Decorridas as eleições é preciso fazer leituras:
umas um tanto óbvias, outras mais simuladas e outras ainda muito escondidas.
Das claras vemos quem ganhou, quem perdeu, quem
aprendeu (ou devia aprender) as lições, quem vai governar ou quem tem de fazer
um tempo de nojo para se reencontrar.
Das simuladas teremos de ir à descoberta dos números
– esses que dizem quem, de facto, pode cantar vitória ou quem querer fazer crer
que está melhor, mas, afinal, fez festa sem grandes razões…de festança.
Das leituras escondidas podemos ver que, onde se
verificaram os fogos mortais de há dois anos, o partido que ganhou a nível
geral sofreu aí pesada derrota, com números quase esmagadores de rejeição
daquilo que fizeram a essas populações. Noutros cenários podemos encontrar
sinais de que certos cantos de triunfalismo não passam de esgares de vergonha e
de medo pelo que vai chegar, agora sim, virá o tal ‘diabo’ em forma de
impostos, de crise e de afundamento nas economias. E isso acontecerá – já
admitem os visados – em menos de dois anos!
Como já tenho escrito a nossa cultura eleitoral – e
consequentemente governativa – apresenta caraterísticas quase únicas na Europa
das nações e dos países. Escrevia há dias: «em mais nenhum país do espaço europeu
– dentro ou fora do enquadramento da UE – se dá um fenómeno como neste
retângulo continental com os acrescentos insulares: sobe a capacidade/poder
económico, mas continuam os fretes marxistas/leninistas/trotskistas a
sobrelevar as opções mais rotundas…isto é, os valores do capitalismo alimentam
as bocas dos (ditos) trabalhadores, mas as inclinações anticapitalistas ainda
vingam sobre os saldos bancários, salários e benefícios…adquiridos».
Daí o título deste texto: venezuelando…à portuguesa!
Com efeito, conseguimos engendrar soluções que não se usam em mais nenhuma
parte do mundo, à exceção do regime venezuelano, onde tudo se sacrifica ao bem
do ‘estado’, mesmo que as populações passem fome, tenham restrições de toda a
ordem, mas o regime tem de vingar sobre as pessoas. Assim por cá: a estatização
da economia pensa que pode impor-se à iniciativa privada, criando faixas
sociais dependentes das migalhas que caem da mesa do poder; os (pretensos)
funcionários públicos quase se sentem uma classe à parte, de facto,
privilegiada, com direitos e regalias de que o resto dos trabalhadores não
usufruem nem conseguem almejar. Serão estes as milícias do regime, quando a
crise voltar e houver necessidade de cortar nos direitos e nas garantias?
= Há coisas que nos estão nos genes: acreditar que o
sucesso se consegue sem esforço ou talvez sem recorrer ao trabalho.
Efetivamente, o que vemos na nossa cultura social, política, laboral ou
económica é que podemos crescer sem grande esforço, ajeitando o nosso bem-estar
– há quem o rotule de qualidade de vida – ao menos fazer ou ao quanto mais
conseguir ludibriar a autoridade mais esperto serei. Dizia um comentador, por
ocasião destas eleições: metade do país não vota e a outra metade não paga
impostos! Se assim for não teremos hipótese de virmos a ser um país com futuro,
pois a abstenção é o cancro mais visível de quem quer usufruir das coisas
comuns sem se pronunciar, podendo contentar-se com reivindicar ou dizer mal,
enquanto a fuga aos impostos será o veneno de que todos beberemos, quando
faltarem as condições de sustentabilidade da nação.
= Os pretensos focos de sucesso da nossa economia
são falaciosos: o turismo, as paisagens ou mesmo a gastronomia só rendem
enquanto não surgirem noutras paragens melhores propostas e mais baratas. O
setor do imobiliário, que tanto cresceu nos últimos anos, poderá falir num
instante, bastará que noutra qualquer parte do Planeta surja menos exploração e
as casas ficarão vazias e sem haver quem as procure. A nossa habilidade
coletiva em enganar pode ser descoberta e cairão as bolhas de sucesso e os
clientes endinheirados…
Quando entendermos que nada se faz sem dedicação,
muito trabalho e organização poderemos ser um país/nação com futuro sustentado.
Até lá festejaremos vitórias pírricas e embandeiremos com resultados ardilosos,
mas falsos.
António Sílvio Couto
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