Ao fim deste dia de ‘Nossa Senhora das Candeias’, versão popular da festa litúrgica da Apresentação do Senhor, sinto como que uma certa tristeza por não poder celebrar comunitariamente este terminus das festividades natalícias. Com efeito, os números e a gravidade, o confinamento e as precauções, o cuidado e a atenção… do tempo de pandemia fazem de tudo isto algo envolto em mistério não de Deus, mas humano… demasiado obscuro, confuso e apreensivo.
Deixo um
texto de luz, desde os tempos mais remotos do cristianismo, com algumas
observações na direção daquilo que Deus nos está tão codificadamente a falar…nos
tempos mais recentes.
Do
Pai celeste, imortal,
Santo
e glorioso Jesus Cristo!
Sois digno de ser cantado a toda a hora e momento
Por
vozes inocentes,
Ó
Filho de Deus que nos dais a vida.
Dissipais as trevas do universo
E
iluminais o espírito do homem,
Vencendo
a noite com a luz da fé.
Luz da Luz sem ocaso,
Imagem
clara do esplendor divino:
O
céu e a terra proclamam a vossa glória.
Chegada a hora do sol poente,
Contemplando
a luz do entardecer,
Cantamos ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Este belo hino,
enraizado, na longa e profunda Tradição da Igreja, tem mais forte expressão na
oração de vésperas da Igreja. Com efeito, as Vésperas celebram-se à tarde, ao
declinar do dia a fim de agradecermos tudo quanto neste dia nos foi dado e
ainda o bem que nós próprios tenhamos feito. Com esta oração, que fazemos subir
como incenso na presença do Senhor e em que o erguer das nossas mãos é como o
sacrifício vespertino, recordamos também a obra da Redenção.
E, num sentido
mais sagrado, pode ainda evocar aquele verdadeiro sacrifício vespertino que o
nosso Salvador confiou aos Apóstolos na última Ceia, ao inaugurar os
sacrossantos mistérios da Igreja, quer aquele sacrifício vespertino que, no dia
seguinte, no fim dos tempos, Ele ofereceu ao Pai, erguendo as mãos para a
salvação do mundo inteiro. Finalmente, no sentido de orientar a nossa esperança
para a luz sem crepúsculo, oramos e pedimos que sobre nós brilhe de novo a luz,
imploramos a vinda de Cristo, que nos virá trazer a graça da luz eterna. Nesta
hora, unimos as nossas vozes às das Igrejas orientais, cantando: ‘Luz
esplendente da santa glória do Pai celeste e imortal, santo e glorioso Jesus
Cristo! Chegada a hora do sol poente, contemplando a estrela vespertina,
cantamos ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo’... Quando a Igreja católica
reza, celebra a fé acreditada… hoje como ontem e em união com todos quantos o
viveram.
De
facto, precisamos de acreditar que algo de novo e de diferente vai surgir após
esta provação. Assim sejamos dignos de ler, de entender, de interpretar e de
viver em consonância com os desafios apresentados.
António Sílvio Couto
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