Parece fazer parte da nossa
identidade nacional, colado à nossa pele, marcando o presente e condicionando o
futuro: a dívida que vimos a acumular para com o exterior era, em 2020, de
137,2% do produto interno bruto, contabilizando cerca de 270 mil milhões de
euros…
Se atendermos que, em finais de
2019, os números andariam pelos 250 mil milhões de euros, percebe-se que, só
num ano, a dívida subiu vinte mil milhões de euros.
Se estes números
impressionantes pela negativa juntarmos ainda a capacidade de produção de
riqueza, no ano de 2020, poderemos constatar que as cifras são também
desastrosas, isto é, passamos de 213 mil milhões de euros, em 2019, para 200
mil milhões no ano transato… e este panorama não inclui a dívida comercial, a
dívida das empresas públicas e as dívidas das autarquias…
Estes dados foram fornecidos
pelo organismo nacional que superintende estas matérias, o Instituto Nacional
de Estatística.
= Diante destes números cada um
de nós poderá e deverá questionar-se sobre o nosso futuro coletivo. Frases como
– ‘o país consome mais do que produz’, ‘Portugal está penhorado ao
estrangeiro’, ‘cada português deve, ao estrangeiro, quase dezanove mil euros’,
‘para limparmos a dívida precisa, cada português, de trabalhar um ano e
quarenta e dois dias’ – ouvem-se e leem-se. Mas seremos todos responsáveis por
igual deste estado calamitoso, perigoso e quase-irreversível? A culpa não tem
autores ou os custos têm de ser pagos todos por igual? Quem decidiu fazer que
pensássemos que somos todos ricos, não terá mais culpa do que o povo simples e
ignorante das consequências? Por que será que, quem nos dirige – governar é
mais do que gerir e iludir – não ousa falar verdade? Será que os problemas se
resolvem atirando dinheiro para cima ou camuflando as razões do descalabro
social, económico e quase-cultural? Pela enésima vez estamos a caminho da
‘banca rota’ – e não é a rutura da banca – com os mesmos intervenientes. Quando
vamos acordar e sairmos do fosso em que são especialistas em conduzir-nos? Por
que será que uma certa ‘esquerda’ é boa a distribuir e nunca a amealhar?
= É um facto incontestável: o
Estado não gera riqueza, embora a tente gerir, mas para isso é preciso que haja
produção, estabilidade e confiança entre todos. Ora, pelos anos mais recentes
temos visto que, quem diz governar sofre de uma doença congénita: tudo o que
não seja estatal é inimigo e deve ser combatido, trucidado e quase-desfeito…
seja qual for o setor, mas particularmente aqueles que possam fazer parecer que
fornecem regalias sem esforço e bem-estar sem condicionamentos.
Vemos, então, uma razoável
maquia de dividendos a serem repartidos por cerca de quinze por cento da
população, isto é, os funcionários públicos: temos mais de setecentos mil,
disseminados pela administração central ou local, ensino, saúde, segurança
(social e pública). O valor de remuneração médio mensal cifra-se em mil e
quinhentos euros a que são acrescentados outros subsídios…
= Em todo este processo de
tentativa de compreensão do país, que somos e para onde caminhamos, sinto que
há um aspeto que deveria ser melhor cuidado, tanto ao nível pessoal como
familiar e até institucional, seja a qual for a instituição. Como fomos/somos
educados na e para a poupança? Teremos espírito de esbanjamento ou de
subsidiodependência? Já advertimos que o nosso futuro está em risco, se
continuarmos a manter o mesmo estilo de vida e de ética?
Tive a felicidade de ser
educado numa aprendizagem de saber poupar, dentro de um princípio básico,
traduzido em pequenos flashes para o dia-a-dia: não tens não gastas; que não tem dinheiro, não tem vícios; não viver
do emprestado; saber honrar os compromissos; não sabemos o dia de amanhã…
Claro que estas notas práticas
foram-me comunicadas por quem viveu o racionamento da segunda guerra mundial,
de quem sempre quis andar de cabeça levantada sem dever favores e, pior, de ter
aprendido que o melhor do nosso património é ser honrado, mesmo que os bens
materiais possam escassear. É verdade: o que há de mais salutar é poder pensar
pela própria cabeça e de ter meios de valorização que não terminem com o mero
prazer materialista…em consumo.
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário