Dezanove ministros e cinquenta secretários de
estado, fazem do XXII governo constitucional o mais extenso de todos na era
(dita) democrática.
Várias pessoas já se interrogam sobre esta inflação
de gente levada para o governo, cerca de sete dezenas. Será isto forma de dar
emprego a certos boys e a umas tantas girls do partido, conjugando distritais,
concelhias e locais? Não se estará a esbanjar tão rapidamente o que foi
amealhado com esforço e sacrifício? Dizem uns tantos mais exagerados, que se
dividiu em excesso e que se virá a decidir no mínimo…tais serão as
sobreposições de tarefas e até de competências.
Tal como se pode constatar o governo português é, na
UE, dos que mais elementos coloca na área da governação, talvez fazendo jus a
essa tendência quasi-terceiro-mundista de querermos aparecer alguns (bastantes,
diversos e aos molhos) para pensarem que somos muitos…e talvez bons! De facto,
a eficiência não se mede pela quantidade, mas, de verdade, pela qualidade. Ora,
esta não parece abundar no elenco do vigésimo segundo governo. Com efeito,
nota-se a repetência, que não rima como eficiência, provinda do elenco
anterior, de 14 ministros e de 23 secretários de estado, trocados, mesmo assim
alguns, de pastas…num total global de 19 ministros (11 homens e oito mulheres)
e de 50 secretários de estado (33 homens e 18 mulheres), em percentagem global
de 37,1% de mulheres e de 62,9% de homens.
A fazer fé – coisa que não se percebe na panóplia
dos intervenientes – nas boas intenções do ‘chefe’, este elenco governativo
pretende combater a desertificação do interior, tentar maior descentralização e
a gestão dos recursos humanos do aparelho de estado… Todos começam assim, mas
bem depressa caem nas tentações do ‘terreiro do paço’ e comportam-se como anjos
caídos à semelhança do morgado de Fafe em Lisboa e tantos outros
bem-intencionados… Leiam-se textos da literatura do final do século XIX e
veremos os mesmos erros, tiques e promessas…Hoje como ontem!
= Há dias recebi um email, com indicação de
‘formação para…’, mas não vinha nada nos anexos, ao que respondi, em jeito de
sarcasmo: página em branco – sinal ou profecia?
Mutatis mutandis, direi com tanta gente num só
governo, vai funcionar ou vão-se atrapalhar? Darão conta do recado ou
esbanjarão sem nexo? Teremos um tempo de governo ou de governança?
Uma nota algo preocupante em vários setores da nossa
vida pública é vermos que a incompetência compensa e quem antes fez mal pode
chegar a lugares de topo e/ou de governo. Esta sensação perpassa muitos dos
campos da intervenção na nossa sociedade e este elenco governativo não está
isento desta pecha. Quando foi preciso reduzir a pó os estabelecimentos de
ensino não-estatal, lá esteve alguém que agora vai assumir a tarefa da modernização
e de administração pública… talvez reduzindo a iniciativa privada a um montão
de escombros para reciclar… Por entre tanta incompetência em gerir os fogos
mortais dos anos recentes, vemos que o posto de comando foi colocado na mesma
mão… Observadas divergências para com a televisão estatal, vemos tutelar quem
antes se incompatibilizou, sabe-se lá se de forma real ou fictícia…
= Por entre o nevoeiro do futuro não se vislumbram
mais do que sombras nem sempre de bom agoiro, pois a tendência de boa economia
e que gerou ‘contas certas’ talvez não se possa prolongar por muito mais tempo.
A versão favorável vinda do exterior não parece querer dar continuidade a quem
vai geri-la…até porque caiu uns pontos na hierarquia do comando…político. Será
isto prenúncio de menos boa prestação ou poderá servir de desculpa, quando se
verificarem as primeiras infiltrações?
Setores tão importantes como a saúde, a educação, a
segurança (social e pública) continuam com os mesmos titulares, não havendo
adiamento para decidir o que urge e não continuar a desgovernar o que resta.
Setores primários como a agricultura e os recursos marinhos estão na cauda do
elenco, dando como que a entender que nos bastará receber o que venha de fora,
pois produzir não compensa… Isso de dar boa impressão de que se vai atender ao
interior desertificado e sem meios de sobrevivência bem depressa se tornará uma
fraude intelectual e moral… Não basta trocar de boys ou de girls, se o
pensamento está inquinado, mesmo na vertente do ambiente. Parece uma coisa
grande, mas veremos se será (e fará) uma grande coisa!
António Sílvio Couto
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