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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Que luz brilhará ainda?

 


Ao fim deste dia de ‘Nossa Senhora das Candeias’, versão popular da festa litúrgica da Apresentação do Senhor, sinto como que uma certa tristeza por não poder celebrar comunitariamente este terminus das festividades natalícias. Com efeito, os números e a gravidade, o confinamento e as precauções, o cuidado e a atenção… do tempo de pandemia fazem de tudo isto algo envolto em mistério não de Deus, mas humano… demasiado obscuro, confuso e apreensivo.

Deixo um texto de luz, desde os tempos mais remotos do cristianismo, com algumas observações na direção daquilo que Deus nos está tão codificadamente a falar…nos tempos mais recentes.

 Luz esplendente da santa glória

Do Pai celeste, imortal,

Santo e glorioso Jesus Cristo!

Sois digno de ser cantado a toda a hora e momento

Por vozes inocentes,

Ó Filho de Deus que nos dais a vida.

Dissipais as trevas do universo

E iluminais o espírito do homem,

Vencendo a noite com a luz da fé.

Luz da Luz sem ocaso,

Imagem clara do esplendor divino:

O céu e a terra proclamam a vossa glória.

Chegada a hora do sol poente,

Contemplando a luz do entardecer,

Cantamos ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

 Na Liturgia das Horas encontramos um hino que consubstancia alguns dos aspetos mais relevantes da revelação de Jesus como luz do mundo. O hino do lucernário – rezado nas vésperas I de domingo no tempo comum – é atribuído à Igreja primitiva, sendo enriquecido com o contributo de S. Gregório de Nazianzo do século IV.

Este belo hino, enraizado, na longa e profunda Tradição da Igreja, tem mais forte expressão na oração de vésperas da Igreja. Com efeito, as Vésperas celebram-se à tarde, ao declinar do dia a fim de agradecermos tudo quanto neste dia nos foi dado e ainda o bem que nós próprios tenhamos feito. Com esta oração, que fazemos subir como incenso na presença do Senhor e em que o erguer das nossas mãos é como o sacrifício vespertino, recordamos também a obra da Redenção.

E, num sentido mais sagrado, pode ainda evocar aquele verdadeiro sacrifício vespertino que o nosso Salvador confiou aos Apóstolos na última Ceia, ao inaugurar os sacrossantos mistérios da Igreja, quer aquele sacrifício vespertino que, no dia seguinte, no fim dos tempos, Ele ofereceu ao Pai, erguendo as mãos para a salvação do mundo inteiro. Finalmente, no sentido de orientar a nossa esperança para a luz sem crepúsculo, oramos e pedimos que sobre nós brilhe de novo a luz, imploramos a vinda de Cristo, que nos virá trazer a graça da luz eterna. Nesta hora, unimos as nossas vozes às das Igrejas orientais, cantando: ‘Luz esplendente da santa glória do Pai celeste e imortal, santo e glorioso Jesus Cristo! Chegada a hora do sol poente, contemplando a estrela vespertina, cantamos ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo’... Quando a Igreja católica reza, celebra a fé acreditada… hoje como ontem e em união com todos quantos o viveram.

De facto, precisamos de acreditar que algo de novo e de diferente vai surgir após esta provação. Assim sejamos dignos de ler, de entender, de interpretar e de viver em consonância com os desafios apresentados.

 

António Sílvio Couto

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