Por estes
dias ouvi, num desses programas televisivos de entrevistas a figuras e
personagens da nossa vida comum, algo que me fez refletir: se soubéssemos e
cumpríssemos os dez mandamentos poderíamos ser felizes…nós e os outros!
Quem
disse isto foi o ator Ruy de Carvalho, que, na sua vetusta idade de mais de
nove décadas de vida, deixou transparecer algo que, certamente, o norteou e
assim ele o propõe para outros.
Quando
tantos se envergonham da sua (possível) fé, é significativo que alguém, tão
significativamente cotado no campo das artes e da cultura, nos venha lembrar
algo tão básico e essencial: conhecer e cumprir os ‘dez mandamentos’ da Lei de
Deus.
1. Antes
de mais, será que todos sabemos, mesmo de memória, os ‘dez mandamentos’? Não
andarão estes basilares princípios ignorados, esquecidos ou atropelados? Não
andaremos a pressupor que se sabem os ‘dez mandamentos’, embora se desconheçam?
Que nos faltará para que não nos envergonhemos das leis de Deus?
2.
Façamos, então, a proclamação dos ‘dez mandamentos’, que «anunciam as
exigências do amor de Deus e do próximo. Os três primeiros referem-se mais ao
amor de Deus; os outros sete, ao amor do próximo» (Catecismo da Igreja
Católica, n.º 2067): 1.º amar
a Deus sobre todas as coisas; 2.º não invocar o santo nome de Deus em
vão; 3.º guardar os domingos e dias santificados. 4.º honrar pai e
mãe e respeitar os outros legítimos superiores; 5.º não matar nem causar outro
dano a si mesmo ou ao próximo; 6.º guardar castidade nos pensamentos e
nos desejos; 7.º não furtar nem injustamente reter ou danificar os bens
do próximo; 8.º não levantar falso
testemunho nem de qualquer forma faltar à verdade ou difamar o próximo; 9.º guardar castidade nas palavras e
nas obras; 10.º não cobiçar as coisas alheias.
3. Podendo
considerar que o decálogo fundamenta uma espécie de teocracia, como que
sentimos o afastamento destes princípios sagrados, tanto nas instituições
quanto nas pessoas. Se alguém ousasse introduzir os valores ou referir-se aos
‘dez mandamentos’ nas intervenções públicas políticas correria o risco de ser
apelidado de ‘fundamentalista’ e, agora, na mais recente terminologia de ‘populista’
– um conglomerado de ideias que podem ser vistas em contraste com o chavão –
‘laico, republicano, socialista e marxista’… Efetivamente boa parte dos
‘nossos’ políticos meteu Deus na gaveta e como que se envergonham de assumirem
a sua fé, sobretudo se for cristã. Salve-se o atual presidente da república e
uns tantos que, à socapa, ainda se apresentam nas igrejas como seus hipotéticos
frequentadores…
4. Para
nossa confusão temos vindo a assistir à crescente privatização da fé,
entendendo esta como fato privado e do foro intimista. Certas forças podem
apregoar as suas pretensões ideológicas, mas os cristãos têm de ser conter e
quase de disfarçarem os seus ideais, sendo tolerados se se entretiverem no
campo do social… mesmo os padres tornaram-se mais homens das coisas da fome do
que da cultura, mais empenhados em obras de caráter social – cuja competência é,
sobretudo, do Estado – do que na correta promoção da formação bíblica ou
litúrgica, teológica e ética.
5. Lemos
por estes dias na liturgia de semana, no livro dos Atos dos Apóstolos: ‘deve
obedecer-se antes a Deus do que aos homens’ (5,29). Mas o que temos visto é uma
subserviência de tudo e de quase todos ao poder político, nalguns casos
antecipando as medidas de encerramento dos templos às propostas dos políticos.
Fique claro: sou pela colaboração, mas não pelo mero colaboracionismo; advogo a
presença nas coisas públicas e políticas e não a fuga, na hora da dificuldade;
sinto que devemos seguir o nosso caminho e não de entrarmos na agenda do
poder…na suas artimanhas e ardis.
Viveremos,
na vida do dia-a-dia na dinâmica dos ‘dez mandamentos’? Respeitamos a Deus,
mesmo que sejamos rejeitados pelos homens? Teremos ainda chama para iluminar ou
já perdemos o sal?
António Sílvio Couto
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