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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Saúde ou economia?

 


Tem sido o maior dilema destes tempos mais recentes, designados de pandemia: como equilibrar as componentes saúde com economia e esta com aquela. Os dois confinamentos e os mais de dez ‘estados de emergência’ não conseguiram ainda esclarecer-nos sobre qual das vertentes se pode sobrepor uma à outra ou, pior ainda, se uma pode sobreviver sem a outra.

Claramente saúde e economia não se excluem, antes se complementam ou se devem conjugar e, sobretudo, precisamos de uma economia saudável. Ora, parece que é aqui que as coisas se complicam, no caso português, mais dependente das ajudas do estrangeiro e pouco com produção autónoma, seja na forma como no conteúdo, isto é, depois de nos terem ‘pago’ para não produzir, habituamo-nos a ter de tudo nos supermercados – como se fossemos ricos – deixando os nossos meios e bens de produção ao desmazelo ou à improdutividade… Decorridas três décadas de acomodação àquilo que a Europa – dita trabalhadora, produtiva e concorrencial – nos quis impingir, julgávamos que o ‘sol da nossa simpatia’ bastaria para gozarmos com os recursos dos visitantes… Fechada a torneira do afluxo turístico, entramos num descalabro ainda imprevisível… sem sabermos trabalhar a terra, incapazes de ter algo de próprio e à mercê do que nos quiserem dar em esmola!

 – Bastou um pequeno sopro de sobrecarga sobre o nosso sistema de saúde e logo entrou em rutura ou em pré-colapso. Os milhões despejados nos hospitais e outros adereços complementares ou subsequentes estatais não têm surtido o efeito – de propaganda e de ideologização – pretendido pelos seus exclusivos cultivadores. Muitos dos seus defensores, quando atrapalhados na saúde, não os vemos nas filas de espera das urgências nem nas listas intermináveis para ocorrências previstas. Soa-me a hipocrisia pura tanta exaltação do ‘sistema (ou será serviço?) nacional de saúde’…

Não está, minimamente, em causa a dedicação quase-sobre-humana dos profissionais de saúde, que, nesta fase de pandemia, deram o que tinham e algo bem mais profundo do que seriam capazes. Contesto, sim, a propaganda de certas forças estatizantes, que querem impor a tudo e a todos algo nefasto e contraproducente: só o que tem o rótulo de estatal é que é bom e/ou merece confiança.

Segundo dados mais ou menos fiáveis – foram recolhidos em consulta em organismos oficiais – há, em Portugal, duzentos e vinte e cinco hospitais, sendo destes cento e catorze privados. Perante tais verificações torna-se essencial questionar a ‘perseguição’ que certas forças marxistas-trotskistas têm em curso, a quem não se reduz a ser o que eles/elas desejam que todos sejam, pois não os conseguirão manipular como anseiam… ferozmente.

Em vez de ser criado um ‘sistema’ de conjugação entre os vários intervenientes, prefere-se um ‘serviço’ de exclusão pretensamente barato ou gratuito, simplista e até mal pago. Esse costuma ser o método usado pelos totalitários onde só eles têm razão e fora deles não se vislumbra solução. Ainda não aprenderam a respeitar a iniciativa privada e a capacidade de escolha dos cidadãos e a não sermos obrigados a viver no militarismo (ou será militantismo?) de pensamento-único.  

 – Na economia, que etimologicamente significa ‘governo da casa’, continuamos a ser intoxicados pela obsessão do estatal – o pretenso ‘plano de recuperação e resiliência’, cujas iniciais também podem ter a conotação de ‘para roubar e raspar-se’ – deixa quase exclusivamente de fora a iniciativa privada, conjugando e atribuindo mais força ao que consegue fazer das coisas públicas a preferência questionável. Pelo que se sabe de outros festivais e cantilenas, teme-se que, mais uma vez, os milhões vindos de Bruxelas desaguem nos mesmos lugares e beneficiem os portadores do cartão partidário e sob a simpatia de quem distribui… Pela recetividade de setores antagónicos – por exemplo sindicais e patronato – percebe-se que o dito ‘plano’ não agrada. Começa também a ficar a sensação de que, enquanto país membro da União Europeia, começamos a ficar viciados em fundos europeus, que se revezam uns atrás dos outros até ao esgotamento da subsidiodependência coletiva. Surge uma caterva de excluídos – como as autarquias e setores intermédios do Estado – que cobrarão, muito em breve, o silenciamento e o ficarem sem dinheiro. Haja saúde e trabalho!

 

António Sílvio Couto

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