Está a decorrer, de 18 a 25, a ‘semana de orações pelas vocações’. O Papa propôs este ano como tema – ‘São José: o sonho da vocação’.
Dado
o significado deste tema, em contexto católico, respigamos alguns excertos da
mensagem papal:
A vida de São José
sugere-nos três palavras-chave para a vocação de cada um. A primeira é sonho. 1Todos sonham realizar-se na
vida. E é justo nutrir aspirações grandes, expectativas altas, que objetivos
efémeros como o sucesso, a riqueza e a diversão não conseguem satisfazer. (...) Pois só se tem a vida que se dá, só se
possui de verdade a vida que se doa plenamente. A este propósito, muito nos tem
a dizer São José, pois, através dos sonhos que Deus lhe inspirou, fez da sua
existência um dom.
Uma segunda palavra marca o itinerário de São José e da vocação: serviço. (...) O serviço, expressão concreta do dom de si mesmo, não foi para São José
apenas um alto ideal, mas tornou-se regra da vida diária. (...) Por isso gosto de pensar em São José,
guardião de Jesus e da Igreja, como guardião das vocações. Com efeito, da
própria disponibilidade em servir, deriva o seu cuidado em guardar.
Além da chamada de Deus – que realiza os nossos sonhos maiores – e da nossa
resposta – que se concretiza no serviço pronto e no cuidado carinhoso –, há um
terceiro aspeto que atravessa a vida de São José e a vocação cristã,
cadenciando o seu dia a dia: a
fidelidade. José .. medita, pondera: não se deixa dominar pela pressa, não
cede à tentação de tomar decisões precipitadas, não segue o instinto nem se
cinge àquele instante. Tudo repassa com paciência. Sabe que a existência se
constrói apenas sobre uma contínua adesão às grandes opções. (...) Porque a vocação, como a vida, só amadurece
através da fidelidade de cada dia.
1. Efetivamente
São José pode e deve ser um modelo de escuta, de discernimento e de vivência
vocacional, tanto ao nível ministerial como no compromisso matrimonial ou na
vida religiosa. Não será que, nas atuais circunstâncias de vida, se torna
difícil sonhar ou ter sonhos exequíveis? Ainda será possível alimentar o sonho
de que uma vocação pode e deve ser um momento de realização pessoal e de
serviço aos outros? Quando parece que se vive mais ao sabor da corrente – mais
fácil, mais barato ou mais imediato – poderemos considerar uma vocação como um
investimento de futuro? Até que ponto vemos os mais velhos animados pela
vivência da sua vocação no presente?
2. Não
podemos deixar-nos ir na onda negativista de que os mais novos não são capazes
de corresponderem a desafios, de se comprometerem em projetos ou de estarem
menos atentos do que no passado. Com efeito, nesse tempo também havia gente
fútil e foi possível viver a aposta de toda uma vida, numa crença de que valia
a pena não ter medo ou de não-confiar... Quando os meios económicos e a
apelidada ‘qualidade-de-vida’ não eram tão abundantes, havia decisão e
capacidade de arriscar... Quando os meios de acesso aos estudos estavam como
que vedados aos menos abonados economicamente... Quando até havia articulação –
quase cúmplice – entre a professora do ensino primário e o pároco, selecionando
os melhores... As vocações aos estudos nos seminários diocesanos proliferavam e
permitiam fazer seleção...deixando um rasto – ainda percetível – de tantos cristãos
e também de bastantes padres!
3. Apesar de
tudo isto e com todos estes ‘fatos’ presentess, foi com muita tristeza e uma quase
revolta que vi o desinvestimento nos seminários menores da maior parte das
dioceses, aí onde tantos puderam estudar, de terem oportunidades de valorização
cultural ou de serem criadas condições de escuta e de amadurecimento da vocação
sacerdotal. Com efeito, recordo as centenas de rapazes que estavam nos quatro
primeiros anos no seminário menor de Braga, à época da revolução de abril de
74...mais de quinhentos!
4. Agora e
numa tentativa de interpretação das coisas do presente, questiono o que se
poderá dizer de uma certa tendencia devocionista que perpassa nalguns
seminários. Não será que precisamos de mais estudo e de cultura do que de
refúgio em coisas de menor compromisso, embora com contento e resultados
imediatos? Não andaremos mais a reproduzir propagadores de rituais
tradicionalistas e não a investir em intérpretes dos sinais dos tempos, agora?
Sonho,
serviço e fidelidade – quando, onde, como, com quem ou para quem?
António Sílvio Couto
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