Decorridas quase cinco décadas ainda percebemos certos tiques com sabor a ditadura em tantos dos intervenientes na nossa praça. Se assim é em público o que será em privado!
Ora um
episódio decorrido ao final do dia seguinte às comemorações da revolução de
abril de 74 pode ilustrar esses democratas recauchutados, mas a quem estala o
verniz sobre o caruncho (idade, educação e atitude) …quando as coisas não
correm a gosto.
- Há
novidade?
Foi desta
forma algo ríspida que vimos um alto dirigente desportivo a dirigir-se a um
repórter de imagem televisivo, após bastante tempo de um jogo de futebol… Tudo percetível
em som e imagem.
Vejamos
os factos antecedentes a este episódio. Tinha já acabado há quase uma hora o
tal jogo de futebol, que não correu, no resultado, como era pretendido por umas
das partes. Houve – como sói dizer-se – ‘mosquitos por cordas’. Como nem todas
as televisões podem fazer a cobertura direta dos jogos, outros vão
escorripichando o que fica das contendas, lutas e intrigas…dentro e fora dos
campos.
Ora,
pelo menos dois canais foram exibindo imagens exteriores ao espaço de jogo,
onde se iam vendo alguns dos intervenientes – jogadores, dirigentes e outros
elementos técnicos e não só – não-vitoriosos, depois de terem sido acalmados os
ânimos antes exasperados.
Eis que
aparece de forma mais ativa o tal dirigente superior: numa pose pacata e
arrastada, dada a idade, se abeirou desses tais repórteres exteriores,
questionando, diretamente, um deles. Eis, senão quando, surgem atropelos,
ameaças e agressões a um dos jornalistas de imagem…O tom, as palavras e os
resultados parecem ter sido pouco favoráveis às partes envolvidas.
Daqui
decorreram por longas horas discussões – sobretudo nos canais que tinham estado
a emitir antes do episódio de agressão – sobre o assunto, tentando encontrar as
identidades de agressor e de agredido, as conexões com os dirigentes e os réus,
as implicações socioculturais e desportivas…
* Sobre
este ‘acontecimento’ devemos deixar a quem de direito que faça o seu trabalho,
sem branquear nada nem ninguém. Precisamos de saber como vai, verdadeiramente,
este mundo do futebol e quem o conduz ou manipula. Deveremos conhecer melhor os
artistas deste negócio, seja lá quem for e quais os tentáculos que possam
haver. Neste como noutros casos, não poderemos confundir a árvore com a
floresta, embora esta precise de ser expurgada de novos ‘patos-bravos’ que
emergem em maré de crise e de confusão…
*
Atendendo à conexão entre os dias – foi no dia 26 de abril, pela noite – vem-me
à lembrança tantos que se converteram à democracia logo que viram para onde iam
as correntes vitoriosas. Tem sido assim ao longo destas mais de quatro décadas:
alguns – e são tantos – têm sabido posicionar-se na hora de reclamar ganhos,
mesmo que não haja vitória para celebrar.
Faz-me
lembrar aquele episódio de uma esposa muito cuidadosa, e sabendo que o marido
não era condutor perspicaz, lhe telefonou dizendo que estava a dar nas notícias
que havia alguém a circular em contramão na autoestrada… ao que o infrator
ripostou: e são tantos! De facto, quando já não se vê a figura que se faz,
atira-se a culpa para os outros, quando quem não cumpre é o próprio infrator…
Quando os resultados não são os que se queria, torna-se importante encontrar
outros como explicação do insucesso… Quando o investimento não obtém os
resultados pretendidos, será sempre bom descobrir ‘bodes-expiatórios’ para a
incompetência e os falhanços…
* Por vezes
surge na leitura parenética da vida uma conclusão que necessita de ser
corrigida. Diz-se: temos de aprender com os erros. Sim. Deveríamos incluir ainda
uma outra perspetiva: nas vitórias é importante respeitar quem perde para sabermos
cuidar da nossa possível vaidade e presunção.
Será que
os democratas de 26 de abril alguma vez aprenderam com os erros e as vitórias?
Duvido!
António Sílvio Couto
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