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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Tiques e truques percebidos ou encapotados


 Estas coisas da pandemia como que têm servido de oportunidade para que algumas forças – políticas, sociais, económicas e mesmo culturais – tenham deambulando por entre o que são e muito daquilo que fazem ou desejam realizar…não deixando ainda escapar brechas de incongruência entre aquilo que dizem e tanto do que fazem mal, sem deixar de quantificar tantas das omissões.

= Como não podia deixar de ser, as leituras dos resultados das eleições presidenciais, no final do mês transato, serviu para branquear, iludir ou suscitar as mais díspares interpretações:

* A autoapelidada – explicitaremos melhor este adjetivo – ‘esquerda’ recolheu cerca de vinte por cento dos votos – com dois candidatos vindos por parlamento europeu, para onde voltaram ao seu el dourado político…

* Uma tal ultradireita auferiu quase meio milhão de votos… ficando em segundo lugar em mais de metade dos distritos… e destronando os eternos conquistadores do Alentejo.

* Para além da reeleição o presidente conseguiu algo inédito: ganhou em todos os concelhos do país…

= Decorrido que foi o ato eleitoral, onde a pandemia não trouxe mais engulhos à participação votante do que noutras circunstâncias, continuamos a ver sangrar o povo com milhares de mortos – houve dias com mais de três centenas – acrescentando milhares de milhares de infetados e uma nação apreensiva quanto ao futuro mesmo que um tanto negligente no presente:

* Uma certa ‘esquerda’ matreira vai criando ou sobrevoando em factos políticos com lacunas de autoridade. Defensora da estatização da saúde ficou em silêncio quando uma equipa de médicos e enfermeiros alemães com vínculo militar se alojou num hospital do setor privado. Não deveriam ter lutado pela sua inserção nos espaços do serviço nacional de saúde estatal? Porque ficaram calados e sem palavras? Até onde irá o aproveitamento das circunstâncias para enganar as condições? 

* Essa tal esquerda – diz-se deste modo, mas usa os meios mais básicos do capitalismo, colocando-se nas arenas do poder para ganhar proveito na hora de recolher os frutos – matreira tem conseguido lançar para a discussão questões fraturantes, mesmo que possam estar desadequadas ao tempo… o exemplo mais nítido foi a aprovação definitiva – embora à espera de promulgação – da eutanásia: não é justo nem correto dar licença para matar, quando os agentes da saúde se esfalfam para manter na vida as vítimas de covid-19…

= O setor do trabalho é um campo predileto para certas forças se dizerem defensoras dos trabalhadores. Em muitos casos nota-se que isso é meramente retórico, pois acirram os que estão em inferioridade e depois deixam-nos à deriva e à míngua de tudo. É confrangedor passar, hoje, por certas localidades da (dita) ‘margem sul’ e ver imensos pavilhões, muitos espaços e tantos lugares a caírem apodrecidos, quando há três ou quatro décadas eram focos de emprego, movimentados e produtivos… Que dizer da tal transportadora aérea nacional? Esquartejada por sindicatos e dividida por partidos não passa de um sorvedouro de dinheiro público e onde os titulares da área mais não parecem do que gestores de final-de-feira, hipotecando inclusive as suas aspirações futuras…

= Agora que o país voltou a confinar e se paga – sabe lá com que consequências a curto e a médio prazo – para nada fazer, mantém-se ativo o futebol, sobretudo o dito ‘indústria’ e já pouco desporto. Cada jogo, mesmo sem público nas bancadas, torna-se um fenómeno de estudo; antes, durante e depois. No ‘antes’ conjetura-se sobre quem poderá jogar, como e porquê; ‘durante’ esquadrinha-se cada intervenção desde os jogadores (de tão armadilhados nem parecem atletas) até aos treinadores e afins, mas particularmente os designados árbitros; no ‘depois’ temos e vemos horas e horas a lamber o osso que não se comeu, mas que serve de entretenimento em vários canais televisivos.

Algumas intervenções fazem-nos questionar o equilíbrio dos comentadores. Aliado ao fervor clubístico emergem figuras dignas de dó (ou será de nojo?), desde o possível teor de palavra até ao negligente acesso à imagem, sem esquecer a desconformidade entre uma e outra. Perante a contestação dos árbitros, deixo uma proposta: joguem sem eles, pois assim acabaria um foco de tensão e de má interpretação das regras do jogo. Se um jogador parte um pé a outro, isso não é digno de ser castigado? Por mim dava-lhe, linearmente, de suspensão o mesmo tempo daquele que lesionou…até voltar a jogar.

Sim, é preciso dizer: ‘basta’ à impunidade de tantos que vivem dependurados nas coisas do futebolês!       

António Sílvio Couto

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