Mais uma vez cresceu a abstenção nas eleições
legislativas do passado dia 6 de outubro: 45,5% num total numérico de
não-votantes de quatro milhões e duzentos e cinquenta mil recenseados.
Sobretudo em tempo posterior ao ato eleitoral é
fácil ouvir acusações para com os abstencionistas, só faltando acusá-los dos
males decorrentes da não-vitória, da derrota ou até mesmo da deceção em não ter
atingido os objetivos a que se propunham…
A cifra de 45,5% pode ser equivalente à soma média
dos votos dos partidos da antiga geringonça – PS e BE: 46,2; PS e CDU: 43 – sem
construir outros cenários mais ou menos credíveis ou plausíveis…
No entanto, a (possível) opção da abstenção é – ou
deve ser – uma preocupação para quem se possa interessar pela intervenção na
vida pública/política, onde nada acontece por acaso e por onde devem passar as
leituras dos cidadãos para com as consequências dos seus atos. Constatar que a
abstenção tem vindo a crescer desde as primeiras eleições legislativas de 1975
– 8,5% até hoje – 45,5%...isto se excluirmos episódios de maior expressão
noutras eleições, como europeias (68,6 em maio passados) e, nalgumas situações,
autárquicas localizadas…
Correndo o risco de deixar uma interpretação um
tanto exagerada, a abstenção poderá ser lida como escândalo, desinteresse,
cobardia ou mesmo ofensa aos outros.
Desde logo fique claro que considero a abstenção
como um ‘pecado’, na medida em que, sendo uma obrigação moral, para um cristão,
ao não participar na votação, torna-se uma falta grave ou mesmo ofensiva para
com Deus e em relação aos outros.
* Abstenção – um escândalo na
medida em que se entrega a outros, aquilo que é nossa obrigação, ofendendo a
memória de quantos lutaram para que fosse restabelecido este direito. Agora que
podemos exercer este dever cívico não podemos, por negligência na maior parte
dos casos, permitir que outros decidam por nós ou até mesmo contra nós. Numa
época em que devemos participar nas coisas de todos, será um escândalo arranjar
desculpas para não votar, pois, nesse dia somos todos iguais, cada um só vale mesmo
um voto!
* Abstenção
manifesta desinteresse,
colocando a democracia em risco e podendo ela mesma afundar-se se não soubermos
encontrar formas e meios para extirpar este cancro da nossa sociedade…um tanto
narcotizada pelas melodias dos mais incapazes, que desta forma não serão
julgados nas votações… Há fortes indícios de que a abstenção favorece os
incompetentes e os pequenos ditadores, pois se não criarem condições para serem
avaliados podem perpetuar-se no poder por inação dos demais.
* Abstenção pode
ser entendida como cobardia –
talvez um termo demasiado agressivo – mas onde estão contidos muitos dos
argumentos com que boa parte dos abstencionistas se desculpam, na hora de irem votar,
mas que depois assumem o papel de críticos, quando não se pronunciaram na hora
própria e devida. Com efeito, a sua legitimidade como que claudica, quando não
se incomodaram com votar e, posteriormente, se acham no pseudodireito de
reclamar.
* Abstenção é, por
isso, uma ofensa para com os outros,
na medida em que não fazendo a sua parte na construção equilibrada da sociedade
e se arrogam no direito de se quererem equiparar para com quem procura fazer-se
corresponsável nas iniciativas e decisões em favor do bem comum.
= Diante destas breves observações sobre a
abstenção, creio que é chegada a hora de introduzir alterações na participação
pelo voto: fazendo obrigatório votar e penalizando (nas regalias sociais) quem
não faça? Mudando as formas de angariar votantes, vinculando mais os eleitores
aos eleitos? Escortinando quem se apresenta a eleição, por forma a que não haja
tanta irresponsabilidade nas (ditas) propostas eleitorais?
Tem que se fazer algo contra a abstenção, pois, por
este caminho, dificilmente um eleito se sentirá legitimado, quando a maioria
não se pronuncia. Será que é isto que desejam que continue? Não basta lamentar,
quando são apresentados os dados da abstenção e tudo se esquece porque se
ganhou. Tenham vergonha, senhores/as eleitos/as! Façamos alguma coisa de
proveitoso para a democracia, estimados eleitores!
António Sílvio Couto
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