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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Entre o ‘anti’ e o ‘pró’… (h)aja bom-senso


Os prefixos ‘anti’ e ‘pró’, por vezes, surgem como contraditórios…embora possam ser interpretados como complementares, pois, quem se diz ‘anti’ parece querer pronunciar-se ‘pró’ e vice-versa. Também na grafia deste título queremos exprimir duas conceções: ‘haja bom-senso’, isto é, que exista esse tal senso comum em qualidade suficiente e capaz e que ‘aja bom-senso’ significa que se atue com ponderação e sem extremismos, que o ‘anti’ ou o ‘pró’ podem conter…por antagonismo.
Nos mais diversos campos de atividade vemos que aparecem figuras que são ‘anti’ qualquer coisa pela quase necessidade de que isso possa fazer ser/estar ‘pró’ ou a favor de outro algo, possivelmente nas antípodas do que se combate.
Vejamos breves exemplos de possibilidade:
- Se tivermos em conta o campo político/ideológico conseguimos encontrar muitos exemplos de ordem provocatória: do antifascista ao pró-comunista/marxista; do anti populismo na referência de direita ao pró-populismo na consonância do extremo à esquerda; quem se tente afirmar anti tudo e pró pouco… 
- Outro setor/vetor deste confronto ‘anti’ – ‘pró’ situa-se nas questões da vida e nalguns aspetos de índole moral, pois ser pró-aborto exclui ser pró-vida e, quando se coloca a questão da eutanásia parece que ser pró-eutanásia é mesmo escolher estar anti-vida… Há, por vezes, antagonismos que se criam, difundem e defendem que têm muita de carga em ignorância e onde estar ‘anti’ ou ‘pró’ significa muito mais do que aceitar ou rejeitar uma posição diferente da minha. 
- Nos tempos mais recentes é, no campo do ambientalismo, que temos visto, limos e ouvido posições mais acirradas nesta dialética ‘anti’ – ‘pró’, tornando-se certas visões, suficientemente, fundamentalistas e quase irracionais. Há situações em que uma posição é benéfica ou não, atendendo a quem diz – de direita ou de esquerda, progressista ou conservadora, interessante ou desprezível – e não tendo em conta o que é dito e com que fundamentação. Mesmo no quadro dos partidos com assento parlamentar na AR reaberta podemos ver diversos interessantes, que se têm vindo a acusar de mais ecologistas, ambientalistas ou mesmo defensores da natureza, tenha esta o significado que cada um lhe quiser dar. Deste modo podemos ver uns que são ‘pró’, mas que os outros consideram ‘anti’ e que, do outro lado da barricada, podem ser ‘anti’, mas vestem a capa do ‘pró’! 
- Até no campo das igrejas – incluindo a católica, em particular – há quem se posicione no ‘anti’, mas o que faz é para iludir os outros, pois, está a favor (‘pró’), mesmo que o faça de forma capciosa. Quantos deambulam pelos corredores do poder, sem autoridade, mas que exigem aos outros aquilo que não cumprem, minimamente. Em certos casos é maior a vergonha em não denunciar do que a desvergonha em incumprir. Certos corifeus da moralidade escondem-se sob a capa que lhes convém, até que se descubra que há incongruência entre o dizer e o fazer. A melhor forma de se ser verdadeiro é poder parecer que se é ‘anti’, mas na prática se está ‘pró’… ou vice-versa, desde que aja em consequência daquilo que se faz com o que se haja…E, se de repente, alguém quisesse mudar, isso não incomodava ninguém! 
- Mais do que mediania, que nada muda nem muito menos incomoda, através do bom-senso poderemos corrigir erros de extremismo e, sobretudo, dando a quem o tenha uma capacidade de ser e de estar tentando descobrir em cada pessoa o que há de positivo e não estando na retranca da sua maledicência ou má intenção. Embora não esteja à venda nem em saldo, o bom-senso é sempre útil e benfazejo…para estar ‘anti’ ou ‘pró’!

António Sílvio Couto

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