendizagem. Um breve à parte: quem se recorda de ver a suprema vedeta lusa (CR7) benzer-se ao entrar em campo? Por que haverá tanto medo – se de ignorância não se tratar – de se assumir como crente em Deus e na sua expressão cristã? Em tempo de Natal, podemos avaliar o ‘nosso’ futebol!



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário