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sábado, 11 de março de 2023

Tempo da Igreja e tempo da comunicação social

 


Na pressa de querer influenciar – contido na informação, no comentário e nalgumas posições das forças da comunicação social – temos visto uma solene e gritante discrepância na contagem do tempo, tanto para esta força de poder como naquilo que para a Igreja católica significa e representa no hoje da história. São duas formas quase-contraditórias de entender o tempo, pois, se na comunicação social fala-se sem pensar, tal é a pressa em noticiar, superficialmente, na Igreja, por método, pensa-se aturadamente o que pode parecer que se está a adiar ou a ganhar tempo.

Nos tempos mais recentes a Igreja católica foi-se aferindo àquilo que boa parte da comunicação pretende: dizer atempadamente aquilo que se pode, deve e é preciso, não deixando para amanhã aquilo que devia ter sido dito anteontem.

1. Os entendidos da comunicação no espaço da Igreja precisam de esclarecer os seus parceiros de tarefa o que está a ser feito é um grande esforço de aferição aos ritmos da própria Igreja, habituada a ponderar, a falar pela certa, a não entrar em conjeturas e tão pouco a queimar etapas na sua comunicação para dentro e para fora. As críticas que têm sido proferidas para com os bispos sofre desta pecha, pois muitos deles, mesmo tendo gabinetes de comunicação nas dioceses, ainda vão gerindo o processo à moda antiga.

2. Neste capítulo dos ‘abusos sexuais’ há duas vertentes que precisam de ser tidas na devida conta: algumas redações têm uma agenda encriptada para desautorizar – a palavra deveria ser outra, mas um espaço destes não nos permite usar temos do calão – os bispos e, por outros lado, boa parte dos intervenientes nas questões veiculadas desconhece – umas vezes por ignorância e outras por transferência para a esfera da Igreja das leituras e argumentos que usam nos assuntos políticos – partidários ou de teor autárquico... A autonomia das dioceses dá autoridade a cada bispo de tratar das questões como achar mais corretas e não à maneira de todos alinharem num pensamento mais ou menos de rebanho... Certos comentadores fariam um bom serviço a si mesmos se ficassem calados: o seu silêncio seria uma intervenção solene, não deixando escapar opiniões sobre aquilo que não sabem, tornando-se, de alguma forma, ignorantes encartados.

3. No tempo em que tínhamos homens da Igreja que sabiam dizer – mesmo sem as técnicas dos cursos de jornalismo – vimos bispos cuidarem da comunicação, não andando a falar a toda a hora e momento, numa verborreia sem contéudo, mas não com muita aparição... como hoje vemos alguns dos prelados. Quem ensinou Jesus a contar histórias e através delas fazer a comunicação duma mensagem intemporal? Onde aprendeu Paulo e com isso deu-me formas de estar que ainda estão atuais? Costuma ser uma arte essa de promover certas figuras, enquanto interessam, mas que depois são chutadas para longe da ribalta, dado que fizeram o papel que lhe foi acometido. Urge saber quem manda em quem. Quem manipula quem ou o que serve de disfarce para se estatelar, pois em breve já não tem uso nem interesse? Certas simpatias e cordialidades podem esconder outros interesses e servidores...

4. A qualidade da comunicação social está ao nível dos temas com que se entretém e faz dos tempos das noticias espetáculos, no mínimo, degradantes, só comparáveis aos tutores morais que os engendram, promovem e divulgam. Já não basta dizer o que foi dito ou mostrado, é preciso acrescentar onde ou por quem foi dito ou apresentado.

Se a Igreja tem de aprender a comunicar segundo as regras dos nossos dias, também os comunicadores deverão entrar na lógica comunicacional da Igreja ao longo dos séculos: desconhecerem-se poderá ser fatal para todos, mas sobretudo para os cristãos, cuja missão neste mundo é e sempre será paradoxal. Quando todos nos entenderem, será de questionar senão baixamos a guarda ou se o mal não assaltou a nossa Igreja...manifestamente.



António Sílvio Couto

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