Um
tanto pateticamente vimos, no dia de início da nova AR, um pretenso homem
vestido, nos passos perdidos, de saia. Tudo parecia ainda mais inopinado se, ao
lermos as ‘razões’, tal atitude possa roçar o exotérico, pois só ele e uns
tantos mais (da sua linha ideológica-panfletária) perceberem a lição que
pretendiam dar ao resto da população.
Aquela
manobra de folclórica não terá sido uma forma de distração para os mais
incautos da gaguez da deputada ao lado dele, no espaço parlamentar, que o tal
assessor – soube-se depois que era essa a função em exercício – queria
suportar? Será algo de paradigmático que, noutros assuntos, iremos ver manobras
dessa distração para que os objetivos sejam atingidos com ironia suficiente e
superficialidade quanto baste? Se a moda pega – não a da saia, mas a dos
fait-divers – a dita ‘casa da democracia’ tornar-se-á ainda mais casa do jocoso
e antecâmara do circo social e não-artístico?
= Por
muito (ou pouco) que o episódio possa revelar da liberdade de expressão, ele
deverá ser mais do que motivo de distração, pois, como se viu posteriormente, o
tal ‘homem-da-saia’ é mais do que um homem vestido com saia, mesmo que a moda
em uso seja suscetível de críticas…mesmo do estilo e de gosto. Veja-se que logo
vieram vozes – entre as quais a do próprio – a defender a alta cotação
intelectual do dito. Mas não será que o ridículo e a falta de senso não andam
muitas vezes associados à liberdade de fazer o que se quer, mesmo quando com
isso se pretende que esteja longe da normalidade da regra? Certas (ditas)
passagens de modelos, em acontecimentos que preenchem páginas e resmas de
revistas cor-de-rosa, não andam na franja do bom senso e, quantas vezes, do sem-senso?
Como se poderá compreender que haja na comunicação social um departamento de
‘crítica social’, que mais não faz do que colocar à mostra aquilo que a moda, a
roupa ou a falta dela, quiseram despertar com outros seguidores, adeptos e
sequazes?
=
Aquela imagem do ‘homem-da-saia’ nos passos perdidos da AR, trouxe à liça
querer compreender um tanto melhor não o uso da saia, mas o seu recurso pelo
sexo masculino… Se a coisa for colocada na instância de ‘género’, o assunto pode
mudar ainda mais de figura e talvez mesmo de horizonte.
Nada
nem ninguém tem autoridade para contestar que um homem se vista de saia. O
traje eclesiástico da batina é o quê? O hábito dos religiosos não tem uma
configuração um tanto idêntica à da saia, ao menos na formulação posterior do
corpo? A tradição do kilt de certas culturas anglo-saxónicas não parte de
idêntica e mais elaborada apresentação?
=
Talvez o que aconteceu na data de abertura da 14.ª legislatura, no passado dia
25 de outubro, pode tornar-se como que num não-assunto, onde as manobras de
distração poderão andar de mão dada com iniciativas que intentem subverter a
nossa cultura judeo-cristã, dando azo a que uns tantos possam aproveitar-se das
fragilidades de outros para imporem – mesmo de forma bizarra e algo desleal –
as suas ideias e não para criarem, como seria desejável, consensos sobre o que
de melhor possa ser para todos e não só para os seus apaniguados.
A saia
do homem-assessor não pode converter-se no ensaio do homem-da-saia… meramente
provocador ou talvez não!
António Sílvio Couto
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