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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

‘Gente que não sabe (mesmo) estar’


Embora seja título de um programa televisivo – diga-se de passagem que não vejo nem aprecio o desempenho do ator/comediante – esta expressão resume, de uma forma assaz contundente, o modo como tanta gente – substantivo que mais parece adjetivo para tantos/as – se desenrola na vida pública e mesmo privada.
É neste espetáculo da vida que podemos e devemos saber estar mais do que como meros atores de nível secundário, mas antes como intérpretes de tudo quanto nos faz ser, viver, sentir e estar…que é muito para além do parecer, do disfarçar, do deixar boa impressão ou até de ficar mais ou menos bem no retrato… 
= Virada a página das eleições vemos algum corrupio entre as forças autoapelidadas de ‘esquerda’, em tentativas diversas para conseguirem refundar a geringonça, tenha ela os componentes que possa albergar…até à sua expressão em maioria parlamentar. É digno de registo que o vencedor queira ardilosamente colar a si – usando os estratagemas de coligação, de acordo ou de pacto – as mais díspares forças da tal esquerda, pois sabe que se ele se afundar levará de arrasto todos os outros, bem como poderá reclamar os louros da vitória, quando essa lhe for um tanto favorável, como vimos nos dias mais recentes. Por seu turno, as forças da não-de-esquerda poderão e deverão reconfigurarem-se por forma a serem alternativa – talvez bem mais depressa do que seria expetável – atendendo às nuvens que se erguem no horizonte avisado de outras paragens e demais sensibilidades económico-financeiras. 
= Nesta fase do nosso ‘eu coletivo’ vemos, cada vez mais aparecerem atitudes que questionam a taxa de educação/cidadania/civilidade de grande parte das pessoas (gente) que ocupam lugares de responsabilidade: pessoas (gente) que têm instrução, mas onde a educação deixa muito a desejar, sobretudo pelo respeito para com os outros; casos em que as pessoas (gente) podem ter adquirido essa instrução, mesmo de qualificação (dita) superior, mas que se nivelam pelo mais rasca, quando se encontram com os da sua tabela/nível de convivência; situações em que certos figurões (gente) do comando se comportam como ‘donos disto tudo’ sem olharem a meios para que (quase) todos se inclinem diante das suas pretensões, desejos, atitudes e decisões… parece que há uma espécie de ‘marquês de pombal’ em cada governante, seja qual for a época, o espaço ou a ideologia! 
= Há certas munias que, quando despertas, fazem logo estragos, pois, hibernaram na hora do compromisso, mas regateiam protagonismo quando está em disputa o espólio dos vencidos. Quantas vezes já assistimos a este ‘filme’ e não mais aprendemos! Quantas vezes se torna abjeto pretender ser herói nas derrotas, onde se foi cobarde! Quantas vezes a memória se afunila, porque não aprenderam com aquilo de que foram vítimas e agora se apresentam como fazedores de lições, que não colheram na sua hora de vencidos! 
= Numa dramática leitura do posicionamento da Igreja católica, tenho para comigo que é, de todas as instituições de âmbito não reduzido à lente das ideologias, aquela que mais se tornou quase insignificante nas posições que toma: não fala nem diz; não refere o que é preciso; não consegue acertar nas diretrizes em que devia ser mestra… Com efeito, onde está a sua voz profética? Por onde anda a sua sinalização sacerdotal? Onde deambula a sua marca de serviço na caridade?
É certo que a Igreja não patrocina nenhuma das forças em competição, mas que os seus fiéis não sejam visíveis no compromisso na vida política, torna-se atroz e incompreensível. Do tempo em que os vários candidatos – fossem quais fossem as forças – visitavam, ao menos em cortesia os prelados, até à total ignorância dos mesmos não passaram tantos anos assim. A realidade está cada vez mais arredada das questões da fé? Esta não tem expressão nos votos? Estes são algo sem núcleo de compromisso?
É verdade: há gente que não sabe estar na Igreja e tão pouco na política. Até quando?       

António Sílvio Couto

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