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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

O calote…sempre a crescer

 


Parece fazer parte da nossa identidade nacional, colado à nossa pele, marcando o presente e condicionando o futuro: a dívida que vimos a acumular para com o exterior era, em 2020, de 137,2% do produto interno bruto, contabilizando cerca de 270 mil milhões de euros…

Se atendermos que, em finais de 2019, os números andariam pelos 250 mil milhões de euros, percebe-se que, só num ano, a dívida subiu vinte mil milhões de euros.

Se estes números impressionantes pela negativa juntarmos ainda a capacidade de produção de riqueza, no ano de 2020, poderemos constatar que as cifras são também desastrosas, isto é, passamos de 213 mil milhões de euros, em 2019, para 200 mil milhões no ano transato… e este panorama não inclui a dívida comercial, a dívida das empresas públicas e as dívidas das autarquias…

Estes dados foram fornecidos pelo organismo nacional que superintende estas matérias, o Instituto Nacional de Estatística.

 = Diante destes números cada um de nós poderá e deverá questionar-se sobre o nosso futuro coletivo. Frases como – ‘o país consome mais do que produz’, ‘Portugal está penhorado ao estrangeiro’, ‘cada português deve, ao estrangeiro, quase dezanove mil euros’, ‘para limparmos a dívida precisa, cada português, de trabalhar um ano e quarenta e dois dias’ – ouvem-se e leem-se. Mas seremos todos responsáveis por igual deste estado calamitoso, perigoso e quase-irreversível? A culpa não tem autores ou os custos têm de ser pagos todos por igual? Quem decidiu fazer que pensássemos que somos todos ricos, não terá mais culpa do que o povo simples e ignorante das consequências? Por que será que, quem nos dirige – governar é mais do que gerir e iludir – não ousa falar verdade? Será que os problemas se resolvem atirando dinheiro para cima ou camuflando as razões do descalabro social, económico e quase-cultural? Pela enésima vez estamos a caminho da ‘banca rota’ – e não é a rutura da banca – com os mesmos intervenientes. Quando vamos acordar e sairmos do fosso em que são especialistas em conduzir-nos? Por que será que uma certa ‘esquerda’ é boa a distribuir e nunca a amealhar?

 = É um facto incontestável: o Estado não gera riqueza, embora a tente gerir, mas para isso é preciso que haja produção, estabilidade e confiança entre todos. Ora, pelos anos mais recentes temos visto que, quem diz governar sofre de uma doença congénita: tudo o que não seja estatal é inimigo e deve ser combatido, trucidado e quase-desfeito… seja qual for o setor, mas particularmente aqueles que possam fazer parecer que fornecem regalias sem esforço e bem-estar sem condicionamentos.

Vemos, então, uma razoável maquia de dividendos a serem repartidos por cerca de quinze por cento da população, isto é, os funcionários públicos: temos mais de setecentos mil, disseminados pela administração central ou local, ensino, saúde, segurança (social e pública). O valor de remuneração médio mensal cifra-se em mil e quinhentos euros a que são acrescentados outros subsídios…

 = Em todo este processo de tentativa de compreensão do país, que somos e para onde caminhamos, sinto que há um aspeto que deveria ser melhor cuidado, tanto ao nível pessoal como familiar e até institucional, seja a qual for a instituição. Como fomos/somos educados na e para a poupança? Teremos espírito de esbanjamento ou de subsidiodependência? Já advertimos que o nosso futuro está em risco, se continuarmos a manter o mesmo estilo de vida e de ética?

Tive a felicidade de ser educado numa aprendizagem de saber poupar, dentro de um princípio básico, traduzido em pequenos flashes para o dia-a-dia: não tens não gastas; que não tem dinheiro, não tem vícios; não viver do emprestado; saber honrar os compromissos; não sabemos o dia de amanhã

Claro que estas notas práticas foram-me comunicadas por quem viveu o racionamento da segunda guerra mundial, de quem sempre quis andar de cabeça levantada sem dever favores e, pior, de ter aprendido que o melhor do nosso património é ser honrado, mesmo que os bens materiais possam escassear. É verdade: o que há de mais salutar é poder pensar pela própria cabeça e de ter meios de valorização que não terminem com o mero prazer materialista…em consumo.

 

António Sílvio Couto

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