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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Ganhou! Os meus pêsames…


Ao confirmarem-se os agoiros das sondagens, António Costa ganhou as eleições de 6 de outubro de 2019.
Não, não lhe darei nunca os parabéns pelas razões que passarei a expor num misto de vergonha e de insatisfação, de revolta e de inconformismo, de repulsa e de indignação – esse termo de que tanto gostam certas ideologias, desde que sejam da sua parte, para seu conforto e inclinação.
Conseguiu enganar uma boa parte do eleitorado. Foi alavancado com todas forças e jeitos por uma razoável fação da comunicação social narcotizada, submissa e quase vendida. Agora terá ganho!
Ter como principal epíteto o de ‘habilidoso’ não é bom prenúncio – pessoal e até nacionalmente – nem augura grandes sucessos para com os governados, se bem que possa ter satisfeito alguns dos protegidos… antes, durante e depois do ato eleitoral.
Isto de ‘se fazer de morto’ para não ter de se pronunciar sobre quase nada vai mesmo acabar, pois agora poderão vir a esvaziar-se os proventos mal-amanhados nos últimos quatro anos, mesmo que à custa de enganos e de subtilezas mais ou menos bem tecidas, armadas e propagandeadas.
Ganhou? E não lhe pesam, na consciência, os mais de cem mortos nos fogos florestais? Ganhou? E já se esqueceu das regalias não-dadas aos privados que geram riqueza, poder económico e pagam impostos? Ganhou? E já se apercebeu das mentiras subtis com que se entreteve no caso das ‘armas de Tancos’, da manipulação da greve dos motoristas ou das manigâncias para com os professores, enfermeiros e médicos?  
= Creio que em mais nenhum país do espaço europeu – dentro ou fora do enquadramento da UE – se dá um fenómeno como neste retângulo continental com os acrescentos insulares: sobe a capacidade/poder económico, mas continuam os ferretes (ou mesmo fretes) marxistas/leninistas/trotskistas a sobrelevar as opções mais rotundas…isto é, os valores do capitalismo alimentam as bocas dos (ditos) trabalhadores, mas as inclinações anticapitalistas ainda vingam sobre os saldos bancários, salários e benefícios…adquiridos.
Até onde poderão ir a reversões encetadas como aliciante para obnubilar tantas mentes e comportamentos? Até onde venderão os seus ‘valores’ sociais em proveito do protagonismo nas franjas do poder…real ou virtual? Até onde poderá ser esticada a corda do populismo – não assumido, mas bastante bem praticado – que tudo promete e pouco dá ou que mais acena e nada mostra? 
= Nalgumas circunstâncias sinto que há um grande desfasamento entre aquilo que se diz – na ideologia e no discurso – e o que vemos praticado: defensores dos mais desfavorecidos pavoneiam-se em grandes carrões – muitos deles fabricados pelos capitalistas a quem combatem – que os ostentam sem vergonha nem pejo…qual nomenclatura do regime dos sovietes e quejandos! A frota de muitas autarquias é superior à das melhores empresas capitalistas; os quadros médios e superiores de certas funções ditas de serviço público parecem que não são constituídos da mesma massa – pobretana, ignorante e pretensiosa – daqueles que deveriam servir com humildade, singeleza e galhardia…A desfaçatez de quererem mais regalias, quando os outros ainda almejam o suficiente, é algo de muito comum no reino do faz-de-conta de quem tem vingado na governança… 
= Os meus pêsames não têm outra pretensão que não seja dizer: não merece ganhar quem é falso e cultiva a falsidade como critério de conduta para si e para com os outros. Não basta deixar correr a onda, quando esta é favorável, sem tomar posição sobre nada e sobrevoando o ninho de cucos…até à próxima paragem, onde já está a banda a tocar pelo engrandecimento do chefe, à boa maneira do ‘estado novo’…agora que os tiques emergem cada vez com mais sobranceria.
Bem depressa se descobrirá que ‘as contas certas’ não são resultado da competência dos fautores, mas são antes fruto da contingência internacional e que os efeitos do tempo resumem outras causas do que as aduzidas como desculpa. Isto é: as contas acertadas resultam da contingência externa e que as alterações climáticas assumem-se como consequência da incúria de quem nos tem governado!
Já dardejam os estandartes da mediocridade… até à próxima eleição ou crise!

António Sílvio Couto

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