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sábado, 17 de abril de 2021

Cumprir os ‘dez mandamentos’

 


Por estes dias ouvi, num desses programas televisivos de entrevistas a figuras e personagens da nossa vida comum, algo que me fez refletir: se soubéssemos e cumpríssemos os dez mandamentos poderíamos ser felizes…nós e os outros!

Quem disse isto foi o ator Ruy de Carvalho, que, na sua vetusta idade de mais de nove décadas de vida, deixou transparecer algo que, certamente, o norteou e assim ele o propõe para outros.

Quando tantos se envergonham da sua (possível) fé, é significativo que alguém, tão significativamente cotado no campo das artes e da cultura, nos venha lembrar algo tão básico e essencial: conhecer e cumprir os ‘dez mandamentos’ da Lei de Deus. 

 1. Antes de mais, será que todos sabemos, mesmo de memória, os ‘dez mandamentos’? Não andarão estes basilares princípios ignorados, esquecidos ou atropelados? Não andaremos a pressupor que se sabem os ‘dez mandamentos’, embora se desconheçam? Que nos faltará para que não nos envergonhemos das leis de Deus?

 2. Façamos, então, a proclamação dos ‘dez mandamentos’, que «anunciam as exigências do amor de Deus e do próximo. Os três primeiros referem-se mais ao amor de Deus; os outros sete, ao amor do próximo» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 2067): 1.º amar a Deus sobre todas as coisas; 2.º  não invocar o santo nome de Deus em vão; 3.º  guardar os domingos e dias santificados. 4.º  honrar pai e mãe e respeitar os outros legítimos superiores; 5.º  não matar nem causar outro dano a si mesmo ou ao próximo; 6.º  guardar castidade nos pensamentos e nos desejos; 7.º  não furtar nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo;  8.º  não levantar falso testemunho nem de qualquer forma faltar à verdade ou difamar o próximo;  9.º  guardar castidade nas palavras e nas obras; 10.º não cobiçar as coisas alheias.

 3. Podendo considerar que o decálogo fundamenta uma espécie de teocracia, como que sentimos o afastamento destes princípios sagrados, tanto nas instituições quanto nas pessoas. Se alguém ousasse introduzir os valores ou referir-se aos ‘dez mandamentos’ nas intervenções públicas políticas correria o risco de ser apelidado de ‘fundamentalista’ e, agora, na mais recente terminologia de ‘populista’ – um conglomerado de ideias que podem ser vistas em contraste com o chavão – ‘laico, republicano, socialista e marxista’… Efetivamente boa parte dos ‘nossos’ políticos meteu Deus na gaveta e como que se envergonham de assumirem a sua fé, sobretudo se for cristã. Salve-se o atual presidente da república e uns tantos que, à socapa, ainda se apresentam nas igrejas como seus hipotéticos frequentadores…

 4. Para nossa confusão temos vindo a assistir à crescente privatização da fé, entendendo esta como fato privado e do foro intimista. Certas forças podem apregoar as suas pretensões ideológicas, mas os cristãos têm de ser conter e quase de disfarçarem os seus ideais, sendo tolerados se se entretiverem no campo do social… mesmo os padres tornaram-se mais homens das coisas da fome do que da cultura, mais empenhados em obras de caráter social – cuja competência é, sobretudo, do Estado – do que na correta promoção da formação bíblica ou litúrgica, teológica e ética.

 5. Lemos por estes dias na liturgia de semana, no livro dos Atos dos Apóstolos: ‘deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens’ (5,29). Mas o que temos visto é uma subserviência de tudo e de quase todos ao poder político, nalguns casos antecipando as medidas de encerramento dos templos às propostas dos políticos. Fique claro: sou pela colaboração, mas não pelo mero colaboracionismo; advogo a presença nas coisas públicas e políticas e não a fuga, na hora da dificuldade; sinto que devemos seguir o nosso caminho e não de entrarmos na agenda do poder…na suas artimanhas e ardis.

Viveremos, na vida do dia-a-dia na dinâmica dos ‘dez mandamentos’? Respeitamos a Deus, mesmo que sejamos rejeitados pelos homens? Teremos ainda chama para iluminar ou já perdemos o sal? 

 

António Sílvio Couto

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