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segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Tontices da (nossa) democracia


Eis senão quando se abriu a caixa-de-pandora da nossa democracia. As reações parecem ser um tanto infantilizadas, pois um órgão de comunicação social levou às suas instalações e fez ouvir as opiniões um tal senhor apelidado de neonazi, com ideias nada-democráticas à mistura com arrebiques xenófobos, racistas e, no seu conceito, mais ou menos nacionalistas…Outros dizem-se ‘patriotas’!

Uns senhores advogados do antirregime que não o deles, querem que seja castigado quem deu voz e som a quem, sendo diferente deles, não tem espaço, em seu entendimento, na sociedade democrática lusitana. Mas a democracia não é para todos, até para com aqueles que pensam, dizem e atuam de forma diferente de mim? Não andaremos a usar as mesmas armas dos ditadores que vislumbramos nos outros? Não será tão legítima a opinião de uns e não a exclusiva dos meus? 

Acima de tudo o que está em causa é a rotura de comunicação que se tem vindo a fabricar fora dos circuitos tradicionais dos jornais impressos, das rádios estabelecidas, das televisões licenciadas… Agora a comunicação faz-se sem controlo, sem grelha e (talvez) sem estatuto de editorial. Quando deram crédito às informações veiculadas por telemóveis, a partir de gente sem critério, mas onde a necessidade de chegar primeiro ultrapassou o bom-senso, estava-se a abrir a porta para todos e mais que fossem os populismos, as posições díspares e sem consequências…

Estes são os custos da evolução da informação, que escapa à censura das maiorias políticas/ideológicas, votadas ou legalizadas, com expressão ou ridículas…Os velhos e anquilosados esquemas de campanhas eleitorais – com comezainas e discursos longos, com militantes arregimentados em camionetas à pressa e tudo o que de certinho estava adquirido – acabaram! Agora sem sair de casa um qualquer ‘iluminado’ pode fazer chegar a sua mensagem a milhões pelas redes sociais. Ora, o povo que assim é doutrinado será mesmo ignorante como alguns nos querem fazer crer? O Brasil tem tantos milhões de ignorantes…só porque votaram fora do esquema dominante em década e meia? 

= Nota-se que as ‘novas tecnologias’ – novas só para quem for sexagenário e mais velho…de mentalidade – ultrapassaram o regime de censura em que uma parte dos políticos profissionais e outros ‘senhores’ quiseram amordaçar uma longa e farta maioria silenciosa do nosso país. Os critérios de conduta mudaram rapidamente e os barões/baronesas da democracia estão a ver-lhes fugir o (pretenso) prestígio. As mordomias estão a acabar e o reinado de quem se perpetuava no poder está prestes a cair. Por isso, de pouco adiantará tentar controlar quem discorda neste pântano, pois os meios postos à disposição de todos farão terminar a ditadura com que nos têm feito viver…em quase cinco décadas ‘democráticas’.

Deixem aparecer as novas formas de expressão da vontade popular e cuidem-se para que, no essencial, estejamos de acordo, pois o individualismo para o qual nos empurraram, esse sim, é preocupante. Agora que estamos nesta outra fase cultural e temos de aprender a lidar com a diferença, mesmo que essa seja mais presumida do que real. De pouco adianta gritar pelo socorro, se já metemos em casa o ladrão. Torna-se urgente deixar de culpar os outros, mas cada um deve assumir as suas culpas e questionar-se sobre que tipo de democracia vive e faz… 

= Não deixa de ser revelador da confusão – resultado da perda em valorização que achavam ter – que alguns dos ditos servidores do povo continuam a manifestar: ainda não sabem que valem tão pouco e esbracejam como náufragos para sobreviverem na complexidade do mundo, onde perderam o protagonismo…embora com as mesmas regalias na letra e nos proventos.

Algumas das associações e mesmo das personalidades protestantes no ‘caso’ em presença não passam de servos duma gleba falida e/ou arrebanhadores de benesses por informação privilegiada. Basta de protegidos e de enteados nesta democracia, que já devia ser mais adulta, senão pela maturidade ao menos pela idade! Basta de protecionismo para uma certa corrente ideológica, que se esconde por trás da defesas das suas democracias, consideradas ditaduras noutras latitudes, tanto do passado como no presente…

   

António Sílvio Couto

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