Ao
confirmarem-se os agoiros das sondagens, António Costa ganhou as eleições de 6
de outubro de 2019.
Não,
não lhe darei nunca os parabéns pelas razões que passarei a expor num misto de
vergonha e de insatisfação, de revolta e de inconformismo, de repulsa e de
indignação – esse termo de que tanto gostam certas ideologias, desde que sejam
da sua parte, para seu conforto e inclinação.
Conseguiu
enganar uma boa parte do eleitorado. Foi alavancado com todas forças e jeitos
por uma razoável fação da comunicação social narcotizada, submissa e quase
vendida. Agora terá ganho!
Ter
como principal epíteto o de ‘habilidoso’ não é bom prenúncio – pessoal e até
nacionalmente – nem augura grandes sucessos para com os governados, se bem que
possa ter satisfeito alguns dos protegidos… antes, durante e depois do ato
eleitoral.
Isto de
‘se fazer de morto’ para não ter de se pronunciar sobre quase nada vai mesmo
acabar, pois agora poderão vir a esvaziar-se os proventos mal-amanhados nos
últimos quatro anos, mesmo que à custa de enganos e de subtilezas mais ou menos
bem tecidas, armadas e propagandeadas.
Ganhou?
E não lhe pesam, na consciência, os mais de cem mortos nos fogos florestais?
Ganhou? E já se esqueceu das regalias não-dadas aos privados que geram riqueza,
poder económico e pagam impostos? Ganhou? E já se apercebeu das mentiras subtis
com que se entreteve no caso das ‘armas de Tancos’, da manipulação da greve dos
motoristas ou das manigâncias para com os professores, enfermeiros e médicos?
= Creio
que em mais nenhum país do espaço europeu – dentro ou fora do enquadramento da
UE – se dá um fenómeno como neste retângulo continental com os acrescentos
insulares: sobe a capacidade/poder económico, mas continuam os ferretes (ou
mesmo fretes) marxistas/leninistas/trotskistas a sobrelevar as opções mais
rotundas…isto é, os valores do capitalismo alimentam as bocas dos (ditos)
trabalhadores, mas as inclinações anticapitalistas ainda vingam sobre os saldos
bancários, salários e benefícios…adquiridos.
Até
onde poderão ir a reversões encetadas como aliciante para obnubilar tantas
mentes e comportamentos? Até onde venderão os seus ‘valores’ sociais em
proveito do protagonismo nas franjas do poder…real ou virtual? Até onde poderá
ser esticada a corda do populismo – não assumido, mas bastante bem praticado –
que tudo promete e pouco dá ou que mais acena e nada mostra?
=
Nalgumas circunstâncias sinto que há um grande desfasamento entre aquilo que se
diz – na ideologia e no discurso – e o que vemos praticado: defensores dos mais
desfavorecidos pavoneiam-se em grandes carrões – muitos deles fabricados pelos
capitalistas a quem combatem – que os ostentam sem vergonha nem pejo…qual
nomenclatura do regime dos sovietes e quejandos! A frota de muitas autarquias é
superior à das melhores empresas capitalistas; os quadros médios e superiores
de certas funções ditas de serviço público parecem que não são constituídos da
mesma massa – pobretana, ignorante e pretensiosa – daqueles que deveriam servir
com humildade, singeleza e galhardia…A desfaçatez de quererem mais regalias,
quando os outros ainda almejam o suficiente, é algo de muito comum no reino do
faz-de-conta de quem tem vingado na governança…
= Os
meus pêsames não têm outra pretensão que não seja dizer: não merece ganhar quem
é falso e cultiva a falsidade como critério de conduta para si e para com os
outros. Não basta deixar correr a onda, quando esta é favorável, sem tomar
posição sobre nada e sobrevoando o ninho de cucos…até à próxima paragem, onde
já está a banda a tocar pelo engrandecimento do chefe, à boa maneira do ‘estado
novo’…agora que os tiques emergem cada vez com mais sobranceria.
Bem
depressa se descobrirá que ‘as contas certas’ não são resultado da competência
dos fautores, mas são antes fruto da contingência internacional e que os
efeitos do tempo resumem outras causas do que as aduzidas como desculpa. Isto
é: as contas acertadas resultam da contingência externa e que as alterações
climáticas assumem-se como consequência da incúria de quem nos tem governado!
Já
dardejam os estandartes da mediocridade… até à próxima eleição ou crise!
António Sílvio Couto
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