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terça-feira, 27 de abril de 2021

Democratas de ‘26 de abril’… 47 anos depois

 


Decorridas quase cinco décadas ainda percebemos certos tiques com sabor a ditadura em tantos dos intervenientes na nossa praça. Se assim é em público o que será em privado!

Ora um episódio decorrido ao final do dia seguinte às comemorações da revolução de abril de 74 pode ilustrar esses democratas recauchutados, mas a quem estala o verniz sobre o caruncho (idade, educação e atitude) …quando as coisas não correm a gosto.

 = Um episódio quase-paradigmático

- Há novidade?

Foi desta forma algo ríspida que vimos um alto dirigente desportivo a dirigir-se a um repórter de imagem televisivo, após bastante tempo de um jogo de futebol… Tudo percetível em som e imagem.

Vejamos os factos antecedentes a este episódio. Tinha já acabado há quase uma hora o tal jogo de futebol, que não correu, no resultado, como era pretendido por umas das partes. Houve – como sói dizer-se – ‘mosquitos por cordas’. Como nem todas as televisões podem fazer a cobertura direta dos jogos, outros vão escorripichando o que fica das contendas, lutas e intrigas…dentro e fora dos campos.

Ora, pelo menos dois canais foram exibindo imagens exteriores ao espaço de jogo, onde se iam vendo alguns dos intervenientes – jogadores, dirigentes e outros elementos técnicos e não só – não-vitoriosos, depois de terem sido acalmados os ânimos antes exasperados.

Eis que aparece de forma mais ativa o tal dirigente superior: numa pose pacata e arrastada, dada a idade, se abeirou desses tais repórteres exteriores, questionando, diretamente, um deles. Eis, senão quando, surgem atropelos, ameaças e agressões a um dos jornalistas de imagem…O tom, as palavras e os resultados parecem ter sido pouco favoráveis às partes envolvidas.

Daqui decorreram por longas horas discussões – sobretudo nos canais que tinham estado a emitir antes do episódio de agressão – sobre o assunto, tentando encontrar as identidades de agressor e de agredido, as conexões com os dirigentes e os réus, as implicações socioculturais e desportivas… 

 

* Sobre este ‘acontecimento’ devemos deixar a quem de direito que faça o seu trabalho, sem branquear nada nem ninguém. Precisamos de saber como vai, verdadeiramente, este mundo do futebol e quem o conduz ou manipula. Deveremos conhecer melhor os artistas deste negócio, seja lá quem for e quais os tentáculos que possam haver. Neste como noutros casos, não poderemos confundir a árvore com a floresta, embora esta precise de ser expurgada de novos ‘patos-bravos’ que emergem em maré de crise e de confusão…

 

* Atendendo à conexão entre os dias – foi no dia 26 de abril, pela noite – vem-me à lembrança tantos que se converteram à democracia logo que viram para onde iam as correntes vitoriosas. Tem sido assim ao longo destas mais de quatro décadas: alguns – e são tantos – têm sabido posicionar-se na hora de reclamar ganhos, mesmo que não haja vitória para celebrar.

Faz-me lembrar aquele episódio de uma esposa muito cuidadosa, e sabendo que o marido não era condutor perspicaz, lhe telefonou dizendo que estava a dar nas notícias que havia alguém a circular em contramão na autoestrada… ao que o infrator ripostou: e são tantos! De facto, quando já não se vê a figura que se faz, atira-se a culpa para os outros, quando quem não cumpre é o próprio infrator… Quando os resultados não são os que se queria, torna-se importante encontrar outros como explicação do insucesso… Quando o investimento não obtém os resultados pretendidos, será sempre bom descobrir ‘bodes-expiatórios’ para a incompetência e os falhanços…

 

* Por vezes surge na leitura parenética da vida uma conclusão que necessita de ser corrigida. Diz-se: temos de aprender com os erros. Sim. Deveríamos incluir ainda uma outra perspetiva: nas vitórias é importante respeitar quem perde para sabermos cuidar da nossa possível vaidade e presunção.

Será que os democratas de 26 de abril alguma vez aprenderam com os erros e as vitórias? Duvido!

 

António Sílvio Couto

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