Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 8 de março de 2023

Ministério da ‘educação ou do ‘ensino’?


Pelo que temos visto e ouvido, há longo tempo e mais recentemente, parece que são precisas mudanças de designação: onde se diz ‘ministério da educação’ devia passar a designar-se por ‘ministério do ensino’, pois, de educação vemos que aqueles que são pagos – bem ou mal não está em causa – parecem não serem bons professores de educação, a avaliar pelas atitudes que mostram nas ruas, por ocasião dos protestos… tão inflamados.

Qual será a autoridade de algum dos professores vistos nos protestos, se tiverem de corrigir atitudes menos bem-educadas dos seus alunos? Estes não poderão ripostar com as mesmas palavras (por vezes quase palavrões) e gestos de menor respeito? Será, então, a escola um espaço onde se aprende a educação ou onde meramente se captam conteúdos de saber? Não andaremos desfocados do essencial, derramando-nos em pormenores desconexos? Por que se torna tão difícil resolver um problema com tanta duração?

1. A já longa batalha dos professores, pelas condições que almejam, tem-se arrastado por décadas. Nalgumas circunstâncias o que conhecemos de certos ‘professores’ é vê-los na contestação e não nas salas de aulas. Talvez alguns tenham estado mais a estudar como protestar do que como ensinar. Certas figuras parecem emergir do lodo como tortulhos de mau-consumo. O panorama é sombrio e não se prevê que possa melhorar, antes pelo contrário…

2. O setor da educação – escolas, alunos, professores, pessoal discente, famílias – anda a ser maltratado, tanto na forma como no conteúdo, atendendo aos intervenientes profissionais e aos representantes estatais desta área específica de governação. Se nos detivermos sobre os números veremos que, na última década, os alunos decresceram (menos trezentos mil), o corpo docente foi minguando (cerca de trinta mil, no ensino público, em quinze anos, num total de cento e trinta e dois mil) e até os estabelecimentos de ensino, para além da diminuição (desapareceram quase nove mil, desde o início do século), estão, cada vez, mais degradados. Diga-se: uma forte crise perpassa por este vetor essencial para o futuro do nosso país.

3. Com tantos e tão diversos problemas, quem deseja ainda ser professor? Quem optará pelo ensino para dedicar a sua vida e com isso sobreviver em dignidade? Não correremos o risco de hipotecar a nossa conduta coletiva sem professores com o mínimo de qualidade? Atendendo à média de idade – setenta por cento são mulheres e com mais de cinquenta anos – que nos reserva esperar a curto e a médio prazo? Mesmo que sejam atendidas as reivindicações publicitadas, não cairemos num fosso quase sem recuperação?

4. Na recente crise – ainda em curso – foi posta a manifesto uma desarticulação entre a escola e as famílias, entre quem tem a tarefa de ensinar e aqueles aos quais está acometida a função de educar. Embora se tenha pretendido lançar essa responsabilidade para as escolas, estas demonstraram com facilidade que não têm condições para o fazer, até pelo que vimos de alvoroçado por partes de muitos professores, que mais pareciam adolescentes pré-universitários do que homens e mulheres formados para formar os mais novos. Ora, tudo isto é grave demais e pode deixar consequências no tecido social, algo fragilizado e como que preso por arames…

5. Se atendermos aos slogans exibidos – por escrito ou gritados – nas manifestações dos professores poderemos encontrar não só o reflexo do presente como se advertirão os passos futuros. Eis alguns exemplos: respeito, em defesa da escola pública, em união por amor à educação, educação não é mercadoria, a lutar também estamos a educar…

De entre os vários aspetos dá a impressão que algo pode ter-se voltado contra os promotores e/ou participantes: a dita/pretensa ‘escola pública’ dá segurança na aprendizagem e prepara para o futuro? Com o prolongamento de tudo isto não se estará a desviar a ‘matéria-prima’ (os alunos) para as opções contrárias às desejadas? Mexeram com algo que pode rebentar nas mãos de quem o desencadeou… O futuro o confirmará!



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário