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segunda-feira, 20 de março de 2023

O rato expeliu uma montanha…de nada

 

É conhecida a expressão (algo) popular: ‘a montanha pariu um rato’. Numa interpretação do significado deste aforisma podemos considerar que havia grande expetativa sobre algo, que, afinal, nada teve a ver com os resultados. Por seu turno, aqui abordaremos a questão de uma outra perspetiva: o rato (coisa pequena) pode, no entanto, deixar algum rasto de muito significativo, como se fosse uma deceção ampliada à maneira de uma montanha.

1. Vejamos antes de mais a fundamentação da expressão ‘a montanha pariu um rato’. Terá sido o autor latino Horácio quem cunhou a expressão ‘parturient montes, nascetur mus’, que numa tradução livre significará ‘a montanha pariu um rato’. Ora esta expressão estaria inserida numa estória em que uma montanha estava prestes a dar à luz e gemia de uma forma horrível. Esses barulhos geraram grande expectativa nas áreas em redor, mas no final ela acabou por dar apenas à luz um rato...

Desde logo é preciso interpreter esta espécie de fábula, naquilo que tem de significado para a nossa vida.

2. Quantas vezes na nossa vida fomos ludibriados? Tínhamos grande apreensão sobre um assunto e bem depressa tudo se esfumou. Pelos indícios parecia vir a ser uma coisa de grande importância e os resultados ficaram aquém do prometido. Estava colocada a fasquia muito alta e o salto foi insignificante ou desiludiu quem desejava impressionar. Conforme o campo em que nos colocarmos, poderemos dizer que as promessas eram muitas, mas as realizações redundaram em muito pouco… Recorrer a esta expressão – ‘a montanha pariu um rato’ – tornou-se, de alguma forma, um estribilho do rifoneiro popular para classificar situações, pessoas e acontecimentos que, por muito prometerem, pouco deram de resultado efetivo.

3. Nos tempos mais recentes fomos colocados na expetativa de que um tal ‘inquérito’ prometia resultados estrondosos sobre uma matéria em apreço público e, mesmo após a apresentação dos dados, tal ficou muito longe do anunciado. Até aqui a ‘montanha pariu um rato’, que não se sabe senão era (é) um nado-morto. Não que fosse preciso lançar o labéu sobre tudo e para com todos, mas que havia (há) a sensação de que se esperava mais sangue-e-mortos, não parece haver grande dúvida. Nalguns setores ditos laicos e mesmo agnósticos foi um ver se te avias para se pronunciar sobre os tais resultados quase pífios, se tivermos em conta as motivações e vontades de mostrar serviço… Na minha ténue leitura, algumas intervenções – mesmo de faixas mais ou menos identificadas com a Igreja católica – como que denunciam algo mais do que um pronunciamento sobre o assunto, pois parecem mais reações de ofendidos com causa encoberta…

4. Se a montanha não pariu nem um rato, este, por seu turno, como que expeliu uma montanha de pouca coisa, isto é, deixou-nos a sensação de que também aqui podemos verificar que algo vai mal em matéria de percebermos tudo quanto se esperava ou o que foi que nos dececionou quem desejava mostrar serviço altissonante. Por contraste colocar o assento naquilo que o rato nos deixou como resultado parece-me que ainda mais enfatiza a vulgaridade e insignificância do pretendido.

5. Como dizia alguém, ao ver pombas a esvoaçar pelo chão, lhes chamou ‘ratos com asas’. Subentende-se nesta frase citada que algo de maléfico comportam tanto os ratos como as pombas, como difusores de doenças e envolvendo perigo (tácito ou declarado) para a saúde pública. Outro tanto podemos considerar para com certas figuras, figurinhas e figurões, quais ratos-de-porão, que fogem ao verem os riscos ou como aves-de-rapina disfarçadas de pombas em maré de acasalamento… Mesmo sem nos darmos conta há quem alimente tais perigos sob a capa de defensores da ‘sua’ moralidade, travestida de ética mais ou menos republicana.

6. O justicialismo reinante parece, afinal, esconder outros fantasmas que deambulam pelo sótão de tantos…



António Sílvio Couto

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