Eis senão quando se abriu a caixa-de-pandora da
nossa democracia. As reações parecem ser um tanto infantilizadas, pois um órgão
de comunicação social levou às suas instalações e fez ouvir as opiniões um tal
senhor apelidado de neonazi, com ideias nada-democráticas à mistura com
arrebiques xenófobos, racistas e, no seu conceito, mais ou menos nacionalistas…Outros
dizem-se ‘patriotas’!
Uns senhores advogados do antirregime que não o
deles, querem que seja castigado quem deu voz e som a quem, sendo diferente
deles, não tem espaço, em seu entendimento, na sociedade democrática lusitana.
Mas a democracia não é para todos, até para com aqueles que pensam, dizem e
atuam de forma diferente de mim? Não andaremos a usar as mesmas armas dos
ditadores que vislumbramos nos outros? Não será tão legítima a opinião de uns e
não a exclusiva dos meus?
Acima de tudo o que está em causa é a rotura de
comunicação que se tem vindo a fabricar fora dos circuitos tradicionais dos
jornais impressos, das rádios estabelecidas, das televisões licenciadas… Agora
a comunicação faz-se sem controlo, sem grelha e (talvez) sem estatuto de
editorial. Quando deram crédito às informações veiculadas por telemóveis, a
partir de gente sem critério, mas onde a necessidade de chegar primeiro
ultrapassou o bom-senso, estava-se a abrir a porta para todos e mais que fossem
os populismos, as posições díspares e sem consequências…
Estes são os custos da evolução da informação, que
escapa à censura das maiorias políticas/ideológicas, votadas ou legalizadas,
com expressão ou ridículas…Os velhos e anquilosados esquemas de campanhas
eleitorais – com comezainas e discursos longos, com militantes arregimentados
em camionetas à pressa e tudo o que de certinho estava adquirido – acabaram!
Agora sem sair de casa um qualquer ‘iluminado’ pode fazer chegar a sua mensagem
a milhões pelas redes sociais. Ora, o povo que assim é doutrinado será mesmo
ignorante como alguns nos querem fazer crer? O Brasil tem tantos milhões de ignorantes…só
porque votaram fora do esquema dominante em década e meia?
= Nota-se que as ‘novas tecnologias’ – novas só para
quem for sexagenário e mais velho…de mentalidade – ultrapassaram o regime de
censura em que uma parte dos políticos profissionais e outros ‘senhores’
quiseram amordaçar uma longa e farta maioria silenciosa do nosso país. Os
critérios de conduta mudaram rapidamente e os barões/baronesas da democracia
estão a ver-lhes fugir o (pretenso) prestígio. As mordomias estão a acabar e o
reinado de quem se perpetuava no poder está prestes a cair. Por isso, de pouco
adiantará tentar controlar quem discorda neste pântano, pois os meios postos à
disposição de todos farão terminar a ditadura com que nos têm feito viver…em
quase cinco décadas ‘democráticas’.
Deixem aparecer as novas formas de expressão da
vontade popular e cuidem-se para que, no essencial, estejamos de acordo, pois o
individualismo para o qual nos empurraram, esse sim, é preocupante. Agora que
estamos nesta outra fase cultural e temos de aprender a lidar com a diferença,
mesmo que essa seja mais presumida do que real. De pouco adianta gritar pelo
socorro, se já metemos em casa o ladrão. Torna-se urgente deixar de culpar os
outros, mas cada um deve assumir as suas culpas e questionar-se sobre que tipo
de democracia vive e faz…
= Não deixa de ser revelador da confusão – resultado
da perda em valorização que achavam ter – que alguns dos ditos servidores do
povo continuam a manifestar: ainda não sabem que valem tão pouco e esbracejam
como náufragos para sobreviverem na complexidade do mundo, onde perderam o
protagonismo…embora com as mesmas regalias na letra e nos proventos.
Algumas das associações e mesmo das personalidades protestantes no ‘caso’ em presença não passam de servos duma gleba falida e/ou arrebanhadores de benesses por informação privilegiada. Basta de protegidos e de enteados nesta democracia, que já devia ser mais adulta, senão pela maturidade ao menos pela idade! Basta de protecionismo para uma certa corrente ideológica, que se esconde por trás da defesas das suas democracias, consideradas ditaduras noutras latitudes, tanto do passado como no presente…
António Sílvio Couto
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