Estamos
a saque. Agora o jogo-de-sorte-e-de-azar suplanta o trabalho. Prefere-se
investir mais na jogatana do que na ação de conseguir de forma honesta os meios
de sobrevivência.
De
facto, o vigésimo segundo governo constitucional tem sabido envolver a
população com enleios de subtileza: granjeia sucesso colocando-o na atribuição
de benesses, cada qual mais atraente do que a anterior. Se quiséssemos
tipificar a atual governação poderíamos socorrer-nos do boom do jogo da
raspadinha… pé-ante-pé se vão investindo os parcos recursos – pessoais,
familiares, económicos ou sociais – sem grande trabalho: importa é ter, um dia,
sorte…nem que isso se manifeste na desgraça total.
Ao longo
dos anos fomos aprendendo a ouvir, a conviver ou a contatar com novas formas de
jogo – muitas vezes com umas tais ditas ‘pretensões sociais’, mas criando
dependências nos apostadores – tais como: lotaria (clássica ou popular),
totobola, totoloto, euro-milhões, raspadinha ou placard… Poder-se-á considerar
que a cada tempo – social, politico ou económico – assim foi surgindo um
aliciante à bolsa dos portugueses, isto é, dinheiro ganho sem esforço e,
seguindo a lógica habitual, o que não custou a ganhar também não custa a gastar…mesmo
que seja com nova aposta em jogo.
1. O povo está
viciado. É bom
de ver as filas de pessoas – onde proliferam os mais velhos e muitas
mulheres –
à porta dos locais de venda do jogo, particularmente da raspadinha. Desde já
uma declaração de desinteresse: nunca joguei e nem sei como funciona a
raspadinha… Sinto-me, nesta matéria, numa perfeita anormalidade! Segundo um
estudo de âmbito nacional, em 2018, o valor das raspadinhas vendidas no nosso
país foi de 1594 milhões de euros, o que significa que cada pessoa que apostou,
gastou, em média, cerca de cento e sessenta euros por ano. Com valores
variáveis de custo, isso se repercute na possibilidade de prémios, envolvendo
cada vez mais pessoas viciadas nesta forma subtil de jogo…
2. O povo está
narcotizado. Qual
droga de baixo custo, o jogo instantâneo da raspadinha como que se colou à pele
de muitas pessoas, tornando-as dependentes de quererem ser ricas num golpe de
sorte…que, na maior parte das vezes, se revela como de razoável azar. Na ânsia
de dinheiro rápido, vemos pessoas de baixos recursos investirem o que têm e o
que não têm neste jogo que é mais de azar do que de sorte, pois, quando esta
acontece, logo se esfuma em mais jogo e crescente empobrecimento…
3. O povo é
manipulado. Em
todo este panorama sociopolítico o que mais preocupa é sentirmos que quem
governa usa da mesma estratégia, isto é, lança aliciantes para que o povo se
iluda com subsídios e prebendas, sem se dar conta que terá de pagar os custos a
breve trecho… mais rápido do que julga. Pela subtileza dos produtos agendados,
a governação em curso lança sempre mais um ingrediente social, por forma a ir
alimentando a chama que crepita em lume brando. A gestação desta crise de
pandemia trouxe à vista que muita gente vive dependurada nos arranjos do
Estado, de forma direta e indireta. Nota-se que o velho princípio de ‘pão e
jogos’ é conjugado em quase todos os tempos e modos, parecendo só faltar
adquirir – com benesses e mordomias – quem não alinhe no capcioso processo em
curso. Não se sente já a ditadura do pensamento uniforme? Até onde irá o
alinhamento de todos pelo ritmo da batuta governamental…socialista?
4. O povo é enganado. A ausência de verdade é hoje um risco de grande
perigo, pois, por entre mentirinhas, se vai entretendo quem, a curto prazo,
será taxado e esmagado com impostos, dado que não conseguiremos continuar a
fazer-de-conta que outros pagarão a crise. Não, seremos nós, por agora
enganados com habilidades e espertezas…duma certa esquerda. Àqueles que
vociferam a torto-e-a-direito contra a União Europeia questionámos se já se
advertiram qual seria a nossa situação se estivéssemos fora da UE? Por muito
mal que estejamos, seria mais degradante a situação em isolamento patriótico…
De forma
paradigmática podemos apresentar a ‘raspadinha do turismo’ como o exemplo mais
contundente daquilo que nos querem fazer: enganam-nos com prémios e nós
vendemo-nos na tentativa de sermos bafejados pela sorte…quando ela nos sair. Acordem!
António Sílvio Couto
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