Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Questões de minoria impostas ao resto?


 Nos tempos que agora decorrerem vemos com razoável ritmo e quase ‘inexplicável’ desproporção surgirem questões (ou questiúnculas) de minorias a sobreporem-se à apresentação, na discussão, e, numa pretensa, conjugação de esforços, à normalização por parte do resto, isto é, da ainda maioria. Temas (ditos) fraturantes emergem para a comunicação social e a vida política como se fossem os mais importantes do momento. Querelas de grupo tornam-se assuntos de interesse duvidoso. Problemas de uns tantos à margem assumem temática inenarrável…para todos.

À mistura com estes indícios vemos que a (possível) maioria não-interessada tem de aturar dias, semanas e meses com discussões que entretêm um certo público mais ou menos manipulado por quem manobra os assuntos e o seu agendamento.

Aquilo que ontem – num tempo assaz alargado – era tema de alcova, agora está escarrapacho nas (ditas) redes-sociais, como se fosse questão de todos, quando não passa de meta ainda minoritária. Aquilo que estava no armário – a expressão tornou-se corrente, embora conotada com alguns setores e vetores – saiu de forma barulhenta, numa pretensão de, fazendo alarido, não se notar tanto a exceção. Neste país, desgraçadamente, parece que, quem não for homifílico, logo é rotulado de homofóbico; quem não se assumir protetor de certas etnias torna-se inapelavelmente xenófobo; quem não se disser liberal ou tolerante com a vulgarização da morte (assistida, provocada ou abortada) vira populista e de ultradireita; quem não usar o discurso do racismo de branco contra negros, corre o risco de sofre na pele a rejeição ideológica de ser racista, mesmo que fazendo o bem e tolerando exigências preconceituosas… Como se algumas problemáticas mais delicadas e sensíveis possam estar submetidas à rotulagem de quem não pensa, não defende ou não age como tais minorias.

 = Tenho a sensação de que o respeito que algumas minorias exigem aos outros não é cultivado por tais sensibilidades. O combate pela aceitação da diferença dá a impressão que é, essencialmente, unívoco. O desejado diálogo, que tais minorias apregoam, só funciona se as ouvirmos e não tem idêntico valor quando devem escutar.

Com razoável habilidade se usa o designado ‘conceito marxista de história’, isto é, tenta-se ler hoje, de forma materialista, as questões do passado com os conceitos atuais e não enquadrando as questões no seu tempo e, mesmo com um olhar crítico atual, sabendo distinguir entre as causas e as consequências ou fazendo luz sobre os problemas sem os desenquadrar do tempo acontecido. Muitos dos argumentadores de serviço – nas associações ou nas televisões, nas discussões ou no plano da educação – abusam deste conceito dialético-marxista de história e, com alguma gritaria à mistura, ousam considerar linearmente ignorantes quem não concordar com a sua visão…ideológica, retrógrada e não-histórica. De perseguidos viraram perseguidores!

 = Não é por acaso que muitos/as dos intervenientes nestes grupos minoritários não escondem – e quando o tentam fazer logo se descobre – as suas raízes, tanto marxistas como trotskistas e mesmo maoístas, sempre dentro de uma lógica de tentar fazer crer que trazem a ‘salvação’, desde que seja segundo os seus modelos, os seus critérios e os seus métodos. Repare-se com que velocidade se incendiam turbulências a quilómetros de distância e segundo idênticas formas de atuação.

Como é atroz, por outro lado, o silêncio cúmplice de que pensa de forma diferente das minorias por agora mais visíveis, reivindicativas e barulhentas. Mesmo que discordando deveríamos pronunciar-nos, pois estar calado é a melhor arma para que minorias se sobreponham e nos imponham valores que não são os de quem defende, antes de tudo, a pessoa humana na integridade da sua vida e segundo conceitos de índole espiritual judeo-cristã.

Não é por acaso que nos conceitos, na doutrina e na práxis da Igreja católica se acentuam termos como diversidade de línguas, nações, povos e culturas…numa defesa, aceitação e promoção de todos…sem esquecer a pessoa na sua personalidade, consciência e autodeterminação. «Algumas regras aplicam-se a todos os casos: nunca é permitido fazer mal para que daí resulte um bem; a «regra de ouro» é: «Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho, de igual modo, vós também» (Mt 7, 12) (56); a caridade passa sempre pelo respeito do próximo e da sua consciência: «Ao pecardes assim contra os irmãos, ao ferir-lhes a consciência é contra Cristo que pecais» (1 Cor 8, 12). «O que é bom é não […] [fazer] nada em que o teu irmão possa tropeçar, cair ou fraquejar» (Rm 14, 21)» – Catecismo da Igrja Católica, n.º 1789.    

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário