Segundo
vários dicionários em uso na língua portuguesa, ‘corja’ significa um ‘conjunto
de pessoas caraterizadas por péssima índole, pelo mau caráter ou má conduta’.
Seguindo a linha de ser uma espécie de associação, ‘corja’ pode ser um
‘coletivo de ladrões, vadios, desordeiros’ ou ainda um ‘grupo de indivíduos vis
e desprezíveis, canalhada, súcia, malta, ralé, gentalha’…
O uso
deste termo ‘corja’ é, nitidamente, considerado depreciativo para com quem é,
assim, mimoseado… seja qual for o contexto e/ou o âmbito de intervenção. De
facto, daquilo que conhecemos, o uso da palavra ‘corja’ pretende ofender quem
com tal adjetivo se vê qualificado. O problema situa-se da perspetiva de quem
classifica de ‘corja’ outrem, na medida em que será preciso conhecer os factos
que levam a tal referência, podendo, pelo contrário, atirar-lhe com ‘corja’ à
personalidade numa espécie de antecipação para que não mereça, por seu turno,
idêntico tratamento. Assim se pode compreender a troca de epítetos com que temos
sido assaltados, procurando descortinar quem usou primeiro ou se a resposta
teve provocação…
= Dá a
impressão que as pessoas começaram um caminho de ofensa, que poderá ser
complicado de suster, tais são as etapas de vulgarização e dos meios usados para
que tal se possa verificar. Com a larga difusão – sem filtros nem critérios –
das redes sociais temos vindo a conhecer um sem-limite para dizer, fazer mal ou
ofender seja a quem for, mesmo que se coloquem os ingredientes mínimos: as
pessoas têm-se vindo a nivelar, cada vez mais, pela bitola da asneira, num
processo de ‘quanto pior, melhor’ e sem olhar a meios para atingir os (seus)
fins…mesmo que os mais ignóbeis.
- O
respeito pela integridade moral dos outros deixou de ser valor a preservar ou a
defender. Com razoável aceitação dos internautas e/ou frequentadores das redes
sociais proliferam insinuações sobre tudo e para com todos… escapar desse
tribunal sem juiz será uma façanha de atroz martírio e competição.
- Agora
já ninguém é insuspeito, mas terá de provar que não o é, se alguém se lembrar
de dizer o contrário. Com efeito, vivemos na inconsistência do contraditório,
pois um alguém, até sob o anonimato, poderá lançar uma dúvida, que logo muitos
outros se pronunciam sobre isso, mesmo que não conheçam os visados ou nem
tenham qualidade para se declararem sobre o assunto…
= Dada a
velocidade com que as notícias, as opiniões, os factos ou as situações se
verificam, temos, urgentemente (até parece que entramos em contradição), de
serenar as águas turvas, as ideias virulentas, as confusões de querermos tudo
depressa e sem maturação suficiente.
Eis um
excerto da mensagem do Papa Francisco para o próximo dia mundial das
comunicações sociais, que ocorre a 2 de junho:
«O
panorama atual convida-nos, a todos nós, a investir nas relações, a afirmar –
também na rede e através da rede – o caráter interpessoal da nossa humanidade.
Por maior força de razão nós, cristãos, somos chamados a manifestar aquela
comunhão que marca a nossa identidade de crentes. De facto, a própria fé é uma
relação, um encontro; e nós, sob o impulso do amor de Deus, podemos comunicar,
acolher e compreender o dom do outro e corresponder-lhe.
É
precisamente a comunhão à imagem da Trindade que distingue a pessoa do
indivíduo. Da fé num Deus que é Trindade, segue-se que, para ser eu mesmo,
preciso do outro. Só sou verdadeiramente humano, verdadeiramente pessoal, se me
relacionar com os outros. Com efeito, o termo pessoa conota o ser humano como
«rosto», voltado para o outro, comprometido com os outros. A nossa vida cresce
em humanidade passando do caráter individual ao caráter pessoal; o caminho
autêntico de humanização vai do indivíduo que sente o outro como rival para a
pessoa que nele reconhece um companheiro de viagem
Esta
sugestão do Papa Francisco precisa de fazer caminho, desde logo começando na
Igreja católica, fazendo-nos sair do isolamento galopante com que certos/as
religiosos/as (não tem a ver só com frades nem freiras) se engordam com as suas
devoções e a ‘salvação’ da sua alminha! Os ditos ‘eremitas sociais’ – referidos
na mensagem papal – são mais do que pensamos no contexto da nossa Igreja…
António Sílvio Couto
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