Estas coisas da pandemia como que têm servido de oportunidade para que algumas forças – políticas, sociais, económicas e mesmo culturais – tenham deambulando por entre o que são e muito daquilo que fazem ou desejam realizar…não deixando ainda escapar brechas de incongruência entre aquilo que dizem e tanto do que fazem mal, sem deixar de quantificar tantas das omissões.
= Como
não podia deixar de ser, as leituras dos resultados das eleições
presidenciais, no final do mês transato, serviu para branquear, iludir ou
suscitar as mais díspares interpretações:
* A autoapelidada – explicitaremos melhor este
adjetivo – ‘esquerda’ recolheu cerca de vinte por cento dos votos – com
dois candidatos vindos por parlamento europeu, para onde voltaram ao seu el
dourado político…
* Uma tal ultradireita auferiu quase meio
milhão de votos… ficando em segundo lugar em mais de metade dos distritos… e
destronando os eternos conquistadores do Alentejo.
* Para além da reeleição o presidente conseguiu algo
inédito: ganhou em todos os concelhos do país…
= Decorrido que foi o ato eleitoral, onde a pandemia
não trouxe mais engulhos à participação votante do que noutras circunstâncias,
continuamos a ver sangrar o povo com milhares de mortos – houve dias com mais
de três centenas – acrescentando milhares de milhares de infetados e uma nação
apreensiva quanto ao futuro mesmo que um tanto negligente no presente:
* Uma certa ‘esquerda’ matreira vai criando ou
sobrevoando em factos políticos com lacunas de autoridade. Defensora da estatização
da saúde ficou em silêncio quando uma equipa de médicos e enfermeiros
alemães com vínculo militar se alojou num hospital do setor privado. Não
deveriam ter lutado pela sua inserção nos espaços do serviço nacional de saúde
estatal? Porque ficaram calados e sem palavras? Até onde irá o aproveitamento
das circunstâncias para enganar as condições?
* Essa tal esquerda – diz-se deste modo, mas usa os
meios mais básicos do capitalismo, colocando-se nas arenas do poder para ganhar
proveito na hora de recolher os frutos – matreira tem conseguido lançar para a
discussão questões fraturantes, mesmo que possam estar desadequadas ao
tempo… o exemplo mais nítido foi a aprovação definitiva – embora à espera de
promulgação – da eutanásia: não é justo nem correto dar licença para
matar, quando os agentes da saúde se esfalfam para manter na vida as vítimas de
covid-19…
= O setor do trabalho é um campo predileto
para certas forças se dizerem defensoras dos trabalhadores. Em muitos casos
nota-se que isso é meramente retórico, pois acirram os que estão em
inferioridade e depois deixam-nos à deriva e à míngua de tudo. É confrangedor
passar, hoje, por certas localidades da (dita) ‘margem sul’ e ver imensos
pavilhões, muitos espaços e tantos lugares a caírem apodrecidos, quando há três
ou quatro décadas eram focos de emprego, movimentados e produtivos… Que dizer da
tal transportadora aérea nacional? Esquartejada por sindicatos e
dividida por partidos não passa de um sorvedouro de dinheiro público e onde os
titulares da área mais não parecem do que gestores de final-de-feira,
hipotecando inclusive as suas aspirações futuras…
= Agora que o país voltou a confinar e se paga –
sabe lá com que consequências a curto e a médio prazo – para nada fazer,
mantém-se ativo o futebol, sobretudo o dito ‘indústria’ e já pouco
desporto. Cada jogo, mesmo sem público nas bancadas, torna-se um fenómeno de
estudo; antes, durante e depois. No ‘antes’ conjetura-se sobre quem poderá
jogar, como e porquê; ‘durante’ esquadrinha-se cada intervenção desde os
jogadores (de tão armadilhados nem parecem atletas) até aos treinadores e
afins, mas particularmente os designados árbitros; no ‘depois’ temos e vemos horas
e horas a lamber o osso que não se comeu, mas que serve de entretenimento em
vários canais televisivos.
Algumas intervenções fazem-nos questionar o
equilíbrio dos comentadores. Aliado ao fervor clubístico emergem figuras dignas
de dó (ou será de nojo?), desde o possível teor de palavra até ao negligente
acesso à imagem, sem esquecer a desconformidade entre uma e outra. Perante a
contestação dos árbitros, deixo uma proposta: joguem sem eles, pois assim
acabaria um foco de tensão e de má interpretação das regras do jogo. Se um
jogador parte um pé a outro, isso não é digno de ser castigado? Por mim
dava-lhe, linearmente, de suspensão o mesmo tempo daquele que lesionou…até
voltar a jogar.
Sim, é preciso dizer: ‘basta’ à impunidade de tantos que vivem dependurados nas coisas do futebolês!
António Sílvio Couto
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