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sexta-feira, 3 de março de 2023

Bitaites das margens

 

Graal, Nós somos Igreja, Ação católica dos meios sociais independentes, Metanoia – movimento católico de profissionais, Comunidade da capela do rato (foco ecológico) e Grupo sinodal nós entre nós… são seis dos grupos de onde proveem os subscritores (dizem que são os mesmos da carta de novembro de 2021) da nova missiva – de 1 de março – endereçada aos bispos da Conferência Episcopal Portuguesa, preconizando medidas para com os ‘abusadores que estejam atualmente ao serviço da Igreja’.

Mais uma vez o libelo surgiu numa publicação – aqui na lista dos mentores são só seis, quem ficou à margem para completar a perfeição? – que tem feito do assunto dos abusos sexuais na Igreja uma nítida cruzada contra tudo e sem deixar rasto que não seja de justicialismo a todo o custo. Nesta ocasião foram 219 subscritores…

1. Lemos na publicação mentalizadora:

«A carta aos bispos sugere medidas imediatas, a adotar nos próximos 30 dias, como as referidas acima, e outras a adotar ao longo dos próximos dois meses. Entre estas, os autores da iniciativa propõem que a atual rede de comissões diocesanas relativas aos abusos se recentrem na prevenção primária e na formação; que os bispos encobridores, a existirem, se retirem de funções; e que se tomem medidas relativamente a “todos os abusadores que estejam atualmente ao serviço da Igreja” (“suspensão com carácter preventivo sempre que haja indícios minimamente credíveis sobre abusos e, quando considerados culpados à luz da moral cristã, independentemente de eventual processo judicial, sejam dispensados de funções e, no caso de clérigos, passando ao estado laical”).
Num horizonte de seis meses, os bispos portugueses são ainda convidados a: promover e incentivar o acesso e estudo do relatório da CI e suas conclusões entre os agentes de pastoral, “prevenindo a tentação negacionista ou de relativização do fenómeno criminal”; elaborar “um manual de boas práticas que ajude os agentes pastorais a prevenir situações de risco e a identificar indícios de casos de abusos, bem como a acolher e encaminhar vítimas”; encetar “uma reflexão de fundo sobre o impacto negativo que a perceção distorcida sobre a sexualidade humana tem vindo a causar em toda a Igreja, com a ajuda de especialistas externos”; proporcionar “um acompanhamento aos abusadores que necessariamente inclua tratamento psiquiátrico e psicológico”».

2. Não deixa de ser simbólico que, por estes dias, num canal televisivo com coisas do passado, esteja a ser exibida uma série sobre o tempo de um seminário no interior do país, na década de quarenta do século passado. Daquilo que tenho visto, recordo os meus quatro anos de camarata no seminário menor: os ritmos, os tempos de estudo, o trato algo rude de alguns superiores, esse ‘tempo de tropa’ na adolescência… Ali naquela filmagem não se veem nenhumas das atrocidades por agora aduzidas aos tempos dos seminários naquela época. Por mim o digo: nada vi nem ouvi e éramos mais quinhentos nesse seminário de Braga em meados da década de setenta…quando ocorreu a revolução de 25A…

3. Confesso com humildade e escândalo: muitos dos que se apregoam acusadores de certos abusos – condenem-se, claramente, os culpados – parecem treinadores de bancada, que nunca jogaram nem estiveram no espaço de provação: querem dar lições, mas nunca souberam apreciar aquilo que a Igreja fez por tantos que receberam meios (humanos, de formação e de afirmação) de serem pessoas dignas nos bancos dos seminários, com superiores que os souberam conduzir até ser homens-de-corpo-inteiro, alguns sendo padres e tantos outros bons cidadãos e ínclitos cristãos…

Certas lições soam a pregadores-papagaios, que, se não fosse a Igreja (e o dizerem mal dela), andariam a mendigar para sobreviverem no espetro jornalístico e profissional.

4. Nesta Igreja que amo e sirvo não há só vândalos, como, por vezes, nos querem impingir. Não se confunda a árvore com a floresta nem se deite fora a criança com a água do banho!



António Sílvio Couto

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