Braima Dabó,
da Guiné-Bissau, ajudou um atleta de Aruba (Jonathan Busby), a terminar a prova
de cinco mil metros, nos recentes campeonatos mundiais de atletismo, que
decorreram no Qatar. Isto aconteceu no dia 27 de setembro. A cerca de duzentos
e cinquenta metros da meta o atleta das caraíbas entrou em colapso e o
guineense amparou-o até à chegada, esquecendo a sua prova, mas não o deixando
nem cair e tão pouco não ter conseguido terminar.
Um
falava só inglês e o outro só português, mas entenderam-se na linguagem da
solidariedade mais simples e básica. A chegada à meta, quase cinco minutos
depois de terminar a prova o vencedor, foi aplaudida por todo o estádio e
correu mundo como um forte sinal mais do que de desportivismo, de humanismo e
de solidariedade entre pessoas e povos.
Efetivamente
o desporto pode e deve ser ponte no relacionamento entre povos e nações, entre
culturas e expressões religiosas. Esse âmago central do desporto manifestou-se
quando estes dois atletas cruzaram a meta e caíram os mitos da vitória, onde
dos derrotados não se fala normalmente. Pelo contrário, aqui foram os últimos
que brilharam perante o estádio em aplauso e nas televisões por todo o mundo.
= Quem
é, então, Braima Dabó?
Respigamos
dos jornais do dia seguinte ao acontecimento esta singular descrição:
Braima
Dabó, de 26 anos, vive em Portugal desde 2011, ao abrigo de um projecto criado pela
organização não-governamental ‘Na Rota dos Povos’, que apoia o desenvolvimento
dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) fora dos grandes
centros populacionais, em zonas carenciadas ao nível da educação e formação
cultural. “Agora vou voltar a Portugal para terminar a minha licenciatura em
Gestão no Instituto Politécnico de Bragança e depois quero regressar ao meu
país, que não visito há oito anos. Estou cá sem os meus familiares, mas as
pessoas que me rodeiam dão carinho e conforto para poder sentir-me em casa”,
referiu o atleta...
Eis
como um jovem quase ignorado dos holofotes da comunicação, mas esforçado e com
valores sublimes de humanidade, foi exaltado e na sua proeza se regozijam os
seus amigos, patrocinadores humanos e de coração.
É
verdade que pode haver por aí muitos ‘braimas’ que precisam de ser apoiados,
não só pelas forças que exploram as pessoas, mas por quem tenta impulsionar
valores nem sempre dignificados, quando precisam desse empurrão mais necessário
e sensível.
Perante
certos ‘jovens’ que desaproveitam as oportunidades que lhes são facultadas,
teremos de questionar se não andaremos a ‘dar pérolas a porcos’ – segundo a
expressão bíblica, dura e contundente – podendo estes voltarem-se contra quem
os ajuda. Quantos como que vegetam nas sarjetas da vida, desperdiçando tantos
dos apoios, ajudas e propostas. Muitos dos que vivem no ‘nem-nem’ (nem estudam
nem trabalham) precisam de ser educados para a responsabilidade e a valorização
de alguns dos benefícios que não merecem nem cuidam em retribuir a quem os
ajuda e protege.
Diante
do exemplo de Braima Dabó como é vergonhoso ver tantos jovens sem coluna, no
rastejar do dia-a-dia e gastando o seu tempo com inutilidades amorais. Queira
Deus que o testemunho deste jovem atleta inquiete tantos que pouco mais sabem
da vida do que satisfazerem os seus caprichos e parasitando à custa dos pais e
mesmo do Estado.
Se
houvesse um Braima Dabó em cada localidade portuguesa, seríamos mais sérios e
comprometidos uns para com os outros…Assim o saibamos imitar, humilde,
verdadeira e sinceramente!
Obrigado
Braima Dabó pelo testemunho de vida que nos deixaste em Doha e para o resto do
mundo!
António Sílvio Couto
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