Nos tempos que agora decorrerem vemos com razoável ritmo e quase ‘inexplicável’ desproporção surgirem questões (ou questiúnculas) de minorias a sobreporem-se à apresentação, na discussão, e, numa pretensa, conjugação de esforços, à normalização por parte do resto, isto é, da ainda maioria. Temas (ditos) fraturantes emergem para a comunicação social e a vida política como se fossem os mais importantes do momento. Querelas de grupo tornam-se assuntos de interesse duvidoso. Problemas de uns tantos à margem assumem temática inenarrável…para todos.
À mistura com estes indícios
vemos que a (possível) maioria não-interessada tem de aturar dias, semanas e
meses com discussões que entretêm um certo público mais ou menos manipulado por
quem manobra os assuntos e o seu agendamento.
Aquilo que ontem – num tempo
assaz alargado – era tema de alcova, agora está escarrapacho nas (ditas)
redes-sociais, como se fosse questão de todos, quando não passa de meta ainda minoritária.
Aquilo que estava no armário – a expressão tornou-se corrente, embora conotada
com alguns setores e vetores – saiu de forma barulhenta, numa pretensão de,
fazendo alarido, não se notar tanto a exceção. Neste país, desgraçadamente,
parece que, quem não for homifílico, logo é rotulado de homofóbico; quem não se
assumir protetor de certas etnias torna-se inapelavelmente xenófobo; quem não
se disser liberal ou tolerante com a vulgarização da morte (assistida,
provocada ou abortada) vira populista e de ultradireita; quem não usar o
discurso do racismo de branco contra negros, corre o risco de sofre na pele a
rejeição ideológica de ser racista, mesmo que fazendo o bem e tolerando
exigências preconceituosas… Como se algumas problemáticas mais delicadas e
sensíveis possam estar submetidas à rotulagem de quem não pensa, não defende ou
não age como tais minorias.
Com razoável habilidade se usa
o designado ‘conceito marxista de história’, isto é, tenta-se ler hoje, de
forma materialista, as questões do passado com os conceitos atuais e não
enquadrando as questões no seu tempo e, mesmo com um olhar crítico atual,
sabendo distinguir entre as causas e as consequências ou fazendo luz sobre os
problemas sem os desenquadrar do tempo acontecido. Muitos dos argumentadores de
serviço – nas associações ou nas televisões, nas discussões ou no plano da
educação – abusam deste conceito dialético-marxista de história e, com alguma
gritaria à mistura, ousam considerar linearmente ignorantes quem não concordar
com a sua visão…ideológica, retrógrada e não-histórica. De perseguidos viraram
perseguidores!
Como é atroz, por outro lado, o
silêncio cúmplice de que pensa de forma diferente das minorias por agora mais
visíveis, reivindicativas e barulhentas. Mesmo que discordando deveríamos
pronunciar-nos, pois estar calado é a melhor arma para que minorias se sobreponham
e nos imponham valores que não são os de quem defende, antes de tudo, a pessoa
humana na integridade da sua vida e segundo conceitos de índole espiritual
judeo-cristã.
Não é por acaso que nos
conceitos, na doutrina e na práxis da Igreja católica se acentuam termos como
diversidade de línguas, nações, povos e culturas…numa defesa, aceitação e
promoção de todos…sem esquecer a pessoa na sua personalidade, consciência e
autodeterminação. «Algumas regras aplicam-se a todos os casos:
nunca é permitido fazer mal para que daí resulte um bem; a «regra de ouro» é:
«Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho, de igual modo, vós
também» (Mt 7, 12)
(56); a caridade passa sempre
pelo respeito do próximo e da sua consciência: «Ao pecardes assim contra os
irmãos, ao ferir-lhes a consciência é contra Cristo que pecais» (1 Cor 8, 12). «O que é bom é
não […] [fazer] nada em que o teu irmão possa tropeçar, cair ou fraquejar» (Rm 14, 21)» – Catecismo da
Igrja Católica, n.º 1789.
António Sílvio Couto
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