Dá a impressão que nunca como agora algo aconteceu com dimensão tão global e em simultâneo em toda a face da Terra. A pandemia do ‘coronavírus’ tornou-se um fenómeno que atingiu dimensões, para além de catastróficas a vários níveis, também algo transversal às culturas, aos povos, às línguas, aos sistemas políticos e ideológicos, nas diversas expressões religiosas… é um facto transnacional de largo, profundo e alto alcance.
Para
além do manto do medo que se estendeu sobre tudo e todos, haverá algo que nos
condiciona e que ainda não fomos capazes de descobrir. Estamos hoje mais
desconfiados e medrosos do que ontem. O futuro pessoal, familiar, social,
coletivo (de nações e regimes) está em suspenso. O ‘mito de Sísifo’ parece
caraterizar o nosso comportamento, desde as coisas mais básicas até às mais
complexas: chegados ao topo do monte, carregando o saco de pedras, rebolamos
para o sopé e reiniciando a caminhada, mais em forma de castigo do que com
perspetivas de saída…
– Nota-se
uma quase-banalização da morte, tal a quantidade diária e absorvente de
falecimentos. A curvatura pesada do efeito desta pandemia não nos deixa
levantar os olhos para o Alto e como que ficamos esmagados pelo nosso destino.
Há algo novo: Deus não conta ou parece ter-se ofuscado em todo este processo e
nem os cultivadores da dimensão espiritual e religiosa da pessoa humana têm
dado conta daquilo que se está a passar. Os responsáveis religiosos – de forma
indistinta e um tanto acrítica – tornaram-se obedientes e submissos às forças
sanitárias e estatais. Dá a impressão que perpassou por este núcleo de
pensadores da fé uma nuvem de esquecimento e/ou de obscurantismo não assumido.
–
Sente-se uma sensação de que ‘alguém’ – sem rosto nem nome, sem identidade nem
configuração – manobra tudo isto. Atendendo à dimensão holística de todo este
processo se pode conjeturar que ‘alguém’ gerou e está a gerir tudo isto com
subtileza. Recorramos a conceitos e tentemos explicar incidências.
Antes de
mais o que é a ‘new age’ (nova era) e como poderemos enquadrar isto que estamos
a viver neste tempo de pandemia? A ‘nova era’ situa-se no enquadramento de um
movimento assaz abrangente, que não poderá ser reduzido a uma expressão
exotérico-religiosa, mas envolvendo também correntes filosóficas e ecologistas,
económicas e desportivas, sem esquecer a dimensão político-social, em ordem a
uma nova visão de sociedade e mesmo de cultura.
Partindo
da divisão das grandes etapas da Humanidade, servindo-se dos signos do zodíaco
– referem-se as ‘eras’ na divisão de dois mil anos e acentuam-se as três
últimas como: a ‘era de touro’ (4001
a 2000 a.C.) – na cultura egípcia; a ‘era
de carneiro’ (2001 a. C. a 0) – na religião judaica; a ‘era de peixes’ (ano 0 a 2012) – no tempo do cristianismo; a ‘era de aquário’ (desde 2012 e por mais
dois mil anos) – como essa ‘nova era’, onde confluem múltiplos aspetos de índole pessoal – veja-se o tema da
‘autoestima’ – com referências à relação
planetária e às incidências na natureza – as questões ecológicas – com
outros aspetos de âmbito social – as
questões fraturantes de exaltação da liberdade pessoal autónoma…
– Como
podemos, então, enquadrar os tempos que estamos a viver neste conceito de ‘nova
era’? Há sinais, nesta pandemia, de que a ‘nova era’ estende aqui os seus
tentáculos? Até onde irá a capacidade dos cristãos – os principais visados na
cultura da ‘nova era’ – aos desafios pandémicos?
Desde
logo o acentuar a dimensão individualista
da pessoa – cada um pode salvar-se a si mesmo, desde que se autoconvença e
use certos meios de introspeção, de meditação, rejeitando quem lhe dê
orientações – à exceção de algum guru ou guia – pois possui em si mesmo
capacidade de autorregeneração. A supressão de ações litúrgicas comunitárias –
específicas do cristianismo – não soa a rejeição e a manipulação? A exaltação
da moral ‘à la carte’ – veja-se a
panóplia de movimentos amorais e sincréticos em difusão – cresce e pulula numa
repulsa às orientações cristãs. O aparecimento do ‘arco-íris’ no contexto de
pandemia talvez não se possa considerar de todo inocente, pois é usado como
símbolo de alguns movimentos de contestação sexual.
Outro
aspeto não menos relevante é uma espécie de anonimato
de quem conduz. Não se sabe quem é o guia essencial da ‘nova era’. Nesta
pandemia quem pode arrogar-se de protagonista? Qual a sede ou os mentores,
tanto da doença, quanto da (pretensa) cura? O surgimento das vacinas – tão
rápido, barato e universal – não terá por detrás alguma ‘ordem mundial’ comandatária
disto tudo?
António Sílvio Couto
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