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quinta-feira, 15 de abril de 2021

Em quem podemos ainda confiar?

 


A avaliar pelas reações mais recentes, os executantes da justiça – com os juízes à testa – são um setor sobre o qual foi lançado o labéu mais inclemente. Com efeito, já anteriormente vimos crescer – talvez de forma tácita e não muito visível – o descrédito sobre outras funções, profissões ou atividades com incidência humana, tais como os padres, os professores, os polícias, os políticos (autarcas ou nas funções governamentais e parlamentares), os treinadores e dirigentes desportivos... todos mais ou menos numa catadupa que nem a mais eficiente execução colmatava essa tal ignomínia lançada...

 1. Será que os médicos e enfermeiros – tão essenciais nesta fase de pandemia – ainda são dignos de confiança, de apreço ou de reconhecimento público e dos públicos? Quando a saúde foi posta em perigo, percebemos quem cuidava efetivamente de nós? Foi possível não confundir a árvore com a floresta, isto é, os menos bons com toda a classe? Ao contrário dos setores supra citados em possível descrédito pela inoperância e/ou ineficiência dos executantes, ainda cremos nos atos benfazejos e quase-heróicos de tantos/as que sacrificaram a sua vida para que outros sobrevivessem? Apesar dos erros e talvez menos bons desempenhos em questões sanitárias, aceitamos alguma preponderância no tecido humana e social por parte de quem cuida da nossa saúde e bem-estar?

 2. Atendendo à necessidade de explicitar mais as causas do que as meras consequências daqueles de quem temos vindo a desconfiar, traçamos um perfil desses que anteriormente elencamos em exemplo:

* dos padres – caídos da influência religiosa preponderante do catolicismo, em certos meios sociais, muitos como que foram sendo nivelados pelo desempenho mais de uma profissão e não como uma vocação. Por vezes, em certas correntes intra-eclesiais, se questiona se o uso ou não da veste talar ou ao menos do ‘clergyman’ poderá ter ‘banalizado’ a função clerical e com isso perderem os atores capacidade de aceitação, de intervenção ou de significado. É cada vez mais necessário que os padres sejam homens de Deus e não da mera ação social. Lançados às feras não podem julgar-se superiores pela instrução e tão pouco pela possível significação social, pois para além de homens do culto, têm de ser pessoas da cultura... humilde, dialogante e serena para com todos.

* dos professores – considerados no setor do saber – embora parcelar, pois cada um tem a sua especialidade – nem sempre foram valorizados até pela remuneração. Semeadores da instrução – e nalguns casos ds educação – foram perdendo, noutros meios, a importância e influência social e cultural. A crise de quem queira vir a ensinar nota-se gradualmente.

* dos polícias – representantes práticos e executores da autoridade nem sempre têm sido respeitados e dignificados, mesmo por aqueles que usufruem da sua proteção e intervenção em nome da lei e da ordem. Dá a impressão que boa parte da população só nota o significado das autoridades policiais quando se encontram em apuros. Corremos o risco de negligenciar a nossa segurança, tanto das pessoas como dos bens.

* dos políticos – divididos em tendências ideológicas mais parecem inimigos do que adversários, propondo-se servirem o povo, de quem dá a impressão só precisarem em maré de eleições... no resto escapam-se para gerirem os seus interesses e dos seus apaniguados. Quantos enriqueceram e não foi só a trabalhar. Quantos têm fortunas e outras mordomias sem se saber a proveniência. Acusações de corrupção correm o risco de prescreverem, quando for a maré de julgamento. Sérios haverá poucos e honestos ainda menos!

* dos dirigentes e e treinadores desportivos – da época dos ‘patos-bravos’, procedentes de outros mundos para se promoverem no desporto parece que está a surgir uma outra ‘classe’ mais cuidada, embora necessitada de mais eduçação e boa presença. Também aqui a divisão clubística tem feito as suas vítimas e deixado feridas... escarafunchadas em programas televisivos de mau gosto e de pior conteúdo...

 3. Uma classe vai flutuando até se afundar: os jornalistas. Precisamos de saber a quem servem, pois não há independentes em nenhum dos postos, pelo contrário, são, na sua maioria, jornaleiros de grupos económicos e servidores ideológicos de duvidosa qualidade. Embora se considerem acima, na maior parte das vezes, mergulham e fazem carreira à custa das misérias alheias. Em breve provarão do seu veneno!

 

António Sílvio Couto

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